Super Bock em Stock, Dia 2 – A noite da vingança das guitarras

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Bons nomes, mas um festival com muito menos gente que há uns anos.

Neste sábado há mais estrelas, mas nem por isso mais gente. Aliás, na entrada do Coliseu dos Recreios para ver Jehnny Beth, fica a ideia que os espectadores terão deixado os relógios em casa, tal a desolação da sala. E a artista francesa mais conhecida por ser vocalista das Savages o terá deixado também. Já que dez minutos depois da hora marcada ainda não tinha aparecido.

Em tal clima, e com algum cansaço de ouvir concertos com a música a reverberar no eco, parte-se em busca de Inês Monstro na Casa do Alentejo. Leia-se o alter ego de Inês Laranjeira. Também para procurar a paz com o Pátio Árabe. Entrada de forma teatral a fazer lembrar tentativa do glamour total de Anamar, e voz com projeção para superar este teste difícil. Com Alex Sweeney e a grande Eugénia Contente a acompanhar nos instrumentos (responsável em modo trio por um belo disco de 2023, Duckontente), foi um boa definição do que uma apresentação neste tipo de evento deve ser. Desde o discurso inicial a dizer que no anterior tinha feito coro neste festival (para Atalaia Airlines) e que era um sonho aparecer na frente do palco, a um canto mais fadista a um soul mais internacional, sempre com uma encenação cuidada, “Sina” e “Hipnose” mostraram perante um bom ajuntamento de público que há aqui pernas para andar.

Valete e amigos, naquela que por algum motivo ficou trancada como a sala do hip hop, o Capitólio, foi um dos motivos fortes para trazer público a este segundo dia do Super Bock em Stock. Apesar disto, estamos longe da enchente de Ana Moura no ano passado, não obstante uma casa bem composta. Por um lado, a saudade de voltar a ver, por outra, uma postura diferente, em que assumiu o papel de representante de classe a pedir desculpa às mulheres pela misoginia praticada, à entrada em cena de vários convidados. Antes, vídeo com várias referências – Lenine incluído, e depois convidados em barda. Do que vimos – Anna Calvi aguardava e não dava para ver até ao fim, Moullinex surge em palco para apresentar homenagem a Sara Tavares. Como celebração ecuménica percebe-se, como mostra de obra para os apreciadores mais atentos, nem tanto.

Anna Calvi está noutro lado. Longe do quase estrelato com que se apresentou em Paredes de Coura em 2012 com horário de cabeça de cartaz e nomeação para o Mercury Prize no bolso, estávamos ali claramente como se fosse noite de semana em nome próprio. Porém, “Desire” continua hino forte na veias e na voz operática e talento na guitarra (com solos em barda) da anglo-italiana, alguma teatralidade talvez a passar ao lado dos casuais, mas a mestria em palco dificilmente a não ser chapada na cara. “Suzanne and I” continua outra monstruosidade de som, e se tem encontrado trabalho mais recentemente das composições para a série Peaky Blinders, Anna Calvi e “Breath to Me” é onde queremos estar, fresquinhos que nem uma alface – talvez ainda mais hoje capaz de cortar fundo pela sua pureza e num mundo de samples e misturas. No fundo, sentimo-nos como nos tempos de publicidade dos anos 90 da XFM – para uma imensa minoria. Sentimento bom.

Rápida passagem por Capital da Bulgária, que é como quem diz Sofia Reis, cantora e compositora que já com um selo importante tem lançados bons singles neste ano da Graça de 2023, como “Escova-de-Dentes” e “Coração em Jejum”, e pelos sons do coletivo londrino Steam Down, antes de voltar à nave-mãe para The Legendary Tigerman.

Paulo Furtado como é de costume não veio para brincar, com Zeitgeist par apresentar. “Bright Lights, Big City” é sintoma da estadia em Paris, batida Nine Inch Nails óbvia. “Losers”, originalmente com gravada com Anna Prior dos Metronomy, surge com uma tensão mais apertada antes da explosão. Mas há clássicos de sempre prontos a disparar, o “Fix of Rock’n’Roll” sempre ali à mão do conimbricense antigo membro dos saudosos Wraygunn. Um banho de suor e calor que desmente aqueles que proclamam o fim do rock, a fazer lembrar aquele sketch dos Gato Fedorento em que um autor ia sempre falando das suas últimas obras em que o cinema está morto, ou a literatura está morta.

Tudo isto faz-nos lembrar uma reflexão de um concerto que vimos de Steven Wilson, onde ele teorizou o desaparecimento crescente da guitarra elétrica do cerne da produção da música popular moderna. Matéria para bom debate e há, sem dúvida, uma crise de headliners que sejam filhos desse formato, mas que enquanto artistas com este vigor andarem por cá, o dobre de finados está longe.

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