Rodrigo Amarante no Capitólio – Ginga de Pajé

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Seja em disco ou em palco, Rodrigo Amarante é daqueles infalíveis.

2022 parece, finalmente, ter trazido a música ao vivo de volta. É verdade que ainda há muitas condicionantes, mas sabe bem voltar a ter salas cheias e desordenadas. O Capitólio encheu-se na noite da passada 3ª feira, dia 19 de abril, para receber o magnífico Rodrigo Amarante. Leram bem – magnífico. Rodrigo Amarante não tem o destaque que deveria ter. Há que dizê-lo. Dizemos nós, e muito boa gente: estamos, sem dúvida, perante um dos melhores escritores de canções brasileiros dos últimos 25 anos, dos mais dignos sucessores do melhor cancioneiro brasileiro. Depois de uma ausência de alguns anos, aqui estava ele, de regresso a Portugal para apresentar o seu novo álbum, Drama, o muito aguardado sucessor de Cavalo (de 2014).

A sala recebe-nos com a sua, sempre, bem cuidada seleção musical. Não há vez que aqui venhamos que não comentemos o bom gosto musical dos técnicos de som. Apesar de não estarmos a contar, a noite inicia-se com uma breve apresentação de Naima Bock, de quem pouco ou nada sabemos (o “sabes quem é?” repetiu-se por toda a sala). Uma pesquisa rápida diz-nos que está sediada em Londres, tem raízes brasileiras, foi fundadora das Goat Girl e assinou pela Sub Pop em 2021 (o que são, por si só, excelentes referências). Munida da sua guitarra e voz grave, captou rapidamente a nossa atenção (muitas similaridades vocais com artistas como Aldous Harding, Nico ou Laura Marling). 30 minutos de embalamento que passaram a correr e que nos deixaram com vontade de saber mais. Vamos, certamente, ouvir falar dela no futuro.

Breve compasso de espera e o nosso bardo entra em palco, sorridente e com ar de malandro, acompanhado do seu violão. A barba foi-se, mas o seu sorriso mantém-se. Cumprimenta os presentes com um: “Vocês vieram?” Viemos pois. Como faltar? Diz que está meio bobo, pois ficou sem o seu emprego durante três anos. A pandemia a mandar cumprimentos.

Começa com “Evaporar”, canção dos seus Little Joy, para logo se entregar a algumas das canções do novo álbum, menos poliglota que o anterior. “Tara”, belíssima canção de desamor, e “Tango”, esta cantada em inglês, serviram para aquecer a voz. A bonita “Nada em Vão”, regresso a Cavalo, é compassada pelos presentes, a mostrar que, se não tens cão (a pandemia não deixou trazer o resto da banda), caça com gato. “O Cometa”, bonita homenagem ao seu amigo Ericson Pires, também não faltou. E “Tuyo”, claro está, também não. Até Escobar gostaria de assobiar esta. Para muitos, Rodrigo Amarante é aquele que canta a música da série Narcos. Para nós, é o músico que criou, entre muitas outras, o assombro que é “Um milhão”, que por aí circula há muitos anos, mas nunca antes, até agora, editada em disco. E quão bonito foi ter uma sala cheia em silêncio para ouvir cantar que “para cada um com um milhão, um milhão sem um sequer”.

Entre canções, Rodrigo Amarante mostra-se bem satisfeito por estar não só de volta aos palcos, como de volta a Portugal, onde amigos não lhe faltam (segundo ele, deveriam estar na sala uns 37 membros da Orquestra Imperial, outro dos seus projetos). Muito bem-humorado, é o típico amigo que se ri, e nos faz rir, dos seus problemas. Dedica “Maré” ao amigo Moreno Veloso, canção que conta com a voz deste no novo álbum. O concerto encaminhava-se para o fim, com especial destaque a algumas das melhores canções de Cavalo, como “The Ribbon”, a triste “Irene” (das mais trauteadas pelos presentes) e a existencial “Tardei”, dos momentos mais bonitos da noite.

Acabou? Não, ainda haveria mais. Muito aplaudido, nem chega a sair bem de palco. Foi apenas lá atrás buscar “O Vento”, dos influentes Los Hermanos, “aquela” pedida por um dos presentes e cantada a plenos pulmões por muitos dos presentes.

Despede-se novamente. Mas já acabou? Não, calma, ainda não. Mas que música tocar agora? Humm, pode ser uma que ele fez para a Orquestra Imperial, uma bonitinha, nas palavras do próprio. Isso, “Pode ser”. E sim, é um sambinha bom.

Agora é que parece mesmo que ele se foi. Alguns até já abandonam a sala. Mas muitos outros “exigem” com palmas e assobios que ele volte. E ele volta. Só que diz que não tem mais reportório. Mas espera aí… o Moreno está cá! “Só toco mais uma se o Moreno cantar comigo.” Será que podemos contar com o Moreno? Podemos pois. E quão especial foi ver Rodrigo Amarante e Moreno Veloso tocarem a romântica “Deusa do Amor”, enquanto todos trauteávamos “parapa para woooho”. Daqueles momentos para contar daqui a uns anos aos filhos e aos netos. Se é para fechar, que seja em grande. O melhor guardado para o fim.

Seja em disco ou em palco, Rodrigo é daqueles infalíveis. Quem o comprova é o tempo. Oito anos depois da última vez que o vimos, está melhor que nunca. E desta vez nem precisou de banda. “Tudo fica mais bonito quando você está por perto”, cantou ele e Moreno. Sim, também achamos isso sobre as músicas do Rodrigo Amarante.

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