A vitória dos Muse no regresso do Rock in Rio Lisboa

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Passaram 74 mil pessoas pelo recinto do Parque da Bela Vista.

Texto por: Alexandre Lopes e Diogo dos Santos

Quatro anos depois, eis que está de volta um dos festivais mais queridos do público português. Falamos, claro, do Rock in Rio Lisboa, que se estabeleceu por cá em 2004, nessa já longínqua primeira edição, e desde então nunca mais deixou de se realizar no Parque da Bela Vista.

2018 era, até então, a última edição do Rock in Rio Lisboa, festival que se realiza apenas de dois em dois anos e que, tal como outros, foi prejudicado pela pandemia de COVID-19, não se tendo podido realizar em 2020 nem em 2021 – não é suposto o RiR acontecer em anos ímpares, mas seria uma exceção.

Mais que um festival, o Rock in Rio Lisboa é uma mega feira popular. Conta com marcas espalhadas por todo o recinto – chega a ser exagerado, mas só assim se consegue oferecer tantas experiências diferentes – e 18 espaços de entretenimento, entre os quais sete palcos, tudo para oferecer o máximo de diversidade possível a quem decide gastar 74€ no bilhete diário. Não é um festival de música, é muito mais que isso.

Desde o Galp Music Valley, por onde irão passar grandes bandas e artistas da música nacional, espanhola e brasileira, às Somersby Pool Parties, que animam as tardes com mergulhos na piscina, passando pela Rock Your Street com a sua World Music, o Game Square dedicado aos videojogos, o Super Bock Digital Stage dedicado aos novos valores do mundo digital, o Palco Yorn que desmistifica estereótipos e preconceitos de Chelas, ou o estreante Continente Chef’s Garden que aposta na alimentação saudável e no combate ao desperdício alimentar, há mesmo muito para fazer no Parque da Bela Vista. E claro, não nos podemos esquecer da caça aos brindes ou roda gigante. Lá está, o tal termo de feira popular enquadra-se na perfeição.

Porém, o palco que continua, e sempre continuará, a reunir grande parte do público, até pela sua magnitude, é o Palco Mundo. E foi precisamente por aí que começámos, embora somente tenhamos chegado quando Liam Gallagher já atuava – isto de viver longe e vir de um batizado no mesmo dia, estacionar o carro e ir até ao recinto tem muito que se lhe diga.

Uma das metades dos Oasis é daqueles artistas que, hoje em dia, acaba por ainda singrar no mundo da música devido ao êxito estrondoso da banda que teve com o irmão Noel, desde os anos 80 até ao final da década de 90, graças a álbuns como Definitely Maybe, (What’s the Story) Morning Glory e Be Here Now. Liam Gallagher sabe disso e, no seu estilo inconfundível, carrancudo e mal humorado como é habitual, serviu-nos alguns temas conhecidos do passado, como “Rock ‘n’ Roll Star”, “Roll It Over” e “Slide Away”, num lineup misturado com temas da sua discografia a solo e, também, da sua outra banda, os Beady Eye.

Liam Gallagher no Rock in Rio Lisboa

Com aquele sotaque cerrado de Manchester, era muitas vezes impercetível perceber o que Liam dizia, embora os mais atentos tivessem escutado o seu amor ao Manchester City, clube de futebol do qual fazem parte os portugueses Bernardo Silva, Rúben Dias e João Cancelo, e a quem agradeceu pela conquista do campeonato.

No seu estilo inclinado sobre o suporte do microfone, Liam Gallagher sabe que não tem uma voz particularmente expansiva e versátil – canta sempre no mesmo registo, no mesmo tom, caso contrário começa a desafinar. Nada contra, até porque são vários os casos de artistas do género, mas, no fim, ouvir músicas dos Oasis ou temas mais recentes da discografia a solo acabam por soar todos ao mesmo. Ganham as músicas do passado, muito por culpa da nostalgia.

Com uma generosa multidão à sua frente, o melhor ficou mesmo para o fim – não, não tocou “Champagne Supernova”, embora tal estivesse previsto no alinhamento – com “Wonderwall” cantada a plenos pulmões e, já de carapuço enfiado, como que prestes a dizer até breve, serviu-nos “Cigarettes and Alcohol”. Ainda houve um fã que ganhou o dia: ficou com a pandeireta de Liam.

Terminado o concerto, surgiam duas opções: ir jantar ou seguir até ao Galp Music Valley, onde os Linda Martini iriam atuar. Tivemos de perder o concerto da banda de André Henriques, Cláudia Guerreiro, Hélio Morais e o mais recente integrante Rui Carvalho, que assume o lugar do ex-membro Pedro Geraldes nos concertos, para aconchegar o estômago – na hora de ponta, a sala de imprensa fica com trânsito congestionado.

Não tivemos sequer tempo para explorar as novidades do recinto neste compasso de espera pois, além de ser enorme, o tempo que demorámos a jantar e já os The National subiam ao Palco Mundo, naquele que foi o seu 18º concerto em Portugal, mas o primeiro no Rock in Rio Lisboa.

Tendo explorado os grandes festivais de verão da nossa praça – NOS Primavera Sound, NOS Alive, Super Bock Super Rock e Vodafone Paredes de Coura -, e sem esquecer as apresentações a solo no nosso país, nunca os The National tinham atuado no Rock in Rio Lisboa, o que só por si diz muito do público-alvo deste festival com origem brasileira, sempre pensado para as massas. Ainda assim, o concerto correu maravilhosamente bem, com uma qualidade de som que esteve sempre no ponto, ainda que um palco daquela dimensão possa ser demasiado espampanante para estes senhores do Ohio.

Deambulando entre o mais recente álbum, I Am Easy To Find (2019), e o “velhinho” Alligator (2005), o concerto dos The National no Rock in Rio Lisboa mais nos pareceu uma espécie de best of, com muitos a reconhecerem as músicas logo aos primeiros acordes. E eram imensos os fãs da banda nas filas da frente.

The National no Rock in Rio Lisboa

Com músicas como “Bloodbuzz Ohio”, “The System Only Dreams in Total Darkness”, “I Need My Girl” ou “Slow Show”, certamente que os The National ganharam uns quantos fãs na noite de sábado, especialmente com um cada vez mais desinibido Matt Berninger, cinquentão que fez questão de dizer que o último espetáculo da banda antes do assolo da pandemia tinha sido precisamente em Lisboa, neste caso em dezembro de 2019, no Campo Pequeno.

Berninger, outrora muitas vezes de copo de vinho na mão, aqui apostou numa abordagem diferente, interagindo com o público e descendo a rampa algumas vezes. O vocalista não tem particularmente uma grande voz – soa sempre muito embargada, como aquele tio que bebeu demais -, mas, desta vez, as suas cordas vocais até se portaram melhor do que noutras aparições da banda em palcos lusos.

Com um concerto dos Muse em seguida, muitos poderão ter pensado que colocar as músicas mais elegantes e introspetivas dos The National possa não ter sido a melhor decisão de casting. Mas se muitos adormeceram, aproveitaram para descansar ou conhecer os cantos à casa, outros certamente reconheceram a delicadeza na arte destes norte-americanos.

Decorrendo a bom ritmo, o espetáculo caminharia para o seu final com um trio infalível: “Fake Empire”, “Mr. November” e, claro, “Terrible Love”. Foi bom, foi bonito e mal podemos esperar pela 19ª vez da banda por cá.

Após quase três anos de bilhete na mão à espera pelo regresso dos Foo Fighters a Lisboa, que não se concretizou por um infortúnio que fez a banda cancelar todas as suas datas em 2022, os Muse foram chamados para os substituir e pode-se dizer que superaram todas as expectativas e exigências. Se pouco fazia esperar a chuvada torrencial gelada que caiu durante a maior parte do concerto da banda de Matt Bellamy e companhia, ainda menos se esperava do benefício proveniente dessa mudança meteorológica que poucos previam, mas muitos temiam.

Após uma paragem de um ano, a tour da banda britânica arrancou oficialmente há pouco mais de um mês e antecede o lançamento do novo álbum (Will Of The People), servindo para apresentar quatro temas que vão estar presentes no mesmo: “Will of the People”, “Compliance”, “Won’t Stand Down” e “Kill Or Be Killed”. Temos a dizer que a banda sabe como apresentar novos temas de forma a tornar a experiência inesquecível, tornando-os marcantes sem que os tenhamos ouvido à priori.

A abertura deu-se com “Will of the People” cujo início faz lembrar um pouco “Beautiful People” de Marylin Manson, curiosamente. Passando por alguns clássicos como “Hysteria”, “Stockholm Syndrome” ou “Psycho”, que foi a música estrela do álbum Drones (2015), foi com “Compliance” que o espetáculo visual começou com uma explosão de serpentinas azuis e brancas, parte das quais ficaram presas à tirolesa que atravessa o vale onde está o palco principal, dando um ar mais festivo à coisa.

A partir daí foi sempre a subir, em paralelo com a intensidade da chuva que levou algumas pessoas a abandonar o Parque da Bela Vista durante o concerto. “Time Is Running Out” abriu as hostes à sequência fantástica de músicas icónicas, que colocaram os Muse no Monte Olimpo do Rock. Até “Madness”, que em 2012 não foi bem recebida pela mudança de abordagem musical e de género, brilhou e meteu toda a gente a entoar a letra. Logo de seguida, com o choro da guitarra elétrica para puxar pelos fãs, rebentou “Supermassive Black Hole”, uma favorita dos fãs, que em 2006 rodava de forma incessante na MTV Portugal, recebida com entusiasmo.

Pouco tempo havia para respirar e já tínhamos o riff de abertura de “Plug In Baby” a acelerar rotações, metendo tudo aos saltos. Terminada, finalmente houve um merecido descanso acompanhado de uma peça de exposição experimental a solo de Bellamy com uma luva futurista (semelhante à de Thanos) intitulada de “Behold, The Glove”. Mas o descanso durou pouco tempo, visto que esta experiência de Bellamy era de facto um interlude para “Uprising”, uma das música do álbum The Resistance (2009), que antecedeu a tal mudança de abordagem musical da banda britânica que referi acima. Num país pacato onde poucas ou coisas nenhumas exaltam os ânimos dos portugueses, de punho cerrado no ar, estava montada uma autêntica frente de intervenção que entoou o refrão e vibrou com o poderio desta música como se não houvesse amanhã.

A fechar o set de 19 faixas surgiu “Starlight”, uma das músicas mais aclamadas da banda, que até as pessoas que não são fãs dos Muse apreciam. A chuva perdia intensidade e uma explosão de confetes tomava o seu lugar, sincronizada na perfeição com o refrão e o Parque da Bela Vista estava nas nuvens, com um espetáculo digno, que só uma banda ao nível de Muse consegue entregar.

As luzes cessaram, a banda abandonou o palco e, quando os aplausos começavam a perder força perante um espetáculo que parecia terminado, tudo não passava de uma distração para o que estava para vir… A banda regressou ao palco pronta para oferecer mais música e, consigo, surge o mesmo monstro gigante insuflável e suspenso por fios que já tínhamos visto em 2019, aquando do concerto no Passeio Marítimo de Algés. Poucos perceberam como é que aquilo ali apareceu mas que, apesar de inesperado, fazia prever que algo “grande” estava para vir. Matt Bellamy perguntou à audiência (sedenta por mais) se queria mais música e a resposta foi óbvia. Com um encore composto pelo mais recente single do novo álbum “Kill or be Killed” e a lendária “Knights of Cydonia”, deu-se um espetáculo infindável de pirotecnia com tanto de surpreendente como de encantador, que ditou o final do primeiro dia, dia esse que transpirou sucesso e colocou a fasquia bem alta para os três dias que ainda há de Rock in Rio pela frente.

Fotos de The National e Liam Gallagher: Rock in Rio; Fotos de Muse: Hugo Faria

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