Primavera Sound Porto 2023, Dia 1 – Secos e molhados

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Voltámos a um local onde já fomos muito felizes.

Já há alguns anos que não se via um daqueles dias com chuva a sério, muita, a fazer lembrar a edição inaugural deste Primavera Sound Porto, em 2012 (com célebre concerto dos Spiritualized em ambiente de enxurrada, ainda hoje recordado). Mas ainda havia alguma esperança de que a coisa não fosse tudo isso, já que ela ainda não caía em força quando o comboio ia chegar até Campanhã, no metro até à Câmara de Matosinhos (melhor opção do que a habitualmente recomendada estação de Matosinhos Sul), e se faz o caminho de poucos quarteirões em linha reta até ao Centro de Vacinação de Matosinhos (local das acreditações, uma novidade deste ano) e se atravessa a estrada da Circunvalação para entrar no concelho do Porto e, claro, no recinto do festival.

É, portanto, em ambiente ainda sequinho que surge Georgia Barnes, mais conhecida simplesmente por Georgia, com o synthpop doce de “It´s Euphoric”, e sobretudo a nova capa dada a “Running Up That Hill”, da rainha Kate Bush, onde a voz da filha de um dos membros dos Leftfield fez bom encaixe e levou o algum público presente consigo.

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Georgia – Primavera Sound Porto 2023. Foto por: Emanuel Canoilas

Alison Goldfrapp, agora desacompanhada de Will Gregory naquele que foi dos agrupamentos mais marcantes na viragem do milénio, tem um historial que dispensa covers. De fato azul brilhante e com as suas tradicionais botas altas, Goldfrapp apostou no seu repertório, digamos, festivaleiro – leia-se mais dançável, e foi misturando com a elegância e energia tranquila da experiência músicas novas da carreira a solo (“Love Invention” ou “Gatto Gelato”, de forte componente eletrónica misturada com os sussurros sedutores de Goldfrapp, com êxitos do duo como o fabuloso crescendo de “Train”, “Ooh La La”, ou “Strict Machine”). Boa prova de vida, mas a ansiedade por um dia ver ao vivo a maravilha chamada Felt Mountain (ausência presente hoje) ao vivo, como Deus a quis, continua aqui. Um dia o assobio de “Lovely Head” e os fantasmas de “Utopia” ecoarão por aí. Espera-se.

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Alison Goldfrapp – Primavera Sound Porto 2023. Foto por: Emanuel Canoilas

Holly Humberstone, fenómeno pop da nova geração (23 anos e já um Brit Rising Star Award no bolso) dá prestação simpática, ainda a mostrar que há muita estrada para andar, mas que deve continuar, como diria Jorge Palma. Porém, chega Baby Keem e percebe-se que o tempo vai mudar e que a depressão atlântica Óscar anda por perto. Keem, ainda mais jovem (22 anos), tem outro tipo de pedalada, e o acompanhamento que tem feito ao vivo com o célebre primo Kendrick Lamar não será alheio a isso. Não que seja por nepotismo, que o jovem californiano mostrou obra própria com The Melodic Blue e, já que se fala de prémios, venceu o Grammy para melhor performance em rap em 2022. “trademark usa” dá logo nota de uma energia forte, palco a emitir vermelhos, mas será mais perto do final com “ORANGE SODA”, a cover de “Praise God” de Kanye West, e a célebre “family ties”, de parceria com Lamar, que Keem terá conseguido animar mais o público que se começava a abrigar com o recomeço da chuva no palco Porto – sobre este novo principal já lá iremos.

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Holly Humberston – Primavera Sound Porto 2023. Foto por: Emanuel Canoilas

Entretanto, a companhia amiga dos nossos favoritos The Comet is Coming, no familiar palco agora batizado de Vodafone. Não há muito que enganar – em qualquer cartaz King Shabaka, Betamax e Danalogue arriscam-se a ser os vencedores em termos de brilhantismo musical, e aqui não foi exceção. Infelizmente, não estávamos num fim de tarde perfeito em Paredes de Coura como no ano passado, e a chuva intensa não tinha a proteção que o Lux deu numa noite também molhada em 2019. Deu para ouvir a enorme “Summon The Fire”, desse tratado em disco que é Trust in The Lifeforce of the Deep Mistery, mas o nível ensopamento não deu para muito mais. Desperdício do dia, graças à crueldade do Óscar.

Kendrick Lamar entra em cena pouco depois da 00h20 em ambiente atmosférico mais controlado, mas num palco Porto num estado muito difícil, com múltiplas zonas intransitáveis e num plano em que os guarda-chuvas abertos e telemóveis no ar, uma constante, não permitiram praticamente ver o celebrado rapper. Teste não passado, vamos ver os restantes dias para ter uma opinião mais bem formada. Sobre este concerto já muito se falou, com opiniões que certamente muito terão a ver com a adulação a um dos maiores dos últimos anos. Mas chegar sozinho, sem banda e apenas com alguns foguetes a serem lançados nalgumas partes e uns poucos dançarinos (de intervenção reduzida no show visual), é, para ser franco, um tiro no porta-aviões. As músicas claro que lá estão, a pessoa física também, mas não é a brincar com mesas que se tira o melhor e o que o cliente merece. 2014 foi melhor? Foi, e bem.

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