Passaram 100.000 pessoas pelo festival ao longo dos três dias. Cá esperamos por 2023!
Conforme prometido, ao último dia mantém-se a lógica em ir de metro (com a nova entrada justifica-se mais a Câmara de Matosinhos para ir direto, mas como se vai almoçar antes sai-se na recomendada Matosinhos Sul), do que apanhar os autocarros 203 e 502. Resulta bem. Logo pelas 17h, temos dupla forte, a sensação inglesa pós-punk Dry Cleaning e o herói local David Bruno no palco Super Bock, numa escolha algo estranha por contraponto com Chico da Tina no dia anterior.
Os Dry Cleaning justificam bem o entusiasmo que têm registado nos últimos anos com um concerto seguro. “Her Hippo” é um bom retrato da atmosfera cool vocalizada por Florence Shaw, e em seguida “More Big Birds”, surpreendentemente dedicada à memória de Paula Rego que partiu há poucos dias (não temos memória de algum paralelo nos concertos do género em Portugal nos últimos anos), a mostrar um lado confessional, quase a fazer lembrar Laurie Anderson.
Mas ao longe ouve-se David Bruno a falar de homenagem a Rui Reininho, impossível ignorar. Responde-se ao chamamento do grande homem de Gaia, e mesmo sem avistar Reininho, fica-se para ver “Interveniente Acidental”, música sobre o drama de quem se envolve em negócios que não consegue controlar, e depois o sucesso de verão “Inatel”, com convidado Miguel para compor o alter ego que publicou Palavra Cruzadas. Mas o motor de arranque da figura David Bruno é obviamente Marco Duarte, conhecido popularmente por Marquito, que salta para o centro das atenções com os seus solos épicos de guitarra com “Não Gosto K M Mentem”, com projeção de imagens de Valentim Loureiro em grande destaque, figura de culto no universo DB. A seguir há dedicatória aos avós de David, originários de Figueira de Castelo Rodrigo. Nunca falha.
Bem diferente é Helado Negro, grande momento para tchilar. Presença simpática e descontraída, é boa ligação para um início de final de tarde ainda escaldante na temperatura. “Gemini and Leo” é plena de funk, “País Nublado” mais confessional, acústica, e “Agosto”, esse mês magnifico, leva-nos em viagem pelas nuvens. Soube bem descomprimir assim.
Já Khruangbin é festa garantida. O trio de Houston, no Texas, composto por Laura Lee no baixo, Mark Speer na guitarra e Donald Johnson Jr na bateria é um dos fenómenos de culto que a organização do NOS Primavera Sound nos brindou, e o novo monte verde atrás do Cupra, depois dos menires, é um local ideal para os ver pelas sete da tarde. “White Gloves” e “Lady and Man” são inícios suaves mas reconfortantes, em particular a última com a sua batida quase surf rock, e a ausência quase total de interação verbal a não fazer reclamar ninguém. Queremos simplesmente seguir na viagem.
Mas o ponto alto é, talvez paradoxalmente, a sequência de (preparem-se): “Let’s Dance”, “Coffin Nails”, “Gazzilion Ear”, “Deep Fried Frenz”, “Dazz”, “Bennie and the Jets”, “It Was a Good Day”, “Regulate”, “Nuthin’ but a “G” Thang”, “Got Your Money”, “Electric Relaxation”, “Get Money, True” e, por último, “Wicked Game”. Demonstração absurdamente talentosa dos Khruangbin, versão pixelizada dos membros da banda a aparecer nos ecrãs a fazer lembrar o clipe de “Fell in Love With a Girl” dos White Stripes. Um dos melhores concertos do festival, fácil.
Os Dinosaur Jr. são outro fenómeno de reverência, este ancorado na cena indie rock americana dos anos 80/90. Mas desta vez com um azar, ficaram instrumentos retidos em Itália e a guitarra Jazzmaster não chegou, “apenas” temos direito uma Telecaster e uma Stratocaster. Há confusão e problemas no som, mas eventualmente se chega a um equilíbrio.
Mas entretanto saímos para descansar, há lapso grande de tempo para coisas que nos captem a atenção. Interpol têm sido muito elogiados pelo concerto em Barcelona e parecem num processo de recuperação de destaque, mas já os vimos algumas vezes, a última em 2019, e resolvemos ir descansar. O descanso foi longo demais e por acidente perdeu-se de forma imperdoável Gorillaz, mas há relatos de bom concerto, com convidados de luxo como Beck. Destaque também, numa nota geral, para a falta de autorização para fotografar diversos concertos, como foi no caso de Gorillaz, Grimes, Bad Gyal e Khruangbin. Está mal.
No regresso ao recinto já só houve tempo para ouvir Joy Orbison, nas nossa estreia no Bits. Casa cheia para ouvir o house e dubstep do inglês, num dia em que foram anunciados recordes de 100.000 espectadores durante os três dias do evento. São quase cinco da manhã e há fila gigante para os autocarros que saem da rotunda da Anémona, mas afinal é só para comprar o agente único (previnam-se e vão antes à banca dentro do festival), quem já tem viagens carregadas é só validar e entrar nas lagartas. Bom serviço.