Justin Vernon trouxe-nos a essência da nossa petrificação pela música com toda a sua magia.
Corria o ano de 2019. I,I era lançado pelas mãos da Jagjaguwar, produtora independente do Indiana, álbum esse mais exótico que o seu antecessor (22, A Million). Nesse mesmo ano, o músico canadiano era confirmado para um concerto na Altice Arena, que deveria ter acontecido em 2020. Como em diversas ocasiões, essa data foi adiada e finalmente concretizada no passado dia 11 de novembro.
As canções de Bon Iver nem sempre são valorizadas e nem sempre são compreendidas. Aquilo que ouvimos na Altice Arena foi quase como um espetáculo de magia que, diga-se, não nos apercebemos de onde desfilava com tanto impacto cada música. Para os mais céticos em artes mágicas, as dúvidas ficaram dissipadas assim que o som da banda conjugava mistério, magia e sonoridade sinfónica. Quase como se de bruxaria tratasse, a banda deu um concerto cheio de mistério e com um espetáculo visual, que não se vê frequentemente.
“Perth” deu o mote inicial, assim como dá no álbum homónimo, de 2011, mostrando-nos uma harmonia entre as duas baterias presentes que elevam o som da banda até aos mais variados cantos desta sala.
O palco estava decorado com néones cúbicos, em formatos geométricos diferentes, e com luzes sincronizadas com os sintetizadores fluorescentes que intensificaram a energia e a entrega em “Heavenly Father” e, de seguida, o dueto com Wasner em “U (Man Like)”, que levou ao primeiro e tímido “Hi!”.
“Faith” entra direto para o paradigma do misticismo da banda que nos leva a uma “715 Creeks” amorosa e em conjunto com o ecoar da sua própria voz em toda a sala. Foi em “Imi” que o amigo James Blake se fez sentir e que continuaria presente em “Hey Ma”, single tocado vezes sem conta para promover a sua peça.
“BloodBank” resgatada do ano de 2009, foi a primeira grande ovação que veio a provar que o mistério estava bem delineado e planeado para chegar a todos os públicos.
“45” foi um momento a sós entre Justin e o saxofonista, e “Salem” introduziu os ritmos dançáveis e sensíveis para nos levarem a toda a alma a “Skinny Love”, praticamente despida com Justin e a bateria.
Após o maior single do artista, Justin dirige-se ao público para dizer “não ponham isto no YouTube, mas esta é a nossa cidade preferida na Europa, seja pela comida, pelas pessoas e porque tudo aqui é perfeito”. Ainda acrescentou que eramos uns sortudos pelo nosso clima. Depois desta declaração de amor ao nosso país, o músico reinventa todo o cenário de misticismos e magia em “Holocene”, que arrebata tudo e todos, romanticamente e cheia de brilho desde a sua existência, numa sala com as luzes da lanterna de cada telemóvel em punho para iluminar a nossa noite.
Sem grandes demoras, o encore termina com três tiros certeiros: “Flume” e “Wolves”, que levaram cada coração para o mundo da lua, e a prece de “RABi” com votos de coragem, determinação em corrigir os nossos erros do passado e “adoptarmos” o próximo.
Uma noite memorável de magia proporcionada por Bon Iver, em que até o som esteve (finalmente) à altura de um grande espetáculo. A nossa forma de viver talvez tenha mudado, mas Bon Iver veio provar-nos que, quanto mais nos levam a sonhar, mais nós queremos acreditar nas pequenas coisas mágicas que existem e que nos provam que todos fazem parte deste mundo.