Embora o Redmi Note 14 Pro surja no mercado com um preço bem acessível para o seu segmento, o software do equipamento e algumas decisões em não melhorar o seu hardware deixam um pouco a desejar.
Depois de terem feito a sua estreia no mercado chinês no final do ano de 2024, no passado dia 10, a Xiaomi realizou um evento que, entre muitas novidades, serviu para anunciar a chegada dos smartphones da série Redmi Note 14 ao mercado europeu, no qual se inclui Portugal e a oportunidade de colocarmos as mãos no Redmi Note 14 Pro 5G.
Começando com um pequeno desabafo, infelizmente, durante a transição entre as versões chinesa e europeia, algumas especificações técnicas mais interessantes do Redmi Note 14 Pro 5G, foram deixadas de lado. Em primeiro lugar, o sistema fotográfico foi mantido, em vez de ser renovado, sendo o mesmo que foi utilizado no Redmi Note 12 Pro Plus, lançado há dois anos. Também se nota a ausência da bateria de carbono-silício, que poderia ter feito uma grande diferença, o que é uma pena.
O Redmi Note 14 Pro partilha um design bastante interessante com o Note 14 Pro Plus. A nível estético, a Xiaomi fez um excelente trabalho, ao optar por materiais de qualidade, como alumínio nas bordas, vidro Gorilla Glass 7i na parte traseira e Gorilla Glass Victus 2 para proteção do ecrã. Estamos, portanto, a falar de uma construção de alta qualidade, normalmente reservada para dispositivos topo de gama. O smartphone é também resistente à água e à poeira, com certificação IP68.
A qualidade do dispositivo ao toque e manuseamento é excelente e a ergonomia também se destaca, apesar das suas grandes dimensões, muito graças à dupla curvatura do ecrã e da sua tampa traseira, que se ajustam bem à palma da mão. A curvatura suave, mas claramente visível, do ecrã, é um dos principais elementos estéticos do Redmi Note 14 Pro, conferindo-lhe um aspeto refinado e elegante. A desvantagem, no entanto, são os reflexos que surgem nas bordas do ecrã, algo que nem todos podem apreciar e que pode ser ligeiramente irritante ao visualizar conteúdo multimédia.
E já que estamos a falar do seu ecrã, é importante realçar que este se destaca e bem, pois é, sem dúvida, uma das suas maiores mais-valias. Trata-se de um painel OLED de 6,67 polegadas com resolução 1,5K, taxa de atualização de até 120Hz, com suporte de HDR10+ e Dolby Vision, conta com um leitor de impressões digitais integrado e é capaz de atingir um brilho máximo de até 3.000 nits. As especificações do ecrã são de excelente qualidade, mas o que realmente impressiona é o seu desempenho no uso diário, com uma legibilidade excecional em ambientes exteriores e um conforto visual noturno proporcionado pelo escurecimento PWM a 1920 Hz.
O software oferece várias opções para ajuste automático de brancos, embora as traduções e a organização dos menus possam ser algo confusas e, por vezes, passar despercebidas. Para completar as funcionalidades, é necessário ativar o “modo de leitura” e depois ativar a opção “ciclo”.
No interior deste smartphone da Redmi é fabricado pela MediaTek, o Dimensity 7300-Ultra, que faz a sua estreia neste modelo. Trata-se de um SoC recente de gama média, fabricado no processo de 4 nm. No papel, trata-se de uma excelente plataforma de hardware, mas na prática, notei algumas lentidões excessivas na interface, lag esporádico e uma fluidez abaixo do ideal, como se o smartphone estivesse um pouco “amarrado”. A boa notícia é que, em jogos ou quando são exigidos recursos mais pesados, o Redmi Note 14 Pro mantém o desempenho e acompanha o utilizador em todas as tarefas. O problema parece estar, portanto, relacionado com o software, o HyperOS, que ainda precisa de alguns ajustes. Fica assim a expectativa que, com futuras atualizações, esta situação melhore.
No que diz respeito às memórias, pouco há a fazer, pois são relativamente lentas para um smartphone de 2025. O modelo está disponível com 8GB de RAM LPDDR4X e 256GB de armazenamento interno UFS 2.2.
No uso diário, o Redmi Note 14 Pro não me convenceu completamente. Falarei sobre o software mais em baixo, mas há uma série de imperfeições de hardware que exigem alguma tolerância. Em primeiro lugar, a receção do sinal não é das melhores. Embora aprecie o suporte para eSIM, para além dos dois nano SIMs físicos, em algumas situações verificou-se uma fraca receção de rede, onde normalmente não deveríamos ter problemas.
O segundo ponto que pode ser melhorado é, sem dúvida, o sensor de proximidade ultrassónico. Este não funciona corretamente, não desliga o ecrã quando deveria e, quando o faz, volta a ligá-lo muito lentamente. A Xiaomi tem um histórico negativo com este componente simples, mas crucial, e continua a persistir com erros difíceis de explicar.
O terceiro componente a deixar a desejar é a resposta ao toque, que se mostra algo fraco e impreciso. A qualidade medíocre é especialmente visível agora com o novo HyperOS, que traz um feedback de vibração mais rico, mas que ainda não consegue compensar esta falha.
Por outro lado, o leitor de impressões digitais, que é ótico e integrado no ecrã, é muito rápido e preciso. Também fiquei satisfeito com a saída de áudio estéreo dos dois altifalantes, que é encorpada e poderosa.
No que toca, então, em relação ao software, aqui sinto que o Android 14 e o HyperOS deixam a desejar em alguns aspetos. A Xiaomi deveria, idealmente, ter lançado o dispositivo com o Android 15, que é a versão mais recente do sistema operativo desde há alguns meses. As atualizações de segurança também não são as ideais, encontrando-se atualizados apenas até novembro de 2024. O smartphone terá suporte para 3 anos de atualizações do Android e 4 anos de atualizações de segurança.
A transição do MIUI para o HyperOS foi suave, no geral. Os utilizadores habituados ao MIUI encontrarão um ambiente de software familiar, sem grandes inovações em termos de organização dos menus e design gráfico. Dentro das configurações, há uma variedade de recursos, opções de personalização e ajustes no comportamento do smartphone, além de um conjunto denominado “interconectividade”, que facilita a gestão de algumas automações entre dispositivos com HyperOS. Contudo, também encontrei várias aplicações pré-instaladas, algumas das quais que considero que possam ser um pouco invasivas, com notificações indesejadas. Inicialmente, a experiência de utilização não me entusiasmou, mas com algum tempo e personalização, é possível desinstalar aplicações desnecessárias e tornar o sistema mais agradável.
No entanto, persistem alguns problemas gráficos, como nas notificações, que muitas vezes aparecem cortadas na pré-visualização, com um efeito algo desleixado, ou com lentidão na abertura das várias páginas do menu, dando a impressão de que o telefone precisa de se ligar à Internet para carregar dados. Por outro lado, há uma série de funcionalidades de inteligência artificial disponíveis na aplicação de notas, como ferramentas de edição de fotos e vídeos, transcrição e tradução de clipes de áudio gravados, legendas automáticas, traduções em tempo real e o sempre presente Circle to Search da Google.
Pessoalmente, acredito que a grande maioria dos problemas que referi serão resolvidos com a chegada da nova versão do HyperOS, que será baseada no Android 15, e que segundo os responsáveis da Xiaomi em Portugal, acontecerá no decorrer das próximas semanas.
A discussão sobre as câmaras do Redmi Note 14 Pro pode ser relativamente curta, pois encontramos o mesmo conjunto de câmaras do Redmi Note 12 Pro+. Como já mencionei, é uma pena ver que a secção fotográfica perdeu qualidade em comparação com a versão chinesa, uma escolha difícil de compreender, pois teria conferido um prestígio muito diferente ao produto.
As fotos são decentes, com a câmara principal de 200 MP e OIS, a oferecer detalhes suficientes e uma boa gestão das cores, sem saturação excessiva, algo comum em muitos dispositivos de gama média e baixa. O contraste é ligeiramente aumentado para melhorar a clareza, mas não será difícil suavizar o efeito em pós-produção. A opção de fotografia em resolução total é válida, proporcionando imagens muito detalhadas, mas exige boa iluminação para evitar o ruído.
A câmara ultra grande angular do Redmi Note 14 Pro oferece uma segunda perspetiva, mas com resolução baixa e pouca nitidez nas bordas, sendo utilizável apenas em boas condições de luz. A câmara macro de 2 MP, como já mencionámos em outras ocasiões, tem um número que soa interessante, mas na prática, não traz grande utilidade no dia a dia. Quanto às selfies, são interessantes, com o seu sensor de 32MP conseguimos obter boas imagens e ideias para as redes sociais.
Nos vídeos, o Redmi Note 14 Pro suporta gravação em 4K a 30fps, com boa qualidade geral. No entanto, a estabilização não é particularmente eficaz na resolução máxima, sendo muito melhor ao mudar para FullHD, onde o desempenho é muito mais consistente e com melhor resultado final.
Não podia terminar esta análise sem falar na bateria do Redmi Note 14 Pro, que conta com 5110mAh e oferece uma autonomia muito boa. Mesmo com o modo de alto desempenho ativado, consegui atingir facilmente um dia e meio de utilização intensa, chegando até às 7 horas de ecrã ativo. Não há suporte para carregamento sem fio, mas com cabo, o dispositivo suporta carregamento rápido de 45W, permitindo uma carga completa em pouco mais de 75 minutos. Vale destacar que, quando compramos o equipamento, o carregador não está incluído, sendo necessário adquiri-lo separadamente.
O foco das inovações da Xiaomi no Redmi Note 14 Pro 5G, parecem ter-se focado na inclusão de diversas funcionalidade baseadas em inteligência artificial, que não são nada comuns nos smartphones nesta faixa de preço. Temos o Circle to Search temos da Google, o AI Image Expansion e o AI Erase Pro, que facilitam a remoção de objetos indesejados, e outros recursos muito interessantes como os Dynamic Shots, que anima as imagens, e o modo Dual Video, que grava simultaneamente com as câmaras frontal e traseira.
O Redmi Note 14 Pro, está disponível por 399,99€, e embora seja um bom equipamento, mesmo que este valor pareça recomendável, não fiquei completamente satisfeito com a sua entrega. O dispositivo conta com diversas imperfeições, mas o mais preocupante é que muitas delas já foram identificadas no modelo do ano passado. A isso junta-se a deceção por não vermos, na versão global, algumas das inovações importantes introduzidas na variante chinesa, como o sistema fotográfico renovado e a bateria com ânodo de carbono-silício.
Este dispositivo foi cedido para análise pela Xiaomi Portugal.