O Philips GamePix 900 não é um caso de amor à primeira vista, falhando as expectativas de um equipamento moderno. Mas a experiência 4K prometida é absolutamente imaculada.
Quando a Philips anunciou um novo projetor dedicado a jogadores, fiquei muito entusiasmado. Afinal de contas, a marca não é estranha a excelentes ofertas neste setor, como a linha EVNIA demonstrou. A sua promessa era igualmente emocionante, com projeção 4K, suporte de 240Hz e de HDR10, e projeção DLP, tudo num pacote que a marca considera “acessível”, especialmente com o seu desconto de 40%, para os 1000 primeiros clientes.
Excluindo o seu desconto de lançamento, o Philips GamePix 900 tem um preço recomendado de 1.199€ (699€ para as primeiras mil unidades). É um valor ainda elevado, independentemente da sua promessa, mas que acarreta expectativas, igualmente elevadas. E com isso em mente, as minhas primeiras impressões com o Philips GamePix 900 não foram propriamente as mais positivas.
Com dimensões relativamente generosas (219x219x119), o Philips GamePix 900 é construído com materiais de qualidade satisfatória, são sendo propriamente material barato ou muito premium. Este é um aspeto de menor relevância, uma vez que este projetor é uma solução para ser instalada de forma fixa e não como um projetor portátil como as imagens de marketing pareciam aludir. O Philips GamePix 900 revela rapidamente as suas limitações ao olharmos para as suas portas, onde encontramos apenas uma HDMI 2.0, uma porta USB-A e uma saída de áudio de 3.5mm. A porta HDMI 2.0 denuncia também outra limitação, de que os 240Hz não funcionarão a 4K, e a falta de mais entradas e saídas também não é propriamente positivo, dado que se terá que recorrer a um switch ou estar constantemente a por e tirar a fixa dependendo do dispositivo a usar.
Esta necessidade de trocar de dispositivo tornou-se imediatamente relevante ao ligar o Philips GamePix 900 e descobrir que este é um projetor moderno, mas de operação à antiga, sem funcionalidades inteligentes ou um sistema operativo integrado. Ou seja, para quem estiver à espera de encontrar uma solução com um sistema operativo como o Google TV, ou algo proprietário da Philips, irá ficar desiludido como eu fiquei. Assim, para explorar as capacidades do o Philips GamePix 900, é necessário hardware adicional, como uma box Android, uma consola ou um PC.
Esta falta de um sistema proprietário levanta ainda outras limitações, como a falta de redimensionamento e foco automáticos, ou, especialmente, no que toca ao áudio, dado que não existe nem Wi-Fi nem Bluetooth, e a única forma de ter áudio com o Philips GamePix 900 é através da sua saída de 3.5mm – que não é ideal -, por HDMI ligado a um amplificador/barra de som com passagem de vídeo, ou através da coluna embutida cuja experiência é insatisfatória e estridente.
O Philips GamePix 900 tinha quase todos os elementos para o odiar, até porque, ao falhar estas expectativas, a logística de o instalar e de utilizar revelaram-se incrivelmente distantes daquilo que é normal nos dias de hoje. Afinal de contas, até projetores mais baratos, de marcas duvidosas, apresentam-se incrivelmente mais completos do que esta solução da Philips que custa, para todos os efeitos, 1.200€. Ainda assim, ultrapassando algumas das suas inconveniências, acabei por adorar o que o Philips GamePix 900 tinha para dar!
Uma vez instalado com um dispositivo compatível, a imagem produzida pelo Philips GamePix 900 é imaculada. Não sendo muito comum trabalhar com projetores deste género, e sendo a minha estreia com projeção 4K, não consigo não ficar extremamente impressionado com a definição obtida com este projetor. A Philips vende o Philips GamePix 900 como uma solução 4K nativa, mas tal não é de facto, pelo menos a nível técnico, dado que a tecnologia DLP, neste caso o chip DMD de 0,47 polegadas da Texas Instrument, não é capaz de tal resolução. Assim, a imagem produzida em 4K é conseguida através de upscale. Já a nível perceptivo, a história é outra, pois a imagem sente-se mesmo 4K, algo que é extremamente evidente em videojogos, ligando uma PlayStation 5 Pro ao projetor e alterando os modos de Qualidade e Desempenho. Esta sensação de resolução 4K nativa impressiona ainda mais considerando que soluções realmente nativas já ficam fora de orçamentos realistas para casuais e, até, entusiastas de orçamentos mais apertados, começando a haver sinais que justificam o seu valor alegadamente “acessível”.
Para além da incrível definição percetível, o Philips GamePix 900 é também extremamente brilhante. Capaz de 1000 ANSI lumens de pico, uma simples projeção numa parede (sem tela) é capaz de iluminar toda a divisão com uma grande intensidade. Na prática, este valor é capaz de produzir imagens vibrantes com um excelente contraste e detalhe, satisfazendo todas as minhas necessidades mais exigentes no que toca a jogos e filmes. Contudo, não é uma solução milagrosa e não resolve o problema de cenas mais escura, como o primeiro encontro com a Shai-hulud em DUNE: Part I, ou o infame episódio escuro The Long Night de Game Of Thrones.
De notar que, nos meus testes, não tive acesso a uma tela de projeção, pelo que não me foi possível explorar ao máximo a natureza desta projeção. Por isso, o reflexo de luz revelou-se extremamente alto, a projeção de tons escuros apresentou-se um pouco mais cinza e, por fim, é percetível alguma aberração cromática em elementos mais afiados e precisos da imagem – resultado da posição da lente e da rugosidade da tinta da parede usada. Ainda assim, estes pequenos inconvenientes não se colocam no caminho de uma experiência de cinema em casa extraordinária.
Extraordinário é também o tamanho produzido. Este foi o projetor que colocou em perspetiva o real tamanho de um ecrã de 120 polegadas – o máximo deste projetor. É gigante e não é para qualquer sala ou divisão. No meu caso, usei o meu quarto, a única divisão da casa com parede suficiente para utilizar o Philips GamePix 900, que, mesmo assim, a 3,5 metros de distância da parede oposta, me deixou limitado a umas “simples” 100 polegadas de diagonal. Para o uso dado, é uma experiência terrifica, que oferece uma sensação de escala incrível. Ainda que não seja “IMAX” real – que não existe no cinema doméstico – filmes IMAX Enhanced, como obras de Christopher Nolan ou alguns filmes da Marvel, revelam-se experiências que me fizeram questionar se quero continuar a usar a minha LG OLED de 55 polegadas daqui para a frente.
Outro aspeto de destaque é o suporte de HDR 10. Mas aqui a experiência já é mais mista. Dependendo do conteúdo e do dispositivo usado, a imagem apresentada pode ser fantástica, mas foram demasiadas as vezes em que optei por apreciar a experiência em SDR, pela dificuldade que tive em calibrar os tons. Mesmo com os vários modos disponíveis e parâmetros à minha mercê, a projeção HDR acabava por apresentar alguns tons roxos e verdes mais acentuados, como se de um filtro se tratasse. É claramente uma questão de calibração e de afinação que, ao longo de um mês de utilização, ainda não encontrei o ponto certo, revelando-se assim uma opção pouco intuitiva de utilizar.
Outro grande destaque é, obviamente, os 240Hz (até aqui tenho comentado apenas a experiência 4K, mas limitada a 60Hz). A taxa de frames mais elevada, tal como se suspeitava, está apenas disponível para os 1080p, dada a limitação da ligação e do processamento interno do projetor. A melhor forma de testar as altas taxas de frequência é, obviamente, com uma consola moderna, uma Xbox Series X|S ou PlayStation 5/5 Pro, e funcionam como seria de esperar. As consolas, ainda assim, ficam limitadas à saída 1080p, mas apenas com 120hz, mas os jogos apresentam-se claramente mais fluidos e responsivos. Já para atingir os 240Hz, o ideal é mesmo a utilização de um PC, que terá que ter configurações à altura.
Modos de 1080p a 240Hz são bem-vindos, mas a sua utilização é longe de ser a mais realista. Mesmo a 120Hz com as consolas modernas, o sacrifício da resolução é particularmente notório com as grandes dimensões da projeção e, para ser franco, jogar de forma competitiva não é, certamente, num projetor. Bons argumentos para a venda do produto, mas extraordinariamente sobrevalorizados.
O grande calcanhar de Aquiles do Philips GamePix 900 é mesmo a abordagem ao áudio. As suas colunas não são ideais e a falta de conectividade relevante para este tipo de experiência deixa imenso a desejar. Ao usar uma box Android, a alternativa que tive em mãos foi mesmo o recurso a colunas Bluetooth, que são satisfatórias para por a passar televisão e conteúdos de YouTube. Já para consumo de filmes e séries, o Bluetooth não é ideal devido à latência entre som e imagem. No campo dos jogos, com as consolas modernas, há sempre a ligação direta aos comandos ou o uso sem fios através de dongles dedicados ligados às consolas, mitigando a latência no uso de auscultadores. Contudo, para uma imagem tão grande, por vezes o uso de até os melhores auscultadores “não parece correto”. Mas foi, no meu caso, a melhor opção.
Com uma vida útil até 30 mil horas, o Philips GamePix 900 também promete uma longevidade excelente para o tipo de equipamento que é, mas continua a revelar-se um investimento potencialmente mais elevado do que aquele que o seu preço propõe. As suas especificações técnicas são excelentes e a qualidade da projeção reflete, de facto, a sua promessa. Mas a sua utilização à antiga e a falta de funcionalidades expectáveis num equipamento para multimédia em 2025 deixam imenso a desejar e levantam imensas questões na logística de utilização.
Este não é um projetor de utilização acessível. É um projetor à séria com o qual os utilizadores devem equacionar o recurso a equipamentos extra como um amplificador de som – e não uma barra de som a menos que queiram um longo cabo pela sala até à ponta oposta da parede – e uma tela de projeção à altura que pode valer mais umas centenas de euros. Algo que será certamente o meu próximo passo.
O Philips GamePix 900 tem lançamento a partir de abril e ainda está em pré-venda por 699€, na sua página oficial.
Este dispositivo foi cedido para análise pela Philips.