A atualização de meia geração da PlayStation 5, a PlayStation 5 Pro, cumpre a promessa de oferecer um desempenho superior numa seleção limitada de jogos, mas o seu preço premium dificilmente justifica as suas vantagens.
Para quem é a PlayStation 5 Pro? O que traz a PlayStation 5 Pro para a indústria? E será que a PlayStation 5 Pro vale a pena? Estas são algumas das questões mais frequentes dos consumidores desde que a mais recente variante da PlayStation 5 foi apresentada e, talvez mais, desde o seu lançamento, no passado dia 7 de novembro.
Há que deixar bem clara a sua natureza: a PlayStation 5 Pro não é a nova geração de consolas PlayStation e não representa sequer uma nova geração de videojogos. No entanto, 4 anos depois do início da geração atual de consolas – que começou com o lançamento da PlayStation 5 e da Xbox Series X|S -, a Pro é, seguramente, aquela que responde às verdadeiras ambições e promessas que foram feitas em 2020: jogos 4K, com Ray-Tracing e com alto desempenho. Quando possível, a PlayStation 5 Pro oferece tudo isto junto.
As melhorias da PlayStation 5 Pro, em números
Começando pela parte teórica da coisa, a PlayStation 5 Pro foi desenhada com base na consola original de 2020, mas com melhorias em três departamentos:
- Um CPU melhorado com mais 64% de Unidades de Computação e 28% de memória mais rápida do que o modelo normal – Isto traduz-se em sensivelmente 45% de melhorias em desempenho, com melhor qualidade de imagem e fluidez da experiência de jogo;
- Novas capacidades de iluminação com Ray-Tracing avançado, que permitem visuais mais realistas, com reflexos de maior resolução, implementação de soluções mais pesadas como iluminação global, melhores sombras, entre outros aspetos relacionados com a simulação do comportamento da luz.
- E uma nova técnica de upscale suportada pela Inteligência Artificial, desenvolvida pela Sony, chamada PlayStation Spectral Super Resolution, que serve de alternativa ao FSR da AMD e ao DLSS da NVIDIA.
Enquanto o último ponto é uma novidade e uma resposta às soluções de outros fabricantes, os dois primeiros pontos representam apenas possibilidades ao recurso de novos e melhores componentes presentes no novo modelo da PlayStation 5. Em suma, oferecem à nova máquina um pulmão maior para as suas operações.
Ao contrário do que a geração passada ofereceu, com a PlayStation 4 Pro e a Xbox One X a surgirem como consolas de meia-geração com novidades realmente notórias – como foi a implementação de gráficos 4K e a possibilidade dos jogadores poderem optar por modos de jogo dedicados à Qualidade ou ao Desempenho -, a promessa e a entrega potencial da nova PlayStation 5 Pro é um pouco mais subtil porque vem efetivamente fazer o mesmo, mas com melhorias que, em muitos casos, podem não ser tão elevadas como se gostaria. No entanto, há motivos para haver entusiasmo.
Uma outra forma de olhar para a PlayStation 5 Pro é enquanto uma solução que pega num catálogo de jogos compatíveis da PlayStation e os apresenta com uma qualidade e desempenho mais próximos daquilo que os computadores contemporâneos apresentam. Ou seja, falamos de uma melhoria de experiência de jogo, muitas vezes apenas visual.
Por este ponto de vista, a PlayStation 5 Pro tem um público-alvo muito específico e de nicho: os fãs das análises técnicas. Os fãs que querem as imagens mais perfeitas possíveis e que pretendem jogar sem grandes compromissos. Mas, ainda assim, se corresponderem a esse grupo, preparem-se para não encontrem uma solução tudo em um, como Mark Cerny tentou na sua revelação, mas já lá vamos.
Um valor difícil de justificar
Por 799,99€, a PlayStation 5 Pro não é barata. É, por agora, a consola mais cara dos últimos anos – não contando edições especiais. E é, de facto, um valor difícil de justificar mesmo com as suas melhorias, pois a PlayStation 5 normal (e a Slim) continua a ser o foco central desta geração da Sony e o seu “denominador menor” para o qual os jogos atuais são realmente criados, impossibilitando que as melhorias para a Pro sejam uma prioridade para os estúdios.
Para além disso, e talvez o mais difícil de justificar, é a oferta que a PlayStation 5 Pro inclui por esse preço. Ou melhor, o que não inclui. A PlayStation 5 Pro atual é vendida em standalone, sem inclusão de nenhum jogo extra – para lá de Astro’s Playroom já pré-instalado -, não inclui a base para colocar a consola na vertical, nem o seu leitor de discos Blu-Ray. Fazendo bem as contas, para obter o pacote completo, adquirindo a base e o leitor em separado – algo incluído na PlayStation 5 Original e em alguns pacotes da Slim – os novos utilizadores terão que investir 919,98€!
Esta não é só uma péssima manobra para os consumidores e fãs da PlayStation, como é uma traição, uma vez que uma grande fatia potencial de jogadores da PlayStation já conta com uma biblioteca física ou tem um ou outro jogo em disco que deixará de funcionar se não tiver um leitor. Como se não bastasse, o leitor Blu-Ray não se encontra atualmente em stock e, de acordo com representantes da marca ao Echo Boomer, não há indicações da sua reposição de stock para breve. Esta decisão também representa um impasse para os adeptos de cinema, que esperam usar as suas consolas como leitores para os seus filmes favoritos.
Quanto à falta de base… bem, esta não é propriamente necessária. De qualquer das formas, graças ao poder da comunidade e de uma impressora 3D, acabei por fabricar uma base, virtualmente a custo zero, que me dá alguma tranquilidade, especialmente quando jogo com o PlayStation VR2, onde um puxão mais agressivo pode deitar a “torre” a baixo.
Podemos argumentar que o futuro é digital, que muitos utilizadores já só se focam em jogos digitais, mas são muitos mais os argumentos que defendem a necessidade de um leitor físico – especialmente a meio da geração. Ao contrário da Microsoft, por exemplo, que lançou recentemente uma edição digital da Xbox Series X, esta funciona como uma solução alternativa, mantendo a original à venda. Já a PlayStation 5 Pro é a única versão desta consola.
No que toca à oferta superficial pelo seu valor, a PlayStation 5 Pro apenas se destaca positivamente por ter 2TB de armazenamento interno (mais precisamente 1.89TB), mais do que o dobro dos 825GB da consola base. Esta extensão de armazenamento é extremamente bem-vinda, dadas as dimensões dos jogos contemporâneos e o facto de ser uma consola digital. É uma melhoria tão boa que não senti necessidade de trazer o SSD adicional instalado na minha consola base para a nova.
De cara lavada, com um ar refrescante e familiar
A nível de design, a PlayStation 5 Pro é mais um caso do “ou se adora ou se odeia”. A verdade é que a consola base, apesar de ter deixado muitos utilizadores de nariz torcido quando foi revelada ao mundo, com o tempo começou a ganhar algum apreço e charme, com os seus já icónicos colarinhos e os LEDs ascendentes, e a sua tonalidade que lembra uma bolacha de Oreo invertida.
A PlayStation 5 Pro não muda drasticamente o seu design, refinando-o e ajustando-o às novas tendências e dimensões. Pegando na linguagem visual do modelo Slim, a PlayStation 5 Pro apresenta-se mais baixa, mais fina, mais leve, mais retangular até, e distingue-se não por uma, mas por três guelras em cada um dos seus painéis laterais. Este elemento é meramente visual e não serve de ventilação da consola, que continua a ser feita através das grelhas na parte interior dos seus ascendentes colarinhos, tal como na consola base. De notar que essas listas escondem pequenas incidências onde é possível anexar pequenos pés para colocar a consola deixada na horizontal – acessórios que estão felizmente incluídos.
Outras alterações podem ser encontradas a nível de portas, em particular na parte frontal, onde em vez de um combo USB-A mais USB-C, temos duas portas Tipo-C. Já na traseira, encontramos então duas Tipo-A, junto com a porta HDMI, Ethernet e de alimentação.
A remoção da porta USB-A na parte frontal é, francamente, uma má decisão, especialmente para quem recorre à mesma para alimentar alguns periféricos ou para extrair conteúdo multimédia como fotos e clipes de vídeo. USB-C pode ser o novo standard, mas não deveria ser forçado desta maneira quando a consola base o fazia com alguma elegância.
E por falar em elegância, apesar de tudo, a PlayStation 5 Pro é bem elegante – pelo menos para mim. O seu design é refrescante, desportivo (e não me refiro às suas listas ao estilo Adidas) e casa bastante bem com o restante ecossistema da PlayStation, que se mantém o mesmo há 4 anos, e de onde destaco o DualSense incluído, que, apesar de não o ter usado (pois não me faltam outros comandos), mantém o mesmo registo visual e ergonómico.
Uma vez ligada, a PlayStation 5 Pro não oferece nenhuma novidade de destaque. O sistema e a apresentação gráfica são exatamente os mesmos a que os jogadores da versão base já estão familiarizados, o que é ótimo. As diferenças são encontradas apenas a nível de definições, onde é possível encontrar opções exclusivas da Pro, como, por exemplo, a opção de saída 8K (para painéis compatíveis) e o modo de “Melhoria de Qualidade de Imagem para Jogos PS4” – uma função que alegadamente pode ser usada em milhares de jogos dessa geração.
Suporte nativo de jogos limitado, mas em crescimento
Apesar deste apanhado geral do que a PlayStation 5 Pro tem e não tem, o que importa é a extensão do uso das suas capacidades visuais aumentadas e como estas melhoram, ou podem melhorar, o desempenho dos jogos. E neste campo, os jogadores vão ficar “reféns” das capacidades dos estúdios em aplicar as devidas atualizações. Por outras palavras, depende do suporte a nível de software.
No momento de escrita deste texto, são mais de 50 os jogos com melhorias para a PlayStation 5 Pro. E quase todos operam de forma diferente e oferecem soluções diversas, das mais simples e diretas a nível de desempenho, a soluções mais complexas e versáteis que podem consumir o tempo e a paciência dos utilizadores, antes de se decidirem de que forma querem jogar os seus títulos favoritos.
Ao longo dos últimos dias, revisitei uma seleção de jogos da minha biblioteca com atualizações dedicadas à PlayStation 5 Pro. Alguns de estúdios da PlayStation, outros de estúdios terceiros, e, em alguns casos, até fiquei impressionado pela negativa ao não encontrar ainda uma atualização, com foi o caso de Gran Turismo 7 ou LEGO Horizon Adventures, durante este período. Por agora, só Gran Turismo 7 tem uma atualização prometida, mas estes atrasos só revelam que o suporte para a nova consola sempre é garantido em todos os jogos e até nos seus lançamentos.
Uma das observações feitas por Mark Cerny para o desenvolvimento da PlayStation 5 Pro é que, com a nova consola, os jogadores não precisam de se preocupar na escolha entre Qualidade ou Desempenho, com os produtores a poderem optar por modos de jogos onde a fidelidade gráfica nos tradicionais modos de Qualidade oferecem o desempenho dos modos de Desempenho. Resumidamente, a PlayStation 5 Pro vem oferecer os 4K a 60 FPS (sendo estes nativos ou não, depende de jogo para jogo). E missão cumprida! Pelo menos nos jogos da PlayStation Studios que testei.
Horizon Zero Dawn Remastered, Horizon Forbidden West, Marvel’s Spider-Man 2, God of War: Ragnarok, ou The Last of Us Part II, para nomear alguns, cumprem esta promessa de forma fantástica. É como iniciar os jogos em modo “turbo”, onde temos, de facto, o melhor de dois mundos. Aqui deve também ser feita uma menção honrosa a Final Fantasy VII Rebirth, que faz justiça a todas as antevisões feitas pelos meios dedicados, oferecendo uma experiência de jogo drasticamente melhor que a encontrada na consola base.
Dos jogos acima mencionados, existem alguns que vão um pouco mais além nas capacidades da PlayStation 5 Pro, oferecendo outros modos visuais. Apesar de bem-vindos, o acréscimo destes modos volta a atirar a premissa inicial da PlayStation 5 Pro à estaca zero, levantando dúvidas aos jogadores e fazendo-os questionar que diferenças estão à procura, resultando em conclusões pouco satisfatórias.
Pegando no exemplo de Marvel’s Spider-Man 2, que é um jogo belíssimo já no modelo base da consola, contamos com um modo de desempenho para a Pro, que oferece o melhor de dois mundos, e temos novamente um novo modo de 30 FPS, apostando numa qualidade de imagem ainda melhor, graças à ativação de novas técnicas de iluminação e de Ray-Tracing. Não há dúvidas de que, neste novo modo de qualidade, existem diferenças, e eu, enquanto entusiasta destes pequenos detalhes, aprecio a opção. Contudo, o salto visual entre os dois novos modos é tão baixo que se torna fácil optar pelos 60 FPS. Pessoalmente, sinto esta adição como alga desnecessária… e até irritante.
Horizon Zero Dawn Remastered e Horizon Forbidden West são outros jogos que oferecem modos semelhantes, ao passo que God of War: Ragnarok e The Last of Us Part II já optam pelo mais simples, um modo único para a Pro, oferecendo a melhor experiência possível na consola.
As novidades não se ficam por aqui, com a PlayStation 5 Pro a revelar o seu verdadeiro potencial em monitores e TV com suporte de 120Hz ou mais, onde em alguns destes jogos é possível ativar o VRR e jogar com taxas de framerate acima dos 60 FPS ou com limites desligados, sem perda de fidelidade visual face aos modos de qualidade da consola base. Para quem tiver um painel semelhante, a PlayStation 5 Pro pode, de facto, ser uma ótima escolha ou atualização.
Depois temos jogos onde as opções de suporte para a Pro são mais dispersas e com um grau de desempenho menos consistente. Um desses casos é Alan Wake II. Apesar do jogo da Remedy se apresentar incrivelmente bem na PlayStation 5 Pro, onde a produtora finlandesa até ativou Ray-Tracing avançado no seu jogo, é notório o sacrifício da resolução. A qualidade de imagem é superior à da consola base, mas continuamos a ter uma imagem inconsistente, com arestas quebradas e, por vezes, desfocada, bem abaixo do que estamos habituados em imagens 4K.
O mesmo se aplica a Star Wars Jedi: Survivor. Ainda que a qualidade de imagem seja muito melhor, o jogo opera em dois modos, um a 30 FPS e outro a 60 FPS, ambos com Ray-Tracing ligado, onde a única diferença visual notória é encontrada na resolução de imagem e na qualidade dos reflexos, mas ambas longe de apresentarem uma imagem clara e pristina, como noutros jogos já aqui mencionados.
Claro que estes são alguns exemplos de apreciações meramente superficiais, mas com as quais pretendo pintar a tela de que a PlayStation 5 Pro não é propriamente melhor que a PlayStation 5 base sem a devida otimização e suporte dos estúdios, com resultados e ganhos de desempenho variados, que continuam a sofrer sacrifícios em função dos recursos das equipas e das limitações do hardware. Como se pode concluir, a geração de Modos a 30 FPS ainda não desapareceu. O suporte dos jogos estende-se também aos jogos do PlayStation VR2, mas, mais uma vez, sempre dependentes do trabalho individual aplicado a cada jogo.
De forma mais generalista e sem otimizações dedicadas, há jogos que beneficiam da PlayStation 5 Pro com melhor desempenho e resolução, nomeadamente títulos cuja resolução é dinâmica e/ou as taxas de frames não são fixas. Encontrar jogos destes requer alguma tentativa e erro, já que não estão identificados. E por falar em identificação, é lamentável que o sistema da PlayStation 5 não tenha sido ainda atualizado com filtros para podermos encontrar jogos otimizados para a PlayStation 5 Pro na nossa biblioteca e na loja. Algo assim não só seria útil para os jogadores, como revelaria maior transparência por parte da Sony.
No que toca ao suporte de jogos da PlayStation 4, com o tal modo de Melhoria de Qualidade de imagem para jogos PS4, este infelizmente não me impressionou, com a maioria dos jogos testados a apresentarem-se virtualmente iguais à sua versão nativa. A grande diferença é que são apresentados com um filtro de “sharpening” que dá a ilusão de uma resolução melhorada. E isto só se nos aproximarmos no ecrã, não sendo imediatamente notório um aumento da claridade e fidelidade de imagem ou qualquer alteração à experiência de jogo no geral.
Para quem usa a PlayStation Portal, a PlayStation 5 Pro representa uma ligeira vantagem na utilização do periférico de streaming. Não a nível de latência, e tão pouco resolve os micro solavancos que afetam muitos jogadores mais sensíveis, mas é possível obter uma experiência de jogo substancialmente melhor, especialmente nos modos otimizados a 60 FPS nos jogos disponíveis. Como a resolução desses jogos é maior, a imagem reproduzida em streaming é mais clara e vibrante. E uma vez que é possível adicionar os 60 FPS à experiência, a jogabilidade na PlayStation Portal é igualmente fluida nessa qualidade. É excelente.
Uma boa atualização de meia geração, que não substitui a PlayStation 5 base
A PlayStation 5 Pro é uma consola fantástica, mas tem um problema que se destaca bem mais do que qualquer outra observação aqui partilhada: a PlayStation 5 base é igualmente fantástica e custa menos 250€ – e ainda inclui leitor de discos. A promessa de experiências de jogo com menos compromissos e com maior fidelidade é notória, mas numa seleção ainda limitada de jogos. Assim, entrar nesta geração com a PlayStation 5 Pro, ou atualizar da versão base, pode não ser uma boa aposta, especialmente quando o salto de desempenho é uma mera fração, comparando, por exemplo, com a diferença de desempenho entre uma Xbox Series S e uma Xbox Series X.
Após ter investido 799,99€ na PlayStation 5 Pro, posso dizer que estou satisfeito, mas mais porque sinto que sou o público-alvo desta experiência. Mesmo com as suas falhas e as minhas dúvidas, essa experiência correspondeu às minhas expectativas. Mas saindo do público-alvo, a resposta torna-se mais complexa e, apesar de todos os elogios que lhe teci, a verdade é que as ausências foram sentidas, e falta compreender se o apoio dos estúdios será consistente ou não. Por isso, se me perguntarem “se vale a pena”, a minha resposta será, para já, um “se calhar, ainda não”.
Este produto foi adquirido pela equipa do Echo Boomer para análise.