A Oenofuture Limited encerrou escritórios em Londres e acumula dívidas graves, colocando investidores portugueses de vinhos de luxo em risco de perdas.
Nos últimos anos, Portugal tornou-se palco da expansão de um dos nomes mais conhecidos no investimento em vinhos de luxo e whisky, a Oeno Group. A empresa, fundada em 2015 e com sede em Londres, abriu em 2024 o seu primeiro escritório no país, localizado na Torre de Oeiras, consolidando uma presença que já contava com investimentos superiores a cinco milhões de euros provenientes de cerca de 600 investidores. O valor médio de aplicação situava-se entre os 15.000 e os 20.000€, refletindo um crescente interesse por ativos alternativos entre o público masculino, mas também com uma adesão cada vez maior de jovens e mulheres.
A Oeno Group destacou-se por democratizar o acesso a este mercado historicamente exclusivo, tornando possível que investidores portugueses participassem num setor que tradicionalmente estava concentrado em cidades como Londres, Nova Iorque ou Hong Kong. A aposta passou não apenas pela abertura de um escritório físico, mas também pelo lançamento da Oeno House, espaço pensado para permitir a degustação de vinhos e champanhes de excelência.
Já este verão, a Oeno Group lançou em Portugal o Oeno Wine Investment Fund, o seu primeiro fundo regulado dedicado a vinhos finos, gerido pela FundBox. O fundo visava angariar 20 milhões de euros na fase inicial, com um investimento mínimo de 50.000€, concentrando-se em vinhos de prestígio de regiões como Bordéus, Borgonha e Champanhe. Desta forma, os investidores teriam acesso a garrafas raras e colheitas exclusivas, combinando potencial de valorização com transparência e segurança regulamentar. Os retornos históricos do setor, superiores a 10% ao ano, aliados à baixa correlação com os mercados financeiros tradicionais, reforçavam o apelo desta classe de ativos como reserva de valor.
Apesar das oportunidades, a situação recente da Oenofuture Limited, empresa associada ao grupo, evidencia riscos significativos. No final de novembro de 2025, os seus escritórios em Londres encerraram e a gestão ficou sem controlo operacional. A empresa enfrenta agora dívidas consideráveis e poderá vir a ser colocada em administração, caso um credor decida iniciar o processo.
Isto significa que investidores que compraram vinho ou whisky através da Oenofuture Limited, inclusive portugueses, podem perder parte ou a totalidade do capital investido. Estima-se que apenas cerca de 20% dos vinhos estejam em contas individuais acessíveis aos clientes, enquanto o restante permanece sob controlo da empresa. Tentativas de transferir os ativos para contas individuais têm sido complexas e apenas uma pequena quantidade foi efetivamente transferida, e as autoridades britânicas alertam que qualquer contacto de terceiros que prometa recuperar dinheiro ou ativos mediante pagamento de uma taxa é provavelmente uma fraude adicional.
