Novo Mundo: rotas e sabores que se cruzam no DUO Hotel Lisbon

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O projeto do Novo Mundo, restaurante no interior do DUO Hotel Lisbon, Curio Collection by Hilton, evoca a travessia por mares e terras do mundo para confecionar um menu inspirado nas antigas rotas comerciais que ligaram continentes e cozinhas.

Lisboa sempre viveu do encontro – de povos, de culturas, de sabores. No DUO Hotel Lisbon, Curio Collection by Hilton, o restaurante Novo Mundo toma esse cruzamento como ponto de partida para a renovação cíclica dos seus menus. O próprio nome deste espaço gastronómico, dominado pelo grande painel a stencil repleto de cores e animais exóticos, não é gratuito: evoca o espírito das grandes descobertas e das trocas culturais que se cruzam na cozinha portuguesa como ponto de chegada e ponto de partida das tradições gastronómicas de várias regiões. “Cada ingrediente conta uma história, cada prato é um destino”, lê-se na introdução do menu. E não é mera poesia. A carta é uma cartografia gastronómica que parte das raízes lusas para revisitar as influências deixadas (e trazidas) pelas distantes partes do mundo que Portugal um dia percorreu.

O espaço, situado no piso térreo de um edifício integrado nas traseiras do hotel e que faz esplanada para o seu pátio interior, tem uma atmosfera discreta e cosmopolita. Vidraças amplas deixam entrar a luz da cidade, enquanto os veludos azuis, as madeiras, os tons cinzas e verdes, bem como o enorme painel contemporâneo, dão um enquadramento excecional à comida.

À frente da cozinha está o renomado chef Nuno Pizarro, coadjuvado pelo subchef João Fernandes.

Antes de tudo, o couvert – seleção de pães frescos, escuros e claros, com manteiga caseira e azeitonas marinadas – prepara o terreno para esta experiência que, pelas anteriores, já sabemos que promete, e bem. O pão de sementes, com a sua ligeira oleosidade, é uma pequena demonstração de que os ingredientes que vêm de fora são também escolhidos a dedo: à primeira dentada, há uma reminiscência de bolo-rei estaladiço que nos vem à mente…

O menu começa depois, com uma pequena viagem de reconhecimento: as entradas. Neste capítulo inicial, há novas propostas que se inspiram nos produtos sazonais e sugerem a ligação entre tradição e modernidade. É o caso da Sopa de castanha e funcho, que foi, para nós, uma das maiores (e boas) surpresas: é um rico creme aveludado, de sabor adocicado mas equilibrado, servida em porção comedida para não saturar. É uma introdução confortável, mas inteligente, com o perfume dos condimentos que lhe dão um toque especial a prolongarem-se no paladar.

Outra novidade é o Polvo com batata-doce, acompanhado por cebola roxa e coentros. O menu descreve-o como “símbolo da cozinha atlântica portuguesa”, e a definição é justa. A doçura terrosa da batata-doce faz um contraponto inesperado ao sabor do mar, através do polvo. Sugere-se que experimentem este prato, ótimo para partilhar entre amigos, como preâmbulo leve e garrido para os pratos principais.

Outro destaque em matéria de novos pratos é o Carpaccio de beterraba com laranja e ras el hanout. Inteirámo-nos acerca desta especiaria, mais concretamente, uma mistura (mais ou menos vulgarizada nos pacotes de algumas marcas comercializados em supermercados). O que nos trouxeram foi uma amostra preparada pelo chef. Trata-se de uma especiaria berbere, de sabor subtil e quente, situada entre o caril e a pimenta. O toque deste ras el hanout é unico; dá à comida uma vibração aromática que foge ao previsível, lembrando que as especiarias foram, afinal, o ponto de partida da nossa aventura global.

Para quem prefere o lado clássico, o Carpaccio Novo Mundo de novilho com trufa, lima e aioli é uma combinação perfeita. Como às vezes também não se resiste ao que já se conhece, pedimo-lo. Há coentros frescos, uma acidez contida e a riqueza discreta da trufa, uma conjugação de sabores que já sabíamos resultar muito bem, mas que surge agora com um toque divinal de raspas de lima verde, o que redunda num acepipe difícil de esquecer. Portanto, se regressar, vou pedir outra vez…

Por fim, ainda nas entradas, temos o Camarão salteado com alho, em manteiga de ervas e servido com pão torrado, que cumpre o papel de conforto imediato.

Nos principais, o Novo Mundo apresenta também as suas novidades. Há pratos parecem nascer de um ponto diferente no mapa, mas todos desembocam num território onde se cruzam elementos que nos são familiares.

O Caril de porco alentejano é um dos pratos novos e, a nosso ver, muito bem conseguido, pela conjugação de sabores e a qualidade com que é confecionado. Por um lado, a carne tenra encontra nas especiarias um parceiro improvável mas eficaz, por outro, o arroz basmati perfumado constitui um acompanhamento e uma combinação excelente para o creme de caril que faz cama às suculentas tiras da carne.

O mesmo espírito de fusão aparece no Caril Vegetariano de Goa com caju e legumes, prato que presta homenagem à história das rotas portuguesas. O caju, nativo do Brasil, viajou para a Índia e para África Oriental pelas mãos dos navegadores, e hoje regressa à mesa como símbolo desse percurso.

O Bacalhau assado com puré de grão-de-bico e azeite de pimenta-rosa é outro dos novos pratos da carta. “Chamado de fiel amigo, o bacalhau acompanhou os portugueses nas longas viagens”, recorda a descrição do menu. Aqui, o clássico é reinterpretado sem perda de identidade: o grão substitui a batata, o azeite ganha um tom picante e floral, e o resultado é uma releitura eficaz de pratos e ingredientes tradicionais.

Já o Entrecôte de vitela transmontana é um clássico da casa. Vem servido com batatas rústicas e chimichurri de ervas, e é o prato que mais se aproxima de um regresso à terra firme. Mais um déjà vu que vale bem a pena, de tão irresistível. É carne sem artifícios, apenas temperada com sal.

Há, ainda, o Frango do Campo Assado com puré de cherovia, pak choi e jus de alho e limão, uma combinação entre rusticidade e detalhe técnico. Por fim, o Estufado de grão com couve, batata-doce e ras el hanout completa o alinhamento. É um prato de raízes humildes, mas aqui tratado com elegância. O ras el hanout surge como fio condutor, a especiaria que atravessa fronteiras e dá coerência ao menu pelas suas sucessivas aparições.

Quanto à carta de sobremesas, é breve, mas sólida. Cada doce conta um episódio da história gastronómica portuguesa. Para começar, e sendo uma das novidades, provámos o Pastel de Nata com gelado de canela. Este doce remete aos monges do Mosteiro dos Jerónimos, que, segundo reza a história, transformaram as gemas excedentes de engomarem as vestes religiosas neste tão doce símbolo da atual identidade de Lisboa. Servido com o contraste frio de uma bola de gelado de canela, a apresentação deste clássico pelo Novo Mundo ganha nova vida.

Segue-se o Algarve Chocolate Crunch, uma feuillantine de chocolate com doce de laranja e gelado de iogurte. As laranjas doces, recorda o menu, chegaram à Europa nos séculos XV e XVI através das rotas com o Oriente, e foi no Algarve que se enraizaram. Aqui regressam ao nosso prato.

A Tartelette Tatin, de maçã, com flor de sal de Tavira e gelado de baunilha Bourbon, é talvez a sobremesa mais subtil da carta. Foi mais uma das novidades que provámos e rendemo-nos totalmente. O toque salgado da flor de Tavira quebra a doçura desta receita francesa que assim se reiventa à mesa, connosco.

Novo Mundo - Pastel de Nata com gelado de canela e Tartelette Tatin

E para quem prefere a simplicidade, há sempre a Fatia de fruta da época, lembrando que, por mais longe que se viaje, o fim de uma refeição nunca pode ser mau com uns bons nacos de fruta fresca e leve.

Na mesa, o vinho é um grande auxiliar desta narrativa. O Casa Velha 2023, tinto do Douro DOC, foi o escolhido para acompanhar a refeição. Elaborado a partir de tinta barroca, tinta roriz e touriga nacional, o vinho é descrito como “pleno de elegância e harmonia”. É um Favaios, uma das aldeias vinheteiras mais emblemáticas do Douro, e a nota do staff descreve-o, com orgulho, como “um favaio de ouro”.

Lembrar que o bar do DUO Hotel Lisbon é partilhado entre hóspedes e visitantes e encerra à meia-noite. Há cocktails de assinatura, prontamente destacados pelo Staff, como o Root of the Eels e o Mangi (feito à base de manjericão, uma delícia, particularmente, para quem aprecia muitíssimo, como eu, esta erva, a sua frescura e paladar).

Levámos a nossa reportagem mais longe e o staff, extremamente simpático, deu-nos uma ajuda. O Novo Mundo funciona em dois tempos. Ao almoço e jantar, o menu principal segue o formato fine dining acessível, enquanto durante o dia, o menu do Courtyard oferece pratos mais leves e rápidos, sem interrupções de serviço. É uma carta prática, pensada para quem trabalha ou para hóspedes em passagem, com saladas de figo, de cuscuz e legumes com limão e iogurte, ou de bacalhau.

As saladas César, os croquetes e os pastéis de bacalhau mantêm-se como valores seguros, a par da Patty Club, uma sanduíche servida em pão rústico, que se tornou habitual entre os frequentadores regulares do hotel. O restaurante fecha a cozinha principal por volta das 22h, mantendo o serviço de bar até à meia-noite.

Às quintas e sextas-feiras, a casa transforma-se: há um barbecue exterior, das 19h às 22h30, onde a grelha é acesa à vista dos clientes. Quando o tempo o permite, o cheiro a carvão mistura-se com o da cidade, criando um contraste curioso entre o urbano e o campestre. O público é diverso, com hóspedes internacionais, lisboetas curiosos, profissionais do bairro. A todos une o mesmo gesto: o de parar um instante para comer com atenção.

No Novo Mundo, a ideia das “rotas e dos sabores que se cruzam” é um projeto que parte do conforto e da hospitalidade para explorar o território da memória e de uma gastronomia eivada de história(s). Lisboa tem muitos espaços que servem boa comida, lá isso tem; mas nem todos assentam num conceito com esta substância. Não é uma simples metáfora; é implementada ao pormenor.

Graça Pacheco
Graça Pacheco
Licenciada em literaturas clássicas e com um doutoramento em estudos literários, sou colaboradora e fã do Echo Boomer. Escrever, para mim, é um ofício desafiante mas também um hobby. Também adoro gastronomia, gosto de explorar novas tecnologias e sobretudo, adoro cinema e TV.
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