Num dia encabeçado pelos Arctic Monkeys, muitos ficaram ainda pelo recinto para a atuação de Lil Nas X, um ídolo para muitos.
Texto de: Maria João Cavadas
No segundo dia do NOS Alive (esgotado, à semelhança do dia anterior), o palco principal do festival, o palco NOS, foi marcado pelo contraste das várias atuações que ali se viram. Depois do rock dos portugueses Linda Martini, recebíamos, ali, o punk rock dos já tão queridos Idles, para quem o território nacional não é novidade.
Como sempre, a banda liderada por Joe Talbot não se privou de nos dar aquilo a que já habituaram o seu público: intensidade, força na bateria, garra na voz e as notas potentes das guitarras. Não faltou “Colossus”, “The Wheel” e “Never Fight a Man with a Perm”, o seu tema mais popular, para delícia dos fãs que ali estavam e mesmo daqueles que desconheciam o grupo.
Afastando-nos um pouco daquela zona, assistiríamos à estreia, em nome próprio, de uma figura importante da cena Hip Hop nacional: Lhast. O artista, que atraiu vários fãs ao Palco WTF, faz parte dos grandes nomes da produção musical, tendo já produzido trabalhos para Richie Campbell e ProfJam. Público composto, mas ainda a meio-gás, e auto-tune a postos: assim começou uma hora de espetáculo, que viu mais e mais pessoas a chegar. O seu segundo tema da noite, “QE”, do seu álbum de 2020 AMOR’FATI, deu o mote para que o público o acompanhasse nas cantorias. Apesar de um pedido de ajuda para cantar o refrão da canção que se seguia, “Safe” deu hipótese ao público de demonstrar as suas capacidades de memória, cantando a canção com o artista do início ao fim. O concerto seguia com “2020”, cuja versão de estúdio conta com a participação de Slow J, que também contou com o apoio caloroso dos que enchiam o pequeno espaço daquele palco.
Logo de seguida, e pouco depois do início do concerto, Chyna juntava-se ao artista e à sua banda para interpretar “Render”. “Es7ádio” e “Alkimista”, uma canção sobre a vida e a energia que nela pomos, também fizeram parte do repertório do espetáculo. E engane-se quem pense que brilhou apenas o vocalista, que canta em nome próprio: a qualidade irrefutável dos músicos que o acompanharam não passou despercebida. O hip hop de Lhast tem uma sonoridade bem característica da nova onda do hip hop Português, que exige destaque de todos os instrumentos. 9 Miller, outro artista convidado, juntava-se para interpretar “jND” (“Ja não dá”) e, mais uma vez, o refrão estava muito bem decorado por quem os via. De volta ao conjunto inicial, o artista preparava-se para terminar o concerto, interpretando “VI” e “Saturno”, enquanto o público começava a dirigir-se para o palco principal do festival.
Aí, no palco NOS, preparávamo-nos para os tão aguardado cabeças de cartaz do segundo dia do festival: Arctic Monkeys. Poucos minutos depois da hora marcada, ouviam-se as primeiras notas de “Sculptures of Anything Goes”, tema do mais recente álbum da banda de Sheffield, The Car. Apesar da pouca adesão inicial do público, ouvia-se, logo de seguida, “Brianstorm”, lançado 15 anos antes, que provocou um shift de energia absolutamente contrastante com a da primeira canção. As centenas de pessoas que cantavam e dançavam continuaram a fazê-lo com “Snap Out of it”, de AM, lançado em 2013. Seguiram-se “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair” e outros temas menos conhecidos. Com Alex Turner ao piano, a banda iniciou “Why’d You Only Call Me When You’re High” e “Arabella”. Depois, mais alguns minutos de temas (quase) desconhecidos, que foram interrompidos por uma versão um pouco mais lenta do que a de estúdio de “Fluorescent Adolescent”.
O concerto culminou com “Do I Wanna Know”, acompanhada de um jogo de luzes combinado com a música em perfeita sintonia. “505” fez, também, as maravilhas do público, que se permitiu dançar um pouco mais. O concerto terminava numa cadência mais lenta, com “Body Paint”, outro tema de The Car. Musicalmente, exímios; Alex Turner, um frontman excelente, de voz afinada e tão característica, fez bastantes cumprimentos ao público e a “Lisboa”. De uma banda das maiores bandas do mundo não esperávamos, nunca, menos do que a qualidade musical com que nos brindaram.
Um concerto magnífico, ainda que com mais temas mais desconhecidos do que outros que nos permitissem acompanhá-los com a energia que mereciam da nossa parte. Talvez com isso em mente, e para surpresa de muitos, a banda, após abandonar o palco, regressou para um encore, durante o qual pudemos vibrar com “I Wanna Be Yours”, “I Bet You Look Good on the Dancefloor” e “R U Mine?”. Terá sido um dos melhores concertos do NOS Alive 2023.
Ainda terminavam os Arctic Monkeys, já se ouviam as batidas de Sylvan Esso no Palco Heineken. Com a pop eletrónica de canções como “Ferris Wheel”, “Die Young” e “H.S.K.T.”, o duo norte-americano provou que não é preciso muito para dar muito. Com os dois sozinhos em palco, bastou-nos a voz suave e os movimentos de dança da vocalista Amelia Meath e os instrumentais de Nick Sanbor para dançarmos, sem parar, durante uma hora. A simplicidade do espetáculo permitiu-nos prestar atenção à sua música e à performance da vocalista, que nos punha um sorriso na cara e nos obrigava a levantar os pés do chão em cada tema.
De volta ao palco principal, esquecemos a moderação: ali, arte abstrata e enorme. Com 20 minutos de atraso, iniciava-se o espetáculo que fecharia o Palco NOS no segundo dia de festival. Foi com “MONTERO (Call Me by Your Name)” que Lil Nas X nos preparou para um concerto repleto de extravagância, uma ode à sexualidade e à liberdade: dançarinos de movimentos e indumentárias excêntricos, uma serpente, um minotauro e um pássaro gigantes, mudanças de roupa e muita sensualidade à mistura, bem como temas de outros artistas pelo meio (como Rihanna e Michael Jackson) – e até um pequeno rasgo acidental nas calças do artista – não deixaram ninguém indiferente. O playback, não só na parte instrumental, como também da voz, com um backing track, justificou-se pela constante correria que ali se viu.
Ao contrário do que acontecera com o concerto anterior do mesmo palco, ninguém esperava ver a virtude musical de uma banda completa nem se exigia um desempenho vocal excelente. Dali, os fãs queriam sentir a conexão entre si e com o artista, dançar e poder contemplar aquele que é já um ídolo para muitos. E isso justifica a curtíssima setlist de 6 temas, se excluirmos as pequenas amostras de temas de outros artistas. “Old Town Road” e “THATS WHAT I WANT” foram pontos altos do espetáculo, que comprovou que nem sempre um concerto é feito só de música: há que dar às gerações aquilo que elas querem.
Foto de: Arlindo Camacho