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Num dia encabeçado pelos Red Hot Chili Peppers, faltou algo à banda de Los Angeles.

Texto de: Maria João Cavadas

O calor que se fez sentir esta quinta feira no Passeio Marítimo de Algés (apesar do forte vento que seguiria) não impediu centenas de pessoas de aproveitarem os primeiros momentos do NOS Alive.

A poucos minutos das 18 horas, enchia-se o palco Heineken e éramos presenteados com uma lufada de ar fresco no panorama musical nacional: Femme Falafel. Com o seu “jazz moderno” combinado com funk, pop e mesmo rap, a artista das Caldas da Rainha estreou-se, este ano, no festival. O concerto terminou com “Depressão”, tema que lhe valeu a vitória na 27ª edição do Festival Termómetro, em maio deste ano, e cuja energia não deixou ninguém indiferente, tanto pela temática, como pela contrastante vontade que nos deu de dançar.

No mesmo palco, apenas alguns minutos depois, entravam os canadianos Men I Trust, com o seu indie inconfundível, que tocariam não só com canções do último álbum, Untourable Album, lançado em 2021, como também várias do seu repertório anterior. Foi com “Show Me How”, single de 2018 e o seu tema mais conhecido, que a banda iniciou uma hora de concerto onde reinaram a calmaria e suavidade da voz de Emmanuelle Proulx e o som característico das guitarras do grupo, bem como das batidas “secas” da bateria. Seguiam-se “Ring of Past” e “Sugar” (o primeiro, lançado em fevereiro deste ano; o segundo, parte do seu último álbum), que espoletaram uma reação mais energética do público. Num concerto com muitos pontos altos, palmas, ovações e letras bem decoradas, “Tailwhip”, que nos levou a 2017, mereceu vários segundos de aplausos do público. Daí, até ao final, a energia foi subindo e quem assistia mexia-se mais e mais, ao som de temas como “Billie Toppy”. Os Men I Trust deram-nos uma hora de música e emoções que, com certeza, gostaríamos de reviver.

Meia hora depois, subia, ao mesmo palco, o britânico Jacob Collier, que, há quase e um ano, trazia a sua digressão mundial, Djesse World Tour, a Portugal, passando pelo Hard Club e pelo Coliseu dos Recreios. O concerto do multi-instrumentista iniciou-se com uma brilhante e energética interpretação de “With the Love in my Heart”, um tema que representa o ecletismo da música de Jacob, seguida de “Count The People”, que conta, na sua versão de estúdio, com Jessie Reyez e T-Pain, mas cuja versão ao vivo sem os artistas não peca, graças à capacidade camaleónica de Jacob, que assume papel de rapper, e das suas vocalistas. Desengane-se quem achou que a falta de intimidade do espaço o impediria de ser o maestro a que já nos habituamos – e convertam-se os céticos que achavam que isso era mito ou pré-combinado…

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Jacob Collier – Foto: Carlos Mendes

Não tinha passado muito tempo desde o início, quando se ouvia já um coro formado pelo público, a comando do artista. Infelizmente, o tempo limitado para o concerto não lhe permitiu desenvolver mais essa vertente, tão única nos seus concertos. Com a ajuda imprescindível dos seus companheiros, levou-nos ao passado, com “Hideaway”, do seu primeiro álbum (In My Room) e presenteou-nos com temas do seu mais recente álbum (Djesse Vol. 3), como “Time Alone With You”, que gravou em conjunto com Daniel Caesar, e “All I Need”, tema originalmente interpretado com Mahalia e Ty Dolla Sign. Entre temas originais, o artista fez as suas arrepiantes interpretações de “Can’t Help Falling in Love” de Elvis Presley e de “Somebody to Love” dos Queen.

Já perto do final, a surpresa da noite: MARO, amiga do artista, é convidada ao palco, e os dois interpretam um dueto, com Jacob no piano. O génio musical Jacob Collier deu um concerto cheio de magia, cor e vida que merecia ter estado no palco principal do festival.

Entretnto, nesse palco, o Palco NOS, teríamos os primeiros cabeças de cartaz do primeiro dia do festival. Dan Auerbach e Patrick Carney, o duo que conhecemos como The Black Keys, abriram o concerto com “I Got Mine”, do seu Attack & Release de 2008. Apesar da má qualidade do som, que quase nos impedia de ouvir o vocalista, o público não deixou de cantar e vibrar com “Tighten Up” e “Everlasting Light”, dois temas muito conhecidos de Brothers, lançado em 2010. Do mesmo álbum, tocaram ainda “Howlin’ for You”.

Entre temas mais e menos conhecidos, o duo e a sua banda fizeram-nos viajar ao passado e às memórias que nos marcaram, brilhando com “Gold on the Ceiling”, do seu El Camino de 2011, e “Fever”, do posterior Turn Blue (2014). O público pôde descansar com “Weight of Love”, do mesmo álbum, uma canção sobre amor e solidão. Ninguém ficou indiferente à energia do blues rock da banda, cujo espetáculo, como não poderia deixar de ser, culminou e terminou com “Lonely Boy”.

A confusão começou a reinar pelas 23h, quando ainda faltavam ainda 30 minutos para a hora marcada para o concerto dos principais cabeças de cartaz da noite. Um concerto antecipado, numa noite cujos bilhetes esgotaram, para ver uma banda que tem atravessado gerações desde a sua formação em 1982. Dada a quantidade de t-shirts com o mesmo símbolo que circulavam desde cedo no recinto do festival, não havia dúvidas: os Red Hot Chilli Peppers haviam atraído uma legião. Foi com uma jam que iniciaram o concerto: Flea, um génio do baixo; Chad Smith, o icónico baterista; e John Frusciante, um dos melhores guitarristas do mundo, abriam portas para a entrada de Anthony Kiedis, o inconfundível vocalista da banda norte-americana, que cuja voz soa como a que ouvimos nos seus álbuns.

Sem grandes surpresas, puseram todo o público a cantar e a saltar com “Can’t Stop”, soubesse quem estava a assistir, ou não, a letra. A qualidade musical da banda foi o que mais se destacou neste concerto, com Flea a não desiludir com o seu slap bass, Chad a fazer a bateria parecer um instrumento fácil de tocar e, claro, Frusciante a ser o ídolo de muitos, tendo ainda interpretado um tema sozinho – com apenas a sua voz e a sua guitarra. A banda interpretou temas bem conhecidos, como “Dani California”, “Tell Me Baby”, “Californication” e “By The Way”, tendo terminado o concerto com o público a cantar “Under the Bridge” e a vibrar com “Give It Away”.

No entanto, pareceu-nos que faltou algo: temas tão queridos que queríamos ouvir e interação com o público (Flea foi dizendo algumas coisas, fazendo até uma referência à Lua, mas pouco se ouviu do resto da banda). Num concerto de uma banda como os RHCP, a maioria das pessoas não conhece todos os temas e, apesar da energia que carregaram do início ao fim, os artistas não conseguiram transpô-la para o público a tempo inteiro, uma vez que muitos dos temas eram conhecidos apenas por aqueles que seguem a banda com alguma assiduidade.

Apesar da hora e meia de música, faltaram, pelo menos, “Otherside” e “Scartissue”, temas muito queridos pelos fãs e pelos que apenas conhecem a banda.  Agradecendo ao público, já na despedida, Anthony disse-nos que “whatever happens, we have tonight forever”, mas tanto nos faltará, talvez, para sempre.

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