Novo ano, mais música nova de qualidade, já com alguns álbuns fortes candidatos à lista de melhores do ano.
Começa 2024 e com ele vem uma série de lançamentos a ter em conta, no arranque do ano. A música não pára e nós também não!
Aqui ficam as 8 sugestões do mês de janeiro, para também entrarem neste novo ano de pé direito e ouvido apurado.
Alkaline Trio – Blood, Hair, and Eyeballs
Género: Punk Rock/Pop-Punk
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Bem, confesso que fui apanhado de surpresa com este álbum, pois nunca pensei que os Alkaline Trio, nesta altura da carreira, conseguissem tirar tal coelho da cartola. Em Blood, Hair, and Eyeballs, o aumento de agressividade alinhou-se na perfeição com o aumento de frescura, resultando num momento de glória para um género já longe do auge de tração comercial, o “Punk Romântico”.
À primeira vista, parece só mais um álbum de Punk recheado de momentos épicos, mas o sentimento que vai prevalecer aproxima-se mais de “máquina do tempo com destino aos concertos de fazer levantar poeira, do início dos anos 2000”. Tudo parece estar em sintonia: A abordagem de quem está a passar pelo tempo, mas não quer que o tempo passe por ele; Guitarradas cheias de brutalidade e intenção e os vocais simbióticos de Matt Skiba e Dan Andriano; Atom Willard está de volta para pautar o ritmo acelerado de quem ainda tem muito para dar… Agora se ele regressou para aproveitar o novo auge da banda, ou se a banda voltou ao auge porque ele regressou, já não é sabido, mas é apreciado.
No fim de contas, este é um álbum à moda antiga: completo, dinâmico, eletrizante, barulhento e recheado de músicas perfeitas para pedir emprestadas as vozes do público e cantar em uníssono. Se continuam a par com os lançamentos da banda, vão ser recompensados pela vossa entrega. Se desistiram, derrotados pela fadiga, este é o momento para dar uma segunda oportunidade, pois os Alkaline Trio estão oficialmente de volta ao auge.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Hot For The Preacher
> Bad Time
> Break
> Blood, Hair, and Eyeballs
> Broken Down In a Time Machine
Future Islands – People Who Aren’t There Anymore
Género: Synth-Pop
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Os Future Islands voltam ao ataque com People Who Aren’t There Anymore, revisitanto o som com que se estabeleceram e os elevou ao patamar em que estão hoje, enquanto o refinam. A sensação de familiaridade começa logo com “King of Sweden” e, mesmo que algumas sonoridades pareçam oferecer algo novo, a voz de Samuel Herring traz-nos de volta.
A sensação é de introspeção e os temas explorados giram em torno da devoção e sacrifício ainda a fazer ecoar o que a pandemia veio mudar. Ainda que a sombra deste bicho grande faça sombra ao temas abordados no álbum, os vocais emocionais de Herring e os ganchos cativantes e melodias absorventes reduzem o bicho grande à sua insignificância, permitindo-nos desfrutar das sonoridade contidas neste álbum.
Falando de sonoridade, outra coisa que não mudou nada, há que referir que o álbum é mais uma pequena obra de Synth-Pop que a banda adiciona ao seu rico repertório do género. Adição essa positiva, graças à frescura apresentada num par de faixas do álbum, que serve de prova de que, apesar da constância sonora, o som da mesma continua a evoluir e expandir, com mudanças subtis ao que já é dado como certo.
Posto isto, é justo dizer que ainda que hajam momentos de repetição face a trabalhos mais recentes, este é um álbum acessível e cativante que expõe o talento de uma banda que aceitou o ponto médio entre a inovação e o que já é uma tradição. Os Future Islands já provaram a sua qualidade e, sinceramente, mesmo que quisessem, não restam grandes surpresas dentro do que já fazem tão bem. Sentados confortavelmente no trono do Synth-Pop contemporâneo, não precisam de mudar nada para arranjar o que não está estragado (pelo menos para já).
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> King of Sweden
> The Tower
> Peach
Kali Uchis – Orquídeas
Género: R&B/Latin Pop
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Quão satisfatório é um artista fazer o que bem entende e da forma que acha melhor e correr bem? Kali Uchis, de raizes colombianas, fez a sua carreira explodir com Isolation, um álbum inglês quase na íntegra. Mas depois dessa prova viva que a sua inventividade é inquestionável, Uchis começou a empregar o seu brilho em espanhol colombiano e este álbum é a sua afirmação como artista global sem precisar do inglês para tomar corações de assalto, sejam eles de onde forem.
Orquídeas é o quarto álbum da artista (o segundo em menos de um ano) e é uma das produções Pop mais entusiasmantes desde Desire, I Want to Turn Into You (Caroline Polachek), tendo como pontos fortes o estilo musical recheado de influências latinas, uma energia contagiante e uma produção quase perfeita. Neste novo álbum, Uchis mantém a autenticidade, enquanto lança um trabalho importante de representação cultural dentro da indústria musical, recorrendo à exploração de vários géneros latinos. O mais espantoso é que tudo o que conhecemos da artista, que tão bem carateriza a sua identidade sonora (sons eletrónicos futuristas e a nostalgia de um passado recente), é empregue na generalidade de faixas contidas neste álbum.
Importante também referir o seu contínuo e estável crescimento vocal, que balanceia entre uma abordagem relaxada cheia de alma e uma versatilidade de sons idiomas que a colocam no topo do jogo. Ainda que a segunda parte do álbum tenha nele contido músicas de elevado contraste de influências entre si, não é por isso que deixa de ser uma produção coesa e fácil de desfrutar.
Orquídeas é, assim, um álbum difuso, dançante e mágico, com uma escrita coerente e com foco no resultado final, solidificando o nome Kali Uchis como uma embaixadora de Pop global sem receios de tentar algo novo e irreverente, continuando a quebrar barreiras do que é tido como convencional dentro da indústria musical global.
O ano acabou de começar e, dos poucos álbuns lançados em janeiro, já há mais do que um candidato a integrar a lista de melhores álbuns do ano.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> ¿Cómo Así?
> Igual Que Un Ángel (ft. Peso Pluma)
> Te Mata
> Tu Corazón Es Mío
> Labios Mordidos (ft. Karol G)
Marika Hackman – Big Sigh
Género: Alternative/Indie
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Marika Hackman tem sido uma artista a quem tenho prestado atenção já desde 2015 (com o lançamento do álbum I’m Not Your Man) e é uma artista na qual coloco sempre alguma expectativa e, até ver, ainda não saí desapontado.
Big Sigh é o seu quinto álbum e é, talvez, o álbum mais marcante do catálogo musical da artista, fechando uma década de música contemplativa e dando vislumbres o que está para vir. Hackman usa este álbum como condutor para mostrar-nos que não está de passagem – é a personagem principal do seu mundo.
A escrita continua a ser brilhante como sempre, irrompendo pela escuridão dos seus sentimentos e cenários complicados, sempre com uma aprendizagem recheada de esperança e honestidade crua, abraçando as emoções que tem contidas em si. Para além disso, neste álbum, a entrega de Hackman é inquestionável. É notável o quanto a artista dá de si, numa mistura sónica de momentos suaves e agressivos, mexendo com as fundações dos sentidos de quem o está a ouvir.
Um dos seus melhores álbuns até à data, colocando Marika Hackman na lista de nomes que vou referir quando estiver a falar de artistas que considero completos.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> No Caffeine
> Big Sigh
> Slime
> The Yellow Mile
Nailah Hunter – Lovegaze
Género: Art-Pop/New Age
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Nailah Hunter usa Lovegaze para fazer da sua magia e enaltecer a ligação que é possível criar entre o Alt-Pop e New Age e o quão bem funcionam juntos. O produto da sua magia é um álbum com uma contemplação densa e dinâmica, que mergulha nas profundidades da psychedelia, oferecendo uma viagem à alma do género, narrada pela sua voz dimensional.
Se procuram sonoridades vibrantes, estão a bater na porta errada, visto que o som de Lovegaze suporta-se numa névoa de escuridão ramificado pela essência da escrita de Hunter, resultando em algo belo. A artista, com este álbum, demonstra também o seu alcance e dimensão dentro do art-pop, criando uma experiência espiritual, enaltacendo o amor e regeneração pessoal.
Ainda que não seja um álbum para toda a gente, para quem aprecia esta abordagem sonora mais profunda, é uma delícia hipnotizante, com vários vislumbres de originalidade. Caso Nailah Hunter consiga materializar estes vislumbres numa imagem de marca recorrente, tem potencial para muito mais. Mas é só o álbum de estreia e um ótimo ponto de partida, por isso há tempo para evoluir.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Through The Din
> Finding Mirrors
> Lovegaze
> Garden
Sprints – Letter To Self
Género: Post-Punk/Alternative Rock
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Se são fãs da voz serena e indiferente de Florence Shaw, que dá uma dimensão única à abordagem Post Punk dos Dry Cleaning, tenho boas notícias… A voz de Karla Chubb vai superar expectativas e os Sprints vão entrar diretamente na vossa lista de rodagem musical. A diferença entre Shaw e Chubb é que Chubb sabe transformar a indiferença da sua voz numa fúria visceral nas alturas em que é requerida, e a banda acompanha com distinção, fazendo de Letter To Self um álbum para ouvir com o som bem lá no alto.
Não sei o que é que se passou na Irlanda nos últimos anos, mas a verdade é que o rock que tem saído de lá tem sido saboroso e o panorama Punk tem vindo a crescer de forma sensacional nas ilhas britânicas. A primeira semana de 2024 marca a estreia dos Sprints com o primeiro grande álbum do ano e um trabalho desafiante de ser igualado. Letter To Self é um álbum honesto, dinâmico e caracterizado por uma tensão continua que explora a condição humana e complexidade da sociedade, na qual os Sprints se tentam enquadrar.
Ao longo de 11 faixas eletrizantes, assistimos em primeira mão a como Karla Chubb e companhia navegam em busca de se encontrarem sem receios, de exprimir todas as suas dúvidas e mostrarem que são seres humanos como toda a gente, vulneráveis. O melhor é que usam a sua música para criar um espaço seguro para os ouvintes, onde é possível sentirmo-nos compreendidos e encontrar conforto.
De repente já ouvi Letter to Self 10x e muitas mais estão para vir até dia 15 de junho, data em que os Sprints se estreiam em solo lusitano, na Sala Mouco, no Porto. Acredito com todas as minhas forças que isto é o início de algo muito especial.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Heavy
> Cathedral
> Shaking Their Hands
> Literary Mind
> Up and Comer
> Letter To Self
The Smile – Wall of Eyes
Género: Art Rock/Post-Punk
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Com Wall of Eyes pudemos confirmar o que desconfiámos após o lançamento de A Light For Attracting Attention (2022), de que os The Smile não são apenas uma extensão de projetos anteriores dos elementos das banda atual, mas sim uma nova banda com a sua identidade própria e única.
Neste segundo ensaio, creio que já há um avanço significativo de uma banda jovem recheada de experiência e maturidade. As águas foram testadas com sucesso e agora fica a sensação que os The Smile estão exatamente onde queriam e sabem perfeitamente para onde querem ir a seguir.
O valor de produção é imenso e, a cada faixa, nota-se o cuidado em criar algo com razão de existir, conferindo ao ouvinte uma experiência sonora imersiva rica em texturas, que só fica mais envolvente a cada rodagem. Tudo se deve à habilidade de todos os envolvidos, mas em particular à performance vocal do inconfundível Thom Yorke, recheada de melancolia, que nos levam numa viagem de sensações e emoções muito particular.
Há complexidade lírica (algo poética) que assenta numa panóplia de temas, tais como a auto-reflexão e a sociedade em que vivemos. Não é grande novidade vindo de quem vem, mas é sempre importante salientar que a fonte de sabedoria ainda não secou (bem longe disso). Com isto, somando de todas as partes, temos um ótimo álbum (tão bom ou melhor que o de “estreia”), no entanto, perde um pouco pela repetitividade sonora, onde nos perdemos sem dar por ela.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Wall of Eyes
> Under Our Pillows
> Friend of a Friend
> Bending Hectic
Outros álbuns a ouvir:
> Benny The Butcher – Everyone Can’t Go
> Green Day – Saviors
> Katy Kirby – Blue Raspberry
> Sleater-Kinney – Little Rope
> Ty Segall – Three Bells
Extended Play do mês: NMIXX – Fe3O4
Género: K-Pop
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Apesar de curto, a inventividade não sofreu com isso. As NMIXX tentaram agradar a todos com abordagens distintas de música para música, e a verdade é que conseguiram. Dos grupos mais promissores do mercado coreano e, por incrível que pareça, continuam a passar ao lado do radar de tanta gente.
Classificação: ★★★★½
Músicas essenciais: Dash // Run For Roses // Passionfruit