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Agosto foi cheio de surpresas, especialmente de artistas de quem ninguém esperava nada.

Ao contrário de Julia Jacklin, Danger Mouse ou Cass McCombs, de quem o que esperávamos recebemos, houve surpresas. Ezra Furman mostrou um lado instrumental mais enérgico e Hudson Mohawke provou que reduzi-lo a produtor de Trap está longe da realidade. Já Fireboy DML continua a elevar o Afrobeat e a ascensão do artista já não dá para negar. No entanto, quem mais surpreendeu foi mesmo Demi Lovato (sim, leram bem), que após inúmeras polémicas que levantaram questões sobre a sua saúde mental e o futuro da sua carreira, lançou um álbum de Rock que ninguém esperava. E surpreendentemente… é bom!

Menos positivo foi a parceria de Panda Bear com os Sonic Boom que, apesar de ter funcionado bem, faltou caprichar mais na escrita. Depois, Megan Thee Stallion podia ter sacado um coelho da cartola com um álbum de rap para a história, mas por optar jogar seguro, ficou um degrau abaixo do que poderia ter conseguido.

Nota muito positiva para Laufey e Phoebe Green, que nos álbuns de estreia mostraram total controlo da sua arte, em géneros muito distintos com fusões cativantes.

[Álbuns essenciais de julho]

Cass McCombs – Heartmind

Cass McCombs Heartmind

Género: Folk/Atl-Country

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Curto e grosso é como Heartmind, de Cass McCombs, pode ser caracterizado.
Produto de uma uma viagem recheada de jam sessions, 8 faixas chegaram para Heartmind, que com uma promessa humilde, oferece mais do que o suficiente.
Dou de barato que não é um álbum fácil de absorver, dadas as melodias a fogo brando, podendo ser displicentes para alguns. Porém a verdade é que o melhor de cada faixa, está nas camadas e nuances instrumentais que as enriquecem, sendo a música “Heartmind” o exemplo mais forte, nesse aspeto.
Posto isto, a chave está sobretudo em saber escutar e saber em que ambiente o fazer, para preparar a predisposição certa. Ainda que este álbum possa ser caraterizado com o que referi acima, – a nível de ritmo – a faixa “Krakatau” que surge a meio, sai completamente fora do espectro musical e, a meu ver, arruina um bocado a experiência. Tirando esta faixa do álbum e adicionando outras 2 ou 3 dentro do género poderíamos ter um álbum com potencial a destacar-se no já extenso repertório de Cass McCombs.
Em todo o caso, serve Heartmind para consolidar a sua curta, mas rica carreira.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> New Earth
> Unproud Warrior
> Belong To Heaven

Danger Mouse – Cheat Codes

Danger Mouse Cheat Codes

Género: Rap/Hip-Hop

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O lado mais genuíno do Hip-Hop numa parceria inesperada entre Danger Mouse e Black Thought (vocalista dos The Roots), com a capacidade de fazer os verdadeiros fãs de ritmo e poesia sentirem-se nostálgicos.
Já ambos os artistas bem para além dos 40, garantem que a máxima “quem sabe nunca esquece” tem muito de verdade.
Ainda que os ritmos não tentem chegar a nenhum expoente máximo de extravagância (muito comum no rap moderno), nem tenham um som distinto que os façam sobressair, têm plenitude. Há cuidado em dar-lhes carácter e autenticidade, sem criar contrastes desnecessários. Basicamente não há urgência em fazer das faixas de Cheat Codes, aquilo que não se enquadra com a visão e carácter de Brian Burton e Tariq Trotter.
Em relação ao conteúdo lírico, uma grande salva de palmas! Tanto para dizer, exposto com sentido e conexão que leva qualquer comum mortal a pensar que esta não foi a primeira vez que estes dois artistas criaram música juntos.
Pelo meio de Cheat Codes podem contar com uma série de colaborações interessantes que só adicionam mais qualidade ao álbum, tais como a de Michael Kiwanuka, A$AP Rocky, Joey Bada$$ ou Raekwon (os dois primeiros tiveram álbuns produzidos por Danger Mouse).
Não estava a contar ouvir um álbum deste género, muito menos um com tal qualidade, mas fico feliz constatar que ainda há artistas da velha guarda com a capacidade e pujança para produzir trabalhos envoltos em sonoridades que já pouco se ouvem nos dias de hoje.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Sometimes (with Black Thought)
> The Darkest Part (with Black Thought ft. Raekwon & Kid Sister)
> Because (with Black Thought ft. Joey Bada$$, Russ & Dylan Cartlidge)
> Belize (ft. MF DOOM)
> Aquamarine (with Black Thought ft. Michael Kiwanuka)

Demi Lovato – Holy Fvck

Demi Lovato Holy Fvck

Género: Pop Rock/Pop Punk

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Aproveitando a santidade contida no nome do novo álbum de Demi Lovato, confesso que tinha muito pouca fé no que poderia vir daqui, mas decidi investir a minha força espiritual nele e “Holy Fvck”, fiquei mesmo surpreendido pela positiva.
O mais interessante é que não foi preciso fazer um esforço para perceber e ficar convencido com este álbum. Uma audição e fiquei intrigado, à segunda rendido!
Depois de toda a polémica em que Lovato se foi envolvendo, de identidade de género, os alegados problemas psicológicos e um álbum muito mediano em 2021, ficou uma grande dúvida no ar sobre o que é que esta ainda poderia oferecer enquanto cantora. Pouco faria esperar o que aconteceu em agosto, como esta nova produção.
O Pop permutou para um Pop Rock bem aguerrido cheio de guitarradas, ora electrizantes, ora em tom de balada. O que não permutou foi a exposição e auto-retrato que Lovato desenha, pinta e enquadra de uma assentada. Seja esta exposição genuína ou não, temos aqui o melhor álbum de carreira da cantora estado-unidense, que não só lhe traz alguma redenção musical, como relança a sua carreira.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Skin Of My Teeth
> Substance
> 29
> City Of Angels
> 4 Ever 4 Me

Ezra Furman – All of Us Flames

Ezra Furman All of Us Flames

Género: Art Pop/Indie Folk

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De mensagens poderosas e importantes também se fazem álbuns, embora a sonoridade não transmita a mesma sensação.
Apesar de All Of Us Flames incendiar os ânimos, até dos mais indiferentes devido às letras poderosas e emocionais, sempre que penso em Ezra Furman, não consigo não pensar em Transangelic Exodus (2018), que continua a ser o trabalho da sua carreira.
Há, no entanto, algo que não deixa de ser verdade: a artista consegue captar e transpor tudo o que sente com uma sapiência e clareza fantástica, quase que atingindo um patamar dogmático.
O problema, é que neste álbum partiu à procura de um novo porto, caracterizado por melodias mais animadas e potentes, sem se desfazer do som que é a sua imagem, tornando tudo um pouco confuso. Isto faz com que para além deste ser um álbum desequilibrado – que abre com tudo, mas que vai perdendo fulgor, a partir de “Lilac And Black” – é que depois de ficarmos habituados ao que Furman nos traz de novo, as melodias seguras deixam de transmitir a sensação de bom trabalho a elevar as letras ao ponto que elas mereciam. Caso o fizessem, All Of Us Flames poderia ser um álbum geracional célebre.
Pediam-se mais faixas com a energia de “Forever In Sunset” ou com a força de “Lilac and Black”.
Em todo o caso, este não deixa de ser um ótimo álbum, recheado de músicas que vão ficar marcadas na carreira de Ezra Furman.

Classificação do álbum: ★★★★

Música a ouvir:
> Train Comes Through
> Dressed In Black
> Forever In Sunset
> Lilac and Black

Fireboy DML – Playboy

Fireboy DML Playboy

Género: Afrobeats/R&B

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Vindo de Ogun State (Nigéria), Fireboy DML é a mais recente estrela emergente dentro do género Afrobeats e traz metabolizações ao género que, ainda que o aproximem de sons mais genéricos, não o descaracterizam – tendo inclusivamente letras onde o inglês se mistura com o nigeriano (como em “sofri”, por exemplo).
A nível lírico, não há muito a dizer. É simples e relacionável (à semelhança da música Pop), no entanto isso joga a favor desta produção, porque permite criar a predisposição certa para as melodias que se sucedem de música para música. Para perceberem o que quero dizer com isto, basta ouvirem “Adore” (na qual Fireboy DML conta com a colaboração de Euro), dado que esta música é daquelas que têm potencial para agradar a quase toda a gente que a ouvir e, apesar de não a achar uma das melhores, cumpre o seu propósito, melódica e liricamente.
Apesar da primeira vez em que dei a todas as músicas, no dia de lançamento, não ter estado muito atento às colaborações, é impressionante constatar que ao 3º álbum já conta com músicas em colaboração com artistas como Chris Brown ou Ed Sheeran. Isto acaba por ser mais um indicador do nível de sucesso que Fireboy DML está atingir. Ter-se estreado em 2019, com uma pandemia logo a seguir, torna tudo mais impressionante.
Se não quiserem romantizar este feito, podemos contrapor que o Afrobeats está a conquistar espaço na indústria musical. Porém, também temos de ter em conta que só ganha com isso quem sabe aproveitar e Fireboy DML é uma dessas pessoas.

Classificação do álbum: ★★★★

Música a ouvir:
> Bandana (ft. Asake)
> All Of Us (Ashawo)
> Playboy
> Diana (ft. Chris Brown & Shenseea)
> Peru (ft. Ed Sheeran)

Hudson Mohawke – Cry Sugar

Hudson Mohawke Cry Sugar 1

Género: Dance/Electronic

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Ouvi muito de Hudson Mohawke em 2011, aquando do lançamento do EP TNGHT, trabalho esse que impulsionou o produtor para a mó da frente da exploração do Trap & Bass. Graças ao seu talento e inventividade, foi um dos pioneiros da pré-integração (com sucesso) deste género com o Hip-Hop/Rap. O sucesso foi tanto que apareceu na mira de Kanye West e este dispôs das habilidades de Mohawke para a produção de “I Am A God” e “Blood On The Leaves”, faixa integrante do aclamado álbum “Yeezus” (2013). Esta parceria foi fundamental, pois ditou o auge do Trap & Bass enquanto género, o que veio depois já foram hibridações com ramificações menos aproximadas.
A onda de popularidade d produção com Kanye, levou-o a produzir para artistas como Azealia Banks, Drake, Pusha T, John Legend, Lil Wayne (entre outros) em menos de um ano.
Segui o trabalho de Mohawke até ao EP “Chimes” (2014), mas depois disso, o produtor afastou-se do Trap e eu desliguei-me um pouco do seu trabalho pessoal. Ainda assim, fui acompanhado indiretamente por via de colaborações. A com Kanye West no Life Of Pablo (2016) em 3 faixas e ainda com A$AP Rocky, Pusha T e Anohni – em álbuns que constaram nas minhas seleções de melhores do ano.
Mais de 10 anos depois do álbum que me apresentou ao génio por detrás de Hudson Mohawke (Ross Birchard) e quase 10 anos desde que o deixei de acompanhar, decidi meter ouvidos no seu trabalho, sabendo que o Trap & Bass ficou para trás juntamente com a quota de mercado que acabou por perder.
Cry Sugar é o novo álbum envolto em sonoridades mais convencionais do género Electronic e Dance, mas é engraçado que a personalidade artística do produtor, com a inventividade como base, continua bem presente em muitas das músicas deste álbum.
Sinto vibes de redenção de um artista que ficou associado a um género, mas tem arte e engenho para muito mais. Em agosto, 8 anos volvidos, Hudson Mohawke brilha tanto como outrora naquele que é, a meu ver, o melhor e mais consistente álbum da sua carreira. As provas estão dadas: o talento não é transversal a um só género ou a um só período sazonal preso ao passado, Hudson Mohawke foi passado, mas é presente e será, certamente, futuro.

Classificação do álbum: ★★★★

Música a ouvir:
> Intentions
> Bicstan
> Is It Supposed
> Tincture

Julia Jacklin – Pre Pleasure

Julia Jacklin Pre Pleasure

Género: Indie Folk/Indie Rock

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Julia Jacklin é uma artista discreta, que oferece mais e melhor do que dá a entender e já não de hoje. Digo isto com a maior das certezas porque já em 2019 deu vislumbres de para onde a sua carreira iria a seguir, com o álbum Crushing, do qual saiu a belíssima “Don’t Know How to Keep Loving You” (que constou na minha seleção de melhores músicas desse ano).
Este ano, com Pre Pleasure Jacklin limitou-se a seguir o caminho que começou a preparar, ainda em 2016, com o seu primeiro single, “Pool Party”. É revigorante olhar para trás e perceber que há artistas que conseguem ser sempre constantes sem nunca perder o propósito ou a magia que os caracteriza.
Ainda que hajam algumas semelhanças com trabalhos passados, Jacklin, agora com 32 anos, demonstra ter atingido um novo nível de maturidade. O mais cativante é que chega a esse nível sem nunca perder de vista o seu “eu” mais sonhador. “Eu” esse que a leva a divagar sobre hipóteses hipotéticas com os resultados que almeja. Um dos exemplos mais evidentes acontece na música “Too In Love To Die” onde podemos ouvir “I’m too in love to die / If this plane were to go down / Surely the love I feel for him / Would soften the ground” ou mais para a frente na música “That I’m too in love to die / If I stepped out on the highway / All the cars would spin around me like a dance / And here on earth I would stay” – um sonho esperançoso na tentativa de camuflar a tragédia iminente.
O maior trunfo da cantora australiana continua a ser a sua vulnerabilidade enquanto se confessa ao mundo e, seis anos depois de se ter confessado pela primeira vez, continua a soar tão natural que é difícil projetar um prazo de validade para a abordagem musical (quer melódica, quer instrumental) de Julia Jacklin.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Lydia Wears A Cross
> Love, Try Not To Let Go
> I Was Neon
> End Of A Friendship

Laufey – Everything I Know About Love

Laufey Everything I Know About Love

Género: Jazz Pop/Bedroom Pop

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Um género atípico para uma cantora de um país improvável, mas onde o talento per capita é imenso.
Laufey Lín Jónsdóttir, conhecida no mundo artístico apenas pelo seu primeiro nome, é filha de pai islandês e mãe chinesa e passou grande parte da sua infância entre Reykjavíc e Washington.
A sua mãe era violinista clássica e o seu avô professor de violino no Central Conservatory of Music, em Beijing, o que explica parte as suas influências musicais que caracterizam o seu som. Antes da maioridade, aos 15 anos, tocou como solista para a Iceland Symphony Orchestra, foi finalista do Ísland Got Talent e no ano seguinte tornou-se a participante mais nova a chegar às semi-finais do The Voice Iceland.
Em 2021 terminou os estudos na Berklee College of Music mas, apesar do histórico familiar do lado materno relacionado com música clássica, foram referências musicais do Jazz, como Ella Fitzgerald e Billie Holiday que pautaram o seu desenvolvimento de género musical.
Aos 23 anos e após os últimos 2 onde teve as primeiras experiências musicais através de 4 singles muito promissores, eis que sai do “forno” o esperado álbum de estreia, que marca um início de carreira fantástico.
Laufey oferece o que promete e conta-nos tudo o que sabe sobre amor, numa exposição belíssima e ternurenta ao seu “eu” mais íntimo, tendo como base o fim de todas as experiências apaixonantes que viveu. Everything I Know About Love é uma colectânea de cartas de amor guardadas e lidas fora de tempo, em formato musical, sobre tudo e mais alguma coisa.
Apesar das letras assentarem sobre histórias melancólicas que todos vivemos, mas tentamos evitar lembrar, a escrita focada em inúmeras temáticas é única para cada qual, bem como a melodia que lhe dá o toque mágico para envolver o coração de quem sente. E a verdade é que todas as músicas deste álbum, sem exceção(!), bem podiam ter sido a banda sonora de várias obras cinemáticas que, desde que o cinema existe, espalharam emoções, criaram expectativas e partiram corações – nunca desconfiava.
Tudo o que sabemos sobre o amor é agridoce, porque aprendemos tanto quando estamos apaixonados, como quando o fim se aproxima. E depois de acabar? Sobram as memórias de sensações que vivemos, que podemos reviver ao ler este álbum e descobrir qual era o som dessas memórias.

Classificação do álbum: ★★★★½

Música a ouvir:
> Fragile
> Valentine
> Everything I Know About Love
> Falling Behind

Megan Thee Stallion – Traumazine

Megan Thee Stallion Traumazine

Género: Rap/Hip Hop

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Não é desconhecida para ninguém e o seu potencial sempre foi difícil de ignorar. Em 2020, com o álbum Good News, ficou bem posicionada para entrar na luta pelo trono com Cardi B, Nicki Minaj ou Doja Cat. Dois anos passaram e, com o lançamento de Traumazine, já não dá mais para arranjar desculpas para justificar o porquê de não considerar Megan Thee Stallion a melhor rapper feminina da atualidade.
Ainda que as letras estejam recheadas de calão e palavrões, acabam por fazer sentido face à abordagem da rapper norte-americana a nível de temáticas e há algumas pérolas líricas pelo meio, como “Flip Flop”.
Sulista de nascença, Megan não tem orientação musical de raíz, dentro do género. Isto torna-a imprevisível e excitante em simultâneo. Embora considere este traço uma vantagem, pode ter efeitos opostos, mais concretamente na hora de desenvolver um álbum. Traumazine é dominado por Rap explícito e por vezes cru da faixa 1 até às 12. O problema é que depois da faixa 12 aparecem duas faixas de R&B com Jhené Aiko e Lucky Daye, seguidas de mais Rap nas três faixas seguintes e para fechar surge (absolutamente do nada) “Sweetest Pie”, uma faixa Rap/Pop que conta com a participação de Dua Lipa a desafinar um trabalho perto do genial até então.
Percebo a ideia de querer agradar ao maior número de pessoas possível, mas questiono: valeu a pena estragar um excelente álbum de Rap, que podia ser perfeito se se resumisse a 15 músicas e não incluísse as três de R&B/Pop que não têm nada a ver com nada?
A meu ver não. Não me interpretem mal, as músicas são boas, mas não encaixam, de todo, neste álbum.
Megan The Stallion teve um diamante na mão e optou por ir atrás do ouro.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> NDA
> Ungrateful (ft. Key Glock)
> Budget (ft. Latto)
> Gift & A Curse
> Anxiety
> Pressurelicious (ft. Future)
> Plan B

Panda Bear & Sonic Boom – Reset

Panda Bear Reset

Género: Experimental Pop/Electronic

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Quando artistas atuais puxam do seu espírito musical enquanto se divertem a reviver os sons e ritmos dos clássicos, acontece isto: Reset.
Ainda que não reinvente a roda nem traga algo realmente inventivo, este álbum, resultado da parceria entre Panda Bear e Sonic Boom, é uma ode a um tempo que não volta, mas pode ser revisitado. Tempo esse caracterizado por música jovial e dançante que perpetua convívio, companheirismo e amizade.
É curioso que um álbum com apenas 9 faixas que se estendem ao longo de 38 minutos seja de tal forma propício a ser reproduzido, que parece conter mais músicas do que realmente tem.
Reset poderia, no entanto, ser muito mais do que é. Sou da opinião que faz algo especial acontecer pela forma como imita sonoridades dos anos 50 & 60, no seu exponencial máximo de glória, mas falha redondamente na escrita que não acrescenta nada nem conta nada de especial.
Podíamos ter aqui um trabalho memorável, embora por preguiça ou comodismo ficou pelo bonzinho/agradável.

Classificação do álbum: ★★★★

Música a ouvir:
> Getting’ To The Point
> Go On
> Edge Of The Edge
> Livin’ In The After

Phoebe Green – Lucky Me

Phoebe Green Lucky Me

Género: Experimental Pop/Electropop

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Como segunda produção, que surgiu com uma mudança radical de género em relação ao EP lançado em 2020, Lucky Me é um trabalho muito objetivo e evoluído.
Phoebe Green não se limita a dar mais do mesmo dentro de um determinado género e sabe exatamente o que quer mostrar de si, ao mundo.
É difícil classificar este álbum mas, depois de o ouvir algumas vezes, não restam dúvidas que independentemente dos géneros que aborda, é um álbum muito bom.
Por detrás do génio de Phoebe Green e do seu sucesso a nível da inventividade e qualidade, há uma razão. Essa razão chama-se Dave McCracken, quer queiramos fazer vista grossa ou não as provas estão mais do que dadas. Falo de trabalho de produção/escrita para artistas como Matishyahu, Oh Land, John Legend, Shakira, Florence + The Machine, Alicia Keys, Scissor Sisters, Beyoncé, Natalia Imbruglia, K.Flay e Depeche Mode, entre muitos outros.
Voltando ao ponto inicial, Green começou a carreira com o Indie Rock como almofada de aconchego no EP 02:00 AM. Posto isto, é impressionante como 2 anos depois, ainda sem grande estofo, no álbum de estreia reinventa-se e muda radicalmente de géneros. Isto permite que inconscientemente se aproxime da musicalidade do último álbum de Self Esteem, com quem fez tour e partilhou muitas histórias e desabafos. Curiosamente as duas artistas são semelhantes na abertura que têm a nível de escrita.
Ainda que o álbum comece com melodias mais animadas do que como acaba, a mensagem intrínseca às experiências que vai partilhando de música para música é sempre pesarosa, criando uma persona que se mantém do início ao fim do álbum, fazendo dele um dos melhores que já ouvi este ano.

Classificação do álbum: ★★★★½

Música a ouvir:
> Make It Easy
> Crying in the Club
> Sweat
> Just A Game
> Won’t Sit Still
> Leach

Stella Donnelly – Flood

Stella Donnelly Flood 1

Género: Indie Folk/Indie Pop

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Embora não tenha o brilhantismo cómico de Beware of the Dogs (2019), que se apoiou num tema sensível que é a cultura de estupro, Flood é um óptimo álbum, necessário para o legado de Stella Donnelly.
Quem ouviu Beware of the Dogs com atenção, dificilmente seguiu em frente indiferente a Stella Donnelly – Eu fui uma dessas pessoas.
Este ano a cantora australiana teve a difícil missão de substituir Japanese Breakfast no NOS Primavera Sound, mas portou-se lindamente, passando por todos os seus hits e derretendo corações com a sua voz doce e pura. Antes do fim do concerto ainda deu tempo para tocar uma das músicas deste novo álbum, “How Was Your Day”, num exercício engraçado com o público, que conhecendo-a ou não, ficou toda a gente a entoar o refrão.
Ainda que não esperasse um álbum à imagem dessa música (melodicamente), menos esperava que tentasse espremer o que quer que seja dos temas anteriores. As minhas suspeitas confirmaram-se, visto que não só pousou a guitarra mais frequentemente para dar espaço ao piano, como também soube encerrar um capítulo, optando por abstrair-se do que a rodeia e olhar para si.
Flood é mais um álbum de gabarito e a sensação é que Donnelly ainda não se esforçou minimamente, deixando no ar a dúvida de qual é o seu verdadeiro potencial e de que forma pode surpreender.
O problema é que a artista é tão simples e completa, que não vejo motivo para tentar ser algo que não é naturalmente, pelo menos enquanto o seu “eu” artístico nos continuar a entregar álbuns como os dois últimos.

Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Lungs
> How Was Your Day
> Move Me
> Flood
> This Week
> Cold

Outros álbuns a ouvir:
> Hot Chip Freakout/Release
> MuseWill Of The People
> Panic! At the DiscoViva Las Vengeance

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