Ao contrário de julho, agosto passou a voar (com férias pelo meio, pudera) e foi um mês com alguns álbuns que sabem a verão.
Dreamland, dos Glass Animals, e I Slept On the Floor, dos Another Sky, foram os grandes destaques, no entanto, pelo meio houve muitas surpresas agradáveis vindas dos The Killers, de Kiesza, de Angel Olsen e até de Maya Hawke (que muitos devem conhecer de Stranger Things).
Por outro lado, houve surpresas menos agradáveis, como foi o exemplo dos Disclosure, que continuam longe do brilho com que começaram a sua carreira. Como tal, Energy, com muita pena minha, ficou de foram dos essenciais. Em todo o caso, deixo no final do artigo um single do álbum que achei magnífico. Adiante…
Aminé – Limbo
Género: Rap/Hip-Hop
Não se podia pedir mais ao rapper de Portland, principalmente quando, em 2018, lançou OnePointFive, uma mixtape bastante sóbria e madura que contou com algumas colaborações interessantes (entre as quais Rico Nasty). O seu terceiro álbum fez sucesso um pouco por todo mundo, fazendo de Aminé uma promessa excitante da cantera emergente de novos rappers. Passaram dois anos e, apesar de Limbo ter ficado ligeiramente aquém das expetativas, continua a ser um álbum bastante interessante.
Pode gerar um bocado de confusão este jogo entre “mixtape”, “álbum” e “EP”, mas é como Aminé disse num teaser que lançou há pouco tempo: “Mixtapes are albums and albums are mixtapes. Niggas call they albums mixtapes ‘cause if [it] flops, it’s an EP. Nah, that’s like a b-side, bro.“
Isto tudo para dizer que, indepentemente da designação, Aminé dá sempre tudo em nome da sua arte. E os resultados têm sido bons: em 2018 lançou um dos melhores álbuns de rap do ano, num ano onde Saba, Mac Miller, Noname, A$AP Rocky, Anderson .Paak e Vince Staples também brilharam (que ano magnífico para o género); já em 2020 regressa com um trabalho que decerto o vai manter lá em cima, junto aos melhores.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
- Woodlawn
- Can’t Decide
- Compensating (ft. Young Thug)
- Pressure In My Palms (ft. Slowthai & Vince Staples)
- Mama
Angel Olsen – Whole New Mess
Género: Indie/Acoustic
Link para o Spotify
Quem ouviu All Mirrors ficou a conhecer a história de Angel Olsen, bem como o que a atormenta. No entanto, foi preciso relançar as mesmas músicas num formato mais cru para compreender como a artista se sente. Por norma, este tipo de álbuns não funcionam, ate porque os artistas que o decidem fazer, fazem-no com uma abordagem à posteriori, só com o intuito de fazer render o peixe. Logo não transmitem nada.
Contudo, o caso de Olsen foi um pouco diferente, visto que esta abordagem foi feita à priori, antes do All Mirrors existir. As músicas “repetidas” agora são, na verdade, as versões originais (sem trabalho de edição). Com isto, Olsen leva-nos exatamente onde quer, a sentir a sua dor sem nunca termos estado presentes, numa partilha de íntimo que exige confiança e coragem.
Durante 42 minutos carregados de intensidade emocional, quase fica a sensação que estamos na mesma sala que Olsen, a ouvi-la a desabafar connosco pela primeira vez, e é isso que torna este álbum tão especial. Mais especial vai ser para o ano ter a oportunidade de finalmente podê-la ver ao vivo, no NOS Alive.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
- Whole New Mess
- (New Love) Cassette
- (We Are All Mirrors)
- Waving, Smiling
- Lark Song
Another Sky – I Slept on the Floor
Género: Post-Rock/Independent
Link para o Spotify
Decorem este nome: Another Sky. Vão precisar para festivais vindouros.
Assim do nada, sem qualquer aviso prévio, o intenso álbum de estreia da jovem banda britânica de Post-Rock faz caso sério de se tornar num dos melhores álbuns de 2020. O melhor é que nem foi preciso esforço ou pretensiosismo, visto que as músicas assentam em letras simples com conteúdo sério. Estas são decompostas num ritmo pausado, caracterizado pelas sílabas longas, onde somos embalados pelo som único e especial da voz de Catrin Vincent, que tem o poder de mover montanhas e mentalidades.
O instrumental é complexo, imaginativo e denso, fazendo do Post-Rock o novo Pop, tal é a facilidade com que nos deixamos imergir ao longo de I Slept on the Floor. Uma experiência obrigatória para os fãs do género e um excelente veículo para ambientar quem nunca se deixou encantar pelo género.
Um facto curioso? Os fãs de FIFA 20 já conhecem a banda (ainda que inconscientemente).
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
- Fell In Love With the City
- The Cracks
- Life Was Coming In Through the Window
- Tree
- Let Us Be Broken
- All Ends
Biffy Clyro – A Celebration of Endings
Género: Alt-Rock/Pop Rock
Link para o Spotify
O trio escocês, responsável por 20 anos de rock capaz de energizar estádios cheios, continua de boa saúde, e A Celebration of Endings é a prova mais recente disso. Somos presenteados com um álbum eletrizante e que preserva na perfeição o rock alternativo que moldou uma geração de rockeiros.
É um álbum bipolar no que toca à predisposição da abordagem musical, mas, ainda assim, ajudou a dar vida ao agosto mais murcho dos últimos anos, animando até as viagens de carro mais longas, pelo meio de autênticos cenários característicos de inverno.
Nunca acompanhei o trabalho dos Biffy Clyro de perto, mas A Celebration of Endings deu-me motivos válidos para o fazer.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
- North of No South
- The Champ
- Tiny Indoor Fireworks
- Space
- The Pink Limit
Burna Boy – Twice as Tall
Género: Afrobeats/Dancehall
Link para o Spotify
Burna Boy brilhou como nunca, em 2019, com African Giant. Tanto que chamou à atenção de Sean Combs, também conhecido como P. Diddy, um dos produtores de Twice As Tall. Este novo álbum está muito bom, no entanto, quem está familiarizado com o seu álbum anterior, dotado de nuances mais étnicas, vai notar diferenças.
Apesar de preservar a sonoridade em algumas faixas (“Wonderful” e “Onyeka”), começa-se a criar uma ponte que vem ligar Burna Boy a uma vertente mais mainstream. A longo prazo, tendo em conta esta adaptação para conquistar um maior público, Damini Ogulu tem um trunfo que o pode impedir de cair no comercial barato: a sua experiência de vida e raízes culturais nigerianas.
Entretanto, podem deliciar-se com o trabalho mais introspetivo e emocional do cantor até ao momento, acompanhado de ritmos muito fáceis de absorver. Apesar de ser um álbum menos colorido que aquele que foi lançado no ano passado, acaba por ir de encontro com a visão política (e não só) que Ogulu tem em relação ao presente, conferindo-lhe valor acrescentado.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
- Level Up [Twice As Tall] (ft. Youssou N’Dour)
- Way Too Big
- Wonderful
- No Fit Vex
- Real Life (ft. Stormzy)
Fantastic Negrito – Have You Lost Your Mind Yet?
Género: Blues/American Folk Music
Link para o Spotify
Parafraseando Xavier Amin Dphrepaulezz, “I’m so happy I cry (…) because today I feel alive“.
É por álbuns como este que é impossível não gostar de Blues, fazendo lembrar muito Suits. Publicidade gratuita, eu sei, mas sempre que ouço este género de música, é difícil não remeter o meu pensamento para a icónica série da USA Network.
Adiante, Fantastic Negrito relançou a carreira em 2014, após sete anos parado, e, nos dois álbuns lançados antes deste, conseguiu dois Grammy. Em 2020, deixou evidente que não deve nada a ninguém, voltando com a mesma garra e juventude de sempre para o triplete, ganhando cada vez mais o estatuto de um dos artistas mais únicos e incomuns dos Estados Unidos atualmente. O que acaba por ser bom, por ser um bem valioso, e mau, por ser sinal que a autenticidade está a desaparecer, não por falta de talento, mas por falta de atenção do público.
Recheado de talento e alma na base das suas produções musicais, Xavier só consegue produzir êxitos atrás de êxitos e este álbum merece o selo de qualidade que vem anexado a ele.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
- Chocolate Samurai
- I’m So Happy I Cry
- How Long?
- Searching For Captain Save A Hoe (ft. E-40)
- Your Sex Is Overrated
- All Up In My Space
Glass Animals – Dreamland
Género: Electropop/Dream Pop
Link para o Spotify
Este álbum ter saído em agosto foi o music placement perfeito para a estação em causa, tão fresco como um mergulho no mar naquela hora onde o sol está mais alto e tão prazeroso como a nossa bebida preferida, com a brisa fresca do mar a revitalizar-nos a alma.
Se pudesse atribuir o título de álbum de verão a qualquer um dos que sairam desde 21 de junho até agora, seria a Dreamland. No entanto, também serve na perfeição para “Me Moments” e tem passagens dignas de playlist para qualquer festa.
A criatividade e originalidade da banda não tem limites e a prova disso foi a forma como promoveram o álbum pré/durante/pós-lançamento.
Dreamland tem a capacidade de vos levar numa viagem atribulada por vários estados de espírito, sem nunca sair da linha do agradável, sendo a maior vitória da carreira de Glass Animals.
Posto isto, certamente vai acabar no topo da minha seleção de melhores álbuns de 2020, em dezembro.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
- Tangerine
- Hot Sugar
- Space Ghost Coast to Coast
- Tokyo Drifting (ft. Denzel Curry)
- Your Love (Déjà Vu)
- Heat Waves
James Dean Bradfield – Even in Exile
Género: Epic Rock/Folk Rock
Link para o Spotify
Creio que James Dean Bradfield conseguiu fundar o conceito de remake na música e fê-lo com distinção, num trabalho muito especial. Even In Exile conjuga o talento de um guitarrista com contribuições assinaláveis para a música, com uma história que merece ser contada. Falo da história de Victor Jara, o músico e ativista Chileno, morto em 1973 às mãos das forças de repressão do golpista Pinochet. História essa contada nos poemas de Patrick Jones (baseadas nas músicas da autoria do próprio Jara), imortalizada pela voz e som de Bradfield.
Este álbum torna-se, assim, num memorial vivo de Jara, passando por todas as fases da vida dele, num género de remake extremamente bem conseguido. Ouvir Even In Exile é reviver a história (cantada) de Victor Jara, e, por sua vez, é conhecer parte da história do Chile e do modo operandi do fascismo – hoje mais do que nunca: “RECUERDA“.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
- RECUERDA
- THE BOY FROM THE PLANTATION
- UNDER THE MIMOSA TREE
- WITHOUT KNOWING THE END (JOAN’S SONG)
- LA PARTIDA
Kathleen Edwards – Total Freedom
Género: Folk/Alternative Country
Link para o Spotify
Filha de um diplomata, passou grande parte da sua infância na Coreia, sendo que aos 5 anos começou a sua jornada de mãos dadas com a música. À semelhança da sua infância, a adolescência também foi passada do outro lado do oceano, onde se envolveu mais com a música, mais concretamente através de discos pertencentes ao seu irmão mais velho (entre os quais os de Neil Young e Bob Dylan), que foi também quem lhe ofereceu o ser primeiro disco, de Tom Petty. Só com esta abordagem biológica, já é possível deduzir em parte o teor do trabalho da cantora canadiana.
Ao acabar o ensino obrigatório, ao invés de continuar com os estudos, Kathleen Edwards optou por lançar a sua carreira solo, tocando em bares para pagar as contas.
Em 1999 gravou um Extended Play com seis faixas e, um ano depois, já estava em digressão por conta própria, sendo que dois anos mais tarde assinou o seu primeiro contrato.
Optei por fazer um apanhado ao percurso da cantora em vez de falar sobre o álbum em si por um motivo simples: este apanhado é o que dá corpo e alma ao álbum.
Total Freedom é um retrado fiel à carreira de Kathleen. Uma carreira segura e com muito foco, onde todas as decisões tomadas e esforço empregue pela mesma a levaram ao ponto exacto em que era suposto estar, tendo, por fim, surtido os frutos desejados.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
- Glenfern
- Hard On Everyone
- Options Open
- Ashes to Ashes
Kiesza – Crave
Género: Pop/Dance
Link para o Spotify
Em 2014, Kiesa Rae Ellestad tomou todos os charts mundiais de assalto, com uma das músicas que meteu toda a gente a dançar nesse ano (Hideaway) e, nos três anos seguintes, foi sempre a somar no que tocou a colaborações e trabalho de escrita para outros artistas (Diplo, Rihanna, Skrillex e Kylie Minogue). Até que, em 2017, um grave acidente de carro lhe trocou as voltas à vida, tendo posto em causa a capacidade motora da artista, na altura com 28 anos.
Três anos depois, Kiesza esta de volta às luzes da ribalta, aparentando estar completamente recuperada, e, ao contrário do que era de esperar (um álbum com referências ao sucedido e mais sombrio), regressa com um álbum fantástico cheio de cor, alegria e glitter, que vai decerto satisfazer os fãs de longa data. Quanto aos fãs de Pop/Dance não familiarizados com a cantora canadiana, têm aqui uma porta escancarada para adicionar uma nova artista aos favoritos.
Crave é um álbum relativamente curto, tendo sido lançado com nove faixas (mais duas extra no formato físico). Todavia, considero-o mais um álbum condensado, e até é preferível ser assim: com poucas músicas sólidas em detrimento de ter muitas músicas com fragilidades evidentes.
Um pormenor interessante é que Crave capta a essência da música Pop dos anos 80, introduzindo a nova geração ao som de um tempo que já lá vai. Tudo isto consolida um comeback com rótulo de melhor trabalho da cantora até agora e a promessa que o futuro vai ser brilhante.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
- Run Renegade
- All of the Feelings
- Crave
- When Boys Cry
- Sky Ain’t the Limit
Maya Hawke – Blush
Género: Folk/Acoustic
Link para o Spotify
Costuma-se dizer que quem sai aos seus não degenera. Contudo, no entretenimento e no desporto, é muito comum acontecer o oposto, visto que são áreas que dependem do talento e gosto e nem sempre estão ambos presentes na descendência de grandes atletas, atores, cantores, etc.
Maya Ray Thurman Hawke, filha de Uma Thurman e Ethan Hawke (que dispensam apresentações), confere significado ao provérbio, como atriz (foi surpresa da 3ª temporada de Stranger Things) e como cantora.
Blush é um álbum modesto, mas especial. Os arranjos musicais focam-se na simplicidade, apoiados pela voz suave de Maya. Foi também a própria quem escreveu as letras das músicas, que são muito sóbrias e diretas sem grande esforço empregue. Não obstante, conseguem passar para quem está ouvir exactamente o que a cantora quer.
Tudo isto compilado torna este álbum num trabalho mais pessoal e, apesar de ser uma jogada segura, transmite uma sensação de familiaridade, como se Maya fosse uma amiga a ter uma conversa connosco.
Classificação do álbum: ★★★½
Músicas a ouvir:
- Generous Heart
- By Myself
- Hold The Sun
- Cricket
Orville Peck – Show Pony [EP]
Género: Country/Alternative
Link para o Spotify
Orville Peck (pseudónimo) é um cantor de Country envolto em mistério, proveniente do Canadá, que nunca aparece em público sem máscara (suck it COVID-19). Este é 100% responsável pela música que cria e tem uma voz fenomenal.
Sendo filho de um engenheiro de som, fica em parte explicada a sua naturalidade para a produção musical. No ano passado estreou-se com Pony, com a nota de que foi escrito, produzido e cantado exclusivamente por ele – uma das músicas, “Dead of Night”, esteve inclusive nas finalistas para o meu Top 100 de 2019.
Este ano volta com uma produção mais pequena, mas não menos espantosa, cujo o artista já revelou ser inspirada na obra de Neil Young. Composto por seis músicas, segundo o músico, este trabalho serve de ponte entre Pony e o seu próximo álbum, mas tal não significa que tenha existido menos dedicação por isso.
Uma das músicas, “Legends Never Die”, foi gravada com Shania Twain logo após o início da pandemia, e a particularidade da mesma foi ter obrigado Orville Peck a sair da sua zona de conforto. Isto porque para além de ter sido a sua primeira colaboração, foi gravada no rancho de Shania Twain.
Mais recentemente, foi inclusive lançado um vídeo promocional no The Tonight Show do Jimmy Fallon relativamente à colaboração feita entre os dois artistas Country.
O balanço final é positivo e este EP tem a profundidade capaz de colocar Orville Peck no topo do Country neste momento, onde a voz é a sua maior arma, com a capacidade de num futuro próximo o elevar bem lá em cima, junto aos seus ídolos.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
- Summertime
- Drive Me, Crazy
- Kids
- Legends Never Die (ft. Shania Twain)
Sea Girls – Open Up Your Head
Género: Indie Rock/Pop Rock
Link para o Spotify
O álbum de estreia da banda Sea Girls está aí, após três anos a lançar EPs e pode-se dizer que satisfaz bem. Quando o NOS Alive anunciou a banda, confesso que fiquei reticente, dada a falta de provas dadas a nível musical e, sabendo que o álbum só chegou em agosto, é sensato presumir que o facto do festival ter sido cancelado para 2021 (com a re-confirmação) foi positivo. Por essa altura, já será possível ver um concerto em condições, contrariamente ao que aconteceu com os Imagine Dragons, em 2014, cujo repertório era tão pequeno que se fartaram de falar e tocaram inclusivo a “Song 2”, dos Blur, para fazer tempo.
Em relação a este álbum, surge como prova que a banda tem potencial para fazer coisas interessantes (tendo alguns traços dos The Wombats e Bastille), abrindo caminho para vingar no Indie Rock como próxima grande banda. No entanto, ainda falta algum foco, dando a sensação que algumas músicas só existem por existir.
Resta-nos esperar por julho de 2021 para ver como ser portam em palco.
Classificação do álbum: ★★★½
Músicas a ouvir:
- All I Want to Hear You Say
- Closer
- Ready For More
- Violet
- Shake
The Killers – Imploding the Mirage
Género: Alt-Rock/Synth Rock
Link para o Spotify
O momento estrela dos The Killers já lá vai há mais de uma década e, depois de Battleborn, muitos fãs perderam a confiança na capacidade criativa da banda. Contudo, a confiança do grupo manteve-se inabalável, e se com o Wonderful Wonderful (2017) houve vislumbres de um passado glorioso com uma abordagem mais sólida, com este álbum, o melhor até agora, é seguro dizer que a banda de Las Vegas é como o vinho do Porto.
É incrível como tanto tempo depois, sabendo que os The Killers foram um sucesso mundial e já estiveram no topo dos charts mundiais, conseguem continuar a produzir música consistente, carregada de frescura e sem abdicar da identidade que tão bem os caracteriza.
A cada álbum que passa, a maturidade continua a crescer a um ritmo exponencial e, sendo eu um fã da banda ao ponto de ter comprado Sawdust e Day & Age (que rodaram dezenas de vezes na minha velhinha aparelhagem), tenho de reconhecer que Imploding the Mirage supera qualquer um dos trabalhos anteriores. Para além disso, houve colaborações com K.D. Lang e com os emergentes Weyes Blood, algo inédito na carreira da banda, mas que funcionou lindamente.
Fico imensamente feliz pelo feito de Brandon Flowers e companhia, ao conseguirem manter viva a alma da banda, depois deste tempo todo caracterizado por uma autêntica volta na montanha russa.
Saliento ainda algo que Brandon Flowers disse em entrevista ao The Sun em 2013, que é cada vez mais atual: “Às vezes questiono-me, o que é que os adultos ouvem? Ouvem o que está a tocar no rádio? As pessoas deviam ouvir algo que se relacione com elas, não (músicas) sobre perder a virgindade com o namorado num sábado a noite. Isso é retardado. Essas músicas são todas iguais. E se é esse lixo que os sujeitos de 40 anos ouvem, vão criar os seus filhos com isso na cabeça. Isso nem música é.”
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
- My Own Soul’s Warning
- Blowback
- Lightning Fields (ft. K.D. Long)
- Fire In Blood
- My God (ft. Weyes Blood)
- When the Dreams Run Dry
Willie J Healey – Twin Heavy
Género:
Link para o Spotify
Caracterizado pela estranheza e originalidade, Willie J Healey pega em elementos de inúmeras bandas de décadas passadas para criar o seu som. A escrita é revigorante e cada música tem um ritmo muito próprio, como se de peças de um tabuleiro de Xadrez se tratasse (individualmente funcionam de formas diferentes, mas no fim acabam por complementar-se).
Willie tem a confiança, o flow e a cabeça no sítio certo para continuar a trilhar caminho para o sucesso, disso não tenho dúvidas. A única incógnita é para onde o artista vai a seguir, até porque o único problema está na atenção que este álbum está a receber, pois merece muita mais.
Para ser franco, não conhecia Willie J Healey, mas, dentro do panorama Indie/Alternative, não há muita coisa com esta sonoridade, tendo ficado bastante impressionado com o novo trabalho do cantor. Tanto que quando dou por mim estou a ouvir o álbum em loop duas, três vezes.
O meu conselho? Arranjem um tempo e silêncio só vosso, e façam o mesmo que eu, dificilmente irão arrepender-se.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
- Fashun
- True Stereo
- Twin Heavy
- For You
- Thousand Reasons
- Caroline Needs
Young Jesus – Welcome to Conceptual Beach
Género: Art Rock/Post-Rock
Link para o Spotify
O ponto forte de Welcome to Conceptual Beach é todas as músicas que o compõem terem um núcleo forte a nível instrumental e, com isso, há liberdade para improvisos e devaneios. Neste álbum, os tais improvisos e devaneios são coisas que não faltam, como se de um ensaio experimental se tratasse. Todavia, o produto final, intencionalmente ou não, foi muito bem conseguido, formando uma bela pintura onde a criatividade e irreverência marcam passo.
O facto de não haver uma linha de seguimento lógico, graças às passagens dentro da mesma música, gera um sentimento de imprevisibilidade muito entusiasmante. E a emoção investida quer no instrumental, quer nas letras, quer na voz, fazem deste álbum uma preciosidade que vai saber bem ouvir mais do que uma vez.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
- Faith
- (un)knowing
- Root and Crown
Fora do holofotes ficou um dos álbuns mais aguardados do ano para mim: Energy, dos Disclosure, como já referi anteriormente. No entanto, tem uma música em particular que acho magnífica, Douha (Mali Mali).
Para além disso, ainda houve uma surpresa muito agradável e inesperada por parte dos Linkin Park, que lançaram um novo single (em celebração dos 20 anos de Hybrid Theory) chamado She Couldn’t e para além de magnífico, é uma bonita homenagem a Chester Bennington. Uma gravação antiga, dos tempos de Hybrid Theory, mas com uma abordagem mais soft do que do resto das musicas desse álbum e, à semelhança de My December, na altura ficou fora do álbum.
Assim foi o mês de agosto a nível musical, recheado de diversidade e qualidade. Aproveitem o que resta deste verão para desfrutar das sonoridades que vão bem com o calor que daqui a umas semanas voltamos a falar – por essa altura, já será sobre o mês de setembro.