Muse em Algés: Maiores que nunca, mas será que isso é bom?

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Passavam poucos minutos após o término do concerto de Miles Kane quando, no potente sistema de PA, se ouvia o tema da série Stranger Things, da Netflix. E bastou este momento para percebermos que, agora, os Muse estão noutro mundo, num com uma estética que nos remete para os mundos de Blade Runner ou Back to the Future. Aliás, basta ouvirmos o mais recente álbum Simulation Theory, que a banda veio apresentar neste concerto, para nos apercebermos disso mesmo. Mas será que esta pop retrofuturista é do agrado dos fãs?

Bom, depende dos temas, na verdade. Canções como “Break It to Me” ou “Propaganda” são totalmente dispensáveis. Faria mais sentido ouvir, por exemplo, uma “Something Human”, que não foi tocada. Já as outras faixas apresentadas no novo álbum, como “Pressure” ou “The Dark Side”, caem melhor no ouvido e levam-nos numa viagem nostálgica. Assentam na perfeição nesta pele da banda de Matt Bellamy (voz, guitarra, teclas), Chris Wolstenholme (baixo) e Dominic Howard (bateria), embora este questionar da realidade virtual já tenha sido um tópico imensamente explorado nos últimos anos.

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Créditos: Tiago Cortez // Everything is New

Apesar da organização não ter divulgado quantas pessoas assistiram ao concerto, é seguro dizer que o recinto do Passeio Marítimo de Algés esteve bem composto. Chegámos com relativa tranquilidade ao local, pelo que, aquando da subida dos Muse a palco, às 21h35, dava-nos a sensação de estar ali milhares e milhares de fãs da banda.

Começa o sistema de som a dar um ar de sua graça quando, a essa hora, surge no gigantesco ecrã a mensagem “We Are Caged in Simulations”, como a preparar para o que vinha a seguir. Antecedidos por uma série de dançarinos com fatos led e “armados com trompetes” ao som de “Algorithm (versão Alternate Reality)”, logo deram o pontapé de saída com “Pressure”, um dos singles de Simulation Theory, que, apesar de minimamente catchy, acaba por ter um refrão pouco orelhudo.

Logo depois, “Psycho”, resgatada ao anterior álbum Drones (2015), deu-nos a sensação de que os Muse ainda se lembram de como se pega em riffs mais pesados e conseguem montá-los para construir uma música que nos relembra o passado. Certo é que muitos não se esqueceram de entoar que “your ass belongs to me now”.

Seguia-se a já falada “Break It To Me”, interpretada por Matt Bellamy no pequeno palco junto do público, mas foi com a cavalgada de “Uprising” que o público voltou a acordar.

Foi, porém, com a velhinha, mas sempre popular “Plug In Baby” que houve a primeira explosão de euforia, certamente com muitos a questionarem porque é que os Muse não fazem uma malha como esta há anos. Lá capacidade eles tem, mas esta crescente preocupação da banda, mais especificamente de Matt Bellamy, sobre o que é ou não real, e o quanto isso nos confunde, além das experiências que têm feito ao longo dos anos, mantêm-nos afastados de um regresso às origens.

Claro, desde o momento em que disponibilizaram “Neutron Star Collision (Love Is Forever)” para o filme The Twilight Saga: Eclipse (2010) e que, consequentemente, lhes abriu portas a um maior público nos Estados Unidos, que os Muse mudaram um pouco de direção. Talvez tenha sido por aí que também ganharam tantos fãs em Portugal.

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Créditos: Tiago Cortez // Everything is New

Este foi o 15º concerto da banda em palcos lusos, 19 anos após terem dado o primeiríssimo concerto por cá no há muito extinto Festival do Ermal. Passaram por festivais, pelo Campo Pequeno, pelo então Pavilhão Atlântico e até pelo Estádio do Dragão, pelo que este concerto ao ar livre era um passo natural na evolução da banda.

Há, portanto, muita história. E isso refletiu-se no alinhamento, como as sempre muito celebradas “Hysteria” e “Time Is Running Out”, resgatadas ao álbum Absolution, “Starlight”, “Take a Bow” e “Supermassive Black Hole”,de Black Holes and Revelations, ou “Madness” e “The 2nd Law: Unsustainable”, do pouco amado The 2nd Law.

Pelo meio, ainda tivemos “Pray (High Valyrian)”, música que Bellamy compôs para Game of Thrones, mas acabou por passar algo despercebida.

Neste concerto, onde os resquícios de um mundo distópico estiveram sempre presentes, os fãs tiveram à frente dos seus olhos um grandioso palco, com um sistema de som fabuloso, e cuja parte cénica em nada deixou a desejar. Não cremos que os Muse tenham exagerado no aparato, até porque era fácil ficar emergido em toda a ambiência. Mas há algo que uma banda nunca deve descurar, que é capacidade de fazer boa música e conquistar os ouvidos dos fãs, e, pelo que pudemos observar, os Muse já tiveram mais facilidade em chegar às pessoas. Adiante.

Com mais ou menos leds, com mais ou menos bailarinos com coreografias bem estudadas e adequadas, lá chegámos a um dos aguardados momentos do concerto para aqueles que tinham consultado as setlists do que a banda tem vindo a tocar: um medley que começou em “Stockholm Syndrome”, passou por “Assassin”, “Reapers”, “The Handler” e terminou com “New Born”, como se fosse para dar um miminho aos fãs da velha guarda. Enquanto isto, um gigante monstro suspenso por fios ganhou vida e surpreendeu mesmo aqueles que já tinham vídeos no YouTube. Realmente bem feito.

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Créditos: Tiago Cortez // Everything is New

A finalizar, claro, a já icónica “Knight of Cydonia”, acompanhada pelo público do início ao fim e que meteu uns quantos a saltar. No final, não houve confettis (esses já tinham surgido em “Mercy”).

Foi mais um bom concerto, mais uma prova de que os Muse são talhados para espetáculos ao vivo e para tocar para grandes multidões. Sim, sentimos falta de uma “Undisclosed Desires” e daquelas canções mais antigas com Bellamy sentado ao piano. Mas são sinais dos tempos.

Resta-nos aguardar por um próximo concerto, e não seria de admirar se regressassem no próximo ano, desta vez ao Parque da Bela Vista.

Fotos de: Tiago Cortez // Everything is New

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