O Motorola edge 70 é uma alternativa elegante, equilibrada e surpreendentemente convincente, bem concretizado e verdadeiramente fino.
A tendência mais recente do mercado de smartphones são os equipamentos ultra-finos. Depois da Apple e da Samsung terem apresentado as suas próprias soluções, era expectável que outras marcas seguissem essa tendência. A Lenovo/Motorola não quis ficar para trás e, por isso, anunciou recentemente o Motorola edge 70.
Quando falamos de smartphones ultra-finos, o design acaba sempre por ser o principal aspeto que nos salta à vista e a Motorola, desta vez conseguiu obter a minha atenção. Com apenas 5,99 mm de espessura, este equipamento é ligeiramente mais espesso do que os mais populares iPhone Air e o Galaxy S25 Edge, mas em contrapartida, é o mais leve do três, com apenas 159 gramas. Pode parecer irrelevante, mas quando temos um smartphone na mão, todas as gramas a menos fazem a diferença. Contudo, enquanto a Apple e a Samsung insistem numa estética mais “premium”, a Motorola segue uma linha mais sóbria, e honestamente, faz todo o sentido dentro do seu posicionamento. Aqui, não há molduras brilhantes ou vidro na traseira. Em vez disso, temos um acabamento em silicone que, para mim, resulta muito melhor. A textura evita escorregadelas e também elimina aquelas marcas de impressões digitais que acabam por estragar o visual com uma aparência, por vezes, mais suja. A unidade que testei usa a cor Pantone Green, que é bastante discreta, elegante e que me agrada bastante.
Em termos de construção, a Motorola mantém a fasquia alta, ainda que opte por alumínio em vez de titânio. Mas, pelo seu preço de lançamento, considero uma escolha sensata. E as certificações IP68, IP69 e sobretudo a militar MIL-STD-810H mostram que, apesar do perfil mais fino, o smartphone não é de todo frágil. As laterais mantêm-se completamente planas, o que reforça a sensação de solidez. Na frente, há o habitual recorte circular ao centro do ecrã. Atrás, o módulo de câmaras integra-se bem no painel e exibe três lentes, embora na prática, as duas realmente relevantes sejam a grande angular e a ultra grande angular. Em baixo, a porta USB-C e à direita os botões de volume e de energia. Quanto ao ecrã, não encontrei grandes novidades. A Motorola reutilizou o painel pOLED do edge 60, com 6,67 polegadas e taxa de atualização de até 120 Hz. Não é um ecrã LTPO, pelo que os incrementos são fixos, mas o contraste é fantástico, e o brilho esteve sempre à altura, mesmo sob sol forte. Notei, porém, que o perfil de cor padrão vem demasiado saturado, e que no meu caso, a primeira coisa que fiz foi mudar para o modo “Natural”, onde as cores ficam muito mais equilibradas.
O áudio foi o ponto que mais me deixou dividido, apesar de contar com som estéreo. Não é o melhor do mercado, mas cumpre bem a sua função. No entanto, quem quiser um som realmente convincente terá de optar inevitavelmente por colunas externas ou uns bons auscultadores. E sim, como era de esperar, a entrada de 3,5 mm não fez o seu regresso triunfal, mas penso que isso já é algo ninguém espera.

Não é surpreendente ver que o Motorola edge 70 sai de fábrica com o Android 16 pré-instalado, já que finalmente começa a generalizar-se, e quase sempre com aquela camada de personalidade que cada fabricante insiste em colocar por cima. Porém, a Motorola continua fiel à sua abordagem minimalista, com um sistema que chega praticamente “puro”, com meia dúzia de aplicações proprietárias e algum software dispensável que felizmente remove-se com facilidade. Tudo é executado de forma exemplar e, claro, em 2025 já seria impensável não haver inteligência artificial integrada. Há a base comum do Android, como o Gemini, mas também há funcionalidades próprias da Motorola, o Moto AI, que reduzem a dependência da nuvem, o que, para mim, é sempre um bónus.
Quanto ao desempenho, o Motorola edge 70 vem equipado com o Snapdragon 7 Gen 4, um SoC de gama média da Qualcomm que, no papel, fica muito atrás do que a Apple e a Samsung oferecem nos seus modelos ultra-finos. E no uso diário, sim, nota-se essa diferença, ou pelo menos a falta daquele desempenho premium que esperamos dessas soluções, mas não da forma dramática que os números sugerem. Na verdade, o Snapdragon 7 Gen 4 com os seus 12GB de RAM LPDDR5X e 512GB de armazenamento interno uMPCP, revelou-se mais do que suficiente. Não é o smartphone para jogos recentes com tudo “no máximo” ou a 120 FPS, mas esse também não é o proposito deste aparelho. Para trabalho, multi-tarefas, redes sociais e utilização geral, o chip comportou-se de forma bastante competente. As aplicações abrem rapidamente, não presenciei engasgos ou bloqueios, e mesmo esses jogos mais exigentes alguns correm satisfatoriamente sem incidentes. E é precisamente no que toda a desempenho que os ultrafinos de 2025 têm realmente de fazer escolhas, uma das áreas onde se pode ceder. A Samsung e a Apple, por exemplo, decidiram não ceder, e como resultado, sacrificaram a bateria de forma drástica. Mas, a Motorola fez precisamente o oposto e abdicou da força bruta dos processadores que condicionam a longevidade diária da bateria, para manter uma experiência fluida e uma autonomia decente. Assim, o edge 70 conta com uma bateria de 4800mAh que aguenta um dia completo sem inconveniências. Não chega a fazer dois dias de utilização, nem mesmo com muita moderação, mas a tranquilidade de saber que não vamos ficar sem bateria ao fim da tarde é algo que valorizo cada vez mais. E, já agora, o carregamento sem fios está lá, de 15W, mas o destaque vai mesmo para o carregamento por cabo, a 68W, que permite recarregar a bateria dos 20 aos 100% em pouco menos de 50 minutos. Não é o mais rápido do mercado, mas é um valor interessante.

Desde que a Samsung e a Apple estrearam esta nova geração de smartphones ultra-finos, ficou claro que a fotografia seria sempre a última área a ser sacrificada – como o iPhone 17 Air bem demonstrou com o seu “abcesso” traseiro. E o Motorola edge 70 segue essa mesma lógica. Ainda assim, tanto a Samsung como a Apple removeram lentes, mas mantiveram sensores de topo. A Samsung preservou a lente grande angular e a ultra grande angular, enquanto a Apple foi mais radical e eliminou a ultra grande angular por completo. São decisões discutíveis, mas compreensíveis dentro da filosofia de cada marca. A Motorola, felizmente, aproxima-se mais da abordagem da Samsung, e para mim isso já é um bom ponto de partida. Claro que, tendo em conta o valor, a fotográfica deste edge 70 não compete diretamente com o Galaxy S25 Edge e com o iPhone Air. É que a Motorola optou pela versatilidade em vez da perseguição pela excelência tecnológica, e sinceramente acho que foi a escolha sensata. Quem compra um smartphone ultra-fino fá-lo sobretudo pelo design e versatilidade associada, e não para substituir uma câmara dedicada num contexto de criação de conteúdos mais exigente.
No uso real, o Motorola edge 70 portou-se muito bastante. As fotografias têm boa nitidez, detalhe suficiente e uma consistência agradável. Apesar de contar com sensores de 50MP, ao fim de poucos minutos percebemos que estes não estão ao nível de um smartphone topo de gama, mas para redes sociais e registos do quotidiano, mesmo à noite, cumpre confortavelmente. A lente ultra grande angular, essa sim, revela algumas limitações, com a perda de nitidez a ser evidente, e convém utiliza-la com algum cuidado para evitar frustrações. Já no vídeo, fiquei agradavelmente surpreendido. A gravação vai até 4K a 60 FPS – em 120 FPS ou 8K -, mas sinceramente, para o tipo de utilizador e para o propósito deste smartphone, não senti falta dessas opções. O que existe funciona bem, e no fundo, é isso que realmente importa.

Na hora de escolher um smartphone ultra-fino, é natural que muitos utilizadores acabem por seguir o caminho mais óbvio. A Apple e a Samsung têm um peso de marca que fala muito mais alto do que qualquer ficha técnica. E é precisamente por isso que é pena ver alternativas tão bem conseguidas passarem despercebidas. A Motorola, com o edge 70, oferece exatamente a mesma filosofia dos seu rivais, mas por um preço muito mais sensato, já que estamos a falar de 799€. A sensação que fica é a de que a marca soube escolher muito bem as suas batalhas. Onde precisou de ceder, cedeu de forma consciente e onde era importante manter a experiência, manteve. O resultado é um equilíbrio raro. Diria mesmo que, em 2025, esta é provavelmente a fórmula ideal para um smartphone ultra-fino, já que revela ser completo, confortável, consistente e, acima de tudo, acessível.
Escusado será dizer que o Motorola edge 70 acabou por me surpreender mais vezes do que esperava. Utiliza-lo foi um prazer genuíno, daqueles equipamentos que não tentam impressionar com números, mas sim com a forma como convivem connosco no dia-a-dia. E, para quem está na dúvida sobre viver ou não com um smartphone ultra-fino, eu diria que deverão começar precisamente por este. Aqui, a Motorola merece mesmo ser considerada.

Este produto foi cedido para análise pela Motorola.
