MEO Kalorama 2024 (Dia 1): As mensagens de Massive Attack e de Sam Smith ao mundo

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Texto de: Maria João Cavadas; Fotos de: Rodrigo Simas/Rita Seixas/Hugo Moreira

Foi nesta quinta-feira, dia 29, que arrancou a 3ª edição do MEO Kalorama, festival que encerra a época dos grandes festivais de verão em território nacional. Com um line-up eclético, com Massive Attack e Sam Smith como cabeças-de-cartaz, não podíamos não estar curiosos em relação ao que nos esperava.

O acesso ao Parque da Bela Vista é sempre simples, tendo a própria produção do festival incentivado à utilização de transportes públicos, providenciando e sugerindo várias opções. O metro é a opção mais óbvia, mas também é possível usufruir de shuttles gratuitos.

Ainda assim, deparámo-nos com algum descontentamento ainda antes de entrar no recinto do festival. A fila de troca de bilhetes por pulseira foi um evidente problema, já que o longo tempo de espera fez com que muitos festivaleiros não pudessem assistir a alguns concertos. A isto acresceu alguma desorganização e falta de informação: placas pouco claras ou com informação errónea e colaboradores do festival com dificuldade em esclarecer dúvidas não ajudaram na confusão a que se assistia antes da entrada para o recinto.

Mas passemos àquilo que nos trouxe: a música.

Chegámos a tempo de ver Gossip na íntegra. Um nome incontornável na cena do indie rock, a banda conta com Beth Ditto, a inquestionável figura de destaque: enérgica e com o seu timbre tão peculiar, a vocalista não se privou de interagir com o público do Palco San Miguel, proporcionando-nos vários momentos de muito boa disposição. A separação da banda em 2016 não pareceu ter impactado os fãs: é que, apesar de ter lançado Real Power em março deste ano, a banda sabia que tinha de ir ao baú da primeira década de 2000. Não faltaram “Standing in the Way of Control”, do álbum homónimo de 2006, e “Heavy Cross” de Music for Men (2009), além de outros temas dos mesmos álbuns, pouco passando pelo seu mais recente trabalho.

Era pouco depois das 20h que, no Palco MEO, o palco principal do festival, começava o espetáculo (“concerto” não é mesmo suficiente) de Massive Attack. Os pioneiros do trip hop não estiveram ali para promover os seus temas. Na verdade, não precisam. E, talvez por isso, possam aproveitar para fazer aquilo que fizeram: uma sessão de reflexão coletiva com muita crítica social e declarações políticas à mistura, onde a música foi (quase) secundária. Não fosse a voz angelical de Elisabeth Fraser ou a energia dos Young Fathers, teria sido fácil esquecer-nos de que estávamos num concerto. É que foi uma missão quase impossível tirar os olhos do ecrã que estava por detrás da banda, ora com imagens de cenários de guerra, ora imagens descontextualizadas do dia-a-dia, ora referências a teorias da conspiração. Foi bonito aquilo que a banda nos deixou viver.

Ainda assim, e com possível motivação nos atrasos que continuavam a sentir-se na entrada, o recinto não parecia querer encher. Se é um facto que o Parque da Bela Vista, com as suas desafiante colinas, tem espaço para podermos dançar à vontade, também seria de esperar que nomes como os dos cabeças de cartaz da noite nos dificultassem as passagens por entre o público. Não foi o caso.

De volta ao Palco San Miguel, era Loyle Carner, cuja atuação havia sido antecipada devido ao cancelamento por parte de Fever Ray, por motivo de doença, que nos enchia o coração. E a troca, ainda que devida a razões menos boas, foi merecida. O horário original obrigar-nos-ia a escolher entre Peggy Gou, que, apesar de não ser cabeça-de-cartaz, era um dos nomes mais badalados da noite. O hip hop do londrino e de toda a sua banda arrastou uma multidão de fãs até ao cimo da colina e poucos não ficaram do início ao fim. Loyle Carner mostrou-nos ser como qualquer um de nós, com uma humildade inacreditável apesar dos palcos que já pisou, dos prémios que conta e dos artistas com quem tem vindo a colaborar. Da sua parceria com Tom Misch, ouvimos “Damselfly” de Yesterday’s Gone (2017) e “Angel” de Not Waving, But Drowning (2019). Também deste álbum, “Loose Ends” (que conta com a participação de Jorja Smith) e, claro, “Ottolenghi”, tema que interpreta com Jordan Rakei e com o qual se despediu de nós. Num concerto cheio de amor, confissões e partilha, Loyle Carner afirmou ter sido este um dos mais bonitos espetáculos do seu verão. E nós acreditamos.

O Palco MEO recebia, então, Sam Smith, de volta a Lisboa um ano depois de ter atuado no NOS Alive. E desengane-se quem pensa que só quem é verdadeiro fã consegue apreciar um concerto tão fora da caixa: é que até os mais céticos dançaram, cantaram, sorriram e, arriscamo-nos a dizer, derramaram uma lágrima. Acompanhado de músicos e dançarinos, Sam Smith sabe o que faz e fá-lo bem: a qualidade vocal, já o sabíamos, irrepreensível; mas, mais do que ser um bom cantor, o cantor londrino é um perfeito mensageiro. E vem dizer-nos que podemos ser quem queremos ser. Aliás, que devemos sê-lo. Sem filtros, até porque não precisa de tê-los, Sam Smith conseguiu continuar aquilo que já tinha começado naquele palco horas antes. De uma forma ou de outra, todas as mensagens que por ali passaram foram de paz e aceitação, para que possamos viver num mundo em que imperem o respeito e a tolerância.

O cantor, fã confesso de Lisboa e do público que aqui o recebe, entregou-nos um alinhamento extremamente organizado e bonito. A primeira parte foi dedicada às baladas, à felicidade dos romances e às tristezas e dores de um coração partido. Começou com três temas do seu disco de estreia, In the Lonely Hour, que celebra, este ano, 10 anos -: “Stay With Me”, “I’m Not the Only One” e “Like I Can”. Houve inúmeras trocas de roupa, dos mais variados estilos, e outros temas de nos deixar emocionados, mas foi final que a verdadeira festa se fez: foi a Gloria (2023) que foi buscar os temas que encerraram o concerto, mas não faltou “Latch”, tema do duo inglês Disclosure, ao qual deu voz em 2012, e que deu um verdadeiro empurrão à sua carreira. Entre covers e “Desire”, com Calvin Harris, Sam Smith presenteou-nos com um espetáculo inesquecível até para quem achou que não iria gostar.

A nossa noite terminou com Peggy Gou. A DJ sul-coreana, que se tem tornado uma presença assídua noutros festivais e festas portugueses, encerrou o Palco San Miguel no primeiro dia do festival. Foi ao som de um dos maiores nomes da música eletrónica que o público do MEO Kalorama provou que podia recuperar toda a sua energia. Foi mais de 1 hora de dança que culminou com “(It Goes Like) Nanana”, tema que lançou pouco antes do verão de 2023 e que fez furor nas redes sociais.

Hoje há mais!

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