Os médicos portugueses estão entre os mais entusiasmados com o futuro da inteligência artificial no trabalho médico (54%), seguidos pelos médicos britânicos (50%) e espanhóis (46%).
Um novo estudo do Medscape, que inquiriu mais de 5.000 médicos em seis países europeus, incluindo Portugal, revela uma realidade complexa em relação ao uso da inteligência artificial (IA) na saúde. Enquanto muitos reconhecem o potencial da IA para revolucionar a medicina, persistem preocupações sobre o seu papel, a necessidade de regulamentação e o seu impacto na relação médico-paciente.
Portugal destaca-se como um dos países mais otimistas quanto ao futuro da IA na saúde, com 54% dos médicos a demonstrarem entusiasmo. Esta positividade contrasta com a apreensão relativamente à substituição do juízo clínico pela tecnologia. Mais de metade dos médicos portugueses (55%) manifestam-se preocupados com esta possibilidade, a percentagem mais elevada entre os países inquiridos.
A necessidade de um enquadramento legal para a IA na medicina é uma preocupação transversal, com 93% dos médicos portugueses a defenderem a sua implementação. A maioria também defende a supervisão governamental e das associações médicas neste domínio.
A radiologia e a clínica geral são apontadas como as áreas que mais podem beneficiar da inteligência artificial. Curiosamente, 75% dos médicos portugueses veem com bons olhos o impacto da IA na interpretação de exames radiológicos, enquanto 75% dos espanhóis expressam sentimentos negativos.
A redução de casos de negligência médica é outra área onde a IA gera expectativas. Médicos portugueses (57%), espanhóis (61%) e italianos (64%) acreditam no potencial da IA para diminuir estes casos. Em contrapartida, os médicos alemães (35%) mostram-se mais céticos.
Apesar do entusiasmo, quase metade dos médicos inquiridos demonstram relutância em usar a IA no tratamento de pacientes. O receio de que a tecnologia substitua o contacto humano e a experiência clínica permanece uma barreira.
O estudo também revela que a maioria dos médicos portugueses (78%) acredita que os pacientes veem a IA de forma positiva. Contudo, existe a preocupação de que a informação médica obtida através da IA generativa possa ser incorreta e que os pacientes deem mais importância a auto-diagnósticos feitos por IA do que à opinião do médico.
Em suma, o relatório do Medscape ilustra um panorama contraditório. A IA promete revolucionar a medicina, mas é crucial que a sua implementação seja acompanhada por uma regulamentação robusta e uma reflexão profunda sobre o seu papel no futuro da saúde. A formação dos profissionais, a garantia da qualidade da informação e a preservação da relação médico-paciente são aspetos fundamentais a considerar neste processo de integração da IA nos cuidados de saúde.