Crítica – I May Destroy You (Temporada 1)

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A HBO está prestes a lançar mais uma série moderna e explosiva que decompõe na perfeição uma temática sensível: o “consentimento sexual”. E encontrou em I May Destroy You o nome perfeito para fazer jus ao conteúdo da série.

I May Destroy You

Às vezes, a insensibilidade tolda o nosso julgamento para com acontecimentos na vida de terceiros, remetendo-nos para questões fúteis. A nova série de Michaela Coel obriga-nos a colocar o “porquê” em plano de fundo e a focar-nos na preocupação para com a vítima (quer a nível físico, como psicológico).

Já conhecida por ter escrito e ter sido protagonista na série Chewing Gum, Michaela é escritora, produtora executiva e co-realizadora nesta nova série, onde também é protagonista e faz deste um trabalho muito pessoal, conferindo-lhe valor acrescentado.

Em I May Destroy You, Michaela é Arabella, uma jovem escritora avant-garde que leva uma vida social bastante ativa, sempre rodeada de amigos que a acompanham nas suas aventuras mais loucas.

Inicialmente temos a ideia de que Arabella é apenas aluada mas, à medida que a narrativa se desenrola, a perceção do motivo pelo qual Arabella é como é ganha bastante densidade, fazendo-nos questionar a natureza dessa ideia pré-concebida.

Há bagagem, sim. No entanto, é a faísca de uma compilação de imagens sexuais, de uma noite de copos e abuso de substâncias com os amigos do costume, que faz a jovem escritora questionar-se se esquecer e seguir em frente é, de facto, a opção mais sensata.

As personagens que a acompanham ao longo destes 12 episódios de 30 minutos ajudam bastante a compor este caso de estudo através de camadas extra, que complementam na perfeição o rumo que Michaela quer dar à série. Terry Pratchard e Kwame Acheamong (protagonizados por Weruche Opia e Paapa Essiedu, respetivamente) também têm a sua quota parte de problemas. A forma como são tratados e encaixam na dinâmica da narrativa oferecem uma maior amplitude a esta comédia dramática.

A permuta entre a sensação de “à vontade” e o desconforto total é constante, oferecendo a quem está a ver esta série uma experiência visual muito fiel à realidade e, por consequente, torna essa experiência bastante intrigante e viciante.

Ao fim e ao cabo, I May Destroy You é aquele tipo de série com a qual nunca pensávamos identificarmo-nos, mas acabamos por consumi-la do início ao fim como se tratasse de uma das nossas séries favoritas.

A primeira impressão é que existe, de facto, uma tentativa involuntária de despenalizar o abuso sexual, devido à forma como Arabella aparenta estar bem consigo própria e como encara a vida. À medida que a série se vai desenrolando, torna-se evidente que, apesar de haverem momentos em que Arabella parece bem, o acontecimento em causa acaba por ter influência em certas situações da sua vida, que outrora encararia de forma diferente.

Todavia, o elemento catalisador no meio de tanto caos é a ilustração fiel ao “ponto de quebra”, grande parte das vezes premeditado por influência da pressão que as redes sociais exercem em cada pessoa. Em suma, o facto de termos uma voz numa plataforma que nos oferece alcance é importante.

É bom para a auto-estima o sentimento de que somos ouvidos e de que há mais pessoas a pensar da mesma forma. No entanto, há sempre o perigo eminente de passarmos o ponto de viragem onde a auto-confiança que colocamos no nosso discurso começa a tornar-se em extremismo.

Tudo isto compilado acaba por ter uma função de consciencialização para com quem nunca passou por este tipo de situação e um papel de apoio e orientação às vítimas de abuso sexual ou sexo sem consentimento. Porém, também serve como alerta de que é preciso ter cuidado ao defender uma causa, visto que o que nos torna credíveis e sãos é o equilíbrio e bom senso.

I May Destroy You é a produção mais realista, bem pensada e fiel à temática em causa até à data. A escrita é complexa, variando entre o sério e o disfuncional, e o argumento é consistente e cativante. Somando a isto o desempenho de Michaela, Weruche e Paapa, temos aqui uma série de ótima qualidade e, ao mesmo tempo, dotada de grande importância e poder social.

I May Destroy You estreia na HBO Portugal a 8 de junho.

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