Mesmo sem os serviços e aplicações da Google, o Huawei MatePad 11.5 demonstrou ser um tablet muito interessante para a produtividade e entretenimento.
O mercado de tablets é altamente volátil, mas o Huawei MatePad 11.5 pretende fixar-se num espaço muito próprio, assumindo desde logo uma posição arrojada, a de abdicar dos serviços da Google. E tal ambição não é uma tarefa simples para um dispositivo que se apresenta como ferramenta de produtividade.
O Huawei MatePad 11.5 conta com tudo aquilo que esperamos de um modelo de gama média, como o corpo em alumínio, medidas equilibradas (6,1mm de espessura e 515 gramas de peso) e um brilho que surpreende nesta categoria, com 600 nits. O seu ecrã é composto por uma painel IPS LCD de 11,5 polegadas, resolução de 2456×1600 pixeis e taxa de atualização de até 120Hz. Talvez fique a sensação de que um ecrã OLED faria mais sentido, mas a Huawei tentou compensar essa situação com a tecnologia PaperMatte, até agora reservada a modelos de gamas superiores, que reduz reflexos e fadiga ocular, tornando a utilização prolongada ou ao ar livre muito mais confortável. A isso junta-se uma bateria de 10.100mAh, que promete durar perto de 13 horas em utilização moderada, e quatro altifalantes estéreo que cumprem muito bem em vídeo e música.
A experiência com este tablet da Huawei que utilizei durante algumas semanas, ganha outra dimensão com os seus acessórios, como a M-Pencil de terceira geração, pensada para desenho e anotações, e o teclado tipo fólio, que transforma o tablet num pequeno portátil. A mensagem da Huawei parece óbvia, ao querer ser vista como parceira fiável para quem pretende produzir conteúdo, oferecendo boas especificações a um preço que podemos considerar sensato, na casa dos 300€. No entanto, há um senão que não pode ser ignorado. Num mercado em que quase todos os utilizadores Android vivem da dependência do ecossistema da Google, a Huawei continua a seguir o seu próprio caminho, afastada desses serviços por imposições políticas que remontam já a vários anos. É um detalhe que pesa e que poderá fazer a diferença na hora de escolher um tablet, porque, apesar de todas as virtudes, a ausência da Google, algo do qual muitos utilizadores podem depende, continua a ser um obstáculo difícil de contornar.
Temos então o HarmonyOS, que chega acompanhado do processador Kirin T82B e de 8GB de RAM, uma combinação que durante os meus testes demonstrou uma fluidez muito acima da média. Abrir várias aplicações em simultâneo, utilizar janelas flutuantes, arrastar e largar entre aplicações ou até ativar o modo desktop com teclado e rato não representa obstáculo para este MatePad 11.5. Nota-se claramente que o sistema foi pensado para produtividade, seja em anotações rápidas, desenho digital ou multitarefas. E, neste capítulo, a Huawei fez um excelente trabalho, já que o seu desempenho não fica atrás da concorrência, pelo contrário, consegue até ser mais rápido que o modelo lançado no ano passado e, na maioria dos cenários, oferece melhor desempenho do que os seus rivais diretos. Contudo, este não é um tablet concebido para gaming, surpreende pela boa resposta em produtividade, design gráfico, ilustração e até na edição fotográfica, mas nos jogos é para esquecer. Executa ainda com facilidade os jogos mais básicos, mas os jogos mais exigentes, o melhor é mesmo deixar de lado.
Na fotografia, a abordagem é mais pragmática, já que a sua câmara frontal cumpre apenas no essencial, com selfies aceitáveis e gravação em 1080p a 30 FPS, suficiente boa para videoconferências. A sua câmara traseira de 13MP tem exatamente o mesmo desempenho, e em termos práticos, não faz nada que se considere brilhante. Já em relação à bateria, o desempenho é muito mais convincente. Durante os meus testes verificou-se que um dia inteiro de utilização é obtido sem qualquer dificuldade, embora o carregamento rápido não faça jus ao seu nome. Limitado a 40W, é respeitável mas não impressiona, já que são necessários cerca de 88 minutos para repor totalmente a carga. Nada de dramático, mas também está longe de rivalizar com a velocidade de carregamento de outros dispositivos da mesma faixa de preço.
Ligar o MatePad 11.5 pela primeira vez pode causar algum espanto, já que o tablet sai de fábrica a executar o HarmonyOS na versão 4.3, um sistema operativo proprietário da Huawei – e não um sistema baseado no Android. Isso significa que temos que esquecer uma versão nativa do Gmail, do Google Docs, do YouTube, do Google Maps ou até a sincronização automática com as contas Google. A Play Store, claro, também não está presente, e cabe ao utilizador procurar alternativas para instalar as suas aplicações habituais. E a Huawei oferece três caminhos para contornar esta limitação. A primeira, e mais interessante, é a AppGallery, a loja oficial da marca, que já integra centenas de aplicações populares como TikTok, Deezer ou Booking, mas continua a ser francamente limitada. A segunda opção é o Petal Search, um motor de pesquisa que localiza APKs na web e permite instalar algumas das várias aplicações ausentes na AppGallery, embora aqui a segurança e a fiabilidade das atualizações fiquem mais em aberto. Por fim, restam alternativas de terceiros como a Aurora Store ou o GBox, que simulam a Play Store e dão acesso direto a muitas aplicações. O reverso da medalha? Maior risco de bugs, falhas de sincronização e potenciais fragilidades na proteção de dados, ou seja, uma solução que nunca irei recomendar.
Na prática, o Huawei MatePad 11.5 acaba por ser um dispositivo pensado para quem tem alguma experiência a “contornar o sistema” ou simplesmente não esteja dependente do ecossistema Google no dia-a-dia. Para quem vive agarrado a essas ferramentas, a frustração vai instalar-se rapidamente. É verdade que certas aplicações de terceiros, como a Netflix, funcionam sem qualquer problema, mas todas as outras que recorrem a serviços Google, como já mencionámos, não estão disponíveis da mesma forma. O lado positivo é que ferramentas de produtividade como Outlook, WPS Office, Zoom ou Microsoft Teams estão presentes, seja nativamente, seja através de um APK. Já o Gmail pode ser utilizado, mas exige que se utilize o navegador ou um clientes de email alternativo, e o mesmo acontece com as restantes aplicações da Google, acessíveis apenas através da sua versão web. No fundo, trata-se de um tablet que funciona realmente muito bem fora do “mundo Google”, mas que continua a exigir algum jogo de cintura por parte do utilizador.
O Huawei MatePad 11.5 está disponível no site oficial da marca, e posiciona-se como uma opção acessível dentro do segmento de tablets voltados para produtividade. O preço inicial fixa-se nos 349€, subindo conforme a configuração escolhida. Tal como seria de esperar, a Huawei mantém a estratégia de vender os acessórios em separado: a caneta M-Pencil (19€) e o teclado magnético (50€) estão disponíveis como extras, tornando o conjunto completo mais versátil, mas também mais caro. No entanto, a marca está a oferecer 20% de desconto aos estudantes, e isso torna o preço deste tablet realmente apelativo.
Em termos práticos, é um valor competitivo para as especificações oferecidas, sobretudo se pensarmos no público-alvo, como os estudantes e/ou utilizadores que procuram um dispositivo leve para trabalho. Contudo, quem quiser explorar todo o potencial do MatePad 11.5 terá inevitavelmente de investir nos acessórios, o que aproxima o custo final de outros concorrentes de gama um pouco superior.
Este dispositivo foi cedido para análise pela Huawei.