Herdade da Barrosinha: Onde a tradição encontra a modernidade

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No Hotel da Barrosinha conseguem relaxar, comer muito bem, desfrutar da natureza… e provar os belíssimos vinhos.

Há três anos que não visitava a Herdade da Barrosinha, uma zona rural a dois quilómetros de Alcácer do Sal. Estive lá em 2019, para conhecer in loco o hotel, e em 2021, dessa vez para conhecer novos vinhos. Porém, em nenhuma das ocasiões foi possível pernoitar no espaço, algo que agora mudou.

Falar da Herdade da Barrosinha é falar de um projeto que tem história rica e significativa, até porque, e antes de ser transformada num hotel, a Herdade da Barrosinha funcionava como uma propriedade agroindustrial dedicada à produção agrícola, vinícola e pecuária. Fundada em 1947, esta herdade foi projetada para aproveitar a vasta extensão de terra típica do Alentejo, desenvolvendo atividades como a produção de arroz, cortiça, vinho, gado bovino e pinha. Além disso, havia uma aldeia onde residiam trabalhadores e suas famílias, criando uma comunidade em torno das atividades produtivas da propriedade. Outras infraestruturas na herdade incluíam uma adega e duas capelas históricas, como a de Nossa Senhora da Conceição, cuja origem remonta ao século XVII​. Há, na verdade, muitos projetos na calha, cujos detalhes não podemos revelar, mas uma coisa é certa: a Herdade da Barrosinha tem tudo para voltar a ser um marco em Portugal.

Aliás, um projeto magnânimo chegou a ser apresentado em 2009. A Herdade da Barrosinha deveria ter recebido um gigantesco empreendimento turístico, conhecido como Barrosinha Nature Farm Resort, que, com 600 milhões de euros de investimento, previa um hotel de cinco estrelas, um hotel de quatro estrelas, vários aldeamentos turísticos e, até, um campo de golfe. O projeto, que recebeu o selo de Projeto de Interesse Nacional (PIN), chegou a ser apresentado como “rural chique” e com um plano de urbanização aprovado em 2011, mas nunca avançou devido à falência da empresa promotora.

Mas regressemos mais ao presente. Como disse, foi em 2019 que conheci pela primeira vez um pouco da herdade, então gerido pela ECS Capital, capaz de oferecer uma paisagem rústica e tipicamente alentejana, num ambiente único. Na altura, fiquei a saber que o novo hotel surgia devido a um processo de renovação e adaptação de edifícios históricos já existentes na propriedade, graças a um investimento de 5 milhões de euros. Portanto, acabou por, efetivamente, existir um novo projeto, embora muito mais modesto.

Antes de se tornar um hotel, a área hoje ocupada pela unidade turística fazia parte da infraestrutura funcional da herdade, que servia essencialmente para apoiar as suas atividades agrícolas e administrativas.

Em 2019, este era um projeto que surgia graças a uma intervenção arquitetónica da Arquisoma Ferreira Pinto & Associados. Na prática, adaptou-se o edifício pré-existente: aproveitaram e reconverteram áreas e ampliaram edifícios contíguos. Depois, a decoração de interiores, que ficou a cargo da Temahome, ficou harmoniosa, tudo para que os tons fossem os mesmos.

Portanto, houve uma combinação de estilos de influências agrícola e industrial, também conjugando com uma tendência mais urbana e contemporânea. A empresa recorreu a materiais como o ferro, madeiras recicladas ou couro, tudo para que a essência original não se perdesse. De facto, ao regressar à Herdade no passado mês de novembro, a minha memória reavivou-se e, dos espaços comuns que visitei, reparei que não existem muitas mudanças, até porque, e para todos os efeitos, o hotel continua impecável.

Há, claro, algumas mudanças. Tal como nos disse Nuno Leite, General Manager da Herdade da Barrosinha, o Hotel da Barrosinha estava sob gestão do grupo ECS até junho de 2023, altura em que a exploração do hotel, bem como toda a área turística e agrícola – inclusive vinhos – passou para a Creative Habitat Group. Já em fevereiro de 2024, Nuno Leite e a sua equipa iniciaram funções para, então, darem início à mudança que se propõem fazer para a Herdade da Barrosinha, mudança essa que passa por um upgrade não só a nível de serviço, mas também na infraestrutura, estando ainda na calha uma mudança a nível de decoração nos quartos.

Mas o Hotel da Barrosinha não quer ser apenas mais um hotel. Daí que o plano passe por transformar a Barrosinha numa espécie de hub cultural e artístico. Aliás, já existem artistas residentes. Um deles é o romeno Mircea Anghel, que também faz parte do projeto de revitalização da Herdade da Barrosinha enquanto acionista, desenvolvendo peças de mobiliário em madeira; outro é Ivan Daniel Cova, um escultor venezuelano; e há ainda a Frizbee ceramics, uma fabricante belga de objetos de porcelana, com várias peças expostas pelo hotel.

A ideia passará por transformar os dois armazéns contíguos, utilizados antigamente para o descaque de arroz, em estúdios para artistas. Isto fará com a receção do hotel, cujo espaço será eventualmente utilizado para exposição de criações artísticas, mude de localização. Tudo para que, assim que cheguem, os hóspedes possam logo ter contacto com alguns dos artistas.

Fora da esfera cultural, há outras melhorias que foram sendo feitas recentemente. Por exemplo, o pequeno-almoço era servido numa sala orientada para o parque de estacionamento, algo que “não fazia sentido nenhum”, segundo nos disse Nuno Leite. E efetivamente, há todo um outro charme em tomar o pequeno-almoço no salão – antigamente utilizado como oficina de tratores. Nessa zona, no exterior, com vista para a piscina, também é possível ter refeições quando o tempo colabora – as mesas de madeira foram elaboradas por Mircea Anghel, lá está.

Quanto aos quartos, já existia uma albergaria com 17 quartos, sem varanda, e em 2019 foram então acrescentados 20 quartos, os pisos 0 e 1. Todos beneficiam de uma decoração moderna e envolvente, e estão equipados com ar condicionado, televisão por cabo, secador de cabelo, minibar, cofre gratuito e acesso à internet gratuito com wi-fi. Foi num destes que ficámos, com uma cama espetacular e vista para a piscina. Ainda assim, tivemos pena de não ficar alojados numa das chamadas Casas da Barrosinha, que basicamente são seis vilas, três T1 e T2, com capacidade para duas a quatro pessoas. Os T1 contam com kitchenette moderna completa, quarto de casal, sala de estar, terraço privativo e casa de banho, ao passo que os T2 são totalmente iguais, mas contam com um quarto duplo adicional. Ou seja, é como se fossem apartamentos, que estão localizados mesmo ali ao lado da população local.

Em termos de atividades, é algo que pode depender da época. Têm passeios a cavalo (ou em charrete, como nós fizemos, num percurso durante o qual pudemos ter a noção do quão gigante a Herdade da Barrosinha é), aluguer de bicicletas elétricas, voo num balão de ar quente, piqueniques junto ao lago… e também provas de vinho – podem comprar garrafas na Taberna e na receção do hotel, uma vez que deixou de existir uma “loja” – e visitas à Adega.

Recomenda-se vivamente que façam uma visita à Adega, pois poderão ficar a conhecer as várias fases da vinificação, desde o sumo de uva até aos vinhos totalmente acabados. E claro, apreciar as melhores colheitas acompanhadas de deliciosas iguarias locais. A visita e devida explicação de como tudo se processa é feita pela enóloga Sara Caparinha, que nos contou que, inicialmente, a Companhia Agrícola da Barrosinha contava com 300 hectares de vinha, número que desceu para os atuais 100 hectares. Ainda assim, a adega tem uma capacidade total para 1,8 milhões de litros de vinho, entre depósitos de cimento, depósitos de inox e ânforas. A adega em si é um misto entre o rústico e o moderno, e, se visitarem, poderão perceber como tudo se processa, desde a produção ao engarrafamento.

Podemos também dizer que o vinho está inserido no processo de revitalização da Barrosinha, na mesma ordem de ideias que passa por transformar a zona num hub cultural e artístico. Assim, poderão conhecer o projeto “Vinho do Mar”, com um novo formato de garrafas. É colocada uma prata, para que a cera não entranhe na rolha e para dar alguma proteção – “estamos a falar de uma pressão de 15 metros de profundidade”, disse Sara Carapinha. No Porto de Sines, de 6 em 6 meses, são então colocadas várias garrafas, e recolhidas outras tantas. No fim de tudo, origina um vinho preparado especialmente para este feito, com castas Fernão Pires, Arinto e Verdelho, “muito mais complexo e glamoroso na boca, com aromas a puxar o mar, mas não é salino”. A ideia passa também por, precisamente, levar os hóspedes nesta experiência de mergulho, contribuindo para a criação do Vinho do Mar.

Além da estadia que permite descontrair longe da azáfama da cidade, das várias atividades em redor da herdade e dos fantásticos vinhos – Barrosinha Rosé 2022, Barrosinha Branco 2023, Barrosinha Tinto 2023, Barrosinha Reserva Tinto 2020 e Barrosinha Reserva Branco 2022 -, uma ida à Barrosinha também se destaca pela comida, seja no restaurante do hotel ou na histórica Taberna.

Em época alta, está também a funcionar o bar da piscina, o Pool Bar, mas, nestes meses mais frios, somente funcionam o restaurante e a taberna. E há algo em comum entre ambos: de momento, o menu servido é o mesmo. Portanto, o almoço é servido na Taberna, que ganha muito mais vida no verão, até porque existe um espaço ao ar livre onde se dá primazia aos grelhados. Já o jantar é servido no restaurante, pelo facto de ser mais cozy, acolhedor e com uma atmosfera muito própria, propícia a outras experiências.

Aliás, a nossa visita à Herdade da Barrosinha aconteceu no âmbito do Wine & Jazz Weekends, um programa que aconteceu em novembro e dezembro e que unia o bem-estar e relaxamento à gastronomia e enologia. O programa incluía provas de vinhos da Barrosinha acompanhadas pela enóloga residente, Sara Carapinha, jantar no restaurante do hotel e um concerto de jazz, no sábado. No domingo, seria vez de saborear um excelente cozido à portuguesa na Taberna’. E sim, experimentámos tudo isto.

Foquemo-nos agora na comida, que é fabulosa. Quando os clientes se sentam na mesa, é-logo trazido o Couvert (pão alentejano, azeitonas e manteigas), bem como Queijo de ovelha. Nas Entradas, têm a Tábua à Taberna, Ceviche de peixe do dia, Peixinhos da horta, Croquete de Bochecha de Porco, Empada de Caça, Ovos rotos e Sopa do dia. Daqui, duas preferências: Ceviche de peixe do dia, com aquela acidez necessária – a corvina estava deliciosa -, e Croquete de Bochecha de Porco, que é das melhores coisas que podem comer na Barrosinha. Leva várias coisas: porco preto, chouriço, linguiça, cenoura, cebola, alho, azeite e especiarias. Uma autêntica delícia.

Passando para os pratos de Peixe, têm Bacalhau confitado com creme de grão e crocante de broa Confit, Arroz do Mar (peixe do dia, camarão e salicórnia) e Polvo à Barrosinha. Nas carnes, Bife do acém cítrico com endivias e polenta frita, Coxa de pato com gratin de batata e lima, Barriga de porco com mel, batata doce e espargos, e Bitoque de Vaca. Provámos quase todos, sendo que nos ficaram na memória o gulosíssimo Arroz do Mar – e eu em particular nem sou o maior fã deste tipo de pratos – e a Coxa de pato com gratin de batata e lima, super deliciosa e cozinhada no ponto.

Há também opções vegetarianas – Risotto de cogumelos, Caril de legumes e Ratatouille – e versões para os miúdos: Esparguete à Bolonhesa, Prego no prato e Nuggets de frango.

Para finalizar em beleza, têm três sobremesas: Mousse de chocolate com nougat, Mousse de requeijão com doce de abóbora e nozes, e Torta de Laranja. Claro que provámos todas, e mais do que uma vez. A Mousse de requeijão com doce de abóbora e nozes é uma autêntica dança de texturas que não se vê por aí, de comer e chorar por mais. Já a Torta de Laranja… chegámos a comer umas quatro fatias (ou seja, duas tortas de laranja) só na mesma refeição.

Porém, a cereja no topo do bolo foi mesmo o fabuloso Cozido à Portuguesa que tivemos oportunidade de devorar no domingo, na Taberna, no dia do nosso check-out. Esta versão, preparada pelo chef Zito Lara, a mais recente adição à equipa da Herdade da Barrosinha, leva massa (cotovelinhos) ao invés do tradicional arroz, e leva também chispe, mão de porco, barriga de porco, entremeada, bife do redondo, farinheira, chouriço corrente e morcela. Vale mesma a pena experimentar, tanto que terão tempo suficiente, pois é uma opção que fica permanente. Pelo menos até ao verão, época em que se dará primazia ao barbecue.

De resto, a Taberna ficará a contar, em breve, com um novo menu, também para se distanciar das opções do restaurante do hotel, que servirá a carta que fomos conhecer apenas aos jantares. Segundo o chef Zito Lara, o futuro cardápio será mesmo de tasca alentejana, ou seja, comida típica da região, mas com um toque contemporâneo.

Foi uma ótima estadia, que não só deu para recarregar baterias, como para perceber o quão histórica é a Herdade da Barrosinha, um projeto que irá manter a sua identidade, mas adaptando-se à atualidade. Para reservas, podem fazê-lo através do site oficial, enviando um email ou ligando para o 265623142.

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