O mais recente Google Pixel é adorável, mais acessível e tão inteligente como os modelos mais caros. Mas as suas capacidades inteligentes continuam ainda a parecer meras demonstrações técnicas.
Os smartphones estão aborrecidos. Este é um sentimento pessoal e partilhado por muitos outros utilizadores nos últimos anos. Mesmo quando, no ano passado, entrei finalmente no mundo da Apple, com o iPhone 14 Pro, senti demasiada familiaridade com o ambiente Android que sempre conheci. O produto da Apple tem coisas boas e que satisfazem as minhas necessidades mais exigentes? Certamente que sim. Mas encontrei uma inovação transformadora? Talvez não.
Agora, em 2024, com a oportunidade de colocar as mãos no mais recente Google Pixel 8a, surge também a oportunidade de fazer o exercício inverso, o de redescobrir um novo ambiente Android e tirar a limpo o estado dos smartphones. Spoiler: Continuam aborrecidos. Mas a Google está a tentar.
O Google Pixel 8a é o irmão mais novo da atual geração Google Pixel, que foi lançada no final do ano passado, com a tecnológica a estrear os seus smartphones em território nacional. Com a promessa de entregar a experiência Android mais pura, a oitava geração de smartphones Pixel destaca-se pela tendência do uso e recurso de tecnologias de Inteligência Artificial que, para lá das capacidades de hardware destes dispositivos, são o ingrediente secreto deste e de futuros dispositivos.
O Google Pixel 8a é, também, um smartphone de média-alta gama. Uma versão aprimorada dos dois modelos mais avançados da marca e, ao mesmo tempo, uma atualização do Pixel 7a, lançado no ano passado.
As principais diferenças do Pixel 8a, para os modelos mais avançados e mais caros, uma vez que este se apresenta a partir de 559€, é basicamente o design, materiais usados, a “carapaça”, o ecrã e as suas câmara.
Com uma estrutura em alumínio, tira partido de materiais de plástico resitente na sua traseira e de vidro Gorilla Glass 3 no seu ecrã – em vez de Gorilla Glass Victus -; tem certificação IP67 em vez de IP68; o seu ecrã mantém-se OLED com HDR e taxa de atualização de 120Hz e é capaz de atingir 2000nits de pico; em termos de dimensão perde apenas 0.1 polegadas face ao Google Pixel 8, ou seja, tem 6.1 polegadas; e conta com uma bateria mais modesta de 4492mAh, com carregamento sem fios.
Há muitas outras diferenças, mas para o utilizador comum, com exceção das câmaras, estas são as mais evidentes. É um smartphone sólido, com características físicas bastante competitivas e que, na minha opinião, se traduzem num smartphone bastante elegante, com identidade, ergonómico e que confere uma enorme confiança ao agarrar, algo que se perde nos topos de gama cobertos de vidro que dão a sensação que se vão partir e escorregar das nossas mãos com facilidade. Aqui não é o caso.
A outra grande diferença do Google Pixel 8a para os seus modelos mais avançados são as câmaras. No Google Pixel 8a, contamos com um par de câmaras traseiras, de 64MP e de 13MP (Ultrawide), e na frente uma de 13MP semelhante. Não é o sistema mais avançado, mas são capazes de capturar até 4K a 60FPS (na traseira) e a 30FPS na frente. Esta escolha também tem impacto no design do dispositivo, com as câmaras traseiras a não se revelarem tão salientes e a frontal a apresentar-se com um pequeno recorte que quase passa despercebido.
Estando habituado a um smartphone com melhores capacidades, o Google Pixel 8a não surpreende neste departamento. E mesmo o software disponível no dispositivo não é o mais profundo, perdendo até as opções “Pro”. Nas definições padrões, as capturas apresentam-se sempre com um tom um pouco mais frio, mas são definidas e apresentam a qualidade suficiente para registar os nosso eventos sociais, festas e viagens. Já para obter resultados mais “profissionais”, a coisa muda de figura. As câmaras traseiras apenas fazem zoom de 2x e, no que toca ao modo frontal, a diferença entre 1x e 1.4x é mínima e pouco ideal até para fazer selfies.
Com alguns modos extra, como o modo panorama e time-lapse, o que me desiludiu mais foi o modo noturno, que não faz muito mais do que já temos visto noutros equipamentos, demorando alguns segundos e apresentando imagens sempre com algum ruído digital e não tão iluminadas como vemos no material de marketing.
O que torna o Google Pixel 8a numa solução extremamente interessante e competitiva é o seu processador e os 8GB de memória que encontramos nos modelos mais avançados. O Google Pixel 8a também tira partido do Google Tensor G3 e do co-processador de segurança Titan M2, que capacitam todas as funcionalidades tradicionais e inteligentes do mais recente sistema operativo Android.
Assim, o Google Pixel 8a é uma delícia de operar. Rápido, fluido e orgânico (especialmente quando colocamos o ecrã a 120Hz, que por definição vem configurado para 60Hz), é um dos dispositivos Android mais satisfatórios que me passaram, literalmente, pelas mãos. É extremamente responsivo.
Juntamente com as novas opções de personalização do Android 14, é possível colocarmos o que queremos na ponta dos nossos dedos e, com o suporte do Assistente Google em português, nunca foi tão fácil interagir com um smartphone sem lhe tocar. É mesmo fantástico.
Para além disso, esta versão do Android, a mais pura possível, oferece aos utilizadores algumas ferramentas google bastante interessantes, como aplicações de segurança, mas sendo talvez a mais interessante a inclusão gratuita do Pixel VPN, mas que infelizmente ainda não está disponível em Portugal.
Aliás, entre as várias vantagens do Google Pixel 8ª, a localização para Portugal parece deixar um pouco a desejar. Olhemos por exemplo para o Gemini, que na nossa versão não vem com a aplicação AI da Google instalada, sendo necessário ir à Google Play. Uma vez instalado, deparamo-nos que toda a sua operação é em Português do Brasil, tornando assim a sua utilização pouco eficaz no dialeto português de Portugal, reduzido muitas das capacidades de IA a algo meramente experimental.
Mesmo as funcionalidades de destaque parecem tech-demos. E sofrem também com a questão da localização. Olhemos, por exemplo, para as funções de captura de voz como a tradução automática, que traduz tudo literalmente sem contexto dialético, ou até o processo de transcrição automático, que simplesmente não funciona em nenhuma língua portuguesa. O que é pena.
Mas existem funcionalidades interessantes. Por exemplo temos o modo de “Best Take” para tirar selfies perfeitas, com a possibilidade de escolhermos isoladamente os melhores sorrisos e expressões de cada pessoa numa foto. Temos a Borracha de Áudio, para vídeos, onde podemos eliminar aqueles ruídos de fundo, como máquinas ou vento, que funciona “ok”, não faz grandes milagres e é notório algum artefacto em torno das vozes. Mas, talvez o mais impressionante e útil, sejam algumas das funções de fotografia, como a Borracha Mágica, que elimina objetos, pessoas, animais e até cabos e fios elétricos das paisagens; os filtros para alterar os tons do céu, ou o modo de anti desfoque daquelas fotos mais rápidas.
Das novas funcionalidades Android, a minha favorita foi algo bastante simples. Uma que tem sido um autêntico selling point para a linha Galaxy da Samsung. O Google Pixel 8a apresenta a nova forma de procurar conteúdos na Internet (no Google para ser mais exato) desenhando um círculo no ecrã. É fácil, é rápido e até viciante quanto estamos à procura de algo específico que não conseguimos identificar por palavras. E funciona em qualquer atividade, seja na navegação de páginas, redes sociais, ou consumindo conteúdos multimédia. Já a qualidade dos resultados, bem, essa depende dos serviços da Google.
O Google Pixel 8a é um ótimo smartphone para a sua gama. É atual, moderno e até adorável. Apesar do esforço da Google em tirar partido das possibilidades da Inteligência Artificial para aumentar o desempenho do seu hardware, quase tudo o que diz respeito à utilização natural do dispositivo e aquelas funcionalidades que parecem “magia”, ainda deixam um pouco a desejar. Desde funcionalidades experimentais, a outras que são limitadas pela localização nacional, o Google Pixel 8a acaba, no fim do dia, por ser só um bom e sólido smartphone Android. E assim se mantém o sentimento inicial: Os smartphones continuam, no geral, aborrecidos.
O Google Pixel 8a que conta com 7 anos de atualizações garantidas, pode ser encontrado à venda por 559€ na loja da Google, lojas Worten (há um desconto direto de 200€ com o código WPIXEL até 3 de junho) e na Vodafone – onde o podem adquirir a menos de metade do preço com os pontos Clube Viva.
Esta análise foi possível com uma unidade cedida pela Google.