A Google admite que o ecossistema digital enfrenta fragilidades e que a “Internet aberta está em rápido declínio”.
A Internet aberta, concebida como espaço de livre circulação de informação, conhecimento e oportunidades, atravessa hoje um período crítico. O alerta surge da própria Google, num documento apresentado em tribunal no âmbito de um processo sobre o seu domínio no mercado da publicidade online, onde a empresa afirma que “a web aberta já está em rápido declínio”.
A posição contrasta com declarações recentes da empresa, que há pouco mais de um mês rejeitava acusações de que tecnologias como a inteligência artificial estaria a provocar uma queda significativa no tráfego para sites, sustentando que os cliques se mantinham “relativamente estáveis” e que a qualidade média dos cliques até teria melhorado. Na altura, Nick Fox, vice-presidente da empresa, afirmou que “a web prospera”.
A mudança de tom surge num contexto de pressão legal que visa restringir a posição da Google na publicidade digital. A empresa passa a sublinhar que qualquer intervenção poderá afetar negativamente um setor já enfraquecido, referindo que o mercado digital enfrenta transformações profundas e que um desmantelamento parcial dos seus negócios de publicidade poderia agravar a situação, especialmente para meios de comunicação dependentes das receitas de uma Internet aberta.
O documento também revela duas intenções da Google. A de reforçar o papel do seu motor de pesquisa como porta de entrada para milhões de utilizadores e reconhecer que o ecossistema digital apresenta sinais de deterioração, possivelmente relacionados com a concorrência da inteligência artificial e com mudanças nos hábitos de consumo de informação.
Este reconhecimento tem implicações diretas em diferentes atores do setor. Para a comunicação social, confirma a necessidade de diversificar modelos de negócio face à perda de receitas. Para os anunciantes, cria incerteza sobre onde investir de forma eficaz. Já para os utilizadores, destaca-se o risco de que a Internet aberta se torne um espaço fragmentado, dominado por plataformas fechadas e experiências guiadas por algoritmos.