Vinhos, chefs, arte, música e tradição reuniram-se na Festa das Vindimas da Quinta do Sampayo, um evento que uniu cultura, sabor e convívio.
No coração do Ribatejo, entre os tons verdes e dourados das vinhas do Vale da Pinta, o portão da Quinta do Sampayo abriu-se a 4 e 5 de outubro para a III Edição da Festa das Vindimas na Quinta do Sampayo: dois dias de festa, com tudo o que define a alma desta região – bom vinho, boa gastronomia, artesanato e cultura local, arte equestre, convívio com celebridades, espetáculo e diversão, música, workshops, e muito mais. E o Echo Boomer, claro, não podia faltar, e foi lá que passámos o nosso sábado.
O evento assinalou a terceira edição da Festa das Vindimas e revelou a visão de Ana Macedo, a proprietária, que pretende elevar o vinho da casa a símbolo da identidade portuguesa além das fronteiras nacionais. Reuniu artistas, chefs, produtores e um vasto leque de público em torno de um conceito que combinou cultura, gastronomia e provas de vinhos, num ambiente simultaneamente trendy e popular. O Ribatejo, tantas vezes descrito como o palco da tradição em matéria de produção agropecuária, gastronomia e vinho, teve por dois dias, nesta Festa das Vindimas, uma mostra viva de inovação e empreendedorismo.
O espaço consignado à Festa era, na verdade, uma pequeníssima parcela dos cerca de 90 hectares da quinta, dos quais mais de metade dedicados à plantação de vinhas e, cerca de uma dezena, a olival.
O grande pavilhão ao fundo, no alto, onde se albergava um palco bem generoso, dava logo nas vistas. Estacionamento amplo e com fartura tornou a deslocação, também, bastante cómoda (o que raramente acontece em eventos desta natureza, hoje em dia). Logo quando se entra, é lícito perguntarmos: “Como é que vou passar aqui um dia?” A resposta é que foram dois dias – no nosso caso um dia – em cheio.
À chegada, ficámos desde logo surpreendidos: campinos trajados a rigor aguardavam em cima das montadas enquanto a banda descia a azinhaga executando uma animada “tour” que se prolongou pela hora de almoço.
Na zona mais alta da Quinta ficavam o Picadero e as Charretes, assim como a Kids Zone. Stands de apoio distribuíam-se ao longo da rua inicial, tais como a bilheteira, o bengaleiro e um posto de informação. Logo a seguir, deparámo-nos com postos de representantes de marcas automóveis, como a Volvo, disponibilizando informações e test drives organizados pela Carclasse.
No interior do recinto, um terreiro bem estruturado reunia o Lounge Bar, ponto de venda de vinhos e bebidas, com onfortáveis Zonas para Fumadores. Depois da praça central, a nossa atenção prendia-se imediatamente na Street Food, a bem dizer, uma rua de comida de cada um dos lados do pavilhão principal (onde estava o palco). Aí, numa correnteza arejada sob grandes toldos, mesas grandes convidavam o público a sentar-se e a saborear a boa comida e a conversa. No centro de tudo, de frente para o palco, ficava a zona de dança e de convívio, ao sabor da música. Não faltava qualquer espécie de comodidades: loja de café, WC com fartura (e impecavelmente revistos por uma equipa de limpeza que ali andou o dia inteiro), zonas de descanso…
Gastronomia da região: chefs convidados
Um dos pontos fulcrais do evento foi, sem dúvida, a presença dos chefs Justa Nobre, Miguel Silva, Alexandre Diniz e Tiago Santos, com quem o público teve a oportunidade de contactar pessoalmente e ver a cozinhar ao vivo.
Justa Nobre trouxe à mesa o conforto da cozinha tradicional portuguesa, com Bochechas de Porco com Castanhas, Batata Salteada com Cebola e Ervas Aromáticas, Feijoada à Transmontana com Arroz Branco Solto, Caldo Verde e Sandes de Porco no Espeto, encerrando com as doces tentações da terra: a Sopa Dourada, um requinte de doce de ovo com pedaços de bolo.
Já Miguel Silva destacou-se pela intensidade dos sabores e pela mestria técnica, com o seu Porco no Espeto e o emblemático Arroz de Touro Bravo, cozinhado lentamente durante cinco horas em panela de ferro – um engenhoso dispositivo criado pelo próprio chef e transportado para o evento. As Sandes de Touro Bravo completaram o menu, acompanhadas pelas clássicas Celestes e Pampilhos, que deram o toque final de doçura à degustação.
Por sua vez, Alexandre Albergaria Diniz transportou-nos para a tradição portuguesa com uma interpretação sofisticada de dois pratos emblemáticos: Dobrada com feijão branco e Pezinhos de Leitão de Coentrada.
Quanto a Tiago Manuel Santos, experimentámos as Chamuças Estaladiças de Vegetais (Vegan) e Vitela Estufada da Mãe Alda (literalmente, uma receita da Mãe, reinventada e renascida pelas mãos do autor).
Não resistimos a entrevistar cada um destes chefs, evidentemente, que nos amavelmente acederam a responder às nossas perguntas (apesar de andarem azafamados na preparação das iguarias para o almoço).
O chef Alexandre Albergaria Diniz, do restaurante Cisco – Cozinha Tradicional, explicou-nos: “Hoje não trouxe a sopa da pedra, embora o restaurante fique em Almeirim, mas quis mostrar pratos de tacho que são também representativos da nossa gastronomia.”
Com Tiago Emanuel Santos, a experiência foi picante, como seria de esperar de qualquer boa chamuça. “Nós olhamos para a cozinha sem etiquetas”, explicou. “As chamuças, por exemplo, que todos associam à Índia, têm origem nos pastéis de massa tenra que os portugueses levaram para lá. É tudo uma questão de olhar cultural”.
Já Justa Nobre salientou a honra de ter sido convidada, uma vez mais, para este evento, que representa o espírito da região e o trabalho árduo dos que para ele contribuíram.
Miguel Silva partilhou connosco a história do cozinhado do Arroz de Touro Bravo e como a sua panela de ferro o acompanha sempre que necessário, em viagens até, quando tem de cozinhar certos pratos.
O vinho como embaixador da alma do Ribatejo
Com o som distante das bandas a misturar-se com o burburinho das conversas, o enólogo da casa, Marco Crespo Manteiga, subiu ao palco para uma prova comentada dos vinhos da casa. À sua frente, grupos de visitantes com copos meio erguidos seguiam atentamente a explicação. “É a primeira vez que apresento os vinhos e tenho pessoas a falar deles comigo”, dizia com um sorriso, enquanto convidava dois participantes, António e Antero, duas figuras locais, a sentarem-se junto a si, para esse momento de degustação e partilha com o público.
O branco de 2023 abriu a sessão. “É um vinho simples, frutado, fresco, feito para ser bebido com prazer”, explicava, com a naturalidade de quem conhece o processo desde a vinha até ao copo. E acrescentava: “Terminámos a campanha há dois dias. Foi uma campanha dura, e só a conseguimos fechar a tempo graças à equipa, que esteve toda mobilizada para esta festa.”
Seguiu-se o tinto de 2023, um blend de Castelão, Touriga Nacional e um toque de Syrah. “O Castelão é uma casta muito nossa, do Tejo, e quisemos preservá-la. Mas também quisemos criar algo diferente – vinhos mais leves, mais elegantes, menos alcoólicos. O Cartaxo é conhecido por tintos intensos e encorpados; nós preferimos a subtileza. Queremos vinhos que deem vontade de repetir o copo.”
No fim da prova, apanhámo-lo a descer do palco, e pusemo-nos a sondar os bastidores do projeto. Nesta pequena mas muito agradável entrevista particular, Marco explicou-nos que o projeto assenta na sustentabilidade e na agricultura regenerativa, uma filosofia que quer mudar a forma como se produz e se comunica o vinho português. “Queremos fazer vinhos mais leves, mais frescos e, sobretudo, mais portugueses”, afirmou. “Isso implica usar castas nacionais e trabalhar o terroir com respeito. Este é o último vinho que fazemos com Syrah; daqui para a frente, só Aragonês, Castelão, Trincadeira e Touriga Nacional. Nos brancos, Arinto e Fernão Pires. É um regresso às origens.”
A conversa desdobrou-se então para o futuro da Quinta. “Estamos sobretudo na restauração e na hotelaria”, disse o enólogo. “Mas estamos agora numa fase de internacionalização. O Reino Unido é o primeiro passo. E estamos também a preparar a entrada no Canadá.”
O discurso tinha a convicção tranquila de quem acredita num projeto de longo prazo. “Não queremos imitar ninguém”, continuou. “Há muita gente a fazer bem na região, mas os nossos vinhos têm de ser diferentes – pela leveza, pela elegância. Não fazemos vinhos para supermercados. Fazemos vinhos para quem os quer descobrir.”
Ficámos a perceber que, mais do que exportar a todo o custo, este projeto consiste sobretudo em criar e difundir um vinho diferente de todos os outros, que pretende demarcar-se pelo seu potencial e singularidades. De resto, a palavra “internacionalização” soou várias vezes ao longo da tarde, como um refrão de modernidade num cenário profundamente rural. A ambição não se fica, portanto, pela adega. A Quinta do Sampayo quer ir conhecer mais mundo, evidentemente, sem perder a alma local.
Cultura, (mais) gastronomia e tradição
À medida que o sol se inclinava sobre as vinhas, o recinto da Quinta do Sampayo ganhava tons de festa rija. A música, ao sabor do DJ Fernando Alvim, os cheiros e as vozes misturavam-se com o corropio para o bonito salão das Conversas Intimistas, onde os visitantes podiam ir travar conhecimento com vários atores convidados. Moderadas por Rui Tendinha, esta foi, para nós, uma das surpresas mais interessantes do programa. O jornalista criou um ambiente de proximidade com figuras conhecidas como Bárbara Guimarães, Rui Melo, Elsa Teixeira e Joaquim de Almeida. As conversas fluíam como se decorressem à mesa de jantar, entre risos e memórias, partilhando um lado mais humano de quem o público habitualmente vê no ecrã.
Houve, também, várias curtas-metragens, no intervalo das conversas, bem como atividades variadas. Fashion Adviser, Pintura com Vinho, Plantas e Sementes, Couro e Peles foram os workshops disponíveis, frequentemente anunciados na aparelhagem.
O cartaz musical não se ficou atrás, com nomes grandes como Tony Carreira, David Fonseca, Lena d’Água, Toy, Herman José e o já mencionado DJ Fernando Alvim.
Mas a componente rural não foi esquecida, pelo contrário. Do outro lado da quinta, o Picadeiro acolhia demonstrações de equitação e charretes, enquanto a “Kids Zone” mantinha os mais pequenos ocupados com jogos, pinturas e atividades conduzidas pela equipa da MaiCamp. “É bom ter um espaço seguro para deixar as crianças, assim os pais podem também relaxar e aproveitar”, comentou uma visitante.
Muitos foram os produtores e empresários convidados que estiveram em sintonia com o propósito da festa, ora associados à mostra de gastronomia, completando de certo modo os menus existentes, ora para expor outras vertentes da vida da região.
No espaço de Street Food, não faltaram hambúrgueres artesanais, as ostras, tábuas de enchidos, pastéis de bacalhau e crepes de mel da região, tudo servido entre tendas decoradas com luzes e flores.
Muitos foram os convidados para esta Festa das Vindimas. Entre eles, a Pastelaria Mafraria com os seus deliciosos pastéis de nata; a Frua Corporate Deliveries & Corporate Events, empresa cujo slogan é “fruta na rua” e que serve frescos e saborosos sumos naturais e taças de fruta (trabalha regularmente para eventos), que tivemos oportunidade de testar; o quiosque dos famosos gelados Artisani, que provámos nos sabores de pistácio e caramelo salgado; entre as várias montras de doçaria regional, encontrámos a Associação do Rancho Folclórico da Freguesia da Lapa, onde provámos um delicioso pão-de-ló e o bolo de maçã.
Antero Jesus, um dos participantes da prova de vinhos e presidente da Associação, foi quem nos descreveu a doçaria feita pelos elementos do grupo: broas de anis, bolinhos de coco, ferraduras, arrepiados. “São receitas antigas, feitas em forno a lenha, como antigamente”, explicava. Ofereceu-nos gentilmente o CD do rancho, “para ouvirem as nossas músicas e levarem um bocadinho da festa para casa”. Ficámos a conhecer, também, a Caspiada, Bolo Tradicional apresentado pelo Rancho Folclórico de Pontével; os frutos secos (destacamos as excelentes tâmaras) da Amora Silvestre; vimos, ainda, a Casa Pratas, especializada em queijaria; apreciámos a bonita montra de bolinhos caseiros de Márcia Crena, e os bolos, mel e outros produtos da região, da Associação Cultural do Rancho Folclórico do Vale da Pinta.
A Pizzeria da Linha esteve sempre ali, a fumegar à entrada da festa, com uma fila considerável de apreciadores das suas pizzas artesanais em forno de lenha, de massa fina e estaladiça.
No espaço dos expositores dedicado ao artesanato, artesãos locais apresentavam também o melhor do seu trabalho ou das suas associações e comunidades. Aí estavam representados, entre outros, a Oficina de Arte, o Centro de Dia do Vale da Pinta, a DUURA, a Naturis Handmade, Anabela Belo Criações, o Pé na Terra Store, Starbella, a oficina Little Diamond (que foi onde pudemos, bem como os outros visitantes, ter o nosso copo gravado com as iniciais do nosso nome!), a Vallis, a MIAT, a cestaria de António Vidigal, a Usarte Leather e a Nony Arte.
Isabel Raposo, do Centro de Dia de Vale da Pinta, destacou, para nosso interesse, pequenos trabalhos manuais criados pelos idosos da instituição: pingentes em feltro, naperons com bolsos coloridos e peças decorativas: “Eles ajudam a coser e a colar as pedrinhas. Isto é uma forma de manter os nossos utentes ativos e de mostrar que ainda têm muito para dar”.
Mais adiante, um artesão alentejano, o senhor José, com o letreiro por cima da cabeça indicando José Vilhena Artesanato – Produtos Tradicionais em Madeira, exibia colheres de pau, espadas e escudos medievais como brinquedo infantil e, entre muitas outras coisas, uma miniatura de um forno de lenha. “Comecei a fazer isto depois da reforma, por brincadeira, para ocupar o tempo”, contava. “Agora já faço feiras e vendo para todo o lado.”
Era difícil não reparar na diversidade de sotaques e idades. Famílias inteiras chegavam com carrinhos de bebé, grupos de amigos vinham de Santarém e Lisboa, curiosos de todo o país apareciam atraídos pelo cartaz musical. E, entre todos, a presença constante dos vinhos da casa, servidos em balcões redondos, as garrafas mantidas frescas em geleiras. “Temos branco e tinto da colheita de 2023 e 2024”, explicava uma das funcionárias do bar. “Servimos ao copo ou à garrafa, como preferirem.”
O sistema de pagamento com o cartão Zig foi outro pequeno (grande) pormenor bem pensado. Uma solução que substitui o dinheiro físico, pensada sobretudo para a praticidade e para facilitar a vida aos visitantes de mais idade.
Projeto e visão
Há algo de profundamente simbólico no modo como esta festa das vindimas foi pensada e organizada – um evento a nível local mas onde se cruzam e pulsam forças grandes. Naturalmente, a produção, comercialização e promoção do vinho assumem a centralidade deste projeto, não apenas como consolidação de um negócio, mas também como uma herança imaterial. A visão de pragmatismo empresarial que se ergue em torno do projeto vinícola começou com uma história de família. Após a morte do pai, José de Macedo, a proprietária, Ana Macedo, tem-se dedicado a reerguer a Quinta e encarnou essa missão como forma de honrar a visão do pai, de acordo com a sua própria interpretação à luz das exigências do nosso tempo. Durante anos, a propriedade – pertencente à Agroseber, empresa familiar – dedicava-se à produção de uvas para venda. Só há cerca de três anos voltou a vinificar sob marca própria, recuperando um projeto interrompido e apostando num posicionamento de qualidade.
Não haja dúvida. A história da Quinta do Sampayo é, em parte, uma história de reinvenção. O investimento foi, segundo um dos técnicos da casa, “brutal”. Os números não foram divulgados, mas a dimensão da festa, com milhares de visitantes e um cartaz de luxo, são um sinal de que a Quinta está a apostar em grande. “Os proprietários querem fazer as coisas bem, e fazer para a comunidade”, explicava um colaborador. “Podiam fazer um evento privado, só para convidados, mas preferem abrir as portas e trazer as pessoas até aqui. Isto é uma forma de envolver o território.”
Essa ligação ao território é um dos pilares do projeto. O plano de reconversão das vinhas inclui, num futuro próximo, apenas castas portuguesas e práticas sustentáveis. “Queremos comunicar Portugal através do vinho, mas também mostrar que é possível produzir de forma responsável”, sublinha o enólogo Marco Crespo e, em parte, um dos responsáveis pela organização da festa. “A sustentabilidade é essencial — não só porque é tendência, mas porque é o único caminho possível.”
A propriedade, como dissemos, com cerca de cem hectares, está em reconversão. “Plantámos novas vinhas o ano passado e vamos plantar mais este ano”, explicou. “É um processo demorado, mas necessário. Estamos a adaptar o campo às exigências do futuro.”
Para chegar lá, a empresária tem apostado em duas frentes: a comunicação e a internacionalização. A estratégia de comunicação da Quinta do Sampayo assenta na valorização de um produto único, sustentável e autêntico. O objetivo é que o vinho funcione como um veículo capaz de transmitir a história e a origem de um produto diferente dos demais e pelo qual, inerentemente, os investidores estrangeiros estejam dispostos a pagar bem.
O Reino Unido tem sido o primeiro mercado externo, e as negociações com o Canadá estão em andamento. Os Estados Unidos, por agora, ficam fora dos planos. “O mercado é ótimo, mas a política de importação está complicada, não facilita a vida a quem exporta”, comenta Marco Crespo, com ironia. “Por isso, estamos a focar-nos em mercados que valorizem o vinho europeu e que sejam sustentáveis a longo prazo.”
Mas internacionalizar não é apenas exportar. É adaptar-se. “Queremos manter a identidade, mas também entender o consumidor lá fora. Não fazemos vinhos para seguir tendências, mas temos que ser inteligentes na forma como nos posicionamos. O mundo do vinho é cada vez mais competitivo. O nosso objetivo é estar nesse grupo e levar o nome da Quinta do Sampayo para outros palcos.”
E este evento de outubro foi, de certo modo, uma demonstração prática – e muito bem sucedida a todos os níveis – dessa ambição: abrir a quinta ao público, mostrar os produtos, criar experiências, cruzar música, gastronomia e cultura, tudo em torno de um mesmo propósito.
O público, estimado em mais de dois mil visitantes, foi a prova de que o formato resulta. Havia quem viesse pelos artistas, quem viesse pelos vinhos e quem viesse apenas pelo convívio. Mas a maioria saía com uma sensação comum: a de ter vivido algo genuíno e extremamente agradável.
O sucesso do evento, quanto a nós, vai para além dos seus limites. Para a região, iniciativas como esta têm um impacto direto na economia local, dinamizando produtores, artesãos e restauração. Movimento, alojamentos, restaurantes a carburar, houve toda uma energia nova à volta desta Festa das Vindimas.
Do ponto de vista mediático, acreditamos que a festa da Quinta do Sampayo se posiciona definitivamente como um dos eventos de referência do calendário regional, combinando a força das marcas com o encanto da ruralidade. O ambiente, informal e familiar resultou plenamente. A programação, cuidadosamente pensada, das performances musicais às curtas-metragens e workshops criativos, conseguiu proporcionar aos participantes, dir-se-ia, uma experiência multissensorial. Se a ideia foi que as pessoas levassem da festa boas memórias, e que associassem o vinho Sampayo a momentos felizes, então a Quinta do Sampayo acertou em cheio.
O futuro
Com o encerramento desta III Edição da sua Festa das Vindimas, fecha-se o ciclo da colheita e abre-se um olhar já a estender-se para o próximo ano.
A amplidão de experiências que foram aqui exibidas mostra o potencial das regiões ribatejanas, que são palco e metáfora de um país que quer afirmar-se no mundo pela qualidade e pela autenticidade.
Para internacionalizar um produto é preciso, neste contexto, acreditar que o que temos é suficientemente bom para ser partilhado e que Portugal pode competir lá fora sem perder identidade.
Num tempo em que a agricultura portuguesa procura reinventar-se, a aposta de Ana Macedo surge como exemplo de que esta inovação não precisa de romper com a tradição – pode, antes, amplificá-la. O vinho, que durante séculos foi símbolo de permanência, é aqui motor de mudança.
O futuro da Quinta do Sampayo ainda está a ser escrito devagar, como o vinho que fermenta no âmago dos tonéis. Mas se há algo que esta festa provou, é que o investimento, depois do trabalho e do esforço, tem um poder que não pode nem deve nunca ser subestimado. E que, no fundo, o segredo está nesse equilíbrio entre o terreno conquistado e o sonho de ir mais longe.