Final Fantasy VII Rebirth, um dos melhores jogos de 2024, recebe finalmente a sua versão para PC, numa conversão sólida que reproduz fielmente a experiência original da PlayStation 5.
No final de fevereiro, faz um ano desde que Final Fantasy VII Rebirth chegou em exclusivo à PlayStation 5, estabelecendo-se como o meu jogo favorito de 2024. Apesar de ter sido um ano bastante forte, foi a segunda parte do projeto “Remake” de Final Fantasy VII que me agarrou ao longo de uma centena de horas e me deixou a salivar pela sua futura conclusão narrativa, ao mesmo tempo que alimentou o meu desejo de repetir tanto o que tinha acabado de jogar, como o original de 1997.
Enquanto que repeti efetivamente o original – e terminei Final Fantasy VII Remake no PC novamente –, Final Fantasy VII Rebirth ficou em espera, até que a PlayStation 5 Pro chegou ao mercado e, com ela, trouxe melhorias visuais para o jogo na plataforma da Sony. Simultaneamente, a Square Enix disse-me “alto lá, temos uma versão para PC a caminho”, o que voltou a adiar por alguns meses o regresso à party de Cloud e companhia.
A espera, apesar de curta, e a passagem da versão otimizada para a PlayStation 5 Pro para o PC, valeu, no entanto, muito a pena. Não só na minha máquina atinjo níveis de desempenho que oferecem o melhor dos dois mundos (qualidade e desempenho), como também tive a oportunidade de jogar uma versão ainda mais bela e otimizada, como acontece em muitas conversões para PC.
Mas, antes de entrar em mais detalhes, recordemos Final Fantasy VII Rebirth e aquilo que apresentou, agora que Cloud, Tifa, Aerith, Red XIII e Barret têm pela sua frente não um, mas uma série de “mundos abertos” que representam as diferentes regiões do planeta referido como Gaia. Este modelo aberto marca um contraste bem forte com o que Remake apresentou, na altura com uma progressão mais linear e despida de distrações, à parte de algumas missões secundárias enfadonhas. E, considerando isso, Rebirth poderia ter corrido muito mal; felizmente, não foi o caso.
Inspirado por projetos aclamados como The Witcher 3 e Horizon, Final Fantasy VII Rebirth tira proveito do que este formato tem para dar, preenchendo o seu mundo com atividades secundárias relevantes e diversas, sem pressão para as concluir, agradando a quem procura seguir o caminho dourado de forma relaxada, e aos mais obsessivos em “fazer tudo”, que dificilmente encontram muita repetição. Pelo menos, esta foi a minha experiência com o jogo, e, ao revisitar no PC, mostrou-se ainda mais variada e fácil de absorver. Desta vez, por exemplo, limpei a primeira zona do jogo, Grasslands, a 100%, sem entrar em fadiga.
Ao contrário do formato do jogo, que se demonstra drasticamente diferente, a jogabilidade de Final Fantasy VII Rebirth continua familiar, mas representa uma clara evolução em relação ao jogo anterior, com combates mais fluidos e frenéticos e um sistema de sincronia com os restantes elementos do grupo que torna os combates mais profundos e táticos. Adicionalmente, fora do combate – e porque o mundo aberto assim o pede –, há também uma nova série de mecânicas de deslocação bastante variadas, com veículos e chocobos, assim como dezenas de jogos, mini-jogos e atividades extra, com regras e mecânicas completamente diferentes e diversas, fazendo com que o lado de RPG de ação seja apenas metade de toda a experiência.
Já visualmente, Final Fantasy VII Rebirth pode não parecer muito diferente do seu antecessor, muito graças à sua direção artística e ao recurso ao Unreal Engine 4. No entanto, a escala do jogo, a densidade de elementos visuais e os modelos melhorados tornam a experiência digna do selo de sequela.
Final Fantasy VII Rebirth não é um jogo perfeito e é fácil de desconstruir e criticar negativamente pelas suas legítimas falhas e subjetivas. Se, para mim, é um jogo grande e diverso, tenho consciência de que, para muitos jogadores, se pode tornar aborrecido. Se o combate, para mim, é excelente, provavelmente para muitos fãs de Final Fantasy “à antiga” a ação não será tão bem recebida. Para não falar das diversas decisões criativas e arriscadas na entrega de um remake com expectativas pré-estabelecidas.
A versão para PC não traz conteúdos novos, nem ajusta nada a nível narrativo ou de design. Traz, no entanto, a experiência a novos públicos, com uma conversão recheada de opções para ser jogável na maioria dos computadores atuais.
Há que dar algum, mas não muito, crédito à Square Enix nesta conversão (especialmente comparando com o jogo anterior), que nos dá finalmente uma série de opções variadas – Low, Medium e High – para ajustar efeitos, detalhes das personagens, qualidade das sombras, texturas, número de personagens, entre outros aspetos que afetam drasticamente o desempenho do jogo. Adicionalmente, a Square Enix entrega até opções de VRR, HDR e soluções de anti-aliasing, como o DLSS da NVIDIA.
Apesar deste esforço e de o jogo correr aparentemente bem sem qualquer mexida da minha parte, na minha configuração – com uma placa NVIDIA GeForce RTX 4090, acompanhada por um processador Intel Core i9-10900X, 32GB de memória RAM DDR4 e um disco SSD de alto desempenho –, é fácil perceber que a Square Enix poderia ter feito algo mais.
Por exemplo, apesar de Final Fantasy VII Rebirth oferecer o DLSS, não disponibiliza a alternativa para os GPUs da AMD, algo que esteve presente na versão para PC de Final Fantasy XVI, lançada no ano passado. Ainda sobre o DLSS, também é estranha a decisão de os menus não apresentarem as tradicionais opções de Quality, Balance e Performance. Estas encontram-se nas opções de “Dynamic Resolution Scaling”, com escolhas de mínimo e máximo de 33%, 50%, 66% e 100%, sendo este último valor o DLAA, quando escolhido no mínimo e no máximo, respetivamente.
Outro ponto estranho é Final Fantasy VII Rebirth voltar a optar por trincos de FPS que afetam a qualidade de imagem do jogo com base nas opções de resolução dinâmica. Por exemplo, ao colocar o jogo a 120FPS e, no mínimo da “Dynamic Resolution Scaling” escolher 50% (correspondente a Balance) num painel 4K, o jogo irá flutuar a sua resolução para manter o frame rate estável, resultando muitas vezes numa imagem relativamente mais desfocada.
Final Fantasy VII Rebirth para PC requer, assim, muita tentativa e erro no que toca a afinações, especialmente se, como eu, quiserem tirar o máximo partido do jogo, tanto em visual como em desempenho.
Quando esta tarefa é resolvida, Final Fantasy VII Rebirth é visualmente incrível no PC, e o desempenho, aliado a visuais 4K tão claros, representa quase um salto geracional que nem “a consola mais poderosa do mercado” é capaz de apresentar. No entanto, preparem-se para encontrar algumas inconsistências e problemas visuais que não foram resolvidos desde o jogo original, como cenários mal iluminados – particularmente interiores –, assim como algumas áreas com demasiada exposição de luz, afetando por completo a ambiência e o registo de um jogo que, na sua maioria, é como um filme CGI interativo.
Final Fantasy VII Rebirth para PC, apesar de ser uma sólida conversão no geral, conta com um grande desapontamento, em particular para os jogadores em dispositivos como a Steam Deck. Aliás, a Steam Deck em concreto.
Após testar Final Fantasy VII Rebirth na minha Steam Deck OLED, a primeira questão que levantei foi: “como é que isto é legal?”. Antes do seu lançamento, a Square Enix celebrou o facto de Final Fantasy VII Rebirth correr na Steam Deck e de ter recebido um selo verde de “Verificado”. Infelizmente, o jogo revela que, atualmente, esse selo não quer dizer absolutamente nada. É verdade que Final Fantasy VII Rebirth é jogável na máquina da Valve, mas os sacrifícios visuais e de desempenho a que os jogadores terão de se sujeitar são tão enormes que o tornam virtualmente injogável. Para atingir 30FPS no mínimo, com quedas bem evidentes, o jogo tem de operar a resoluções tão baixas que o que é apresentado no ecrã é um borrão. Escusado será dizer que esta experiência é um enorme desserviço ao jogo.
É verdade que Final Fantasy VII Rebirth tem outra escala e ambição, mas é particularmente desapontante quando Final Fantasy VII Remake até se jogava bastante bem na máquina da Valve. Para além disso, a minha frustração também se foca, em particular, na forma como o jogo foi promovido para a Steam Deck e como o selo de “Verificado” até costuma ser um bom sinal.
Felizmente, Final Fantasy VII Rebirth pode ser jogado de forma portátil através de streaming, quer a partir de uma consola como a PlayStation 5, quer a partir de um PC atual. Desta forma, os jogadores mais casuais encontram uma experiência sólida e competente, ao passo que os mais exigentes conseguem espremer tudo o que a Square Enix tem aqui para oferecer. Se Final Fantasy VII Rebirth já era recomendável em 2024, em 2025 assim continua.
E só espero que, no futuro, também a Xbox Series X|S e a nova Nintendo Switch recebam Final Fantasy VII Rebirth e Remake, ainda a tempo da conclusão desta fantástica história.
Cópia para análise (versão PC) cedida pela Ecoplay.