A Estação do Rossio cumpre 135 anos de serviço ferroviário em Lisboa, mantendo-se como marco histórico e funcional no sistema de transportes da cidade.
A Estação do Rossio, situada em pleno centro de Lisboa, assinalou esta semana 135 anos de atividade, mantendo-se como uma das infraestruturas ferroviárias mais emblemáticas da cidade. Com um fluxo anual que ronda os 15 milhões de passageiros, é a principal porta de entrada para quem utiliza a Linha de Sintra, assegurando igualmente a ligação à Linha de Cintura e, através do Cacém e de Meleças, à Linha do Oeste.
A sua construção concretizou um antigo desígnio urbano, adiado durante anos pelas exigências técnicas impostas pela geografia da capital, nomeadamente a necessidade de ultrapassar a colina entre o Rossio e Campolide. Foi apenas em 1888 que o Estado autorizou a então Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses a avançar com a edificação da Estação Central de Lisboa – designação ainda visível nas fachadas – e com a escavação do Túnel do Rossio, estabelecendo assim a ligação ao eixo ferroviário entre Alcântara-Terra, Sintra e a linha do Oeste.
Responsável pelo projeto, o arquiteto José Luís Monteiro concebeu um edifício de inspiração neomanuelina, com fachadas ricamente ornamentadas, cuja estética contrasta com a linguagem clássica do vizinho Hotel Avenida Palace, também da sua autoria. A obra, entregue à construtora francesa Duparchy & Bartissol, iniciou-se em 1888 e integrou não apenas a estação e o túnel, mas também o hotel adjacente, as rampas de acesso e a ligação à Calçada do Carmo. A abertura oficial ao público ocorreu a 11 de junho de 1890.
Durante largas décadas, o Rossio foi o principal terminal ferroviário da capital, acolhendo comboios regionais, nacionais e internacionais, incluindo ligações diretas a Madrid e Paris. Ao longo do tempo, múltiplas transformações foram introduzidas para responder às exigências da evolução tecnológica e à reconfiguração dos fluxos ferroviários. Entre 1934 e 1948, a estação foi objeto de uma intervenção profunda, sob a orientação do arquiteto Cotinelli Telmo, que lhe conferiu uma nova linguagem interior modernista. Em 1955, a eletrificação do Túnel do Rossio permitiu a transferência do tráfego de longo curso para a Estação de Santa Apolónia.
As décadas seguintes trouxeram novas funcionalidades ao espaço: entre 1976 e 1994, acolheu um centro comercial e uma sala de cinema. De 1993 a 1996, a estação foi modernizada e passou a dispor de ligação direta ao Metropolitano de Lisboa, com uma passagem interna para a estação dos Restauradores. Entre 2004 e 2008, o Túnel do Rossio foi alvo de uma reabilitação estrutural significativa, incluindo a implementação de novos sistemas de segurança.
O edifício da estação e a área envolvente foram também alvo de requalificação em anos recentes, acolhendo atualmente, para além dos acessos e serviços destinados aos passageiros, espaços comerciais, escritórios e uma unidade de alojamento local. A integração funcional do Rossio na vida da cidade mantém-se ativa, ainda que com um papel distinto daquele que assumiu nas primeiras décadas da sua existência.
Do ponto de vista patrimonial, destacam-se os painéis de azulejos que decoram o edifício: no lado norte, encontram-se obras de Lucien Donnat e Rogério Amaral, datadas de 1956, que representam produtos típicos portugueses; no lado sul, os painéis de Lima de Freitas, criados em 1996, evocam mitos e lendas de Lisboa. A antiga Sala do Rei, localizada no piso intermédio e outrora reservada à realeza, continua a ser um dos espaços mais distintivos da estação.
Desde 1971, a Estação do Rossio está classificada como Imóvel de Interesse Público, reconhecimento que sublinha tanto a relevância histórica como o valor arquitetónico da estrutura. Em 2012, foi ainda incluída numa lista da revista norte-americana Flavorwire, que destacou as dez estações ferroviárias mais belas do mundo.
Foto: IP – Infraestruturas de Portugal