Eis o Polestar 4, o segundo modelo da marca sueca que desta vez eleva a fasquia. Temos um carro completamente diferente dos demais concorrentes, sem vidro traseiro e com um interior requintado, raro num automóvel destes.
Texto: Tomás Amorim
“Que carro bonito! O que é isto?”: Comentário da pessoa que escreve estas linhas quando viu o Polestar 4 pela primeira vez. O Polestar 4 é um carro bastante diferente do que estamos habituados a ver, pois tem um design próprio, com uma frente bem conseguida e distinta.
Comecemos pela frente: no capot, encontramos vincos ondulados nas extremidades; os faróis são em T invertido, o que já é uma imagem de marca. As luzes são bipartidas, estando na parte superior os LED’s diurnos e, na parte inferior, os médios e máximos. Falando em máximos, estes são ajustáveis, sendo que podemos circular em autoestrada e eles nunca chegam a encadear o carro da frente. Quanto às portas, não têm moldura e os puxadores são retráteis, o que, como sabemos, ajudam na eficiência do automóvel.
Um aspeto menos positivo nesta frente é o seu frunk, que é muito pequeno. Se, no Polestar 2, tínhamos um frunk onde podíamos colocar os cabos de carregamento, neste não é possível. É uma pena, visto que é um carro maior, mais caro, mais requintado, mais tudo, quando comparado ao Polestar 2! Também devia ter mais espaço no frunk! Nas partes laterais, temos umas portas sem moldura que me encheram o coração… novamente, classe é requinte e um homem pode resistir a tudo, menos a umas frameless doors.
No requisito jantes, estamos bem calçados, com umas jantes 21”, muito fechadas para ajudar na eficiência. Na traseira, deparamo-nos com um estilo coupé que lhe fica a matar. Não há vidro, a Polestar colocou uma tampa no seu lugar, o que é uma solução arriscada. Deixamos de ter o bom e convencional vidro traseiro, e passamos a ter uma câmara, que é de boa qualidade, embora em algumas situações, como por exemplo nas mudanças de direção, surgisse um lag – com isso notavam-se as transições, mas nada de muito grave… À noite, sem nada a dizer, a câmara tem uma ótima qualidade.
Mas a verdade é que nos mil km que fiz com o Polestar 4 não tive quaisquer problemas em me adaptar a este sistema (é mais difícil habituar-me ao I-cookpit da Peugeot, mas isso são outros quinhentos…). Uma vantagem deste sistema é que não há possibilidade de encadeamento do carro da retaguarda. Na traseira, temos faróis LED que estão ligados entre si, que lhe dão um estilo muito próprio. Abrindo a mala, contamos com 526 litros, mais 31 litros do frunk já apontado neste texto. Visto que não há vidro, o acabamento da mala é em alcatifa e possui um símbolo gigante da Polestar. Não temos chapeleira.
Olhando para o interior deste Polestar 4, é aí que notamos que a Polestar deu tudo, pois é um interior luxuoso. O design é bastante clean e o único botão que existe é a roldana do rádio – que tem um som muito satisfatório e uma qualidade de montagem mesmo “à sueco”. Conta com um ecrã vertical, sendo a primeira vez que a marca sueca opta por esta solução, pois tanto no 2 como no 3 é horizontal. O ecrã tem uma qualidade de imagem muito boa, muito nítida, responde bem ao toque e operamos todas as definições do carro por ela. Tem 15.4” polegadas e um sistema operativo feito pela Google, como já habitual.
Todos os comandos, do A/C até à regulação do volante, passando pela abertura do porta-luvas, são operados no ecrã. Contamos com suporte ao Apple Car Play sem fios e a sua visualização ocupa todo o ecrã, um ponto muito positivo. No entanto, o seu funcionamento é um pouco lento, nomeadamente quando se troca de música, e, durante os dias que passei com o Polestar 4, muitas vezes o Apple Car Play desligava de repente.
É também através do ecrã que se opera o ar condicionado, o que não é uma novidade, pois no 2 já tínhamos esse sistema. A novidade está em como funcionam os redirecionadores de ar: também são manobrados através do ecrã. O sistema é muito fluido e fácil de operar, mas, quando estava na estrada, houve alturas em que precisei de tirar os olhos da via para regular as saídas do ar… De qualquer forma, o interior do Polestar 4 Long Range Single Motor é, sem dúvida, um habitáculo com uma enorme qualidade de construção.
Tudo onde tocamos é material soft touch. No teto temos veludo – sim, leram bem, veludo…. Continuamos, porém, com teto panorâmico sem cortina. A consola central nas partes laterais é revestida em couro com um toque de elevada qualidade, sendo que as costuras dão-lhe um aspeto único. Não é só classe, mas sim requinte, como comprova o revestimento da consola central que é de madeira clara e que lhe assenta muito bem. Esta consola central é bipartida: na parte de baixo encontramos uns espaços de arrumo generosos, ideais para colocar as chaves de casa. O seu revestimento é em borracha. Na parte superior é onde temos dois pousa copos, um carregador sem fio e o seletor rotativo do volume do rádio. No entanto, é nos bancos de trás onde temos o verdadeiro esplendor sueco: ar condicionado na traseira com ajustes individuais e respetiva saída de ar, bancos aquecidos e, ainda, a possibilidade de mudar a estação de rádio.
O mind blowing foi quando descobri que os bancos traseiros tinham regulações elétricas na zona das costas. Sem falar dos seus puxadores de porta, que são qualquer coisa de extraordinário, sólidos e com um acabamento em metal. Por último, temos de referir que este interior é muito bem construído. Os acabamentos são excelentes, 10 em 10… e isso faz toda a diferença, pois sentimo-nos muito especiais dentro do Polestar 4.
Sueco na Estrada
Tudo começou numa quarta-feira, quando fui buscar o Polestar 4. Pego na chave e apercebo-me que não há nenhum botão, e pensei para mim: “como é que vou abrir e fechar isto?”. Decidi então afastar-me, esperei 10 minutos… e nada, os puxadores de porta continuavam para fora. Tomei a iniciativa e dei uma volta ao carro. Quando cheguei ao lado do condutor, notei que, no pilar da porta do condutor, estava um símbolo igual ao do NFC, e, sim, era aí que se abria e fechava o carro. Bastava-me aproximar com a chave no sensor e, adivinharam, carro aberto – para fechar é preciso fazer a mesma coisa. No entanto, cabe-me informar que, quem compra o carro, não terá este problema, pois há uma aplicação que permite controlar o carro pelo smartphone ou então pela chave – basta aproximar-se do carro e ele abre, logo para fechar basta uma pessoa afastar-se do carro.
Outra etapa difícil foi descobrir a posição de condução ideal, pois primeiro que descobrisse que o volante era operado eletricamente e os ajustes eram feitos no volante, assim como os ajustes do espelho, foram quase 30 minutos. Houve também a parte de querer ligar o A/C e, sem querer, ligo as massagens! Queria ajustar os espelhos e carrego no ícone do porta-luvas. Por falar em porta-luvas, este tem o arco triunfal (o arco triunfal é o nome dado quando o porta luvas desce devagar ao ser aberto. Este porta luvas, além de descer muito devagar, é revestido em material soft touch).
A última peripécia antes de arrancar com o Polestar 4 foi perceber onde se tinha de colocar a chave para o mesmo andar. Era simplesmente abaixo dos redirecionadores de ar, mais precisamente, no sítio onde se coloca o smartphone a carregar. Depois de todas estas adversidades, lá consegui arrancar, e as impressões iniciais foram muito boas. Que conforto! Um ótimo trabalho das suspensões, que absorvem bem as irregularidades do piso, seja ele qual for. Porém, a insonorização deixa um pouco a desejar – na unidade testada os ruídos vindos das janelas começavam aos 110km.
Quando entrei no carro, o computador de bordo mostrava uma autonomia de 610 km. Pensei: “Este valor não pode ser real, mas o quão próximo posso ficar perto dos 610 km, em autoestrada?” Adianto que consegui fazer perto de 400 km – saí de Lisboa com 93% e cheguei a Pombal com 280 km e, como estava na hora de jantar, juntei o útil ao agradável e parei num restaurante que tinha um Super Charge. O jantar demorou uma hora e meia e, quando cheguei ao carro, a bateria já estava carregada. Segui viagem para Trás-os-Montes, terminando o trajeto com cerca de 75%. Durante a viagem, tive o A/C a funcionar, bancos aquecidos ligados e, por vezes, umas massagens à mistura.
Quarta e quinta-feira foram os dias em que tive a oportunidade de testar o Polestar 4 em circuito misto e notei que, em autoestrada, este tem uma boa eficiência, pois consegui fazer consumos na ordem dos 15/18 kWh/h. Todavia, em pura autoestrada, esperem valores entre os 19/20 kW/h. Falando na motorização em questão, esta é de um único motor elétrico montado no eixo traseiro, daí o Single Motor Long Range. Apresenta 272 cavalos e 342 NM de binário, valores esses inferiores aos do Polestar 2. Estranho…
Um aspeto interessante deste Polestar 4 é a suavidade no arranque pois não nos cola ao banco, como acontece no Polestar 2, e como acontece na maioria dos elétricos. Neste ponto, este Polestar está bem equilibrado e, face ao Polestar 2, tem uma motorização acertada, pois como referi, no Polestar 2 há alturas onde se nota que o composto mecânico é demasiado para aquela carroçaria. O sprint dos 0 aos 100 km/h é feito em 7.1 segundos, um valor bastante racional. De velocidade máxima, a marca sueca anuncia 200km/h (anuncia…). Temos uma bateria de 100 kWh, dos quais 94 são úteis. Nos carregamentos, podemos ter velocidades até aos 200 kW em DC e em AC 22 kW. Por fim, continuamos a ter os mesmos modos de regeneração que tínhamos no Polestar 2, que funcionam muito bem, sendo que, se fizer uma breve comparação com o Polestar 2, este Polestar 4 é mais suave, que é óbvio.
Dinamicamente, o Polestar 4 é um carro que dá gosto de conduzir, pois temos um carro muito competente neste aspeto. Numa estrada com curvas notei a traseira a acompanhar o movimento do carro, o que é muito engraçado. No entanto, há que referir que o rolamento da carroçaria é percetível, e isso é mais notório em curvas fechadas. O carro apresenta também uma direção que, em certas alturas, é elétrica. Importa referir que temos três modos de direção: leve, standard e duro e, por estranho que pareça, o melhor modo, a meu ver, é o duro; pois nos outros dois a direção fica muito leve.
Sendo um carro sueco, a segurança é um aspeto prioritário para a marca. Temos mil e um sistemas de segurança, mas aquele que eu queria destacar é o keep line assist, que é um sistema muito agressivo e intrusivo na condução, nomeadamente em autoestrada. Falando do cruise control adaptativo, o seu funcionamento é muito bom… em certas alturas até fez ultrapassagens.
Por fim, o que posso dizer deste Polestar 4? É um carro que parte logo em vantagem face aos seus concorrentes. O seu formato é irreverente, diferente do habitual; é um carro que tem um visual muito bem conseguido e que não passa despercebido. O interior é o melhor da sua classe, uma vez que o requinte a bordo é uma coisa nunca antes vista. A atenção ao detalhe é de carro de luxo! Também a sua condução é boa e relaxante – os ocupantes têm um conforto de primeira classe. É um grand turismo para quem quer fazer viagens sem poluir e para quem o tempo de carregamento não é um problema.
Fica agora a pergunta: para quem é este Polestar 4? É para quem quer ser diferente, para quem quer um elétrico suave, confortável e, acima de tudo, um elétrico seguro. Quanto a mim, posso dizer que este “eu” levaria para casa, pois achei um carro divinal. Por último, informo que os preços começam nos 66.000€. Há quem ache caro, há quem ache em conta. Para mim, os 66.000€ já valem só pela qualidade de construção do carro. Mais uma vez, a Polestar a fazer um excelente produto!