Com uns acabamentos e um conforto acima da média para um veículo do mesmo grupo, o BYD Seal U peca num ponto fulcral: o software.
Fundada em 1995 na cidade chinesa de Xi’an, a BYD tem vindo a dar cada vez mais cartas no setor automóvel. Anos depois, em 2022, esta marca automóvel chinesa ultrapassou a Tesla como “maior fabricante de veículos eletrificados do mundo”, tendo desde logo sido considerada por muitos como a “Tesla Killer”.
Após chegar a alguns países da Europa nesse mesmo ano, a BYD apresentou-se em Portugal em maio de 2023, pela mão da Salvador Caetano, mais propriamente a Caetano Tec, fazendo assim entrar no nosso país os modelos Atto 3, Han e Tang.
Já no ano passado, a BYD decidiu lançar um novo modelo em território nacional, inserido no mercado dos SUV: o BYD Seal U.
Este modelo Seal U é nada mais, nada menos, do que o modelo Seal “em esteroides”, chegando com a ambição de concorrer com alguns modelos já existentes, tais como o Tesla Model Y, o MG Marvel R e o o Toyota Bz4x.
Mas será este BYD Seal U um adversário à altura para estes modelos? Foi isso que quis tentar descobrir durante uns dias a bordo deste SUV da BYD, aqui na sua versão Design, com uma bateria de 87kWh e com uma autonomia anunciada para 500km.
Não foi preciso pensar muito para perceber que este modelo foi claramente inspirado no modelo Seal, tendo em conta as suas linhas arquitetónicas bastante suaves e ligeiramente arredondadas. A diferença da arquitetura do Seal para o Seal U reside apenas na transformação desde modelo base num outro com espírito SUV bastante elegante, chegando ao ponto de nos fazer lembrar alguns SUV comercializados por algumas marcas alemãs.
É também de notar o cuidado que a BYD teve nos detalhes e acabamentos exteriores deste modelo, colocando-o facilmente ao nível de diversas marcas premium presentes no nosso mercado.
Quanto a dimensões, o BYD Seal U é um modelo bem generoso, contando com cerca de 4,78 metros de comprimento, cerca de 2,85 metros de largura e 1,69 metros de altura, o que confere uma habitabilidade bastante confortável.
A cor desta unidade do BYD Seal U testada é a Tian Qing que, a meu ver, não será talvez a opção mais consensual entre os atuais e futuros compradores deste modelo. Ainda assim, a marca pensou nisso e disponibilizou este modelo noutras cinco cores, tais como o Delan Black, o Time Grey, o Snow White, o Emperor Red e o Boundless Cloud.
Estou prestes a entrar no BYD Seal U e logo me deparo com uma situação bastante curiosa: O veículo pode ser trancado e destrancado sem ser preciso mexer na chave, contudo, é sempre necessário carregar num botão presente no puxador de porta do condutor, algo que em tempos já fora bastante comum, mas que atualmente caiu um pouco em desuso.
Ao abrir a porta, vi algo que me agradou imenso: o banco do condutor a recuar um pouco para facilitar a entrada no veículo. Esta é uma das características que, em tempos, apenas se via implementada em carros premium de alta gama, mas que, atualmente, começa a estar presente em alguns modelos premium de algumas marcas mais mainstream e, consequentemente, ao alcance da carteira de mais pessoas.
Depois de me sentar no BYD Seal U, fechar a porta do condutor e o banco recuar à posição condução previamente guardada, fui presenteado com a apresentação elaborada pela BYD, que cobriu tanto o cluster – que se encontra por detrás do volante -, como o grande ecrã rotativo de 15,6 polegadas colocado no centro do tablier. Para além deste grande tablet, a BYD não se esqueceu da utilidade que têm alguns botões físicos para controlo de funções de climatização, travão de mão, transmissão e níveis de regeneração. Por isso, estes foram dispostos no painel de bordo da viatura em redor do bonito seletor de mudanças em formato de diamante.
Outro fator positivo é a presença de dois locais de carregamento de indução de 15W para dois smartphones, o que permite que um passageiro coloque também o seu equipamento a carregar em simultâneo com o smartphone do condutor sem que se tenha de fazer o uso de cabos USB-C para o efeito.
Por falar em USB-C, tive de procurar um pouco por estas portas, bem como pela comum tomada de 12v no cockpit. Depois de alguns minutos à procura, lá descobri que a BYD escondeu estas portas por debaixo do local de carga de indução no tablier. Tendo em conta a acessibilidade do local escolhido, este é, para mim, um dos pontos negativos que tenho a apontar sobre o interior da viatura.
Em termos de materiais e acabamentos interiores, o BYD Seal U é um dos melhores modelos nos quais já entrei, tendo em conta os veículos testados anteriormente. A suavidade empregue em componentes como o tablier, estofos e forras de porta, com a presença bastante acentuada de pele vegan, eleva a fasquia deste modelo para o nível de um veículo premium europeu, mais propriamente alemão, fazendo-me esquecer, por momentos, que estamos a bordo de um veículo desenhado e produzido na China.
Por momentos? Sim, pois existem vários outros elementos que me fizeram lembrar que estamos mesmo a bordo de um veículo asiático, especialmente pela disposição pouco intuitiva dos botões, funcionalidades disponíveis no volante e, claro, pelo software desenvolvido pela BYD para integrar o sistema de Info-entretenimento.
Começando pelos botões no volante, a falta de espaçamento torna a ativação de funcionalidades pouco intuitiva, isto se o objetivo for não tirar os olhos da estrada enquanto tentamos mudar a estação de rádio, ou até consultar a média kWh/100km. Quanto ao Adaptative Cruise Control, senti também alguma dificuldade de adaptação aos seus botões de pequenas dimensões e algo aglomerados. Depois de uns 150 km, lá me habituei um pouco mais a manipular todas estas funcionalidades sem ter de parar o carro para observar e memorizar o local das funcionalidades que pretendia ativar durante a condução.
No que ao sistema de info-entretenimento diz respeito, senti que a BYD ainda tem um longo caminho a percorrer, isto caso pretenda continuar a apostar num sistema proprietário em vez de adotar o cada vez mais popular sistema operativo Google para automóveis. Por outras palavras, é possível perceber que o sistema operativo inserido neste modelo da BYD está longe da perfeição, dando por vezes a sensação de estarmos perante um smartphone Android sem aplicações Google. Tudo se complica um pouco quando necessitamos de alterar algumas definições do sistema de climatização, onde por vezes é necessário retirar parcialmente o foco da estrada para que consigamos alterar a velocidade de ventilação, ou até ligar ou desligar o aquecimento ou ventilação dos bancos.
A tradução do sistema operativo BYD para Português de Portugal requer também alguma atenção por parte da marca, pois existem alguns termos nas definições e funções algo desajustadas da sua real finalidade. Temos como exemplo disto as definições de “Transmissão inteligente”, que gerem as preferências de Notificações do veículo, e as “Travas”, que gerem as definições de trancar/destrancar do veículo.
Quanto à loja de aplicações, apenas encontrei quatro aplicações disponíveis para instalar: o Manual (totalmente em Inglês), o Stingray Karaoke, o Browser (de Internet) e a Amazon Music. É aqui que senti bastante a falta de algumas aplicações cruciais, tais como a Netflix, para aqueles momentos em que estamos 15 minutos dentro do veículo à espera que carregue 30%, ou até do Waze, como alternativa à solução oferecida por este sistema.
Um ponto claramente positivo encontrado neste sistema de info-entretenimento foi a presença do CarPlay e Android Auto, que acaba por conferir ao BYD Seal U todas aquelas aplicações de navegação e música que não são oferecidas nativamente pelo software nativo do carro.
Por último, pretendia também efetuar uma análise à BYD App, de forma a explicar melhor neste ensaio o quanto esta aplicação poderia alterar a experiência com o BYD Seal U. Depois de algum tempo a navegar por alguns menus do Info-entretenimento do Seal U à procura de um QR Code, lá encontrei uma breve referência à app no manual em inglês. Concluí então que, para usar a aplicação, é necessário que o concessionário BYD associe o nosso e-mail ao veículo, coisa que não foi possível efetuar durante este ensaio, caindo por terra a minha esperança de vos falar um pouco sobre esta app.
Em suma, senti que a BYD tem uma enorme margem para evoluir no sistema de info-entretenimento e oferecer aos seus atuais e futuros clientes diversas funcionalidades atualmente presentes noutras marcas automóveis.
Chegou então a altura para me colocar na estrada e percorrer alguns km com o BYD Seal U. O primeiro trajeto foi de cerca de 150km em autoestrada, de forma a entender melhor um dos pontos mais fortes deste modelo: a sua bateria de 87kWh. Percorrido este primeiro percurso, a uma média de 120km/h, iniciei viagem com 100% de bateria e 500km de autonomia, e cheguei ao destino com cerca de 53% e 270km de autonomia. Quanto ao consumo registado em autoestrada, bateu certo com o indicado pela marca para circuito extraurbano: 20.5kWh/100km.
Depois de beber um café, lá prossegui para o meu segundo percurso de cerca de 60km, desta vez em circuito extraurbano, a velocidades médias que rondaram os 80km/h. Desta vez, registei no BYD Seal U médias na ordem dos mesmos 20kWh/100km. É um consumo algo alto, mas totalmente ajustado, tanto às dimensões do veículo, como à grande bateria que carrega de 87Kwh. À chegada, apenas foram consumidos cerca de 60km de autonomia, pelo que fiquei ainda com mais 430km.
Para circuitos urbanos, registei uns modestos 16.1kWh/100km para um veículo destas dimensões, o que acaba também por demonstrar todas as potencialidades e resistência da BYD Blade Batery.
Voltei depois a fazer outro percurso, de cerca de 150 km, rumo novamente a Lisboa, fazendo uso de autoestrada e circuitos extraurbanos. Desta vez, consegui registar valores de 19.6kWh/100km de média combinada e uma autonomia restante de 280Km.
Apesar de não ter conseguido levar a bateria abaixo dos 200km de autonomia, não podia terminar esta experiência sem me deslocar a um posto de carregamento rápido de 150kWh e experimentar o carregamento rápido de até 140kWh.
Comecei o carregamento com cerca de 250km/50% de autonomia e consegui atingir os 400Km/80% de autonomia em apenas 17 minutos. Sim, 17 minutos, tempo este que mal deu para iniciar o carregamento, deslocar-me até à área de serviço, beber um café, WC e voltar ao BYD Seal U. Em suma, a tecnologia BYD Blade Batery, que equipa os veículos BYD, será, certamente, uma tecnologia de futuro e que ainda dará muito que falar no mundo dos veículos elétricos.
No final da experiência, posso claramente afirmar que estamos perante um SUV de médias dimensões com uns acabamentos e um conforto acima da média para um veículo do mesmo grupo.
Quanto ao sistema de info-entretenimento, apesar das incríveis capacidades de hardware que tem, o software necessita de uma atenção extra por parte da marca de forma a trazer para novas aplicações e funcionalidades, melhorias estas que poderão ser efetuadas via atualização de software. Ainda assim, o CarPlay atendeu a todas as minhas necessidades e facilitou-me muito a vida em termos de acesso às chamadas telefónicas, mapas e entretenimento a bordo.
Por último, fiquei bastante surpreendido com a autonomia e rapidez de carregamento oferecida pela BYD Blade Batery e os seus 500km reais de autonomia, quer esses km tenham sido feitos em autoestrada, quer tenham sido feitos em circuito urbano ou extraurbano. Juntando esta grande autonomia à velocidade de carregamento de 140kWh, irá acabar por conceder uma confiança extra ao condutor deste veículo para percorrer medias longas distâncias sem que esteja a pensar constantemente no próximo sítio onde o irá carregar.
O BYD Seal U poderá ser adquirido num concessionário BYD por valores a partir dos 43.795,20€, na sua versão Confort, e 47.295,30€ na versão Design, testada neste ensaio.