O Dolby Vision 2 chega com a promessa de melhorar a experiência visual dos utilizadores mas não é do agrado dos entusiastas.
Dez anos depois da estreia do Dolby Vision, a empresa norte-americana revelou o Dolby Vision 2, com promessas de oferecer uma experiência HDR ainda mais otimizada aos utilizadores e consumidores de dispositivos e conteúdos disponíveis, introduzido novas técnicas de suavidade de movimento de imagem e, como sem grandes surpresas, inteligência artificial.
No centro das novidades está o Content Intelligence, um sistema que analisa em tempo real tanto o conteúdo em reprodução como o ambiente de visualização em redor e as capacidades do ecrã. A ideia por adaptar dinamicamente a imagem de forma mais precisa do que o tradicional mapeamento de tons. Entre as ferramentas introduzidas estão o Precision Black, concebido para preservar detalhe em cenas escuras, e o Light Sense, que ajusta a imagem consoante a iluminação da divisão onde se encontra ecrã. Há ainda um mapeamento de tons bidirecional, pensado para equilibrar brilho, contraste e saturação entre o conteúdo e o televisor.
Uma das mudanças mais sensíveis é o Authentic Motion, que pretende corrigir trepidações e desfocagens sem alterar a cadência natural das imagens. A Dolby garante que este sistema evita o efeito “novela”, alvo de críticas de realizadores e espectadores. No entanto, muitos entusiastas veem nesta aposta um desvio daquilo que deveria ser a essência do formato. Nas redes sociais, como no Reddit, são vários os comentários de entusiastas que não apreciam esta novidade, como apontou um utilizador, “o Dolby Vision devia manter-se como um formato HDR e não mexer no movimento das imagens. Os filmes devem ser reproduzidos na taxa de frames para a qual foram pensados.”
Outros sublinham que a promessa de maior fidelidade artística pode ser contraditória. “Não é esse o objetivo do Dolby Vision, permitir que quem faz o filme ajuste a imagem para corresponder à sua visão original? Se os criadores quisessem outra taxa de frames, tinham filmado como em The Hobbit ou Gemini Man,” escreveu outro utilizador, refletindo um sentimento recorrente.
A empresa dividiu também o Dolby Vision 2 em certificações diferentes. O Dolby Vision 2 Max destina-se a televisores e equipamentos de gamas elevadas, enquanto que a versão base deverá chegar a modelos mais acessíveis garantido parte das melhorias incluídas. O objetivo, segundo a marca, é clarificar a experiência oferecida em cada produto, mas que na realidade se traduz na confusão do utilizador obrigando-o a investigar o que as separa.
A Hisense já foi confirmada como a primeira marca a integrar o padrão em televisores com processadores MediaTek Pentonic 800. Já o CANAL+ assegurou suporte nos seus conteúdos de cinema e desporto em direto. A Dolby espera uma adoção rápida, uma vez que centenas de televisores já compatíveis com a versão anterior, de marcas como LG, Sony, TCL e Vizio, poderão receber atualizações ou suporte futuro.
Apesar disso, a perceção de alguns consumidores é que o Dolby Vision evoluiu mais como selo de qualidade do que como avanço técnico real. Na mesma discussão, vários comentários referem que, em televisores de gama média ou superior, as diferenças face ao HDR standard são quase impercetíveis. “Grande parte do sucesso do Dolby Vision deve-se ao efeito placebo da marca. Sempre que o logótipo aparece, há a sensação de que se está a ver a melhor versão possível, mesmo que as melhorias sejam residuais,” escreveu um dos utilizadores mais críticos. A integração da inteligência artificial também não escapa ao ceticismo. “Não pedimos que se enfiasse IA em tudo, ainda por cima em algo que não funciona como deveria. Isto é apenas mais processamento que acaba por piorar a experiência,” resumiu outro comentário, refletindo a frustração com esta tendência da indústria.
Para o público casual, o Dolby Vision 2 poderá significar imagens mais consistentes entre dispositivos e melhor gestão de luminosidade e movimento. Já para os criadores, a promessa é maior fidelidade à visão original. Mas, perante a receção dividida, a tecnologia arrisca enfrentar resistência junto de quem prefere uma experiência mais simples e livre de processamento adicional.