Com mais de 800.000 clientes no total, a Digi avança no mercado português, enquanto espera aproximar-se do breakeven no próximo ano.
A DIGI Portugal encerrou o terceiro trimestre de 2025 a consolidar a sua presença no mercado nacional, somando 813.000 serviços ativos e mantendo a linha de crescimento que tem marcado o primeiro ano de operação.
No final de setembro, a empresa contabilizava 443.000 clientes móveis em Portugal, mais 23.000 do que três meses antes, o que corresponde a um aumento de 5,48% em termos trimestrais. Na internet fixa, o número de clientes chegou aos 150.000, um crescimento de 4,17% em relação ao segundo trimestre, com mais 6.000 adesões líquidas. Uma parte destas ligações vem da Nowo, que a Digi comprou e que lhe trouxe, logo à partida, cerca de 270.000 clientes móveis e 130.000 fixos.
O segmento fixo, visto no seu conjunto, somava no fim de setembro cerca de 370.000 clientes. Dentro desse universo, 150.000 tinham serviço de internet, 128.000 televisão e 92.000 mantinham telefone fixo. Este último serviço, cada vez menos valorizado pelos consumidores, encolheu mais de 6% apenas no terceiro trimestre.
Estes resultados reforçam o ritmo de expansão da operadora, que continua a investir na melhoria da rede móvel e na expansão da cobertura de fibra óptica para chegar a mais utilizadores.
Em Portugal, o primeiro ano da marca ficou assinalado pela abertura das primeiras lojas físicas, inicialmente na Amadora e posteriormente no Porto, totalizando já mais de 50 pontos de venda distribuídos por todo o país. Paralelamente, a cobertura móvel avançou com a instalação de antenas em 14 estações do Metro do Porto, prevendo-se que o projeto esteja concluído até ao final de 2025. A operadora mantém como prioridade o reforço da sua presença nacional, procurando adequar os serviços às necessidades e hábitos de consumo da população.
DIGI em Portugal: o panorama um ano depois
Um ano depois de se estrear comercialmente em Portugal, a Digi soma clientes a bom ritmo, mas ainda não consegue transformar esse crescimento em contas equilibradas, o que é perfeitamente compreesível. A operadora romena continua a vender serviços a preços agressivos, abaixo dos praticados pelas rivais – incluindo marcas low-cost –, mas por agora o efeito mais visível está do lado dos custos, que seguem bem acima daquilo que entra em caixa.
Nos primeiros nove meses do ano, a operação portuguesa gerou receitas de 52,5 milhões de euros, mas suportou despesas operacionais de 88,2 milhões. Em termos simples, os custos estão cerca de 68% acima das receitas. Entre julho e setembro, a faturação foi de 17,6 milhões de euros, um ligeiro aumento de 1,73% face ao trimestre anterior, mas ainda abaixo dos 17,7 milhões registados no início do ano. Do lado dos gastos, houve algum alívio: as despesas trimestrais recuaram para 29,4 milhões, menos 9,26% que no trimestre anterior, mas continuam significativamente superiores ao que o negócio consegue gerar.
O resultado operacional espelha esse desequilíbrio. A Digi aponta para um EBITDA negativo de 110 milhões de euros em Portugal nos primeiros nove meses, sinal de que, mesmo antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, a operação continua mergulhada em prejuízos. A pressão vem também do valor médio que cada cliente deixa na empresa: a receita média mensal caiu para 6,9€, abaixo dos 7,1€ do segundo trimestre e dos 7,7€ do primeiro. Na prática, cada cliente rende menos de 7€ por mês, num contexto em que a operadora se posiciona deliberadamente na fasquia mais baixa do mercado.
Num encontro com jornalistas e analistas realizado por videoconferência, Serghei Bulgac, CEO da Digi Communications – o grupo que controla a operação portuguesa –, sintetizou a perceção sobre o mercado português com um “sentimento misto”. O gestor diz que ainda é cedo para fazer um balanço definitivo sobre a aposta em Portugal, sublinhando que a prioridade tem sido construir infraestrutura e alargar a cobertura móvel e fixa.
Do ponto de vista industrial, a Digi dá por praticamente montada a espinha dorsal da sua presença em Portugal. A rede móvel assenta já em cerca de 4.500 torres de telecomunicações e a rede fixa chega a 1,1 milhões de casas. Bulgac classificou este avanço como uma “grande conquista industrial”, tendo em conta o curto período de operação comercial. Em paralelo, decorre a integração da Nowo: dois terços dos clientes móveis dessa antiga marca já foram migrados para a Digi, enquanto no serviço fixo a transição avança mais devagar, sem calendário definido para o desaparecimento total da Nowo.
O esforço de investimento também explica o peso dos custos. Depois de ter desembolsado mais de 67 milhões de euros em licenças no leilão de 5G concluído em 2021 e de ter avançado para a compra da Nowo por 150 milhões de euros, a Digi soma agora cerca de 120 milhões de euros de capex no mercado português. Segundo o CEO, esta fase mais intensa de investimento já ficou para trás. A empresa continuará a reforçar e atualizar as redes, mas numa cadência mais estável, depois de ultrapassado o “pico” inicial.
