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O trabalho mais recente de Tony McNamara tornou-se, com a temporada de estreia, numa referência dentro do humor negro em contexto histórico/clássico. A segunda veio refinar o impacto que esta série pode ter a longo prazo.

A introdução e contexto histórico a The Great já o havia feito com a crítica da primeira temporada, resta confirmar que a minha suspeita face ao potencial da série se verificou com o desenvolvimento da narrativa ao longo desta segunda temporada.

Fazendo um apanhado rápido, o plano de Katherine (Elle Fanning) para tirar o seu marido Peter (Nicolas Hoult) do poder desenrolou-se como previsto e, após ser coroada como Imperatriz da Rússia, deu início ao seu outro plano. Falo, pois, sobre a aculturação da nação, na tentativa de a tornar mais progressiva, tolerante e justa (mantendo fidelidade com a história que foi escrita séculos atrás).

O problema com o plano da nova (e jovem) imperatriz é que, mesmo com uma equipa equilibrada de confidentes e conselheiros, as coisas não são tão simples como parecem. E é sobre este ponto que a segunda temporada se apoia – no desenvolvimento de Katherine no poder de um povo idealista e bárbaro -, apesar dos seus esforços diplomáticos dotados de bom senso, na tentativa de equilibrar o ritmo do progresso tecnológico e social, com a aprovação da corte e apreço do povo.

Já Peter dá início a um processo de auto-descoberta que o deixa no limite entre a procura por redenção para voltar a cair nas graças de Katherine e a tentativa de matar a imperatriz e recuperar o poder. A decisão de manter Peter como personagem central, conhecendo a história real e sabendo o ponto em que este ficou no final da temporada anterior, era arriscada, podendo prejudicar a fluidez e naturalidade narrativa. Contudo, essa decisão funcionou lindamente, pela forma como adaptaram o desenvolvimento da personagem ao enredo e conexão do mesmo ao desenvolvimento de personagem de Katherine. Uma coisa é certa, Peter ainda tem muito para dar à série, ainda que isso a faça fugir um pouco da história real.

The Great temporada 2

Nesta temporada considero que não tenha havido tanto conflito externo, coisa que, se me dissessem antes de ver os novos episódios, me deixaria reticente. A verdade é que o conflito interno e a disfuncionalidade patente na corte fez esquecer tudo isso. Até acabou por ser mais excitante e estimulante assistir à turbulência nas fundações do império Russo, para ser sincero. Isto deveu-se a uma série de dinâmicas introduzidas nesta temporada, tais como o processo de gravidez de Katherine, a introdução da sua mãe (protagonizada por Gillian Anderson) e a introdução da realeza sueca que pode vir a ter um papel destabilizador fundamental na 3ª temporada.

Os atores secundários também receberam mais atenção na hora de os decompor emocionalmente e explorar o que está por detrás das suas personalidades. Podem esperar ver mais de Phoebe Fox (no papel de Marial) e Gwilym Lee (como Grigor), bem como a dinâmica que ambos criam na história. Belinda Bromilow, Sasha Dhawan e Douglas Hodge também mostram mais de si, provando-se uma vez mais personagens essenciais para a complexidade do enredo.

De resto, The Great continua a ser uma produção de humor negro fantástica, com muita atenção para com o detalhe. Detalhe relacionado com a caracterização de personagens e espaços, detalhe de enquandramentos, fotografia e tratamento de imagem, mas sobretudo detalhe relacionado com a escrita da série e diálogos. Tudo encaixa com primazia e naturalidade, completamente alheio a clichés, fazendo de The Great uma produção de qualidade exímia que volta a pautar o ano em que é lançada como uma das melhores séries em desenvolvimento (e uma das mais divertidas também).

HUZZAH!

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