Antes do início do filme, a expetativa deste que vos escreve era baixa. Não que achasse que iria ver uma má película. Apenas julgava ser mais uma OVA (Original Video Animation) numa já muito extensa lista de títulos destes, agregados à saga Dragon Ball.
E sabem que mais? Não, não é um filme perfeito. Mas sim, Dragon Ball Super: Broly não só é, discutivelmente, o melhor filme desta saga, como será provavelmente o melhor resumo da essência de Dragon Ball.
A estrutura narrativa de um OVA tradicional não se preocupa muito com as origens dos vilões que estabelece. No fundo, sendo eles filler, não necessitam de mais do que uma motivação inicial muito superficial, pois servem apenas para demonstrar as personagens principais em ação.
Dragon Ball Super: Broly, no entanto, encara a estrutura narrativa tendo em conta a linguagem cinematográfica. Ou seja, a história de Broly não só justifica a sua personalidade bondosa e o seu poder latente, como ainda nos traz imenso contexto, não só sobre a sua raça (Saiyajin), como também sobre as personagens principais (Goku e Vegeta) que interagem com ele e sobre Freeza, que servirá como a principal alavanca.
Aliás, Freeza, surpreendentemente, é a estrela do filme. Não sendo de todo a personagem principal, é a sua existência e ações durante os 40 anos que compõem o filme que tornam possível o desenrolar de acontecimentos. Para além disso, dá-nos a possibilidade de ver esta personagem mais desenvolvida, com mais traços de personalidade para além do que já conhecíamos.
E, no final do dia, apesar de estarmos a falar dum déspota alienígena extremamente racista, acabamos por nos rir e conectar com ele, não pelo ridículo, mas porque se comete a proeza de o tornar uma personagem mais rica e humana.
Atenção, Dragon Ball Super: Broly não é um drama, nem nunca tenta ser. Aliás, o segredo deste filme é justamente nunca se levar demasiado a sério. São inúmeras as vezes onde as gargalhadas se tornam garantidas. Principalmente se forem fãs de Dragon Ball.
A pergunta de um milhão de dólares, no entanto, não é a qualidade da narrativa ou dos diálogos. É a qualidade do combate. E boas notícias: não vão ficar desapontados. É provavelmente a melhor coreografia de combate em Dragon Ball desde há muitos, muitos anos.
As comics norte-americanas têm, por hábito, ter vários artistas diferentes a construir a sua visão duma personagem icónica, ao longo do tempo. E neste filme vemos esta lógica aplicada, com Goku e companhia repletos de vida extra. Seja pelos pequenos detalhes, como o movimento diferenciado das caudas dos Saiyajin, para simbolizar estados de humor, a dilatação das pupilas das personagens, as diferentes cores e formas aplicadas a cada movimento – o cômputo geral é um regalo visual muito forte que faz juz à herança pesada de Dragon Ball, atualizando-a para uma nova era sem nunca perder a personalidade.
Contudo, o filme não é perfeito. Alguns fãs poderão reclamar a ausência de personagens como Gohan ou Kuririn, bem como a pouca influência de Piccolo. A presença de Paragon, pai de Broly, serve apenas como plot device para tornar real a vingança contra a família de Vegeta, ficando ao abandono (literalmente!) na segunda metade do filme.
Mas se são fãs de Dragon Ball, este filme é simplesmente obrigatório. Se preferem as aventuras mais descontraídas de Goku em criança, os momentos de humor no filme são perfeitos para vocês. Amantes dos combates épicos de Z? O combate entre Goku, Vegeta e Broly está ao nível das melhores lutas da série.. Apreciadores de anime no geral? O estilo diferente de animação para personagens tão icónicas vale o bilhete em si.
Dragon Ball Super: Broly não se compara aos clássicos do mestre Hayao Miyazaki ou outros portentos da ficção-científica como Akira ou Ghost in the Shell. Não terá o mesmo apelo da crítica especializada, como Your Name ou The Boy and the Beast. Mas será, talvez, o equivalente a um excelente blockbuster nipónico e, portanto, vale a pena ir ver Dragon Ball Super: Broly.
Dragon Ball Super: Broly já está em exibição nos cinemas nacionais.
Nota:
Texto: Carlos Duarte