Concord não é um mau jogo, mas infelizmente é mais desinteressante do que merece, com as fundações de um free-to-play básico (apesar de ter um custo) e com poucos incentivos para nos manter investidos.
Concord é o tipo de jogo que tenho receio de analisar. Não por não gostar de jogos competitivos e multijogador para passar tempo com amigos, mas porque não os vivo com a mesma intensidade que aventuras a solo e porque me sinto limitado em explorar estes jogos que dependem da atividade de outros jogadores e da minhas habilidades e motivações.
Concord é a mais recente aposta da PlayStation, daquelas que não surge com tanta frequência no seu catálogo de exclusivos. É verdade que este ano já tivemos o jogo de sucesso Helldivers 2, mas Concord é mais importante, pois é um dos primeiros jogos multijogador desenvolvidos por um estúdio “First Party” nesta geração. Aquilo que consideramos um “verdadeiro exclusivo”.
O ADN dessa qualidade está lá. Concord prima pela sua apresentação visual e técnica e jorra identidade e carinho, apesar de ser fácil compararmos a sua premissa e elenco de personagens à incrivelmente popular propriedade da Marvel, Guardians of the Galaxy. As vinhetas de personagens a bordo da Northstar são visualmente apelativas, extremamente bem realizadas e com um detalhe fenomenal suportado pelo Unreal Engine 5, que permitem uma apresentação verdadeiramente cinemática e realista.
No entanto, estas parcelas de jogo são pequenas e, apesar de as personagens mostrarem a sua personalidade única e de revelarem as suas dinâmicas, não há propriamente uma boa noção do porquê de estarem ali, ou qual a sua verdadeira missão.
São… freeguners, mercenários e caçadores de prémios em busca de algo. O jogo tem dificuldade em ser claro na sua premissa narrativa e opta por decisões de storytelling pouco emocionantes, como um mapa galáctico dedicado a “lore”, onde encontramos cartões de texto sobre planetas, estações e fações, e através da atribuição de novas vinhetas narrativas, lançadas semanalmente como uma série – um aspeto que torna Concord, um jogo já difícil de se vender, em algo ainda menos motivante, pois pede aos jogadores uma disponibilidade acrescida e temporal para o experienciar na sua totalidade.
O aspeto narrativo pode, no entanto, ser descartado, o que é pena porque o potencial e as bases para um jogo de aventura estão lá. Mas a equipa da Firewalk Studios, que alegadamente trabalhou neste projeto durante oito anos, focou-se num jogo multijogador, do género de Shooter de Heróis, próximo de um Overwatch.
Assim, os jogadores escolhem o seu herói e participam em combates de 5 contra 5 jogadores ao longo de três dos seis modos de jogo. É simples e direto ao assunto, sendo esse tipo de jogo cerca de 90% da experiência que oferece. Se esperam encontrar conteúdos para jogar de forma mais relaxada a solo, esqueçam. Concord conta, de facto, com algum conteúdo a solo, nomeadamente um tutorial, um campo de tiro e um conjunto de Trials de tempo que são fantásticos para aprender a controlar os nossos heróis, que estão todos desbloqueados de início. Mas estes conteúdos não fazem parte da experiência principal.
Nestes mini-modos a solo, é também possível ter uma noção do ritmo e velocidade de jogo, que muda drasticamente dependendo da personagem que escolhemos. O elenco é grande, diverso e não se reflete só no aspeto visual de cada personagem, com armas distintas, com cadências de ataque e de defesa também distintas e cada uma com as suas habilidades especiais. É, de facto, divertido conhecer cada personagem e habituarmo-nos à nossa favorita.
O que não é tão interessante é algo transversal a todas, a velocidade de movimento. Mover as personagens é estranho, uma vez que estão ali num meio termo entre “correr devagar” e “andar depressa”. Durante as minhas sessões, a necessidade de uma mobilidade mais flexível fazia-se sentir e contrastava com a experiência de jogo associada a cada personagem.
Já em ambiente online, fosse qual fosse o modo, senti um enorme desequilíbrio entre personagens, devido às suas habilidades distintas. É uma pena, pois aquelas que melhor controlava e que mais gostava, as mais rápidas, eram, normalmente, aquelas em que me sentia em desvantagem e com as quais perdia com regularidade, ao passo que as maiores, os “tanques de defesa”, eram mais lentas, menos divertidas, mas por norma onde sentia uma maior vantagem. E é estranho falar aqui em vantagens quando a experiência de jogo deveria ser o mais equilibrada possível.
Os modos de jogo são divertidos o quanto basta para jogar em sessões com amigos, onde é fácil definir estratégias e explorar os seus 12 mapas em conjunto. Já a “solo” é fácil cair no campo do lobo solitário, ou encontrar outros jogadores desta natureza, algo que se torna frustrante quando nós, ou os outros, se tornam a ovelha negra da equipa, ou quando alguém decide abandonar a partida, tornando-a mais difícil.
As partidas também se fazem sentir longas, o que torna a experiência um bocado aborrecida, mas o pior que encontrei no jogo foi mesmo a falta de motivação para o jogar. Concord promete “centenas de prémios e de recompensas”, mas uma viagem pela lista que objetivos, ou Jobs, dá para perceber que tudo o que recebemos são pontos para gastar em aparências de personagem, que não são nada mais, nada menos, do que as personagens que já temos, com os mesmos designs… mas com cores diferentes. Há também “charmes” e variantes de personagens com habilidades aumentadas, mas nada de verdadeiramente apelativo para nos lançarmos ao grind.
Concord não é, porém, um mau jogo. Mas é provavelmente mais desinteressante do que merece. Existe toda uma apresentação bem cuidada, o desempenho do jogo é impecável e há um mundo, universo até, à espera de ser explorado, mas as decisões criativas na construção deste Shooter de Heróis deixa muito a desejar para um jogo que, apesar de barato (39,99€ na sua versão base), não deixa de ser pago e ainda requer, na PlayStation 5, uma subscrição do PlayStation Plus. Quando tem na verdade tudo o que oferece é do mais básico do que encontramos em dezenas de Free-to-Play modernos.
Concord está disponível na PlayStation 5 e no PC.
Cópia para análise cedida pela PlayStation Portugal.