Um mundo de sabores e arte num só lugar.
O Cícero é um restaurante, mas é também uma galeria de arte. Em palavras próprias, um “bistrot-galeria, no qual a arte dialoga com a alta gastronomia”. É também uma homenagem, que começa pelo nome, dedicada a Cícero Dias, pintor modernista brasileiro que se baseou em Paris mas teve também passagem significativa por Lisboa, e que nasceu no nordeste, em Pernambuco, berço também dos responsáveis.
E neste espaço em Campo de Ourique existe um acervo significativo da obra do artista, bem como de outros, com destaque particular para as portas desenhadas pela vitralista Marianne Peretti, francesa que se radicou no Brasil e foi a única mulher que fez parte da equipa artística do projeto da construção da cidade de Brasília, a nova capital que se tornou nos anos 60 e se tornou símbolo sob o desenho geral de Óscar Niemeyer. Em baixo, uma sala para grupos com mesa única e alargada, com painel em madeira a representar o povo brasileiro ao lado.
Com este contexto há uma lógica evidente: ambição. Que passa pela decoração cuidada e com bons materiais, o exterior em verde seco com esplanada com decoração rive gauche, pelas fotos de grandes figuras luso-brasileiras que já passaram pelo local e que constam das paredes, e também para a ementa, cuja concretização está a cargo do chef Hugo Cortez Teixeira e que introduz técnicas francesas a ingredientes de Portugal e do Brasil. Ao nível da carta de vinhos, enxuta mas com boas referências das várias regiões portuguesas e que foi escolhida por essa figura que é Rodolfo Tristão. A clientela diz que, curiosamente, é em primeiro lugar no número americana e depois brasileira, e sobretudo ao jantar.
Só por isto há motivos suficientes para visitar o Cícero. Mas isto é isto e o resto que define o essencial na gastronomia é a comida, claro. E na hora de almoço de terça a sexta-feira existe o Menu Moqueca Executiva, que por 33€ com bebida (ou 28€ sem), e serve entrada, prato principal e sobremesa. Nas restantes horas há um menu à carta com pratos como o Carabineiro e Robalo do Mar, pescado no anzol, em molho de coco e azeite de dendê, arroz basmati, salpicado com salsa (44€), ou o Lombinho de Novilho maturado com pesto e presunto , mil folhas de batata e pancetta, saladinha de rúcula e ervas (38€).
Assim, e no domínio do repasto executivo, para entrada tivemos uma Tiborna de Bacalhau (bacalhau desfiado em cima de pão com cebola roxa, azeite e alho em cama de espinafres). Boa lasca, areia de azeitona preta a dar coerência e sofisticação ao conjunto. Depois, uma Moqueca Baiana de Robalo, servida com arroz basmati e farofinha na manteiga com lascas de coco. Caldo com grande profundidade de sabor nas suas camadas, um prato popular que dá margem a grandes notas de autor. O robalo generoso no uso e no sabor. Uma bela moqueca, a dar a perceber porque é que dá nome ao menu. E há uma variação em modo camarão, também interessante.
A acompanhar, no capítulo vinho, o da casa é o La Belle de Jour, vinho do Tejo e parceira/homenagem ao cantor e compositor brasileiro Alceu Valença, de lote bem guloso e equilibrado (com Touriga Nacional, Syrah, Castelão, e Alicante Bouschet). A acabar, uma sobremesa de Mousse de Chocolate, servida em meio coco e forte no sabor das lascas que a acompanham, e bem assim no nougat que lhe faz companhia à volta. A alternativa, o Carpaccio de Abacaxi, finíssima no corte e com pimenta rosa a dar o travo de corte suave.
Localizado na Rua Saraiva de Carvalho 171, o Cícero Bistrot espera por todos vós ao almoço de terça a sábado, e aos jantares também à segunda, exceto aos domingos, dia em que encerra. Para reservas, podem fazê-lo via TheFork ou ligando para o 966913699.