Loulé inaugura o primeiro Centro de Saúde Universitário do país, integrando cuidados primários, ensino médico e investigação clínica aplicada.
Foi inaugurado em Loulé aquele que é considerado o primeiro Centro de Saúde Universitário do país, marcando uma viragem significativa na organização dos cuidados de saúde primários em Portugal. A nova infraestrutura, localizada na região do Algarve, integra várias unidades de saúde e introduz, pela primeira vez neste contexto, uma dimensão formativa e científica.
O edifício alberga a Unidade de Saúde Familiar Lauroé, a Unidade de Cuidados na Comunidade Gentes de Loulé, a Unidade de Apoio à Gestão do ACES Central e a Direção dos Cuidados de Saúde Primários da Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve. No entanto, o elemento verdadeiramente diferenciador é a criação da Unidade Académica de Formação e Investigação em Cuidados de Saúde Primários, com espaços vocacionados para o ensino pré e pós-graduado e para a investigação clínica aplicada.
Na apresentação do projeto, Rubina Correia, diretora clínica dos cuidados de saúde primários do Algarve, sublinhou que o novo centro pretende conjugar a prática médica com a produção de conhecimento científico, num modelo em que o exercício clínico e a investigação se complementam. As instalações incluem salas de formação, gabinetes para consultas em ambiente de aprendizagem e infraestruturas de comunicação à distância, permitindo ligações com instituições de ensino nacionais e estrangeiras.
A gestão da componente académica e científica ficará a cargo do Algarve Biomedical Center (ABC), no âmbito de uma colaboração entre a Câmara Municipal de Loulé, a Universidade do Algarve e a ULS. Neste enquadramento, o município anunciou a criação de uma Bolsa de Investigação Clínica Aplicada – Saúde em Loulé Aqui e Agora – com um financiamento anual de 200.000€, dirigida aos médicos de medicina geral e familiar do Serviço Nacional de Saúde a exercer no concelho que queiram associar a prática assistencial à investigação.
O reitor da Universidade do Algarve, Paulo Águas, salientou a importância crescente da formação na área da saúde, indicando que a instituição já conta com 1800 estudantes e ambiciona atingir os 3000 nos próximos dez anos, em áreas que vão da medicina à enfermagem, fisioterapia, terapia da fala e nutrição. Já Paulo Castelo Branco, em representação da Faculdade de Medicina e do ABC, destacou as duas grandes vertentes do novo centro: a qualificação dos profissionais de saúde e a investigação, que considera essencial para melhorar a resposta clínica e salvar vidas.
Para Tiago Botelho, dirigente da ULS Algarve, este novo centro representa uma nova abordagem à articulação entre ensino, investigação e prestação de cuidados, permitindo também reforçar a cobertura assistencial no concelho. Nesse sentido, anunciou que a reorganização dos serviços permitirá, já em 2025, atribuir médico de família a mais cerca de 10.000 munícipes que atualmente não beneficiam desse acompanhamento.
A USF Lauroé, que já presta cuidados a 13.448 utentes, deverá alargar a sua capacidade para 15.250, com a integração de mais um médico e um enfermeiro. Esta unidade inclui extensões nas localidades da Cortelha e do Ameixial e conta com uma equipa de sete médicos, sete enfermeiros, seis assistentes técnicos e quatro médicos internos em formação. Os seus indicadores de desempenho colocam-na entre as melhores do país.
A UCC Gentes de Loulé, que atua em todas as freguesias do concelho, abrange 71.791 utentes e possui uma das maiores redes de cuidados domiciliários da região, com quatro equipas de cuidados continuados integrados que acompanham mais de uma centena de pessoas. Desenvolve ainda vários projetos comunitários nas áreas da preparação para o parto, intervenção precoce, saúde escolar e amamentação, com uma equipa multidisciplinar composta por 15 enfermeiros, dois assistentes técnicos, fisioterapeutas, terapeutas, nutricionistas, psicólogos e um médico.
O edifício acolhe também os serviços administrativos e logísticos do ACES Central e das respetivas unidades funcionais. Na cerimónia de abertura, o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, evocou o longo processo que conduziu à concretização do projecto, iniciado em 2010 com um protocolo entre o município e a então ARS Algarve. A dimensão universitária seria apenas integrada formalmente em 2020, na sequência de um concurso público de ideias para o projecto arquitetónico.
Vítor Aleixo destacou a ambição que sustenta esta iniciativa, que se insere numa estratégia mais ampla de promoção de um ecossistema de inovação e investigação biomédica em Loulé. Atualmente, já se encontra em funcionamento um Centro de Simulação Cirúrgica e o primeiro Laboratório de Genética Médica da região, com um papel fundamental no diagnóstico de diversas doenças, incluindo oncológicas.
A Câmara Municipal adquiriu ainda um equipamento de ressonância magnética, instalado provisoriamente junto ao pavilhão municipal, que será transferido para um novo edifício na Rua Humberto Pacheco, onde estarão também instaladas uma unidade PET-TAC e um Serviço de Procriação Medicamente Assistida – o segundo do país integrado no SNS, a par do existente no Hospital de São João, no Porto. Este serviço incluirá diagnóstico genético pré-implantatório.
O autarca sublinhou que este conjunto de investimentos visa não apenas melhorar o acesso a cuidados de saúde, como também diversificar a base económica do Algarve. “Não podemos continuar dependentes apenas do turismo e do imobiliário. O Algarve tem todas as condições para atrair jovens investigadores e profissionais de saúde qualificados”, afirmou.
Neste quadro, foi igualmente anunciada a futura construção do Edifício Mariano Gago, dedicado à investigação biomédica, num investimento estimado em 30 milhões de euros. Por outro lado, será adjudicada esta semana, em reunião camarária, a empreitada de reabilitação do antigo centro de saúde de Loulé, que alberga a USF Serra Mar.
A construção do novo Centro de Saúde Universitário implicou um investimento global de 7,3 milhões de euros, comparticipado em 65% pela autarquia e em 35% pelo Ministério da Saúde.