O Boox Air 4C é um dispositivo que combina estudo, trabalho e lazer num só, oferecendo a versatilidade de um tablet, mas com o conforto da tinta eletrónica.
Nos últimos anos, os ecrãs de tinta eletrónica evoluíram muito além da simples leitura de livros digitais. Hoje, já não servem apenas para substituir o papel, mas também para oferecer novas formas de estudar, trabalhar e organizar informação, sem a fadiga visual típica dos ecrãs tradicionais. A Boox, presente no mercado desde 2008, tem-se destacado nesta área, oferecendo soluções que permitem ler, escrever e utilizar aplicações num único aparelho, unindo assim a experiência de um e-paper com a versatilidade de um tablet.
Já tivemos o prazer de experimentar o Boox Palma 2, um dispositivo compacto que mostrou a qualidade da marca. Mas desta vez, iremos explorar um exemplar da série Note, o Boox Note Air 4C, dispositivo esse que nos fez questionar até que ponto pode um dispositivo ser multitarefas, mas sem perder aquele que é o seu foco principal: a leitura e a escrita sem distrações.
Recebemos na redação o equipamento, cuidadosamente embalado numa elegante caixa preta, com letras brilhantes “Note Series” numa das laterais. Ao abrir, encontramos o e-paper bem protegido, acompanhado de todos os acessórios essenciais para começar a utilizá-lo imediatamente, incluindo o cabo de carregamento USB-C, uma caneta e cinco recargas para a ponta da caneta, bem como o manual de instruções e uma capa magnética.
A caneta (que já está incluída) e que acompanha o Boox Air 4C é a Pen Plus, apresentada num acabamento em preto mate com uma leve textura rugosa e com uma tampa em borracha da mesma cor. A textura do conjunto transmite uma sensação bastante agradável ao toque e assegura uma boa aderência durante a utilização da caneta. Aliando isto ao facto de ser bastante leve, com apenas 15 g, o resultado é uma caneta extremamente confortável e ergonómica. Numa das extremidades da Pen Plus encontra-se a ponta de escrita, com um design que remete para as clássicas canetas de feltro. Já o corpo apresenta-se maioritariamente arredondado, exceto uma face lisa que, além de conferir um toque de originalidade, evita que a caneta role inadvertidamente para fora da mesa ou acabe no chão. Na extremidade oposta, o detalhe do logótipo Boox em cinzento claro acrescenta um toque de elegância ao acessório. O melhor de tudo? Esta caneta não precisa de ser carregada para funcionar – mais em baixo explico o porquê.
Para prolongar a utilização da caneta, o conjunto inclui as cinco recargas, pensadas para substituir facilmente a ponta sempre que o desgaste natural da escrita assim o exigir. As pontas têm 1,6 mm de espessura e uma textura suave, deslizando pelo ecrã de forma fluida e consistente, quase como se estivéssemos a escrever sobre papel de alta qualidade. Quem procura um pouco mais de atrito pode sentir falta dessa resistência, mas para quem prefere uma escrita leve e sem esforço, esta caneta garante uma experiência muito prazerosa.
Uma pequena desvantagem da Pen Plus é a ausência de uma borracha integrada na ponta da caneta. Apesar disso, existe um truque muito interessante: ao riscar diretamente sobre uma palavra ou frase, esta é automaticamente eliminada, o que acaba por compensar a falta da borracha física e até introduz uma forma diferente (e bastante prática) de gerir correções no ecrã.
Relativamente à capa magnética do Boox Note Air 4C, esta apresenta um exterior em poliuretano premium na cor cinza escuro e um interior em couro super-fibra macio na cor verde seco, com uma textura mais aveludada, o que garante proteção não apenas ao ecrã, mas a todo o dispositivo. No canto superior esquerdo da parte exterior, encontra-se discretamente o logótipo da Boox. Já na traseira, destaca-se uma pequena aba multifuncional: além de manter a capa bem fechada, evitando aberturas acidentais que poderiam causar riscos durante o uso diário, serve também para segurar a Pen Plus no seu devido lugar, assegurando que está sempre à mão quando é necessária. Apesar de apreciar a forma prática como a Pen Plus pode ser arrumada no lado direito da capa, o magnetismo dedicado à caneta não transmite grande confiança, sobretudo quando comparado com a fixação da capa ao e-paper, que é verdadeiramente sólida. Em casa, essa limitação passa quase despercebida, mas no exterior acabo por ter mais cuidado, sempre com algum receio de que a caneta se possa soltar e perder-se. Esta capa também tem a funcionalidade de Auto sleep/wake, ou seja, ao fechar a capa o Note Air 4C entra automaticamente em modo de suspensão, poupando bateria enquanto protege o ecrã; e, ao abri-la, desperta de imediato, ficando instantaneamente pronto a ser usado.
Outra função que gostei foi o facto de conseguir colocar a capa em três modos diferentes de utilização, o que me trouxe mais versatilidade ao Note Air 4C, sobretudo em contexto de trabalho. No geral, e dependendo das diferentes situações, adapto as posições da capa de forma a conseguir ler de forma mais confortável, tomar notas numa posição mais estável e favorável à minha visão, sem requerer grande esforço da minha parte.
Passando ao dispositivo em si, o Note Air 4C apresenta um perfil fino de apenas 5,8 mm e um peso de 420 g, tornando-o confortável de segurar durante longos períodos de tempo, sem a capa. Em conjunto com a capa, que pesa 254 g, acaba por pesar no total 674 g, tornando o conjunto um pouco pesado. No entanto, e tendo em conta as suas dimensões de 227 x 196 x 2 mm, o Note Air 4C continua compacto e fácil de transportar em deslocações, viagens de trabalho ou até para as férias.
O Note Air 4C distingue-se na sua zona traseira pela faixa vermelha característica dos dispositivos da linha Note Series, um detalhe que remete para o estilo dos cadernos clássicos de outros tempos. Esse elemento ganha ainda mais destaque graças ao apontamento em letras vermelhas, onde se encontra o nome do dispositivo e a respetiva referência. Na parte superior encontra-se o botão de ligar/desligar, que integra também um sensor biométrico, acompanhado por um microfone. Do lado esquerdo estão posicionadas duas colunas de som, uma porta USB-C e a ranhura para cartão microSD. Já na parte frontal, além do ecrã, sobressai uma aba em cinzento-escuro que melhora a ergonomia e transmite a sensação de segurar um caderno físico. Isto para além de reforçar a ergonomia, também ajuda a evitar toques acidentais no ecrã durante o seu uso. No canto inferior esquerdo, surge ainda o logótipo da Boox, discretamente gravado.
Com o seu ecrã de 10,3 polegadas do tipo Kaleido 3 (o mais recente lançamento da E-Ink), o dispositivo é capaz de exibir até 4.096 cores. A tecnologia Carta 1200, combinada com vidro de alta qualidade e uma lente plana integrada, garante uma experiência visual nítida, com contraste elevado e cores mais vibrantes do que os ecrãs E-Ink tradicionais. A resolução a cores é de 1.240 x 930 pixels, oferecendo 150 ppi, enquanto os conteúdos a preto e branco atingem 2.480 x 1.860 pixels com 300 ppi, proporcionando textos e gráficos extremamente detalhados e precisos. O facto de a resolução cores ser mais baixa que a preto e branco não impacta de forma negativa o Note Air 4C – aliás, a leitura de texto é mesmo magnífica, com as letras bastante nítidas e fáceis de distinguir. E, para quem gosta de ler bandas desenhadas ou livros ilustrados, o Boox Air 4C transmite um charme vintage muito agradável. As cores são claramente visíveis, mas apresentam uma tonalidade suave que, pessoalmente, considero bastante agradável e cativante, conferindo à leitura uma experiência típica dos dispositivos E-Ink a cores. No fundo, aproxima-se muito da sensação de folhear uma revista ou banda desenhada impressa.
Para além disso, o Air 4C também tem iluminação frontal e, graças a esta funcionalidade, é possível ajustar a intensidade da luz consoante o ambiente, seja para ler confortavelmente num sítio pouco iluminado ou para evitar reflexos em espaços com mais claridade. O brilho mais moderado, aliado à distribuição uniforme da luz pelo ecrã, acaba também por ajudar a reduzir a fadiga ocular, o que acaba por ser um bónus, sobretudo para quem usa ecrãs durante muitas horas ou para quem gosta de ler à noite.
No meu caso, costumo ajustar a luz com um rápido swipe de cima para baixo no menu principal, abrindo assim o centro de controlo. Na secção “Luz Frontal” consigo adaptar rapidamente tanto a intensidade como a cor da luz ao meu gosto. Na realidade, até acabo mais por recorrer aos ícones “Bright” e “Soft”, que são predefinições pensadas para diferentes ambientes: “Bright” , como o nome indica é para espaços com mais claridade, pensado por isso para ser usado mais durante o dia. O modo “Soft” fica assim reservado para utilização à noite ou em locais pouco ou nada iluminados. Uma grande vantagem é que o ecrã do Boox Air 4C reflete mesmo muito pouco a luz, por isso nunca tive nenhum problema em usá-lo diretamente sob a luz solar. O único ponto a ter em conta com esta luz frontal é que é necessário algum espaçamento para a acomodar no ecrã, o que cria um pequeno intervalo entre a tinta eletrónica e a ponta da caneta. Para mim não faz diferença alguma e consigo escrever muito bem com ela, mas é possível que para algumas pessoas isto possa causar um ligeiro desconforto.
Voltando ao Centro de Controlo, aqui é possível também ajustar o volume do som, já que o dispositivo não possui botões físicos para esta função. Esta configuração permite regular facilmente o áudio de audiolivros, filmes ou vídeos. O som emitido pelas colunas é suficientemente bom, com boa nitidez, exceto nos baixos, mas mesmo assim com um desempenho satisfatório, sobretudo quando comparado a outros dispositivos que já testámos anteriormente. No entanto, para quem procura uma qualidade de som superior ou simplesmente deseja ouvir com mais privacidade, existe sempre a opção de ligar uma coluna externa ou recorrer a auscultadores, ambos compatíveis através de ligação Bluetooth.
O Note Air 4C vem equipado com um processador Snapdragon 750G, acompanhado por 6GB de RAM, o que garante uma performance estável e fluida na maior parte das utilizações. Abrir aplicações ou livros é rápido e, mesmo com várias aplicações a correr em simultâneo, o sistema mantém-se consistente, sem grandes quebras de desempenho. É certo que, com aplicações mais exigentes, o sistema pode ficar ligeiramente mais lento, mas mesmo assim não é nada demais. Ajuda a isso o facto de o Note Air 4C integrar ainda um processador gráfico (GPU) que trabalha em conjunto com a tecnologia conhecida como Super Refresh (BSR), da própria Boox. Esta solução foi pensada para ultrapassar as limitações tradicionais dos ecrãs E Ink, permitindo que outras aplicações tenham taxas de atualização mais elevadas, garantindo assim maior fluidez ao sistema.
Por exemplo, na leitura, a experiência é bastante positiva, mas depende do modo de atualização selecionado. O modo HD oferece uma qualidade de imagem superior, mas a mudança de páginas pode ser ligeiramente mais lenta. Já em aplicações que exigem scrolling, o desempenho é satisfatório, embora não tão suave como num tablet convencional. Em termos de armazenamento, o dispositivo traz 64GB de memória interna, o que considero suficiente para a maioria dos utilizadores, seja para guardar bibliotecas inteiras de ebooks, apontamentos, audiolivros ou ficheiros de áudio. Ainda assim, existe a possibilidade de expandir a capacidade através de um cartão microSD, uma opção útil sobretudo para quem gosta de instalar muitas aplicações ou gerir ficheiros de maior dimensão.
Apesar de todo o cuidado com a tecnologia Super Refresh, algumas funções continuam a mostrar as limitações próprias de um ecrã E Ink, sendo o visionamento de vídeos um bom exemplo disso. É perfeitamente possível assistir a conteúdos, mas a imagem tende a ser menos nítida, com cores mais suaves e ligeiramente desfocada, especialmente em cenas com movimento mais rápido. Este resultado não surpreende, uma vez que a taxa de atualização de um ecrã E Ink a cores não consegue acompanhar o ritmo exigido pelos vídeos. É importante sublinhar, contudo, que o Note Air 4C não foi pensado para substituir tablets ou televisões nesta vertente; o seu foco continua a ser leitura, escrita e produtividade. Assim, ver um vídeo funciona bem para situações pontuais, mas não deve ser o motivo principal da utilização do mesmo.
Quanto à bateria, o Note Air 4C está equipado com uma de 3.800 mAh, que garante uma autonomia sólida mesmo em cenários de utilização mais exigentes. Apesar de a luz frontal consumir um pouco mais do que nos e-papers tradicionais, o desempenho continua a ser bastante generoso. Na prática, o dispositivo consegue manter-se funcional durante vários dias sem necessidade de recargas frequentes, oferecendo uma boa margem para leituras prolongadas, anotações ou até navegação. Naturalmente, a duração da bateria varia de acordo com o tipo de uso que lhe for dado. Em cenários de uso leve, como leituras ocasionais ou pequenas consultas, pode aguentar várias semanas sem problema. Já em sessões intensas de escrita, leitura prolongada ou multitarefa com várias aplicações, a bateria descarrega mais depressa, mas ainda assim acaba por durar bastantes dias.
Relativamente ao facto de a porta USB-C estar localizada na lateral, este pormenor funciona bem nalgumas situações, como por exemplo quando o e-paper está a carregar enquanto eu o utilizo com a capa na posição vertical. No entanto, quem utiliza a capa tem obrigatoriamente que a manter aberta de forma a permitir o acesso à porta de carregamento, o que acaba por deixar o Note Air 4C mais desprotegido em certas circunstâncias.
Este dispositivo tem também um sensor biométrico, mas confesso que não fiquei totalmente satisfeita. Inicialmente, fiz o scan do meu dedo indicador direito, mas, a certa altura, tive de repetir o processo porque a leitura deixou de funcionar. Na realidade, isto acontece porque, com o Note Air 4C inserido na capa, é difícil conseguir posicionar corretamente os dedos para o reconhecimento, o que me obriga a recorrer frequentemente ao código. Pode ser um problema inerente aos meus dedos, mas também acho que seria útil o botão oferecer algum tipo de feedback tátil, indicando quando a leitura foi feita corretamente. É uma funcionalidade com grande potencial, mas que a Boox ainda poderá melhorar na execução.
Uma outra desvantagem deste e-paper que importa referir é que, tal como no Palma 2, embora ofereça alguma proteção contra salpicos, não possui nenhuma certificação oficial IPX. Tecnicamente, isto significa que o dispositivo permanece vulnerável à água e ao pó, exigindo atenção redobrada em ambientes muito húmidos ou poeirentos. No uso diário, não implica grandes restrições além de ter cuidado ao sair de casa em dias de chuva ou evitar acidentes com líquidos perto do dispositivo.
Ao nível do sistema operativo, o Note Air 4C vem pré-instalado com o Boox OS, uma versão personalizada do Android, e por aqui já perceberam que não é apenas um e-paper tradicional, mas sim um dispositivo bastante versátil. Ou seja, podem instalar tudo aquilo que estiver disponível a partir da Play Store da Google, desde que o dispositivo seja compatível – e sim, podem até instalar as apps do Kindle ou Kobo para diversificar bibliotecas digitais, bem como o Gmail, Spotify e Reddit, a título de exemplo. De origem, o Note Air 4C traz instaladas algumas aplicações, como o calendário (ideal para organizar o dia a dia), o gestor de ficheiros (que facilita a organização de documentos), o gravador de voz (perfeito para captar ideias rápidas ou registar reuniões) e o assistente de IA, entre outras.
Nas primeiras utilizações, a interface pode causar alguma estranheza, já que certos menus e opções não são imediatamente claros, exigindo um pouco de exploração inicial. No entanto, após algumas horas de utilização, tudo começa a fluir de forma natural, tornando a navegação bastante intuitiva. Para quem não está habituado ao Android, pode haver um pequeno período de adaptação, mas, para utilizadores familiarizados com este sistema operativo, o Note Air 4C apresenta-se como um ambiente conhecido. A página inicial, por exemplo, segue um esquema simples e funcional que remete para a experiência de um smartphone, facilitando a transição e a exploração das várias funcionalidades do dispositivo.
Na parte superior da Home Page encontram-se dois widgets principais: o da biblioteca, que mostra os dois últimos livros lidos e a percentagem já lida de cada um (existe também um ícone para aceder à biblioteca completa), e o das notas, que apresenta os três blocos de notas mais recentes. Este último inclui também dois atalhos úteis para criar rapidamente novos blocos de notas.
Noutra parte da página inicial encontram-se as aplicações nativas, enquanto a segunda página está reservada para que o utilizador adicione as aplicações que desejar. Tanto na primeira como na segunda página existe sempre, na parte inferior, uma barra fixa com quatro atalhos: biblioteca, marketplace da Boox, gestor de ficheiros e definições. Todas estas aplicações podem ser personalizadas, permitindo criar pastas por categorias, reorganizar os ícones ou até ajustar a barra inferior ao gosto de cada utilizador, tornando assim a Home Page completamente personalizável.
Para que tudo possa fluir, o Note Air 4C apresenta uma navegação bastante completa através de gestos. Na página principal, como já referi anteriormente, um simples swipe de cima para baixo, feito junto ao canto superior direito, abre o Centro de Controlo. A partir daí, é possível gerir rapidamente várias funções essenciais: ajustar a luz frontal e o volume do som, ligar ou desligar o Bluetooth e o Wi-Fi, aceder ao assistente de IA, ativar ou desativar a rotação automática, ativar o modo infantil ou, até, dividir o ecrã para multitarefa. Esta funcionalidade é particularmente útil quando precisamos comparar informações, rever textos ou transferir dados de um documento para outro, diminuindo a probabilidade de erros.
Do mesmo local também se pode abrir o chamado Centro E-Ink, embora haja uma forma alternativa de lá chegar: basta deslizar o dedo de baixo para cima no canto inferior direito do ecrã. Este centro disponibiliza vários modos de atualização do ecrã, pensados para diferentes tipos de utilização. O modo HD é o mais indicado para leitura de textos, oferecendo maior definição e nitidez. Já o modo Balanced apresenta algum efeito de ghosting mais visível, mas torna-se útil quando queremos percorrer rapidamente documentos extensos. O modo Fast sacrifica algum detalhe da imagem, mas ganha em velocidade, sendo adequado para navegar em páginas da internet. Por fim, o modo Ultrafast é o mais rápido de todos, embora com grande perda de qualidade, pensado sobretudo para reprodução de vídeos.
No meu caso, acabei por usar quase sempre o modo HD, que se revelou excelente, especialmente para leituras prolongadas, que é o tipo de utilização que mais faço no Note Air 4C. Já deslizar de baixo para cima, no canto inferior esquerdo, revela todas as aplicações que estão em execução, permitindo fechá-las individualmente ou encerrar todas de uma só vez, o que ajuda a manter o dispositivo mais organizado e rápido. Por fim, um swipe de cima para baixo no canto superior esquerdo dá acesso às definições do serviço Naviball, um pequeno botão flutuante que pode ser colocado em qualquer zona do ecrã e que funciona como um atalho rápido para várias ações. Além disso, é totalmente personalizável: pode-se escolher até nove atalhos, alterar o tamanho, a opacidade e o estilo de exibição.
Confesso que tenho recorrido imenso ao Note Air 4C, seja para trabalho ou lazer. Quando estou em casa, um dos meus passatempos favoritos é a leitura, e nessa vertente o dispositivo cumpre na perfeição o papel de e-paper. O tamanho generoso do ecrã torna a experiência mais confortável em relação aos outros e-papers que tenho e, para além disso, a forma como a capa se dobra facilita a utilização, permitindo usá-lo confortavelmente durante longos períodos. Se sair de casa, aí já prefiro levar o Palma 2, pela sua portabilidade imbatível. No entanto, se precisar de escrever ou fazer anotações, acabo por levar o Note Air 4C comigo.
A experiência de leitura neste dispositivo é altamente personalizável graças ao seu menu, que oferece um conjunto vasto de opções para adaptar a utilização ao gosto de cada um. Podemos acompanhar o progresso de cada livro, escolher diferentes estilos de letra ou, até, ativar o Modo Escuro, que transforma o fundo em preto e as letras em branco. Para mim, este modo é perfeito para ler à noite, já que, além de ser visualmente mais confortável quando estou cansada, evita incomodar quem está à minha volta. Também é possível, no mesmo menu, selecionar diferentes modos de atualização do ecrã, visualizar os capítulos organizados em formato de índice e navegar entre eles com um simples toque.
Outra funcionalidade valiosa é o TTS (text-to-speech), que converte o texto em áudio e permite “ouvir” os livros lidos por uma voz artificial, sendo uma função particularmente prática em situações em que não consigo segurar no dispositivo. Além disso, existe a possibilidade de automatizar a mudança de página, o que deixa a experiência ainda mais fluida e sem interrupções. O Note Air 4C integra também um assistente de IA (para ajudar durante a leitura) e opções adicionais de interação com a caneta, como virar páginas ou escrever diretamente sobre o texto. Para quem gosta de aprofundar a leitura, o Note Air 4C inclui um dicionário integrado, que permite consultar rapidamente significados de palavras em várias línguas. Todos estes pequenos detalhes, aliados ao acesso rápido aos últimos livros lidos através das abas no topo do ecrã, criam um verdadeiro ecossistema de leitura, onde tudo está pensado para tornar a experiência acolhedora, prática e até mais imersiva.
Para construir a minha biblioteca digital uso a aplicação nativa da Boox, a BooxDrop, que permite transferir facilmente ficheiros entre o computador e os dispositivos Boox, sem necessidade de cabos ou softwares adicionais. Basta enviar livros, PDFs, imagens ou documentos para a aplicação e todos esses ficheiros ficam automaticamente disponíveis no Note Air 4C. Além da BooxDrop, também é possível utilizar serviços de cloud como Google Drive, Dropbox ou OneDrive, garantindo ainda mais flexibilidade no acesso e organização dos documentos. Também usei bastante o Instapaper, uma ferramenta que permite ler textos offline. Depois de instalar a extensão no Chrome e configurar a aplicação no dispositivo, basta selecionar os artigos ou textos que quero guardar e, num instante, ficam disponíveis offline no Note Air 4C. Isto é particularmente prático no meu trabalho, já que me permite reunir conteúdos importantes, organizá-los e levá-los comigo para qualquer lugar, sem depender de ligação à internet e sem distrações, nem fadiga visual.
Outra aplicação que utilizo com bastante frequência é a BiblioLED, um catálogo online gratuito que disponibiliza um vasto conjunto de livros em português europeu. Até agora, o acesso a este serviço através do computador ou de outros e-papers revelava-se pouco prático, limitado ou até mesmo impossível. Foi apenas com o Note Air 4C (e também, de forma idêntica, com o Palma 2) que consegui finalmente explorar a BiblioLED de forma plena, lendo livros diretamente no dispositivo sem qualquer entrave ou dificuldade.
Além de tudo isto, há outra funcionalidade que se destaca no Note Air 4C, e que considero também das mais úteis, que é a escrita. Um dos pontos fortes do Note Air 4C é a utilização da tecnologia Wacom EMR (Electro-Magnetic Resonance), que garante uma experiência de escrita muito próxima do papel, com uma excelente precisão: o dispositivo reconhece 4096 níveis de pressão e, até, diferentes inclinações da caneta. Outra vantagem deste sistema é a compatibilidade com várias canetas que utilizem a mesma tecnologia – e não precisam de ser carregadas, tal como a Pen Plus -, permitindo ao utilizador escolher a que melhor se adapta ao seu estilo de escrita ou desenho. É verdade que existe um pequeno espaçamento entre a ponta da caneta e a tinta eletrónica no ecrã, mas a fluidez é tal que rapidamente deixamos de notar esse detalhe.
É precisamente aqui que entra um dos pontos que realmente o diferencia de outros dispositivos da mesma gama: quando escrevemos a cores, o traço surge de imediato na cor selecionada. Noutros e-papers, é comum o traço aparecer primeiro em preto e, só depois, refrescar para a cor escolhida, o que quebra o ritmo e pode até ser frustrante. No Note Air 4C, essa limitação desaparece, melhorando muito a experiência de escrita a cores. Para escrever ou desenhar podemos alternar entre diferentes ferramentas como a caneta, o pincel caneta, a ballpoint ou o lápis, cada uma com espessuras ajustáveis que vão dos 0,10mm até aos 2,00mm. Existe ainda a opção do marcador, cuja largura pode variar entre 0,5mm e 8,00mm.
Todas estas ferramentas podem ser personalizadas com 16 cores distintas, incluindo preto, cinza, branco, rosa, roxo, verde e várias outras tonalidades disponíveis. A seleção é simples: no topo do bloco de notas existe uma barra que disponibiliza quatro ferramentas configuráveis, permitindo alternar rapidamente entre elas conforme a escrita. Essa mesma barra inclui ainda uma borracha, igualmente personalizável, que pode apagar em diferentes modos, seja por camadas ou ajustando apenas a largura, que varia entre 0,5mm e 20,00mm. Logo ao lado, existe o ícone que possibilita escolher o modelo do bloco de notas, seja ele vazio, com linhas horizontais, pautado para partituras, capas, ou até mesmo criar um modelo totalmente personalizado.
No ícone seguinte é possível gravar notas de voz através do microfone, algo especialmente útil em reuniões ou aulas em que precisamos de guardar apontamentos rapidamente. Logo depois encontramos o ícone para adicionar uma nova página, que pode ter um modelo diferente das anteriores, ou até ser importada de outro caderno ou uma imagem. Esta flexibilidade demonstra bem a enorme versatilidade do Note Air 4C, no que toca à criação e organização de informação. Existe também o ícone da IA, capaz de aperfeiçoar formas, corrigir laços e, até, apagar rabiscos sem recurso à borracha. Além disso, pode ainda converter notas manuscritas em texto digital. Esta função é bastante útil, novamente, para organizar apontamentos, registar ideias ou preparar documentos de forma mais profissional. Embora a conversão não seja perfeita em todos os casos (sobretudo com caligrafia menos legível), funciona bem na maioria das situações e poupa imenso tempo.
Também o facto de corrigir e aperfeiçoar formas permite que quando sublinho uma frase, por exemplo, basta manter a ponta da caneta no ecrã por dois segundos e o sublinhado alinha automaticamente. O mesmo se aplica a formas geométricas desenhadas livremente, que ficam bem estruturadas sem esforço. Com a função do laço, consigo também selecionar diferentes secções do texto e reorganizar as minhas notas de forma prática, ajustando-as exatamente como quero.
Gosto particularmente de usar este dispositivo para registar as minhas ideias ou criar esquemas relacionados com o trabalho. A sua capacidade de resposta e a variedade de ferramentas de escrita permitem estruturar pensamentos de forma clara e organizada, quase como se estivesse a rascunhar num caderno físico, mas com a vantagem de poder corrigir, mover ou colorir tudo instantaneamente.
No fundo, o Boox Note Air 4C é uma solução híbrida, pensada para quem procura ir além da leitura tradicional. É um dispositivo que combina estudo, trabalho e lazer num só, oferecendo a versatilidade de um tablet, mas com o conforto da tinta eletrónica. É possível ler, escrever, anotar, organizar informação ou até utilizar aplicações de produtividade, mas sem cair nas distrações típicas dos tablets convencionais. A inclusão da caneta Pen Plus e da capa eleva ainda mais a versatilidade do conjunto, tornando o Note Air 4C numa ferramenta bastante completa para diversas situações.
Ainda assim, importa referir que nem tudo é perfeito. A interface, embora completa, exige alguma curva de aprendizagem inicial. O desempenho, apesar de muito competente para o que é, não consegue acompanhar a fluidez de um tablet tradicional, sobretudo quando falamos de visualização de vídeos, onde o ecrã E-Ink revela inevitavelmente as suas limitações. Também a ausência de certificação oficial contra água ou pó pode deixar alguns utilizadores mais cautelosos no uso fora de casa. Por outro lado, a sua grande vantagem está mesmo no equilíbrio: é suficientemente avançado para ser produtivo, mas, ao mesmo tempo, minimalista o bastante para manter o foco. Isto faz com que não seja necessariamente a escolha ideal para quem apenas quer ler ebooks (para esses casos existem opções mais simples e acessíveis, como o Palma 2), mas acaba por ser perfeito para quem valoriza uma experiência mais completa e diferenciada.
O seu preço atual de 529,99€ pode não ser para todos, mas tendo em conta que se trata de um epaper versátil e deste tamanho, dificilmente encontrarão melhor negócio…
Este dispositivo foi cedido para análise pela Boox.