Adeus e até à próxima edição!
Chegámos ao último dia do festival Bons Sons, dia este que ainda tem um punhado de boas bandas para se ver, ouvir e levar boas memórias que nos sustentem a alma até à próxima edição do festival.
Hoje foi possível viver a aldeia bem mais cedo que o habitual, pois o calor extremo deu lugar a temperaturas mais amenas, misturadas com pequenas rajadas de vento, o que tornou a circulação bem mais fácil que no dia de ontem.
Foi também possível apreciar hoje a presença de diversos grupos de amigos e famílias a jogar aos míticos jogos do Hélder espalhados pelo recinto do festival, disponíveis desde que nos lembramos em todas as edições do Bons Sons.
Ana Lua Caiano no Palco Giacometti – Inatel foi a nossa primeira escolha para o dia de hoje. De recinto totalmente lotado, a artista começou por cumprimentar o público e explicar que iria percorrer diversas músicas, tanto do novo álbum como de álbuns anteriores, enquanto formava todas as sonoridades e samples necessárias à interpretação da sua primeira música.
Sem muita conversa, de forma a otimizar ao máximo o tempo que tinha disponível para o seu espetáculo, Ana Lua Caiano foi interpretando uma música a seguir a outra, sempre com alguns segundos de intervalo essenciais para formar e preparar os seus ritmos e sonoridades.
Foram tocados diversos temas como “Que o Sangue Circule” do seu primeiro EP, saltando logo de seguida para o tema “Se Dançar é só Depois” do seu penúltimo álbum de estúdio. Tal como diz o nome da música, a dança só começou mesmo a aparecer assim que a música começar a acelerar um bocadinho e nunca mais parou. A partir daqui, já com o público conquistado e a colaborar ativamente com palmas e dança ao ritmo de cada música, deu a liberdade necessária para entrar na interpretação de diversos temas do seu último disco Vou ficar neste quadrado, tais como o tema que dá nome ao disco, “Deixem o morto morrer”, “De cabeça colada ao chão”, “O Bicho anda aí” e uma versão acústica da “Ando em Círculos”, interpretada com ajuda essencial do público, após sinais faciais emitidos pela cantora.
Ana Lua Caiano fechou o concerto com chave de ouro tocando ainda mais duas das suas músicas de seus nomes “Mão Na Mão” e “Casa Abandonada”, que levaram o público às últimas danças e palmas neste concerto até ao último segundo de música. Em suma, um espetáculo que vai ficar na memória certamente de muita gente que esteve aqui no palco Giacometti – Inatel.
Batiam as 19h50 em ponto e entrava em ação no palco Zeca Afonso o músico Hélio Morais, baterista dos Linda Martini, para mais um concerto sem grandes artifícios, mas rodeado de gente amiga em palco.
Toda a gente assistiu ao concerto confortavelmente sentada. A primeira música tocada foi a primeira do disco Pisaduras, com o nome “Nem lua, nem mares”, e foi o quanto bastasse para conseguir um silêncio e atenção absoluta por parte do público que observava atentamente tudo o que se passava no palco e sentia cada palavra cantada por Hélio Morais. O artista explicou ainda que Pisaduras foi elaborado tendo por base os costumes do local onde Hélio nasceu e foi criado, local esse onde as pessoas olhavam umas pelas outras.
Outra das músicas tocadas foi “Olhos Salgados”, que acabou por dedicá-la à sua mãe, música esta carregada de sentimentos muito fortes que só poderiam mesmo ser disparados em forma de música cantada.
Hélio Morais percorreu todas as músicas do seu disco, carregado de sentimentos de amor e amizade para com os seus entes mais próximos, e terminou com as músicas “Almoço de Domingo”, que descreve sucintamente as lembranças que tem dos almoços carregados de muito boa comida e bebida, tidos em criança na casa da sua avó, e com a música “Deixa o Resto” que, como o seu nome sugere, simboliza o sentimento de deixar tudo para trás e seguir em frente perante algumas situações da vida.
Depois de uma reflexão de vida escrita e interpretada por Hélio Morais ao vivo no Bons Sons, partimos mais leves e pensativos à descoberta do que o próximo concerto nos ia reservar.
Estamos, portanto, a falar dos Máquina, que subiram ao palco António Variações com uma bateria de ritmos frenéticos, uma carga muito grande de sons estridentes, acompanhada pela voz do baterista carregada de eco e efeitos. Para quem não conhece os Máquina, são um trio lisboeta que vive da repetição minimalista do krautrock, do techno industrial e da EBM. Tomás Brito (baixo), Halison Peres (bateria, voz e letras) e João Cavalheiro (guitarra) são os três responsáveis por produzirem e reproduzirem temas cheios de adrenalina e que chegam a ter alguns deles cerca de 8 a 10 minutos de duração. Um claro destaque para a energia incutida por temas como “:.”, “concentrate” e “body control”, que levaram muita gente a dançar quase sem parar, numa atuação que raramente parou entre os vários temas rock progressivo.
Depois de um dos concertos mais intensos do início de noite nos Bons Sons, chegou um dos momentos mais esperados da noite: Teresa Salgueiro.
Os músicos subiram sozinhos a palco e o silêncio fez-se sentir na plateia tal era a responsabilidade de nos portarmos bem quando temos perante nós uma artista que deu a voz a projetos que ainda hoje tem um enorme peso e relevância, ou não falássemos nós dos Madredeus.
Depois de uns minutos de compasso de espera e pequeno sound check, começou então o concerto com Teresa Salgueiro a entrar em palco com a tradicional delicadeza a que sempre nos habituou.
Os temas cantados foram muitos, indo desde temas próprios da cantora a temas de projetos anteriores, como é o caso dos Madredeus com a mítica música “Senhores da Guerra”, passando também por temas de alguns autores da América Latina.
O silêncio era absoluto, existindo apenas abertura para palmas do público entre músicas ou por uma ou duas vezes no concerto inteiro, palmas sincronizadas quando as músicas o permitiam.
Durante o concerto, Teresa Salgueiro foi também explicando a origem e o sentido de cada tema, seguida de uma interpretação magnífica só ao alcance de uma intérprete deste nível.
Para fechar um dos concertos mais aguardados de hoje nos Bons Sons, Teresa Salgueiro escolheu cantar um tema escrito a partir de um texto de José Saramago com o nome de “O Adivinho”.
No que se pensaria ser o final do concerto e já com todos a aplaudir de pé, eis que a cantora decidiu tocar mais dois temas, um deles composto a partir de um poema de Fernando Pessoa e outro de José Afonso. Este sim, um concerto para mais tarde recordar.
Já com o tempo para o próximo concerto a escassear, deslocámo-nos de forma bastante célere ao palco Lopes Graça para assistir ao concerto de The Legendary Tigerman, que anda em tour com o seu novo disco Zeitgeist, de 2023, recheado de colaborações com outros artistas.
Paulo Furtado e a sua banda começaram então por aquecer o ambiente com “New Love”, “One More Time” e “Good Girl”, todas estas incluídas no último álbum do artista.
Para o tema seguinte, Paulo Furtado mencionou que iria tocar uma música que fora tocada por si há cerca de 12 anos naquele mesmo local do festival. O tema escolhido foi então “Naked Blues”, pertencente ao álbum The Legendary Tigerman, e que levou toda a gente numa viagem origens musicais do artista.
A seguir a este clássico, foram disparadas mais uma boa quantidade de canções retiradas dos diversos álbuns lançados pelo artista, dando especial destaque aos temas “Motorcycle boy” e “Fix of Rock’n’Roll”, do disco Misfit, e “The saddest thing to say”, do disco Femina, que deram ao público a total carta branca para libertarem todas as suas danças mais exuberantes, nestas que seriam das últimas oportunidades para fazê-lo no concerto, e até nesta edição do Bons Sons.
Houve também tempo para interpretar a clássica “These boots are made for walking” onde arrancou palmas ao ritmo da música e um inevitável refrão cantado em uníssono pelo público.
Quanto todos pensavam que esta festa tinha acabado, eis que os toda a gente, à exceção do baterista, desceu do palco para plateia em pé e ainda tocaram e cantaram “umas das canções mais bonitas de amor” conforme dito por Paulo Furtado: “True Love Will Find You in the End”. Esta, sim, foi uma das formas mais bonitas que já tivemos oportunidade de assistir a uma banda a declarar amor ao seu público, e até ao próprio festival.
Foi com algum cansaço acumulado, mas bastante gratos pela experiência e pelo aumento incrível no nosso portfólio musical, que fechámos a nossa presença no Bons Sons 2024, aguardando desde já com grandes expectativas o que o Bons Sons 2025 terá para nos oferecer.
Até para o ano!