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E lá viemos nós satisfeitos de mais um dia na aldeia.

Iniciámos o segundo dia do Bons Sons 2024 debaixo de um sol abrasador e onde os termómetros indicavam temperaturas a rondar os 32º, já o relógio batia as 18h. Ainda assim, nem isso nos impediu de fazemos a volta e a espera habitual pelos concertos que vão acontecendo gradualmente pela aldeia. 

Eram muitas as pessoas que preenchiam o pouco espaço que ainda restava no palco Giacometti Inatel à espera da entrada em cena de Vaiapraia, espera essa que só se tornou um pouco menos dolorosa devido à presença de diversos voluntários, munidos de pulverizadores cheios de água, e de várias pessoas da plateia que, munidas de pistolas de água, iam regando toda a gente por onde passavam e que acabou por ajudar a suportar melhor as altas temperaturas que ali se fizeram sentir…

Ao subir ao palco, Vaiapraia, projeto de Rodrigo Vaiapraia, começou com tudo, e depressa arrancou a plateia do chão, disparando várias músicas presentes nos dois álbuns lançados, 100% carisma e 1755, gravado com as Rainhas do Baile

As músicas que mais adesão tiveram por parte do público foram os temas “Comidas do Infinito”, “Frigorífico Vazio” e “Coelhinho”.

Como não podia deixar de faltar, o tema “Fogo Fera” provocou o reboliço total, com o público a saltar enquanto que entoava fervorosamente as várias estrofes da letra em coro. A partir deste momento, o público passou a ser propriedade de Vaiapraia e das Rainhas do Baile, que conseguiram fazer desfilar mais umas quantas músicas sem que a plateia desligasse da prestação da banda por um segundo que fosse.

Um dos momentos mais caricatos foi a interpretação incompleta e à pressa de dois temas, um deles sobre o apoio do artista à causa Palestiniana, e o outro após saber que lhe restava pouco tempo em palco, devido ao rigor dos horários dos concertos do Bons Sons.

Ainda assim, houve ainda tempo para terminar a festa em grande, sendo disparados os tão aclamados temas “Sinos” e “É que à Noite”, levando novamente aos coros e braços no ar sincronizados vindos da plateia.

Depois de uma breve pausa entre concertos, eis que chegou a altura do projeto Estilhaços subir ao palco Zeca Afonso para apresentar o seu último disco Estilhaços de Escuridão, bem como revisitar alguns temas provenientes de discos anteriores. Tudo isto aconteceu muito ao estilo que Adolfo Luxúria Canibal sempre nos habituou. Com a sua voz grave e meio cantada a declamar poemas, acompanhada por um instrumental incrível produzido com a ajuda dos colegas de projeto António Rafael, Henrique Fernandes e Jorge Coelho, agarrou cada uma das almas dispostas na plateia silenciosa que se formou a frente do palco Zeca Afonso.

O álbum Estilhaços de Escuridão foi praticamente todo dissecado, à exceção do tema “As listas de Lilith”. Segundo os artistas, e tendo em conta o tempo contado que tinham para o final do concerto, preferiram substituir estes dois temas por outros presentes no disco Estilhaços e Cesariny. Quando ao público, teve um comportamento exemplar perante um concerto desta categoria, carregado de cultura e de uma homenagem clara aos grandes poetas e escritores portugueses.

Com o recinto a acolher cada vez mais pessoas, tendo em conta o fim de semana a chegar e as filas para as comidas e bebidas a aumentarem drasticamente, decidimos efetuar uma pausa para jantar antes de partimos novamente para a frente do palco Zeca Afonso, onde Gisela João iria atuar por volta das 22g50. Enquanto se jantou, tivemos ainda a oportunidade de dar uma vista de olhos pelo concerto dos Adiafa, que acabaram por reproduzir muitos dos seus temas mais badalados pertencentes aos cinco álbuns lançados. A reação do público foi bastante positiva ao ponto de ver o passo do cante alentejano reproduzido na perfeição pela plateia. Foi bonito ver A Música Portuguesa a Gostar dela Própria e a ligação bastante próxima com a banda para que isso fosse possível. Chegando ao fim deste concerto, ficou aquele desejo de ouvir todo este concerto de início novamente, mas, dessa vez, num ambiente bem mais calmo e próprio em terras alentejanas, acompanhado por uma bela sopa de gaspacho alentejano ou até de uma sopa de cação.

Debandada total agora para o palco Zeca Afonso e silêncio que se vai cantar o fado. Todas as luzes da plateia apagadas antes de subir a palco a fadista Gisela João, sentada num baloiço e envolvida por um ambiente branco puro.

Ao contrário do que muitos pudessem pensar, Gisela João não veio com a habitual missão de tocar os seus temas mais habituais como “(A Casa Da) Mariquinhas” ou até “Meu amigo está longe”, mas sim para celebrar a liberdade e todas as músicas que fizeram parte do projeto Gisela Canta Abril.

Foram então tocadas inúmeras obras de vários conhecidos artistas, dando especial ênfase às interpretações dos temas de autoria de José Afonso, tais como a mítica “Vejam Bem” e “Os Vampiros”, passando também por temas de outros artistas de abril, como “E depois do adeus” de Paulo de Carvalho e “Inquietação” de José Mário Branco.

O acompanhamento instrumental da artista apresentou-se num formato bastante minimalista, ostentando em palco apenas um elemento perante um conjunto de sintetizadores e outro elemento com alguns instrumentos de cordas à sua disposição. Estamos perante uma nova Gisela João, preparada para ir para muito além do típico e tradicional fado que tão bem conhece e atingir novas marcas e estilos musicais.  

Houve ainda tempo para dar voz ao tema “Que força é essa amiga”, reescrita por uma artista bem conhecida do público em geral e de seu nome Capicua, a partir da música original “Que Força É Essa” de Sérgio Godinho

Depois de explicar que sempre viveu numa casa onde sempre se ouviu bastante música de intervenção, Gisela justificou a escolha do repertório, tendo em conta a necessidade de relembrar os vários nomes que nos trouxeram a liberdade no mês de abril de 1974 e libertaram Portugal de usos e costumes largamente abusivos para com as mulheres.

Com uma luz ténue de fundo, rodeada de bastante fumo de palco e acompanhada sempre por registos instrumentais minimalistas, a artista partiu para a interpretação da canção de embalar de José Afonso.

Ainda embrenhados por um espírito de Abril, fomos ver o que os Plasticine tinham preparado no palco Lopes Graça. Estes tocaram diversos temas sempre à base de jazz, contando também com diversas estiradas para estilos como o soul e o funk. A mistura de todas estas sonoridades fazem com que os Plasticine consigam criar e fundir uma grande variedade de estilos musicais, o que torna este género musical acessível a todos, até mesmo daqueles que não se identificam com o estilo jazz e soul. Foram vários os temas tocados pelos Plasticine. tendo por base os dois álbuns já lançados a público até à data, gerando uma grande quantidade de boas energias e um aperitivo perfeito para a banda que se seguiria no palco António Variações.

Terminado o concerto dos Plasticine, fomos até ao palco António variações para sermos brindados com a generalidade instrumental dos Club Makumba, resultante da união dos genialíssimos Tó Trips (guitarra), João Doce (bateria), Gonçalo Prazeres (saxofone) e Gonçalo Leonardo (baixo e contrabaixo).

Apesar de ser um projeto nascido apenas em 2022, é impossível desassociá-lo por completo do antigo projeto de Tó Trips, os Dead Combo, registando-se sempre uma quantidade infindável de registos sonoros de cordas inspirados no agora extinto projeto, após o falecimento de Pedro Gonçalves em 2021.

Os Club Makumba são, assim, assim uma evolução natural de um estilo puramente rock alternativo e instrumental para um patamar mais abrangente e multicultural em termos de estilos musicais, juntando para isso mais instrumentos em estúdio e em palco, para além das guitarras e dos samples previamente gravados.

Quanto aos temas tocados, destacaram-se claramente alguns como “Danças”, “Maragato” e “Alzáfama” que arrancaram os pés de toda a gente do chão e nos transportaram para o mundo musical construído pelos Club Makumba.

Findado o concerto, recolhemos também aos nossos aposentos, sempre com a memória bem presente de tudo o que vimos de bom neste segundo dia de festival, e sonhar com as bandas que irão fazer o nosso dia de amanhã nos Bons Sons.

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