O restaurante Benini Sapori di Genova, que abriu em Oeiras com uma bonita vista de mar, é mais do que um projeto; é uma casa sempre aberta aos amigos e à família, como não poderia deixar de ser para quem nasceu nas costas marítimas da Bella Italia e trouxe para Portugal as excelentes tradições culinárias de Génova, e não só.
De facto, nada chega a um sonho que nos fala mais forte, como o de reunir toda a família e amigos em torno de uma mesa recheada de calor humano e histórias para partilhar e, sobretudo, onde a boa comida italiana, a mais genuína, e o gosto de viver falam mais alto. Alain Barreto e Annamaria Benini são a prova viva disso mesmo.
O começo, para quem sonhava reproduzir num estabelecimento aberto ao público o ambiente e o conforto da sua própria casa, não foi nada fácil, como nos informa Gonçalo Morais, genro de Annamaria e gerente do Benini Sapori di Genova: quando tudo parecia estar pronto para abrir portas, a pandemia ditou uma “abertura com a porta fechada”, ficando todo o movimento confinado a pedidos online.
Mas os Benini não desarmaram e reverteram essa suposta limitação em prol de uma cozinha cada vez mais marcante e apurada, capaz de se demarcar e fazer a diferença entre a avultada quantidade de restaurantes supostamente italianos que, muitas vezes, ficam algo a dever aos sabores genuinamente italianos.
Com uma força de vontade maior que tudo o resto, o Benini Sapori di Genova aposta na extraordinária qualidade dos ingredientes e da sua confeção, o que vai resultando em sabores em boa parte conhecidos mas que se destacam num menu com um grau de intensidade completamente diferente. Uma excelente arte de cozinhar e mistura de culturas é o que acontece à mesa dos Benini, graças a uma esplendorosa mistura de ingredientes selecionados e originais que são de paladar inconfundível na dieta mediterrânica: o melhor azeite, as mais saborosas azeitonas, formaggio de todas as texturas e feitios, sem poder faltar o toque mágico do alecrim, do manjericão e do tomate.
Dado que comer, hoje em dia, é mais do que nunca um ato consciente que reflete a crescente e legítima preocupação com o bem-estar e a saúde, a não destoar dessa preocupação, tivemos o privilégio de um atendimento personalizado pela simpática proprietária e cozinheira-chefe, que aliás se mostrou incansável a atender todos os seus clientes e se disponibilizou para nos facultar uma explicação completa sobre o menu e as peculiaridades de uma gastronomia herdeira dos cozinhados da Nonna, sua mãe, segredos culinários que têm passado de geração em geração. E que segredos, os que provámos!
No Benini, encontramos desde logo toda a novidade e intensidade de uma carta de sabores à moda italiana: excelente atendimento, ingredientes da melhor qualidade, como já foi dito, e, muito importante, a fidelidade a procedimentos típicos de uma dieta de inspiração bem genovesa.
Génova, como já deu para perceber, é a cidade de onde a proprietária é natural e cujos testemunhos estão bem implantados na decoração simples e bonita que nos envolve. O espaço é comprido e amplo, num bairro desafogado e bastante tranquilo, desembocando numa sala com vistas para uma avenida do outro lado do edifício. O nosso olhar é logo atraído para os murais fotográficos da Génova ribeirinha, a preto e branco, as mesas de madeira sólida de diversas configurações, bem amplas para acolher toda a gente, e confortáveis cadeiras com um toque retro de veludo verde que enquadram as fotografias históricas, num contraste nostálgico e colorido. Num horizonte próximo, atrás de amplas janelas luminosas, a linha espumosa do mar… longe do bulício da velha Lisboa, mas muito perto da própria capital e de todos os pontos fulcrais da linha de Cascais.
Per Comenciare e por simpática sugestão de Annamaria Benini, foi-nos dada a experimentar, como ótima entrada, uma Focaccia al Formaggio di Recco, cuja massa, surpreendentemente transparente, é recheada com autêntico queijo italiano e com uma outra camada de massa, de receita única. Este cozinhado constitui um ótimo aperitivo ou acompanhamento com os pratos seguintes e já foi degustado e aprovado por Escolas de Gastronomia Italiana que o provaram e recomendam!
Acompanhámos com cocktails de excelência. Vieram para a mesa o tradicional Mojito, bem carregado de hortelã, uma delícia para apreciadores desta bebida; uma Tequila Sunrise, em que a conjugação das várias camadas de bebida recria o pôr-do-sol nos seus diversos cambiantes, desde o amarelo suave ao rubro intenso; e uma Miss Benini, com forte componente de sumo de maracujá.
Não faltam, às entradas, o Vitello Tonnato que, como nos foi dito, produz um efeito de sabor inesquecível pela inusitada combinação da carne com o molho de atum. Há, ainda, outra magníficas delícias, como a Parmigiana, com camadas de beringela braseadas com molho de tomate; o Queijo Burrata da região de Puglia; o Stracchino e pere, queijo italiano cremoso servido com fatias de pera; e o Sformatino di verdura, um flã de legumes com creme de parmesão, entre outros acepipes à escolha.
Segue-se um capítulo que consideramos sempre interessante, o dos Risottos, onde destacamos o Tartufo, com trufa preta da Úmbria, e o ai Funghi Porcini e o el Pescatore, com lulas e gambas. São pratos preciosos, feitos na justa medida e com um forte apelo do paladar inconfundível do arroz com o queijo derretido.
No capítulo das Pizzas, além das de edição limitada que já vamos abordar, há outras por degustar, todas com a Fior di Latte como ingrediente-base, desde as mais tradicionais, como a Margherita, Genovese, Regina, Carbonara, até às que conjugam ingredientes mais especiais, como a Gigi, que leva tomates secos, queijo de cabra e cebolas caramelizadas.
As Massas têm, como se sabe, grande preponderância nos menus italianos e aqui também não podiam faltar: o Tagliatelle al Tücco, de que Annamaria nos falou, feito com molho de carne à maneira de Génova. Existem, claro, os Spaghetti e as Lasagne, além dos imprescindíveis Ravioli, dos quais a cozinheira destaca os Ravioli alla Portofino, pelo seu Pesto com molho de tomates cherry e creme de ricota.
Entre os pratos que acabámos de descrever, destacam-se os que são típicos da Ligúria, como o Tagliatelle al Tücco, com carne desfiada que coze durante 4 ou 5 horas, e os Ravioli alla Portofino, em que o Pesto, bastante especial daquela região, com nata, pesto e tomate. Mas atenção: o Pesto, para a tradição lígure, não pode nunca ser cozido nem misturado. “Temos oliveiras, não temos manteiga”, esclarece Annamaria, gracejando.
Referência especial, ainda, para o manjericão que, na cozinha da Nona, tem de ter origem específica num bairro de Génova. Para colmatar esta necessidade, os donos experimentaram várias qualidades deste tempero, tendo optado por uma espécie congénere, da região do Douro, de onde é mandado vir especificamente para os pratos Benini.
Dos típicos Ravioli, ressalva feita para os recheados com Espinafres e Ricotta, outro prato típico da Ligúria. Trata-se de Ravioli recheados com pesto e tomate fresco e, por cima, com creme de ricotta.
Há o Peixe a La Ligure (Pesce alla Ligure), feito com batatas, pinhões, alcaparras e tomate. Já os amantes de carne podem escolher o Filetto, um belo Bife do lombo com batatas e espargos grelhados, molho de cogumelos Porciniou e de queijo Taleggio.
Outras iguarias igualmente marcantes estão disponíveis, tais como o Carpaccio del Trentino, que consiste em carne de lombo marinada com lascas de parmesão.
Atenção, que, quanto às pizzas, estas são confecionadas numa massa especial, como não podia deixar de ser, de acordo com a tradição mais antiga da pizza italiana, as chamadas pinsas. A pinsa é típica de Roma mas teve em Génova um sucesso incrível. É efetivamente uma massa diferente, neste caso, resultante de uma mistura de farinha de trigo, soja e arroz. Fermenta durante 48 horas e segue um procedimento diferente, ensinado pela Nonna, mãe de Annamaria.
Uma das inovações deste tipo de menu é justamente a Pinsa de Bacalhau, inspirada nas atividades piscatórias do norte de Itália. Com espinafres salteados com alecrim, azeite, alho e queijo fresco que se derrete muito bem, mais as azeitonas típicas da região. O azeite é, note-se, encomendado da sua origem, de acordo com as suas qualidades e paladares próprios.
Por aquilo que acabámos de descrever, a intolerância à lactose, por outro lado, pode ser um problema para quem pretenda deslocar-se a restaurantes que ofereçam este tipo de menu, por razões óbvias: muito queijo, de todos os géneros, para não falar noutros ingredientes.
Neste aspeto, a resposta e capacidade e inventividade da cozinheira foram também rapidamente notórias. Foi prontamente confecionada uma pinça de bacalhau sem molho de tomate nem queijo. Como é isto possível? Com absoluta arte. Com um molho de base de azeite e espinafres, foi-nos apresentada uma pizza com deliciosas lascas de bacalhau fresco, brancas e resplandecentes, sobre uma base de sabor incomparável de onde sobressai o toque divinal de um azeite de excelente qualidade, mais os alhos, o rosmaninho e as azeitonas.
Para quem optasse por pratos de carne mas mais leves, seria possível escolher o molho de cogumelos apenas com o azeite e o rosmaninho: qualquer alteração ou sugestão, grande ou pequena, não constitui qualquer constrangimento para estes cozinheiros competentíssimos e versáteis.
Dentro do menu com os ingredientes não alternativos, vieram para a mesa quatro ou cinco manjares de comer e chorar por mais: o Risotto Al Tartufo, um Filetto com Molho de Queijo, em alternativa ao molho de cogumelos (aliás, também bastante atraente) e as novas propostas de pizzas, de edição temporária, a saber, Pizza de Mortadela de Bolonha Trufada, com burrata e rúcula, e a Pizza de Sardinha, que não resistimos a experimentar. Uma outra novidade é a Pizza de Figo – todas esplendorosas criações do Chef Rami e da sua equipa.
As possibilidades de escolha, para além destes pitéus, são muitas. Têm as Insalate (Saladas), com tomates assados e queijo, as de atum e feijão verde ou, ainda, a Donna, um mix de verdura de alface, mozzarella, fiambre, azeitonas , cenouras e abacate. Uma verdadeira delícia, portanto.
No fim da refeição, as sobremesas não se fizeram esperar e, em honra da mistura de culturas e origens, representadas na própria família dos proprietários, vieram para a mesa o Tiramisù, o Crème Brulée e uma deliciosa Pizza de Nutella. À escolha, há também a Panna Cotta e o Crumble com gelado de baunilha.
Para culminar, experimentámos um Caffé Goloso, com um mini Tiramisù e um mini Crème Brulée, uma divertida proposta a pensar em quem quer experimentar um pouco de tudo e gosta de mesclar o paladar da sobremesa doce com o forte travo amargo do café.
Concluindo, se são fãs da boa cozinha italiana ou simplesmente gostam de apreciar excelente comida e, já agora, da própria cultura italiana no seu melhor – já sabem, encontram-nos aqui, no Benini Sapori di Genova, pela extraordinária qualidade dos ingredientes e da sua confeção, que resultam em sabores em boa parte conhecidos mas que se destacam neste menu com um grau de intensidade completamente diferente.
Além disso, Benini não é só sinónimo de receitas da Avó, mas também um espaço acolhedor e familiar que atrai tanto portugueses e clientes de outras nacionalidades, como os próprios italianos, que procuram em país estrangeiro o reencontro com o melhor da sua gastronomia.
Para quem quis implementar um projeto com base na ideia de que, para os visitantes, entrar na Benini tem de ser como entrar em sua própria casa, comer do bom e do melhor e viver um belo momento em família, pode-se dizer que o investimento valeu bem a pena e que o objetivo foi plenamente alcançado!
O Benini, localizado na Rua A Gazeta D’Oeiras 8, está aberto de terça a domingo, das 12h às 15h e das 19h às 22h. Recomenda-se a reserva através do 938840667.