Relatórios oficiais analisam os efeitos do apagão de 28 de abril de 2025 nos setores da aviação, telecomunicações e transportes, e apontam recomendações para fortalecer a resiliência face a futuras crises.
O Ministério das Infraestruturas e Habitação recebeu os relatórios da ANAC, ANACOM e IMT que analisam o impacto do corte de energia elétrica ocorrido no passado dia 28 de abril nos setores da aviação, telecomunicações e transportes. Os documentos identificam as consequências do apagão e apresentam recomendações para melhorar a resposta a crises semelhantes no futuro.
No setor da aviação, o relatório da Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) aponta o Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, como o mais afetado pelo apagão, com 348 voos cancelados e cerca de 66.000 passageiros prejudicados. O Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, registou 60 cancelamentos, afetando aproximadamente 7.000 passageiros, enquanto o Aeroporto Gago Coutinho, em Faro, teve 29 voos cancelados, impactando mais de 5.000 passageiros. O efeito nos aeroportos das ilhas foi considerado residual. O relatório destaca ainda que a NAV, responsável pelo controlo do tráfego aéreo, não interrompeu os seus serviços durante o apagão, e que a ANA, gestora das infraestruturas aeroportuárias, cumpriu todas as obrigações previstas. Entre as medidas recomendadas estão a revisão dos contratos com fornecedores de telecomunicações, a elaboração de planos de contingência para falhas energéticas e de comunicações, a realização de simulacros conjuntos e a aposta em fontes de energia alternativas que não dependam de combustíveis fósseis.
Na área das telecomunicações, a Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM) concluiu que a falha prolongada de energia causou um efeito em cadeia que afetou as redes móveis e fixas, comprometendo o acesso e a comunicação entre os serviços de emergência, autoridades e agentes de proteção civil. Durante o apagão, o número de emergência 112 sofreu limitações nas redes fixas, mas manteve-se operativo sempre que pelo menos uma rede móvel estava disponível, assegurando o encaminhamento das chamadas. O relatório recomenda a avaliação da autonomia dos sistemas de energia de socorro, a utilização de fontes renováveis para alimentar os equipamentos críticos, a criação de meios de comunicação alternativos para a gestão de crises, a diversificação das rotas das chamadas 112 e o desenvolvimento de sistemas de alerta à população com tecnologia Cell Broadcast. Também são sugeridos exercícios conjuntos entre operadores e reguladores, monitorização em tempo real das redes e redundância via satélite.
Por sua vez, o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) reporta que a integridade das infraestruturas de transporte terrestre e fluvial não chegou a ser comprometida, apesar das perturbações sentidas, sobretudo no setor ferroviário e nos sistemas de metropolitano. A greve na CP, que paralisou a frota ferroviária, contribuiu para reduzir o impacto do apagão. A falha no fornecimento de energia de tração imobilizou 93 composições, entre metros e comboios, afetando passageiros e mercadorias. O IMT destaca a necessidade de aumentar a resiliência da rede elétrica e das comunicações móveis, garantindo autonomia energética mínima para operadores de infraestruturas críticas. Entre as propostas estão a definição de planos para reposição prioritária de combustível, a revisão da participação dos gestores de infraestruturas no Centro de Coordenação Operacional Nacional, o estudo da instalação de sistemas de armazenamento de energia em veículos ferroviários e a promoção de simulacros frequentes para situações de emergência. O acesso prioritário a combustíveis para veículos de assistência rodoviária e o reforço da autonomia dos sistemas dos Postos SOS nas autoestradas são outras recomendações.