Sou daqueles jogadores que teve o primeiro contacto com o universo Street Fighter no jogo X-Men: Children of the Atom, lançado em 1995 para a Sega Saturn. Era um jogo que continha Akuma, personagem que surgiu primeiramente no jogo de arcade Super Street Fighter II Turbo e que mais, tarde, ganhou versões para a PlayStation, Sega Saturn e Dreamcast, além de um remake, Super Street Fighter II Turbo HD Remix, para a PlayStation 3 e Xbox 360.
Com este primeiro contacto, acabei por conhecer mais jogadores Street Fighter no crossover Marvel Super Heroes vs. Street Fighter, a primeira vez que dei de caras com personagens como Ryu, Ken, Sakura, Chun-Li, Dhalsim, M. Bison e Zangief.
Se a memória não me falha, até à altura não tinha jogado um título somente dedicado ao universo Street Fighter. Não consigo explicar bem o porquê; talvez na altura alguns jogos fossem mais fáceis de encontrar que outros ou tivessem capas mais bonitas. Numa era sem Internet e em que as primeiras revistas de videojogos portugueses começavam a chegar ao mercado, era bastante difícil descobrir quais jogos eram verdadeiramente bons, a não ser que tivéssemos um amigo bom conselheiro neste aspeto.
Nessa altura, existiam vários jogos de luta como Mortal Kombat, Darkstalkers, Bloody Roar, entre tantos outros, pelo que focar a atenção em Street Fighter não era propriamente uma tarefa fácil.
Após ter jogado com as personagens desse mundo nos crossovers referidos, tentei descobrir os jogos, a sério, da série Street Fighter. Joguei ao Street Fighter II, Street Fighter EX, Street Fighter III e Street Fighter IV, com este último a surgir somente em 2009 para as consolas.
Sete anos depois, mais especificamente em 2016, apareceu Street Fighter V, que veio fazer a ponte de ligação entre as histórias de Street Fighter III e Street Fighter IV. Apesar de aclamado no que toca ao grafismo e jogabilidade, foi criticado por oferecer pouco conteúdo e poucas personagens, apenas desbloqueados através de DLCs pagos, e por apresentar alguns bugs. Deu a sensação de que a Capcom estava mais preocupada em fazer boa figura no que toca a vendas do que dar aos fãs uma experiência memorável.
Ciente das queixas, a produtora meteu mãos à obra e lançou agora Street Fighter V Arcade Edition, o mesmo que dizer que é a edição definitiva deste quinto capítulo. Por outras palavras, Arcade Edition é a versão que devia ter surgido logo de início para todos os fãs da série, chegando agora com dois anos de atraso.
Para quem já possui a versão original, é possível atualizar para a Arcade Edition de forma totalmente gratuita, ganhando novidades como um desejado modo Arcade, um modo Extra Battle e os novos V-Triggers. Contudo, e atenção a isto, se têm a versão original e somente atualizarem para a versão Arcade, isso não dará acesso a novos extras e personagens que tenham sido lançados através de DLC pagos.
Quem jogou à versão original, irá perceber que existem uma série de melhoramentos no que toca à gestão de menus, além de efeitos mais atraentes, detalhes que poderão também agradar a quem agora se inicia neste mundo. Claro que realmente importante é o ansiado modo arcade.
A Capcom esforçou-se desta vez. Ao invés de, simplesmente, incluir um modo para calar os fãs, a produtora esmerou-se e criou uma versão arcade com seis caminhos diferentes e respetivos aos jogos Street Fighter lançados até então: Street Fighter, Street Fighter II, Street Fighter Alpha, Street Fighter IV e Street Fighter V. É como uma espécie de simulação, como se estivéssemos a jogar novamente ao modo arcade de cada um dos jogos anteriores.
É curioso notar que a Capcom manteve-se fiel ao que foi feito originalmente. M.Bison, por exemplo, não aparece no modo arcade de SF e SFIII, ou seja, se jogarem a uma determinada versão, não irão encontrar alguns personagens. Cada personagem vai ter um final específico em cada um desses modos, finais esse que estão aqui refinados e bem nostálgicos. Só por aqui Street Fighter V Arcade Edition já ganha pontos, uma vez que consegue toda uma longevidade que não existia na versão original.
Há ainda outros miminhos para os fãs dos primeiros jogos. Lembram-se de, no intervalo de passagem dos combates, existir um mini-jogo em SFII em que tínhamos de destruir pipos que iam sendo lançados? Pois é, está de volta.
Relativamente ao modo Extra Battle, é uma novidade que permite apostar as nossas Fight Money, a moeda do jogo, de modo a que possamos ganhar muito mais dinheiro. Basicamente, usamos as nossas moedas em diversos desafios onde temos de ser bem-sucedidos para que possamos ganhar ainda mais divisa de jogo. Mas, cuidado, pois algumas tarefas são bem complicadas, e podem perder tudo o que apostaram.
No que toca aos personagens, quem comprar a Arcade Edition terá direito a 32 lutadores, onde se incluem os que foram lançados nos DLC de primeira e segunda temporada. Já para quem possui a versão original tem duas hipóteses: ou adquire os pacotes separadamente ou tenta obter os lutadores através de Fight Money. Esta última hipótese pode ser bastante demorada, pelo que devem avaliar se não vale a pena gastar alguns euros na aquisição de novos personagens e, também, em alguns cenários icónicos.
Quanto ao sistema de luta, está basicamente o mesmo, embora com alguns ajustes de equilíbrio, e com a inclusão de um V-Trigger adicional que pode mudar o rumo de alguns combates. Por exemplo, se um V-Trigger podia aumentar a resistência de um lutador, um V-Trigger adicional pode dar a oportunidade de criar um contra-ataque capaz de virar o rumo do combate. Os comandos são fáceis de executar e nota-se que houve uma preocupação da Capcom em tornar o título acessível para qualquer um.
Visualmente falando, Street Fighter V Arcade Edition é bonito e detalhado. Tendo em conta que foi construído no Unreal Engine 4, o jogo tem um estilo visual muito próprio e usa e abusa do cell-shading que já nos habituou. Embora semelhante ao da quarta edição, o grafismo aqui está melhor conseguido, com as animações a destacarem-se pela sua beleza e fluidez.
Quanto à experiência online, os testes efetuados decorreram sem problemas, pelo que basta ter uma boa ligação à Internet para o lag ser praticamente inexistente. A única queixa a apontar é mesmo a demora para encontrar um adversário.
Concluindo, Street Fighter V Arcade Edition é a versão que todos os fãs desejavam inicialmente. Bonito, com vários personagens de renome, um belíssimo modo arcade e uma jogabilidade refinida, este é o jogo de luta ideal para qualquer um.
Street Fighter V Arcade Edition
Nota: 9/10
O jogo foi cedido para análise pela Ecoplay.