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“Vive, morre, repete” neste jogo de ação frenético da nova geração.

Returnal PlayStation 5

As primeiras impressões, por vezes, enganam. Umas vezes pela negativa, já outras, como no caso de Returnal, muito pela positiva, o que é um feito por si só, já que essas primeiras impressões deste novo exclusivo para a PlayStation 5 foram ótimas. Mas o que quero dizer é que Returnal é uma experiência muito diferente se passarem apenas umas horas no seu mundo gerado aleatoriamente ou se decidirem ir a fundo nas suas mecânicas e opções de combate. Parecem ser dois jogos diferentes.

Entrei em Returnal de pés frios, não sendo particularmente fã do género em que se insere, nem conhecendo muito bem o trabalho da finlandesa Housemarque, mas o exclusivo PS5 parecia-me tão estranho como o mundo que nos apresenta. Felizmente, revelou-se uma ótima oportunidade para dar a volta a isso.

É fácil começar a descrever Returnal com comparações baratas a uma longa lista de jogos de ação que se tornaram tão prevalentes na indústria – e que marcaram cada um dos seus géneros –, mas seria desonesto. É um jogo que apresenta os ingredientes certos para se tornar num marco, numa referência e inspiração para futuros jogos, sem necessitar de se empoleirar nos outros de outros projetos mais populares.

Mas não quer dizer que tudo seja único. Não é. Como indiquei na minha antevisão, Returnal é uma mistura, um remix de ideias e conceitos, aqui aplicados de forma muito precisa e ponderada, como se de uma alquimia se tratasse, onde um novo elemento nasce. Simplificando o que Returnal realmente é: é um rogue-like onde cada vez que entramos em jogo temos, literalmente, uma experiência diferente, mas igualmente desafiante, aliciante e intimidante. 

Digam “Olá” a Selene, uma astronauta que se vê em apuros no planeta de Atropos, onde a sua nave se despenha. Enquanto jogadores, começamos às escuras e muito mais confusos do que Selene, que esconde um passado que só ela conhece e outro que a vamos ajudar a desbloquear, ciclo atrás de ciclo.

Returnal PlayStation 5

Com a perspetiva na terceira pessoa, temos um jogo de ação, fluido e frenético graças às simples habilidades de Selene – correr, saltar e desviar -, que são amplificadas por um leque de armas de diferentes tipos de disparo e outras habilidades que desbloqueamos de forma permanente ao longo das nossas sessões de jogo. Se começamos com poucas opções e variedade de habilidades, rapidamente temos acesso ao sabre e ao gancho de Selena, que podem ser usados durante o combate, tanto na ofensiva como na defensiva. São pequenas adições que mudam especialmente o ritmo das primeiras zonas da campanha.

Logo a partir dos primeiros momentos percebemos que estamos perante um jogo perigosamente viciante, graças à sua jogabilidade frenética e fluida e aos momentos caóticos causados pelas hordas de inimigos que preenchem o ecrã de projéteis, lasers e explosões. É preciso dar aso tanto aos reflexos como, por vezes, à calma, que são elementos chave para o sucesso de qualquer combate, desde o mais casual, pequeno e claustrofóbico, aos mais épicos em ambientes complexos e de escalas fantásticas.

Returnal faz um excelente trabalho em fazer-nos sentir completamente no controlo e confortáveis desde o primeiro momento, algo que se torna ainda melhor pelos elementos extrassensoriais e quase inconscientes proporcionados pelo DualSense, onde recebe aqui mais uma excelente demonstração tecnológica das suas capacidades. Os sensores hápticos ajudam a sentir todas as nuances da ação e do ambiente, como a chuva, movimento da vegetação, o vento e, claro, os impactos dos projéteis inimigos e dos nossos disparos; os gatilhos adaptativos são aplicados às armas e a outras pequenas ações; e temos ainda o áudio do comando que expande as experiências com efeitos sonoros, especialmente se jogarmos com o som de umas colunas ou da TV.

Por falar em som, esta é também um dos grandes destaques de Returnal, que tira partido de som produzido através do ray-tracing (com a simulação de acústica das áreas de combate e exploração onde o som ganha nuances extremamente realistas), que é extremamente bem explorado com as capacidades de áudio 3D da PlayStation 5 e do DualSense. Não há dúvidas nenhumas de que a utilização de um par de auscultadores é a melhor forma de jogar Returnal. A imersão é imensa e a distribuição espacial é tão boa que é de arrepiar a espinha. Em momentos mais calmos, Returnal aproxima-se bastante de uma experiência ASMR, e em combate torna-se intenso quando ouvimos um inimigo ou um projétil atrás de nós – uma salvação para os mais distraídos.

Visualmente, Returnal é incrível. As cinemáticas apresentam uma qualidade fílmica quase CGI e, durante o jogo, são raros os momentos em que nos apercebemos de pequenos defeitos, como por exemplo ao aproximarmos a câmara da cara de Selene em raras instâncias. Fora isso, é extremamente impecável e impressiona, considerando que o jogo corre a uns fluidos 60FPS sem quedas aparentes.

Returnal PlayStation 5

Porém, no departamento visual não são tanto os gráficos e o nível de detalhe que saltam à vista, mas, sim, a direção artística do jogo, inspirada em clássicos de horror sci-fi da literatura e do cinema, que ganham aqui uma nova dimensão. Entre florestas, ruínas, desertos e cidades abandonadas, cada região, ou bioma, apresenta uma atmosfera única e despoleta sentimentos também únicos no jogador, devido à variação de escala e às possibilidades de exploração ou combate. Navegar entre estas zonas é um autêntico deleito e um assalto aos nossos sentidos e, ciclo após ciclo, vamos poder conhecer novas variantes e zonas secretas, se assim o entendermos.

A jogabilidade e progressão do jogo andam de mãos dadas. Returnal não é um jogo difícil, é até bastante simples de agarrar e jogar, mas a forma como o exploramos e experimentamos as suas camadas pode alterar o nível de desafio das nossas sessões de jogo. Em cada ciclo confrontamo-nos com uma escolha pessoal que revela a natureza de risco-recompensa do jogo. Queremos abrir caminho até ao próximo ponto de interesse fugindo a tudo e todos, mas correndo o risco de não estarmos bem preparados para a próxima grande batalha (com bosses por exemplo), ou queremos explorar todos os cantos à casa possíveis, colocando em risco o nosso progresso e a possibilidade de termos que começar de novo?

Returnal requer uma grande vontade e disponibilidade mental por parte do jogador e isto acontece também a uma escala mais pequena, de momento para momento, com, por exemplo, os Parasitas: itens que vão surgindo que nos dão uma vantagem e uma desvantagem (e que podem ser acumulados). Podemos aceder a mais dano de arma, mas perder vida cada vez que apanhamos um novo item; ou com itens infetados, onde há uma grande possibilidade de recebermos uma malfunction, como perder uma porção de vida.

Estes pequenos momentos de ponderação, aliados à natureza transformativa dos biomas, ciclo após ciclo, colocam-nos sempre perante uma nova experiência de jogo, que é bem recompensada com o desbloqueio de novas porções narrativas, raras atualizações permanentes, descoberta de áreas secretas e outros pequenos momentos que mudam por completo a perspetiva que temos do jogo.

Apesar de adorar com todas as minhas forças a ideia de Returnal e a experiência que me tem proporcionado, há algo que me deixa profundamente de pé atrás e que me faz parar de jogar mais vezes do que propriamente querer voltar a um novo ciclo: tem a ver com o progresso.

Returnal PlayStation 5

A natureza aleatória de Returnal não transforma por completo todos os cenários que encontramos. Contamos com longas secções repetidas mais vezes que o normal, apesar de pequenas trocas de “dungeons” aqui e ali, com a grande exceção para o primeiro bioma, onde praticamente todas as zonas mudam. Isto faz com que, ao longo de Returnal, os objetivos principais se mantenham relativamente à mesma “distância” (salvo por certos atalhos como corredores e portais que abrem as portas para biomas mais à frente) e os confrontos com a meia dúzia de bosses principais do jogo se tornem extremamente dolorosos, especialmente quando investimos mais tempo na exploração e acumulação de pontos/itens/habilidades.

A estrutura de Returnal é interessante e bem aplicada, mas extremamente imperdoável. Ao longo dos ciclos, temos raros momentos onde podemos “guardar” o jogo, com recurso ao ether, um item de consumo que vamos ter que acumular. Contudo, esses momentos são raros, esporádicos e depende bastante do bioma onde estamos, ou do momento narrativo do jogo, fazendo com que a falha em Returnal, após um ciclo mais longo e satisfatório, doa muito mais. Além disso, Returnal faz reset aos ciclos sempre que desligamos a consola ou saímos do jogo, com a única exceção no uso do Rest Mode da consola. O facto de Returnal funcionar assim afeta bastante a vontade de pegar no comando em pequenas doses. O progresso feito naquela pausa de 10-15 minutos desaparece e, se começamos a jogar e por alguma razão temos que parar ou um amigo nos convida para outro jogo online, também perdemos o progresso.

Mas mais grave é a possibilidade de um corte de corrente ou um crash no jogo, como me aconteceu duas vezes após sequências narrativas que me obrigaram a sair e a voltar a entrar no jogo, perdendo progresso e contexto da cena em particular que nunca mais voltei a experienciar.

Mas estas são pequenas exceções e nitpicks pessoais, naquele que é um jogo extremamente sólido, divertido e com uma escala e ambição verdadeiramente inesperada, colocando confortavelmente no patamar dos melhores jogos da PlayStation.

Radical, divertido e explosivo, Returnal é um frenesim cheio de ação satisfatória e mais uma demonstração das capacidades técnicas da PlayStation 5. Não é tão difícil como aparenta em vídeos ou por experiência nos primeiros momentos do jogo, mas vai certamente colocar à prova a nossa paciência, pelas vezes que recomeçamos e pelo contexto em que acontecem. Se procuram ação non-stop, um jogo para render horas e horas ou algo para jogar com amigos à vez para ver quem chega mais longe, Returnal é a aposta certa.

Nota: Muito Bom

Disponível para: PlayStation 5
Jogado na PlayStation 5
Cópia para análise cedida pela PlayStation Portugal.

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