Outcast Second Contact é um jogo fora do seu tempo. Lançado originalmente em 1999, chegou agora numa versão refeita para novas consolas e PC, mantendo-se fiel ao original. Fiel demais, até.
Jogar Outcast Second Contact é uma experiência. Este não é um jogo normal, pelo menos em termos de parâmetros aceitáveis num videojogo de 2017, mas sim um título que tenta recriar a magia que proporcionou em 1999, ano em que foi lançado.
O original Outcast marcou as memórias de quem o jogou na altura, tornando-se um jogo de culto com uma legião de fãs espalhada pelo mundo. E não era para menos. Apesar do seu aspeto cru e rudimentar, apresentava mecânicas de jogo muito à frente do seu tempo: rodas de diálogo, mecânicas de tiro dinâmicas, um modelo RPG na terceira pessoa, mundos abertos e uma narrativa bastante envolvente. Tudo elementos que poderiam originar um bom jogo nos dias de hoje.
No entanto, a aplicação e a execução destes elementos e mecânicas, necessitam, também elas, de ser atualizadas. Coisa que aparentemente não aconteceu.
A premissa do jogo é, na teórica, bastante épica, à falta de melhor termo. Ao ser descoberta uma maneira de viajar entre dimensões, é enviada uma sonda para um mundo alienígena noutro universo, que, quando começa a transmitir imagens para a terra, é intercetada por uma forma de vida que a destrói, libertando enormes quantidades de energia e resultando num buraco negro que ameaça a Terra.
Para evitar uma catástrofe, o soldado americano Cutter Slade é enviado para a outra dimensão com um grupo de cientistas, de modo a recuperar a sonda e fechar o buraco negro. Mas as coisas não correm como planeado e Slade separa-se da equipa, iniciando, assim, uma aventura num novo universo.
Outcast apresenta esta premissa em meia dúzia de minutos em formato animado, e é, provavelmente, o momento do jogo em que conseguimos acompanhar a narrativa com maior facilidade.
Assim que o jogo começa, ficamos perdidos. E há muito pouco, ou nada, que nos possa ajudar. Outcast Second Contact não parece sobreviver ao teste do tempo, nem com a sua aparência renovada.
Visualmente é um jogo muito estranho. Tem uma qualidade tão inconsistente que viajar de área para área ou encontrar diferentes personagens e criaturas é sempre uma surpresa. No geral, o jogo parece saído da geração da PlayStation 2 e Xbox Original, o que não é muito simpático de se dizer considerando que foi uma geração que surgiu apenas dois anos após o lançamento de Outcast. Mas mesmo com as melhorias de resolução e texturas, este remake oferece muito pouco no que toca a uma experiência visual.
A jogabilidade é um dos elementos que nos podem tirar a vontade de jogar muito rapidamente. Os controlos são pesados e arrastam-se, as animações são arcaicas e as mecânicas de disparo são das piores que já se viram num jogo moderno. O sistema de combate é lento e é difícil de apontar a nossa arma para o alvo correto, mesmo com o sistema de pontaria ativo.
A progressão do jogo e a sua história são as mesmas do original. A resistência de continuar nesta demanda vai depender muito de como estamos dispostos a entrar na experiência Outcast. À medida que vamos viajando de local em local, teremos de falar com quase todos os personagens disponíveis para desbloquear traduções de palavras, objetivos e informações adicionais. Infelizmente, para além da lista de missões no nosso menu, não há nenhum indicador que nos diga para onde ir, nem no mapa. Em suma, é fácil perdermo-nos neste jogo.
Mas nem tudo é mau. Há dois elementos que se destacam pela positiva e que são, ironicamente, copiados do jogo original. A escrita e a música.
Com alguma paciência e vontade, podemos encontrar situações e conversas hilariantes com as personagens que habitam Adelpha (o planeta onde se passa a trama), indo desde pequenas histórias individuais a anedotas e a trocas de bitaites entre o nosso personagem e as restantes. Há imenso charme escondido atrás dos feios aliens que encontramos.
Já a música é gloriosa, contando com temas instrumentais e vocais do calibre de alguns filmes de Hollywood. Percorrer os pacíficos mapas de Adelpha ao som dos suaves e mágicos cânticos é uma experiência fantástica, mas ao mesmo tempo inconsistente com o que aparece no ecrã.
Outcast Second Contact é um jogo bizarro, mesmo sabendo de antemão do que se trata. Não é um jogo para um público, dito, normal. Certamente que é muito difícil vender este jogo a quem não conhece ou nunca ouviu falar em Outcast, que não está, de todo, adaptado ao que é procurado num jogo atual.
No entanto, será aos fãs do original que este remake pode realmente interessar, sendo um bom motivo de voltar a um título que foi, em tempos, uma pérola dos videojogos. Ainda assim, não esperem muito mais do que uma reprodução quase um por um.
Outcast Second Contact
Nota: 6/10
O jogo foi cedido para análise pela UpLoad Distribution.