No ano passado, quando a Huawei anunciou o Mate 10 Pro com capacidades de inteligência artificial, muitos foram aqueles que quiseram colocar à prova as suas capacidades.
Por aqui ficámos maravilhados com o smartphone, não só pela sua belíssima capacidade fotográfica, mas também pela fantástica gestão da bateria, duas características que, para nós, foram essenciais para o considerarmos o melhor smartphone do ano passado. Escusado será dizer que para a sequela desse modelo, tínhamos as expetativas bem altas.
A tecnológica chinesa não apresentou o novo P20 Pro na Mobile World Congress – deixou a Samsung brilhar nessa feira -, preferindo dedicar um evento em Paris somente para a apresentação da nova gama. E após quase um mês de uso com o novo topo de gama, posso dizer que houve muitas melhorias, mas também revelou que a Huawei ainda precisa de tempo para otimizar os seus dispositivos.
Super-Elegante
Assim que o tiramos da caixa, a primeira impressão é de que estamos perante um equipamento bastante elegante e robusto, pelos menos na versão Twilight, com uma traseira que quase parece um espelho. Uma traseira que é também muito escorregadia, pelo que requer algum cuidado no manuseamento.
Contudo, apesar da arrojada e futurista apresentação do P20, há pormenores que se mantêm tradicionais. Por exemplo, o ecrã ocupa 82% da parte frontal, um área teoricamente ótima, mas que podia ser superior se a Huawei não optasse por manter o sensor de impressões digitais na base do smartphone, que também serve de botão Home, de retroceder e de gerir as aplicações abertas.
Com este botão surge também um problema: são muitas funções para o mesmo botão, tornando até difícil a sua utilização em algumas ações, especialmente nas de retroceder ou de voltar ao menu inicial. Atendendo a outras soluções no mercado, incluindo no próprio catálogo da Huawei, esta utilização multifacetada do botão de Home é arrojada e imprática em muitas situações.
Outra estranha particularidade foi o facto da Huawei ter incluído neste P20 Pro uma película de proteção de ecrã, que não se deve retirar, de todo, para não danificarmos o painel. Parecendo que não, esta película quebra a simetria do equipamento, e só me faz crer que a Huawei tem algo a esconder neste campo.
Já no topo, a Huawei junta-se à tendência do momento com o “notch”, que tenta assim recuperar mais área de ecrã e que inclui também um novo sensor de reconhecimento facial.
Na traseira, já fica de fora o sensor biométrico e, em troca, temos não duas, mas três sensores de fotografia, colocados no canto superior esquerdo, com uma pequena saliência que, apesar de não ser problemática, nem sempre permite colocar o smartphone direito numa mesa.
No que toca à qualidade de construção, é de topo. Feito em metal e vidro – compact glass – sentimos que estamos perante um verdadeiro smartphone premium e robusto quanto baste. Já em relação ao seu aspeto, não há dúvida, é extremamente bonito e moderno.
Um novo ecrã e o regresso do Kirin
Este é um painel AMOLED de 6.1” com resolução FullHD+ (2240×1080 pixéis) e proporção de 18,7:9, devido ao notch no topo do equipamento, como já referi.
Em termos de qualidade de imagem, e apesar da Huawei manter-se (e bem) no FullHD+, até porque o QHD+ consome muito mais bateria, o painel é fantástico. Não temos aqui a qualidade apresentada no ecrã do Samsung S9, mas temos mais brilho.
A Huawei tem melhorado cada vez mais os ecrãs que monta nos seus dispositivos e apresenta-nos, em termos gerais, uma excelente reprodução de cores, pretos bem pretos e um alto contraste. O ecrã é entusiasmante o suficiente para que passemos muito tempo de volta dele a apreciar todas as reproduções de conteúdos que nos apresenta. Ou seja, tudo o que era bom no Mate 10 Pro, aqui mantém-se, e supera-se, em termos de qualidade.
Novamente encontramos o processador Kirin 970, logo era de esperar que o desempenho estivesse ainda mais aprimorado. E não é que a performance deixe a desejar, até porque o equipamento responde de forma ótima quando executamos uma tarefa ou precisamos de realizar uma ação o mais rapidamente possível. Não é isso que está em causa.
Contudo, há quebras de desempenho devido ao próprio Android em si estar pouco otimizado para este dispositivo. Várias foram as vezes em que dei por mim a utilizar alguma app tipo o Facebook, Instagram ou algum jogo bastante leve para reparar que, do nada, essa aplicação em si ficava consideravelmente mais lenta. Em aplicações mais normais, havia uma quebra de fluidez enorme; já em jogos, notava um frame drop consistente.
Novamente, considero que isto seja uma má otimização do sistema Android em si, porque o processador Kirin 970, juntamente com os 6GB de RAM do aparelho, são mais que suficientes para as tarefas do dia-a-dia e aplicações mais pesadas.
Outra situação caricata neste test drive foi as falhas de algumas aplicações que, do nada, deixavam de funcionar, mesmo quando eram reinstaladas. Isto é algo que só parecia ser solucionado com algum tipo de restauro de fábrica, revelando, assim,que o sistema operativo corrente não se encontra ainda numa versão estável.
Lentes para que vos quero
Sabendo do interesse cada vez maior do consumidor na questão da qualidade das câmaras fotográficas, também a Huawei trabalhou para garantir a preferência dos clientes. No caso do P20 Pro, apresentou-nos, pela primeira vez num smartphone, três câmaras traseiras. Portanto, temos uma câmara telefoto de 8MP com abertura de f/2.4, uma câmara de 40 MP com abertura de f/1.8 e, finalmente, a terceira câmara, neste caso um sensor monocromático de 20MP com abertura de f/1.6 e capaz de um zoom híbrido de até 5x. Todas elas foram elaboradas em parceria com a Leica, como já é habitual.
A ajudar os três sensores está a Inteligência Artificial da Huawei, que, graças à sua base de dados, consegue reconhecer objetos, animais, cenários, etc, e ajudar as definições gerais da fotografia para que, teoricamente, apresentem o melhor resultado possível. Teoricamente, porque o utilizador pode perfeitamente mudar para o modo “Pro” e ajustar as definições ao seu gosto.
Embora a Huawei nos disponha estas moletas inteligentes, a IA nem sempre funciona como nós pretendemos, como é óbvio, e pode induzir-nos a resultados que não são, efetivamente, os melhores, quase “obrigando” o utilizador a mudar para modo manual. Aliás, em modo automático, a IA até torna, na maioria das vezes, as cores apresentadas demasiado berrantes, o que leva a que queiramos corrigir o que nos é apresentado.
Outra função que parece não funcionar tão bem como gostaríamos é a ativação do modo de retrato por defeito quando temos alguém na fotografia, a menos que usemos o modo Pro. Ou seja, a IA da marca é muito útil para momentos específicos, mas, se o objetivo for ter a melhor qualidade possível, então o melhor é treinarem no modo Pro.
Mas apesar destes detalhes, não há dúvidas que em fotografias o P20 Pro é rei. As fotos têm uma qualidade sublime. A utilização dos três sensores a trabalhar em conjunto para produzir a foto perfeita fazem-se sentir. E sem duvida que neste campo a Huawei vence em relação à concorrência, sendo o melhor smartphone do mercado para fotografia.
Não são apenas as notas que o dizem – 114 pontos em foto e 98 em vídeo para os entusiastas do site DxOMark (o mais confiável dos sites no que toca a avaliar as capacidades fotográficas dos smartphones), é a própria experiência do consumidor que mostra essa qualidade.
As fotos são excelentes em todas as condições, mesmo quando usamos o zoom. O detalhe nas fotos é imenso e as cores são reais. Mas é de noite, em ambiente de pouca luz, que o P20 Pro fulmina a concorrência, conseguindo muitíssimo bons pormenores e fotos quase sem grão. Se querem um smartphone para tirar fotos, dia ou noite, este é, sem dúvida, a escolha certa.
Já para vídeos os resultados não são tão famosos. Vídeos em 4K? Esqueçam, não há estabilização de imagem. Para vídeos em 1080p a experiência é francamente melhor, mas, ainda assim, deixa a desejar em relação ao seu concorrente direto, havendo aqui uns quantos tremelicos. Também é possível gravarem vídeos em Super Slow Motion a 960fps, mas a qualidade está limitada a 720p.
Finalmente a câmara de selfies é, também ela, belíssima. Aqui temos um sensor de 24MP com abertura f/2.0, sendo capaz de selfies incríveis, estejamos nós sozinhos ou com amigos. Tudo se percebe na imagem captada e a consistência das fotos é digna de registo.
O smartphone tem ainda mais uma série de opções e modos que os entusiastas de fotografia podem experimentar. Aqui a Huawei está de parabéns, excetuando a questão do vídeo. Se o Mate 10 Pro já nos dava uma experiência fotográfica de bolso de outro mundo, este P20 Pro ainda consegue elevar mais a fasquia.
Bateria para dia e meio
Depois da fotografia, a autonomia, outro dos pontos fortes deste smartphone da Huawei. Graças à IA, e também ao facto do ecrã ser Full HD+, o Huawei P20 Pro consegue autonomia para um dia e meio, mesmo com utilização acima da média. Ou seja, é excelente e deixa a milhas os seus concorrentes mais diretos.
Podem ter os dados móveis sempre ligados, o Spotify ligado, ver uns clipes no YouTube ou uns episódios na Netflix que não sentirão necessidade de o ligarem à tomada. Caso precisem, fiquem a saber que, meia hora, conseguem dar 60% de carga ao dispositivo. Muito bom.
Ainda assim, fiquei com a sensação de que o Mate 10 Pro fazia uma melhor gestão da autonomia. Talvez tenha ficado mal habituado.
Onde ligo os fones?
Coisas más? Não tem entrada áudio para auriculares/auscultadores. Coisas boas? As colunas suportam tecnologia Dolby Atmos. Isto significa que a qualidade de som é muito boa, mas, ainda assim, não tem a pujança de um Razer Phone ou a clareza de um Samsung S9. De qualquer forma, o desempenho em geral é bastante bom e ouvir algumas músicas ou ver vídeos torna-se muito agradável.
Há, porém, um pequeno problema no caso das colunas. Uma delas, a que debita mais som, está localizada no cantor inferior do P20 Pro, pelo que basta lá colocar o dedo para abafar o áudio. É preciso cuidado.
Extras
O EMUI, a skin que a Huawei aplica no Android 8.1 Oreo, vai continuar a dividir opiniões. Talvez fosse melhor que a marca apostasse num Android stock, como a Nokia, ao invés de pré-instalar aplicações que ninguém vai usar.
Apesar de não ter entrada para cartões microSD, vem com 128GB de espaço, dos quais 110GB estão disponíveis, pelo que mesmo os utilizadores mais exigentes não deverão ter queixas.
O P20 Pro é ainda resistente a água e poeiras com a certificação IP67, mas há equipamentos que conseguem melhor.
Considerações finais
No final de tudo, o Huawei P20 Pro é o smartphone de excelência para fotografias. Para vídeos nem tanto, ainda que o FullHD funcione bem melhor. A bateria continua a ser fantástica, o ecrã é bom quanto baste – apesar do notch -, mas a performance deixa a desejar pelos problemas que descrevi. Contudo, é uma situação que pode ser facilmente resolvida com uma atualização de software.
Ou seja, os 899€ pedidos por esta versão podem muito bem justificar o investimento para aqueles que querem um excelente smartphone com uma câmara de bolso soberba que se destaca em fotos noturnas.