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Gran Turismo 7 é a celebração de 25 anos da saga e uma extraordinária ode à cultura automóvel, que por muito perfeito que seja, não se livra de alguns inconvenientes circundantes aos seus momentos emocionantes e imersivos.

Eu julgo que o Carro é um dos mais belos produtos industriais. O apreço pela beleza das suas formas é cultura automóvel.” Estas são algumas das palavras partilhadas por Kazunori Yamauchi, piloto profissional, amante da fotografia e game designer da mais importante e influenciadora saga de simuladores automóveis, Gran Turismo.

Não parece, mas são nove o número de anos que separam Gran Turismo 7 do seu antecessor numerado. Pelo meio, durante toda uma geração, Yamauchi e a Polyphony Digital focaram-se no emergente mundo online e dos esports, com o spin-off Gran Turismo Sport. Inicialmente mal-amado, Sport tornou-se, ao longo dos anos, em mais do que um jogo, transformando-se numa plataforma das mais importantes competições de desporto automóvel virtual.

Gran Turismo 7 surge, assim, para juntar o melhor de dois mundos: o legado da saga com memórias de tempos áureos com as ferramentas e mecanismos de um jogo enquanto serviço, para que sobreviva e cresça durante os próximos anos. Ao mesmo tempo, vem também marcar o 25º aniversário da saga, numa ode aos carros, aos fãs e ao seu legado.

Eu adoro Gran Turismo. Não me deixei enamorar pelas primeiras entradas por não ter crescido com acesso a elas, pelo que entrei neste mundo virtual em Gran Turismo 4 e deixei-me absorver pela paixão automóvel durante a minha adolescência com Gran Turismo 5, que considero o maior ponto de viragem da saga. Durante esse período, Gran Turismo era uma força gravitacional para onde a minha mente era constantemente sugada, onde comecei a seguir a indústria automóvel, a indústrias dos videojogos e ganhei o gosto pela fotografia, que é ainda hoje um dos meus hobbies principais em mundos virtuais.

Gran Turismo 7

Pegar em Gran Turismo 7 foi uma experiência catártica. Aquela promessa de ser a maior celebração da cultura automóvel faz-se sentir de uma forma como outros jogos do género ainda não conseguiram. Não com folia e elementos radicais, mas com classe, história e um nível de carinho inigualável, num produto completo, polido e cheio de emoção.

Já todos conduzimos o anel de Nurburgring noutros jogos, mas nada bate as ansiedades e emoções de controlar os carros mais rápidos à face do planeta nessa pista num Gran Turismo. Já todos fizemos desafios loucos, como apanhar placas impossíveis em jogos de mundo aberto, mas os falhanços e vitórias não têm a mesma ressonância emocional de fazer um “Gold” nas licenças de Gran Turismo. Já todos passamos horas a fio a correr em Spa-Francorchamps ou em LeMans, mas nunca como nas endurances em Gran Turismo.

Há algo de mágico e atraente nesta saga da Polyphony Digital que vai para lá dos seus visuais e que nos faz questionar a realidade. Gran Turismo 7 apresenta-nos isso bem antes do sinal de partida no seu asfalto virtual, com a sua gritante introdução.

Gran Turismo 7 é excessivo. É o pináculo da série, incluindo um pouco de tudo o que torna a série tão icónica e acrescenta-lhe mais coisas, até mesmo onde não precisava. Em conteúdo, são mais de 400 carros e mais de 90 pistas à volta do globo, a absorção da componente GT Sport, modos multijogador online e de ecrã dividido, as tão icónicas licenças, desafios, provas e o regresso de uma campanha com uma progressão nivelada, cuidada e calma, para que até os jogadores menos habilidosos aprendam primeiro a andar antes de começar a correr.

No fundo, é a experiência clássica de Gran Turismo em esteroides. Esteroides esses que são mais camadas de realismo baseadas puramente em simulação em diferentes níveis. Longe vão os tempos de limitações técnicas onde metade da garagem era composta por legacy cars de modelos saídos da PS1, ou pistas com condições climatéricas e períodos do dia estáticos. Longe vão os tempos onde a simulação estava apenas concentrada no controlo dos carros. Hoje, em Gran Turismo 7, a simulação afeta tudo. A condução, como as condições da pista afetam o controlo dos carros e como as suas diferentes afinações e características afetam o nosso desempenho, ou como nós, jogadores, somos afetados em pista graças às capacidades imersivas da nova geração que nos colocam em contacto com a estrada.

Apesar de Cross-Gen, ou seja, com lançamento na PlayStation 4, Gran Turismo 7 na PlayStation 5 volta a ser um dos títulos obrigatórios a ter em qualquer biblioteca de um jogador PlayStation. É a tech demo perfeita das capacidades hápticas que respondem aos diferentes tipos de terreno e de asfalto, aos detritos e rachas da estrada, às lombas, à pressão e aderência exercida pelos pneus dos carros, pela forma como os gatilhos respondem à força das acelerações e das travagens. Tudo elementos que dão ao jogador um maior controlo dos carros, mesmo com um simples comando.

Ao mesmo tempo temos os incríveis visuais que, mesmo sem o ray-tracing durante o jogo propriamente dito, revelam um sistema de iluminação mais rico, materiais mais realistas e cenários de cortar a respiração mesmo no interior dos veículos. Já em replays e no modo de fotografia, olhar para os carros em Gran Turismo 7 nunca foi tão real, como olhar para a janela da nossa sala e imaginar que aquele Ferrari ou Lamborghini é mesmo nosso e está ali. E para acompanhar tudo, temos também o incrível áudio 3D, que não só torna o som dos veículos mais autênticos, como nos coloca dentro dos carros, atentos aos sons dos nossos rivais quando nos tentam ultrapassar naquelas curvas mais perigosas. É um deleito.

Mas as emoções imersivas do asfalto são apenas metade da experiência de Gran Turismo 7, um jogo que, para a sua campanha, dá especial prioridade ao Gran Turismo Café. Trata-se de uma experiência guiada que nos propõe uma série de desafios e corridas temáticas que começam por servir de tutorial, abrindo mais opções do jogo, mas também de pilar de progressão, desbloqueando carros, pistas e campeonatos, ao mesmo tempo que nos ensina sobre a história de alguns dos carros mais icónicos da indústria automóvel.

É uma experiência zen, cheia de charme e que admitidamente adoro. Porém, é também uma experiência que revela o verdadeiro perfil de Gran Turismo 7 – um jogo aparente e mecanicamente moderno, mas incapaz de evoluir nas pequenas coisas.

Ao fim de várias horas enamorado com o jogo, fiz um pequeno paralelismo à experiência que tive com a própria PlayStation 5. É o produto mais Premium da sua série, o mais evoluído. Belo por fora e por dentro. Com menus belos e funcionais, mas com imensas pequenas coisas que se tornam irritantes ao longo do tempo.

A GT Town é um feliz regresso à série. Aquilo que os fãs pediam, bem dividido, bem segmentado e divertido de explorar, mas que, ao longo do tempo, notámos que alguns atalhos eram simpáticos. Em alguns casos, o jogo obriga-nos a sair do modo de jogo para ir mudar de carro quase às cegas, havendo imensos cliques que têm que ser feitos pelo caminho. Pequenas séries de objetivos nem sempre contam com um botão de Next e, outras vezes, o jogo propõe-nos o uso de carros e upgrades dos quais temos que memorizar ou tirar notas para estarmos mesmo preparados para esses eventos.

Um dos aspetos que mais me irritou foi a personalização dos carros. Está mais completa do que nunca, mas, por exemplo, a sua tuning shop chega a ser confusa, fazendo com que o jogador escolha componentes aleatórios para subir o PP do carro, ou pinturas que obrigam à compra de cores em separado dos menus em que se aplicam e cujos previews não correspondem se quer ao carro que estamos a usar.

Há muita complexidade exagerada em prol de uma maior granularidade de controlo daquilo que se pretende fazer, obrigando a tirar cursos ou aceder a manuais/tutoriais, algo que retira um pouco da diversão no que toca à personalização.

Outro aspeto em que a série parece ter parado no tempo afeta o nível de opções que o jogador tem na apresentação do jogo durante as corridas. Não há grande personalização do HUD, de forma a retirar elementos informativos e outro ruído visual do jogo à nossa medida. Existe apenas um modo Off e outros dois com demasiada informação no ecrã.

A nível de câmaras de condução, a série até evoluiu e a vista de interior está mais natural e orgânica do que nunca, mas as vistas exteriores continuam demasiado rijas e fixas, algo lamentável quando, para alguns eventos, esta opção é a melhor e poderia facilitar tanto a condução dos veículos.

É impossível analisar Gran Turismo 7 sem falar também do modo de fotografia, que é pessoalmente um dos grandes pilares da saga, ou não fosse esta função meter-me esse bichinho. Como seria de esperar, temos de volta um excelente modo, que é basicamente um simulador por si só, neste caso um simulador de uma câmara semi-profissional.

É extremamente divertido, intuitivo e muito educativo de se usar graças a definições inspiradas nas que temos nas nossas câmaras e smartphones, que produzem também resultados realistas. O uso do modo é, no entanto, limitado a replays e ao modo Scapes, e o movimento de câmara podia ser um pouco mais livre em particular no Scapes.

Para toda a fanfarra e hype que o Scapes teve, não consigo deixar de achar este modo uma pequena desilusão. Não é novo, bem sei, mas é de uma natureza tão artificial que, mesmo com as centenas de belos cenários que apresenta, tenho dificuldade em ter epifanias criativas quando a triste realidade é que são apenas fundos 2D com projeção 3D onde colocamos os carros e onde o movimento da câmara é nulo. O que é trágico. Assim, uma aproximação mais íntima ao nosso veículo com exploração em 360 graus só é mesmo possível em replays de provas.

Se pareço muito negativo nesta parte da minha opinião de Gran Turismo 7, lamento, mas qualquer um destes apontamentos são desejos mais pessoais em querer um jogo ainda melhor, não afetando, de todo, o que Gran Turismo 7 já é: um excelente jogo.

São 25 anos de Gran Turismo e 25 anos de memórias, de legados e celebrações da indústria automóvel. E Gran Turismo 7 faz um extraordinário home run nesse sentido. É o regresso do rei dos simuladores em consolas. É o mais completo e compreensivo jogo da saga até à data, ao ponto de, por vezes, parecer um remake de entradas anteriores, evocando a nostalgia de outros tempos e relembrando-nos, ou melhor, relembrando-me a mim que foi aqui, em Gran Turismo, que me apaixonei pelos meus hobbies favoritos.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela PlayStation Portugal.

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