Enquanto um dos modelos que mais curiosidade tinha em experimentar, o Honda E cumpriu a sua promessa de desfilar sem esforço e pacificamente no tráfego da cidade.
A unidade ensaiada tem a lindíssima cor Modern Steel e vem equipada com jante de 17”. A mistura deste cinza com os detalhes em preto são, para mim, a configuração que melhor assenta neste modelo, e um detalhe que salta logo à vista é a presença de câmaras no local onde estamos habituados a ver os retrovisores. Se o desenho da carroçaria nos puxa para algo retro, a verdade é que toda a tecnologia aponta para o presente e para o futuro. Logo, podemos chamar a este modelo um novo-retro.
Não é preciso sermos um expert para perceber que estamos na presença de um verdadeiro citadino, quer pelas suas dimensões, quer pela sua capacidade de autonomia, que se cifra nos cerca de 250 Km. Estes 250 km serão mais que suficientes para a maior parte dos utilizadores de citadinos, principalmente numa altura em que começamos a ter uma rede de carregamentos cada vez maior, o que também não impossibilitará viagens mais longas, sobretudo sabendo que tem a capacidade de carregar até 80% em apenas 30 minutos.
Posto isto, começamos a perceber onde situar este modelo no mercado automóvel. Não é, garantidamente, uma concorrência à oferta da Tesla, mas mais uma concorrência no segmento do Fiat 500 elétrico e outros modelos semelhantes, como por exemplo o Corsa-e.
Sendo um citadino, o desempenho é um ponto de interesse muito importante, e, por isso, a velocidade máxima limitada a cerca de 150 km/h (a marca anuncia 145 km/h) não surpreende, ainda que seja divertido de conduzir em aceleração, pelo menos em velocidades mais baixas e utilizando o modo de condução desportiva. Ao fim ao cabo, estamos a falar de tração traseira em modelos que oscilam entre os 134 e os 152 cavalos de potência.
Se, por um lado, a Honda não perdeu a cabeça com a potência colocada neste modelo, por outro não poupou no que diz respeito à tecnologia. Como padrão vem equipado com câmaras para espelhos retrovisores e espelho retrovisor (opcional este último), capacidade de carregamento rápido de 100kw DC em 30 minutos, uma aplicação para precondicionar o carro e cuidar dele enquanto carrega, muitos sistemas de prevenção de acidentes (incluindo travagem automática, cruise control adaptável, assistência de manutenção de faixa e faróis de máximos automáticos) e várias, mesmo várias, polegadas de ecrãs. Tudo isto vem envolto numa paleta de cores e materiais sutilmente retroprojetados para combinar com o exterior atrevido – disponível em branco, preto, cinza, azul e amarelo fluorescente (a cor base).
O Honda E chega com uma onda de novos EVs pequenos e acessíveis, finalmente ampliando a escolha além do alcance mais longo, mas de opções mais premium e caras como Teslas, o Jaguar I-Pace e Audi e-tron. Neste segmento, a Honda enfrenta o novo Peugeot e-208 (e seu irmão, o Corsa-e), o Mini Electric e o Renault Zoe.
Tiro o chapéu para a Honda pelo ajuste do acelerador, porque nunca balança ou sacode, apenas suaviza o progresso, por mais binário que esteja sobre o pé direito. A tração traseira (chave para a sua distribuição de peso de 50:50 e dinâmica de direção) vai agradar aos “Rally Drivers” e posso confirmar que um empurrãozinho no acelerador numa rotunda molhada resultará em oversteer (sobreviragem). E isto com o controlo de tração ligado.
De volta ao que o Honda E foi projetado para fazer – desfilar sem esforço e pacificamente no tráfego da cidade -, é caso para dizer que também cumpre. A direção de relação variável é leve e direta e o ângulo de viragem é fantástico, o que para um citadino é também uma mais valia!
A suspensão totalmente independente filtra a estrada e o silêncio na cabine, mesmo quando atingimos velocidades mais altas em autoestrada, é notável.
Existem alguns botões para “brincar”, nomeadamente o já falado botão de escolha dos modos de direção Normal ou Desportivo. O último simplesmente torna o acelerador mais responsivo, mas nada de exagerado. Mais útil é um modo de pedal único que aumenta a regeneração quando o condutor tira o pé do acelerador, sem ter de usar o travão. Podemos ainda escolher entre três níveis de regeneração – cada um mais agressivo que o outro – usando as patilhas de mais e menos atrás do volante.
As câmaras em vez dos espelhos retrovisores são uma ótima ideia no papel, uma vez que, ao diminuírem a largura do carro, reduzem o arrasto geral em quase 4%, aumentando o alcance e proporcionando visibilidade em qualquer altura. Já na prática também são uma ótima ideia. Confesso que, ao início, estava algo reticente, mas o processo de habituação foi bastante rápido. Podemos ainda alternar entre a visualização normal e ampla.
Passemos aos interiores. Ao aproximarem-se do carro, o Honda E irá detetar a chave, abrirá as maçanetas das portas – embutidas nas mesmas – e os faróis serão exibidos.
A Honda chamou-lhe de “interior estilo lounge”. Em termos de sensação geral, com os assentos de tecido macio na frente, o assento do banco na parte de trás e placas de acabamento de madeira falsa (bem bonita, e eu nem gosto de detalhes em madeira), posso dizer que a marca criou uma atmosfera moderna, com infusão retro e projetada por arquitetos.
No que toca aos ecrãs, temos dois angulares de seis polegadas para os espelhos retrovisores, um painel de instrumentos de 8,8 polegadas atrás do volante, o visor retrovisor e, em seguida, dois ecrãs lado a lado de 12,3 polegadas como peça central – uma para o motorista e outro para o passageiro. Cada um possui seis atalhos na borda externa, sendo que podem executar aplicações separadas ao mesmo tempo e essas apps podem ser trocadas com o toque de um botão.
Por exemplo, se ativarmos o CarPlay no iPhone, o sistema pode ser executado num dos ecrãs, enquanto a navegação da Honda, o rádio ou informações sobre o alcance e regeneração estão em execução no outro. Digam “OK Honda” e o assistente pessoal da Honda salta para o ecrã para responder aos vossos comandos. É divertido nos primeiros cinco minutos, mas os comandos são tão específicos que irão levar-vos ao desespero. Se o sistema aprende a voz do condutor e melhora com o tempo, conforme afirma a Honda, ainda está para ser visto, e foi algo que não pude testar durante o período do teste.
Existem portas USB em todos os lugares – dois na frente, dois na parte traseira – uma tomada de 12 V, uma tomada de corrente alternada de 230 V e uma entrada HDMI.
Quando se trata de espaço, é preciso ser realista sobre as situações. Diria que quatro pessoas estarão confortáveis… isto se não tiverem excesso de peso e o percurso não for demasiado longo. A bagageira é pequena – 171 litros com os bancos traseiros levantados (quase o mesmo que um Fiat 500) – mas 861 litros com eles abaixados, o que é um tamanho bastante razoável.
Concluindo, este é, definitivamente, um carro urbano. Se for para isso que o pretendem adquirir, posso garantir que serão muito felizes a bordo deste Honda E. Se, eventualmente, necessitarem de fazer viagens mais longas, terão de contar com as cargas. Se conseguirem, devem obviamente recorrer a carregadores rápidos, uma vez que, em 30 minutos, terão mais de 80% de bateria para seguir viagem.
A unidade ensaiada tem um preço aproximado de 38.000€.