Guerra Fria, Campanha Morna.
Depois da Activision reinventar uma das sub-franquias de Call of Duty com Modern Warfare no ano passado, este ano volta a fazer o mesmo com Black Ops, trazendo de regresso uma campanha com a ajuda dos veteranos da Treyarch, a supervisionar o projeto, e da Raven Software, que se dedicou à história.
Call of Duty: Black Ops Cold War é um jogo grande, com diferentes dimensões e modos de jogo que incluem um sólido multijogador, o tradicional spin-off cooperativo com zombies e, agora, integração do Battle Royale free-to-play Warzone. Mas são as campanhas que mais me entusiasmam e me fazem procurar anualmente um novo Call of Duty que, de alguma forma, tentam trazer-nos aventuras explosivas, cheias de ação e sequências de cortar a respiração.
A série nem sempre marca “Golo” com as suas campanhas. Aliás, desde o fim da trilogia original Modern Warfare, ou mesmo dos dois primeiros Black Ops, que tenho sido crítico das abordagens e tentativas de revitalizarem a série, em ambientes, géneros e épocas que acabam por influenciar o resto do pacote e, consequentemente, as mecânicas de jogo nos restantes modos disponíveis.
Depois do reboot do ano passado, o reboot deste ano é igualmente agradável e refrescante, com um tom mais sério e ajustado à apresentação cada vez mais realista e imersiva graças às capacidades técnicas e evoluções de motor de jogo. E este ano há um folgo extra devido às novas consolas e placas gráficas.
Para Call of Duty: Black Ops Cold War, a Activision escolheu contar mais uma história de conflitos onde os Estados Unidos da América continuam a ser os protagonistas e o modelo dos defensores do Mundo Livre. Como o nome indica, vamos viajar até ao tempo de período de instabilidade militar e bélico que foram os anos 80, durante o auge da Guerra Fria.
Contudo, esta não é, felizmente, uma história baseada em facto verídicos, mas algo novo e fictício, inspirado na guerra de espiões e na corrida aos rockets que colocava o Este e o Oeste na mira de uns dos outros.
Nesta aventura vestimos a pele de Bell, o nome de código de um, ou uma, agente, cujo perfil pode ser personalizado de forma a impactar a história e, de alguma forma, a jogabilidade. O jogador pode escolher o seu nome, o seu género, o seu background (CIA, MI6, KGB) e pontos de perfil psicológico que atribuem perks especiais, como as do multijogador. Uma função que faz a sua estreia na série e que é muito bem-vinda, pois abre as portas a múltiplas passagens pela campanha.
Explosiva, tensa, interessante e até cerebral. Estes são alguns dos elogios que posso dar à campanha de Call of Duty: Black Ops Cold War, voltando a apresentar um ritmo de jogo raro e uma ressonância emocional com as diferentes personagens apresentadas que não existia desde o pouco gabado Infinite Warfare. As sequências são agora mais contidas e têm um peso mais realista, mas não deixam de ter momentos explosivos e uma montanha russa em piloto automático. Não faltam, também, momentos calmos e tensos, com ação furtiva, puzzles de lógica e opções de escolha inesperadas.
A estrutura da campanha destaca-se por oferecer escolhas ao jogador, tais como conversas com personagens secundárias no HQ antes de escolhermos a próxima missão, a exploração dessa mesma área ou missões secundárias cujo sucesso está dependente de colecionáveis nas missões principais, servindo de pistas essenciais para abater os alvos certos.
É a primeira vez em muitos anos que uma campanha de Call of Duty me envolveu de uma forma tão interessante e imersiva. Dei comigo a procurar ferramentas de lógica no Google para descobrir como decifrar códigos e pistas em duas missões secundárias, que contam com tanta substância como uma missão principal.
Ao mesmo tempo, o jogo conta com missões com diferentes objetivos e abordagens para a sua conclusão. Temos o suporte de uma narrativa interessante com twists ao nível dos que definiram a série Black Ops original e há, também, a possibilidade de desbloquear diferentes finais e pequenos pormenores ao longo desta aventura.
O legado desta subsérie não surge apenas em conceito. Na verdade, Black Ops Cold War pede emprestado momentos icónicos do primeiro jogo original e até personagens, com Mason, Hudson e Woods, a acompanharem-nos nesta aventura e a partilharem as suas histórias com pequenas anedotas do passado.
Com um lançamento cross-gen, Call of Duty: Black Ops Cold War aparece, também, como um peso pesado para a nova geração de consolas e placas gráficas, colocando-se como um dos cabeças de cartaz do leque da PlayStation 5, onde tive oportunidade de o jogar.
Visualmente, Call of Duty: Black Ops Cold War apresenta-se na PlayStation 5 como um jogo bonito. Não é um título que grite “next-gen”, mas é mesmo bastante bonito, com uma variedade de cenários rica em detalhes, sendo mais vivos e mais orgânicos que em títulos anteriores, muito devido à sua natureza de exploração e ritmo em alguns deles.
Com a apresentação de imagem em ultra-definição e com uma fluidez de jogo a 60fps – foram raros os momentos em que senti uma ou outra quebra -, Call of Duty: Black Ops Cold War tira partido de tecnologias de ray-tracing, apenas disponíveis na nova geração de equipamentos. Aqui, a utilização desta técnica não está presente em todo o jogo, o que é um pouco dececionante em alguns pontos chave. Sim, ao longo da campanha vamos encontrando cenários onde a iluminação brilha de forma mais realista, as sombras ajudam a unificar e tornar o ambiente mais imersivo e, como seria de esperar, temos objetos refletivos que tiram partido desta tecnologia.
Contudo, em níveis mais avançados na campanha, notei na existência de espelhos e metais que, ao invés de apresentarem funcionalidades de ray-tracing, utilizavam cubemaps e texturas que não replicavam o mundo em redor. Depois de tantos bons exemplos, estes pequenos detalhes saltam à vista com regularidade porque há “algo” que não cai tão bem à vista.
Pegando um pouco na experiência online, onde estas tecnologias também estão presentes, é interessante como em alguns momentos estas afetam drasticamente o jogo, como no mapa de Miami, onde há zonas com janelas que podem separar os jogadores e o efeito refletivo das mesmas dificulta a visibilidade do jogador no outro lado da janela. Um toque bem realista que pode “refletir-se”, numa desvantagem para alguns jogadores. Felizmente, é uma opção que pode ser desativa.
A PlayStation 5 tem, no entanto, uma arma secreta que a distingue das restantes versões do jogo, o DualSense, que, neste caso, apresenta mais uma excelente implementação das suas capacidades. Temos os efeitos sonoros que oferecem mais uma pequena camada de imersão e a vibração do comando está muito mais apurada, mas é a utilização dos gatilhos que muda tudo.
Graças à resistência aplicada a cada gatilho, os produtores conseguiram dar um comportamento diferente e distinto a cada arma do jogo, com o gatilho de disparo a simular a tensão e o clique de um gatilho de uma arma real. É visceral, é violento, realista e surpreendentemente rápido.
Irá, certamente, irritar alguns jogadores mais puros, já que a tensão aplicada corresponde às animações no ecrã, algo que se pode notar ao fazer zoom com uma sniper ou uma metralhadora, assim como o carregar do gatilho igualmente ajustado tipo de armas. Cada tiro vibra de forma intensa e dedicada, o que faz com que o recoil seja real, afetando também a precisão do tiro seguinte. Para sessões mais imersivas haverá uma curva de ajuste à novidade, mas, sem ela, isto depois de testada, faz-se sentir a sua falta.
A campanha, aqui em análise, destaca-se por tomar riscos na sua estrutura e na forma como se apresenta, mas, no fim do dia, é só mais um flick de ação interativo que pode ser passado em menos de 10 horas. Uma longevidade que, na verdade, parece maior devido ao formato e à quantidade de situações a que somos apresentados.
Call of Duty: Black Ops Cold War faz uma ótima estreia na nova geração. Não é uma entrada tão bombástica e revolucionária como muitos poderão estar a pensar, mas conta com ideias interessantes que podem fazer o jogador questionar qual das versões adquirir. Mas é, sem dúvida alguma, a versão PlayStation 5 que se destaca, sobretudo pela imersão, ainda que pudesse ir mais longe no departamento visual.
Call of Duty: Black Ops Cold War já está disponível para PC e consolas.
Disponível para: PC, Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4 e PlayStation 5
Jogado na PlayStation 5
Cópia para análise cedida pela PlayStation Portugal.