Quem nasceu na década de 90, certamente teve a oportunidade de, até aos primeiros anos deste novo milénio, possuir vários telemóveis de uma certa marca finlandesa que dominava o mercado. Era a Nokia que, durante anos a fios, estava no bolso de milhões de pessoas em todo o mundo.
Estes míticos telemóveis eram considerados indestrutíveis e extremamente fiáveis, com uma bateria que durava para dias e dias, mesmo que jogássemos bastante ao Snake. Falamos de dispositivos como o Nokia 3310, o 5530, a série N-Gage, e de, por exemplo, o Nokia 7650, um dos primeiros, e mais importantes, telemóveis a possuir uma máquina fotográfica.
O problema é que a tecnologia foi evoluindo e a Nokia teimou em ficar à sombra do seu sucesso, não acompanhando as novas tendências. Manteve-se fiel ao sistema operativo Symbian e isso custou-lhe caro. Nas ruas da amargura, a Nokia aliou-se à Microsoft, criando diversos smartphones com o sistema operativo da gigante de Redmond na sua versão móvel.
Mas não foi o suficiente. Os smartphones tinham especificações fracas e o sistema operativo da Microsoft apresentava diversas falhas na sua execução. E isto foi altamente negativo para a Nokia, já que a marca perdeu a confiança dos consumidores.
Novamente independente, e anos depois desta perda de poder, a Nokia começou do zero como uma startup e, em poucos meses, aprendeu que devia apostar no ecossistema Android, tendo lançado e anunciado vários smartphones para o efeito.
Depois de termos testado o Nokia 3 e o Nokia 5, tivemos a oportunidade de experimentar durante várias semanas o topo de gama Nokia 8. Como será que ele se comportou?
Design e ecrã
Estamos perante um terminal feito inteiramente em alumínio polido, traduzindo-se numa peça de tecnologia atual e de elevada qualidade na nossa mão. Como não tem proporções exageradas, é fácil de segurar e usar com apenas uma mão.
Falando no geral, não há nada que realmente faça sobressair no design deste Nokia 8 em relação a tantos outros dispositivos. Apesar das suas linhas sóbrias e espessura muito fina, não é um smartphone que vá destacar-se pela sua aparência.
Há, contudo, um aspeto que me faz dizer que é melhor apostarem numa capa protetora para o mesmo. O alumínio é um material que facilmente fica com marcas ou riscos, e, ao toque, a traseira deste smartphone dá a sensação de estarmos perante algo “áspero” e que não queremos colocar em cima de nenhuma superfície para não estragar.
Ainda em relação à traseira, temos aqui um flash LED duplo, e, claro, um dos pontos fortes do smartphone: a dupla câmara desenvolvida em parceria com a Zeiss, aqui também com uma pequena saliência.
Como já testámos diversos terminais que apresentam o tão badalado “ecrã infinito”, também o design deste Nokia 8 começa a parecer-nos datado com as suas bordas dianteiras, ocupando um espaço considerável na frente deste terminal, mas onde temos presente uma espécie de botão Home físico, incluindo o sensor de impressões digitais.
Temos aqui um ecrã QuadHD (2560×1140 pixéis de resolução) de 5,3 polegadas protegido com Gorilla Glass 5 e que, apesar de não ser edge to edge, tem uma qualidade fantástica apresentando cores muito precisas, fortes e brilhantes, sendo este um dos melhores ecrãs planos que já tivemos oportunidade de testar.
Desempenho
O Nokia 8 possui o ainda topo de gama da Qualcomm, o Snapdragon 835, e chegou a ser o terminal mais barato do mercado a possuir este excelente processador. Aliado ao GPU Qualcomm Adreno 540 e aos 4GB de RAM, mais que suficientes para os dias de hoje, não tivemos qualquer problema em termos de performance com este equipamento. O sistema em si porta-se bem, não tem soluçoes ou quebras, e todos os vídeos multimédia ou jogos com gráficos mais exigentes são executados sem problema. A isto também ajuda o facto do Nokia 8 possuir uma versão stock de origem do Android Nougat 7.1.1 (já pode ser atualizado para o Android Oreo). Na prática, como é uma interface limpa e sem modificações, não existe a necessidade de carregar recursos extra, o que é especialmente útil na fluidez do sistema.
Câmaras
Um dos pontos fortes deste equipamento está precisamente na câmara traseira dupla, concebida em parceria com a Zeiss. São dois sensores de 13 MP cada, sendo que um deles é dedicado à cor e tem estabilização ótica de imagem, e o outro é monocromático, isto é, dedicado aos pretos e brancos.
Na prática, as fotos têm grande qualidade. Contêm muito detalhe, ficam bem focadas e com precisão e possuem cores fortes, mas é preciso que haja muita luz natural. Já em ambientes de pouca luz os resultados ficam aquém do esperado. O flash traseiro faz bem o seu trabalho, mas é notória a falta de detalhe quando o ambiente para fotografia não é o mais propício.
Claro, há que ter em atenção que as câmaras não deixam entrar muita luz graças à sua abertura de f/2.0, e também porque este Nokia 8 custa 600 euros, muito abaixo dos atuais topos de gama do mercado. Além disso, a app de fotografia (da Google, mas com umas modificações por parte da Nokia) é muito básica e não permite grandes aventuras.
Mas um dos grandes destaques dado pela Nokia para a venda do equipamento foi, precisamente, a possibilidade de tirar fotografias com os sensores traseiros e frontais em simultâneo, naquilo que a marca chama de #Bothies. Não é uma novidade na área, dado que existem aplicações para esse efeito, contudo, é novidade ao ponto de ser possível fazê-lo de forma nativa e sem recursos a apps extra. É uma funcionalidade gira, mas tenho sérias dúvidas que seja uma razão para alguém adquirir o Nokia 8, além de que existe um decréscimo de qualidade quando se usam todos os sensores ao mesmo topo.
No que toca ao vídeo, temos a possibilidade gravar vídeos em HD, Full HD ou 4K, mas estamos limitados aos 30fps. Também aqui o Nokia 8 cumpre bem o seu trabalho. A qualidade da gravação não é fenomenal, mas sim bastante razoável, e captura muito bem o som envolvente.
Resta falar na câmara frontal de 13MP para as selfies. Ou Bothies. O sensor frontal é de grande qualidade e dos melhores que já testei do género. Bom detalhe, boa captura de luz e boa definição no geral, mesmo em ambientes de pouca luz.
Som e autonomia
A Nokia também deu imenso destaque ao departamento sonoro deste Nokia 8. Diz a marca que este equipamento inclui uma tecnologia chamada OZO Audio, servindo para captar áudio com som espacial em 360 graus, ou seja, grava todos os sons exatamente de onde vê, podendo ser reproduzido com esta ilusão realista.
O problema é mesmo este: é uma mera ilusão. Pessoalmente não notei diferenças em relação aos restantes equipamentos que já tivemos oportunidade de testar. Notei, sim, foi um pequeno senão: como o foco foi dado ao sistema OZO Audio, a Nokia esqueceu-se de colocar aqui a tecnologia Dolby Digital, o que faz toda a diferença caso estejamos a usar auriculares ou auscultadores para ouvir algumas músicas.
No que toca à autonomia, acaba por ser algo ingrato falar nesta vertente depois de ter testado o Huawei Mate 10 Pro, mas tendo em conta o que seu preço e características, o Nokia 8 porta-se extremamente bem. Aguenta sem qualquer problema no dia-a-dia e não será necessário recarregá-lo a meio da tarde, mesmo com uma utilização mais intensiva, o que é particularmente interessante quando aqui temos um ecrã QuadHD.
O Nokia 8 necessita de cerca de 30 minutos para ir dos 0 aos 50% de bateria e de pouco mais de uma hora para ir dos 0 aos 100%. Nada mau.
Extras
Resta-me fazer apenas duas ressalvas. A primeira tem a ver com o facto de este Nokia 8 apenas possuir certificação IP54, ou seja, não é resistente à água, mas sim a salpicos, algo insuficiente nos dias de hoje. A segunda ressalva está relacionada com o sensor de impressões digitais, algo que me deixou profundamente desiludido dado já ter testado vários sensores. Tive sempre extrema dificuldade em desbloquear o smartphone com as minhas impressões digitais, mesmo que fosse com um dedo diferente.
Veredito final
O Nokia 8 é o atual topo de gama da marca. E de facto comporta-se como tal. É extremamente rápido, tem boas câmaras e um bom preço. Aliás, fosse ele cerca de 100 euros mais barato e teríamos aqui um sério caso de sucesso. Custando 600 euros, é um bom passo para a Nokia ressurgir em força no mercado e um bom apontamento para terminais futuros.
O equipamento foi cedido para análise pela Nokia.